sábado, 25 de agosto de 2018

A HISTÓRIA DE PRESIDENTE DUTRA - A Chegada do 2º BEC (Parte 20)




A instalação do Batalhão de Engenharia e Construções na Cidade – No início do período que ficou conhecido como a “época do milagre brasileiro”, quando o país experimentou um novo surto desenvolvimentista, os militares escolheram como um dos pilares do seu planejamento, a abertura de estradas, especialmente nas regiões mais distante dos polos de desenvolvimento nacional, sul e sudeste. Objetivavam assim, fazer o que seria a marca registrada do regime militar: a integração nacional, unindo o país através de grandes eixos rodoviários. Foi com este intuito que decidiram abrir uma rodovia rasgando o nordeste brasileiro e a floresta amazônica, partindo de João Pessoa, na Paraíba, e seguindo até os confins do Pará, denominando-a pomposamente de rodovia Transamazônica.
Esta rodovia nunca seria concluída, gastando-se centenas de milhões de dólares em uma obra que ainda hoje reclama pelo descaso e pela malversação dos dinheiros públicos conferidos a ela. E esta estrada, na parte em que foi aberta na mata fechada, acabou por facilitar a colonização oficial da região amazônica. Fazia parte de um plano para ocupar a Amazônia brasileira com o objetivo de evitar que a mesma caísse nas mãos dos americanos, caso continuasse desabitada. E esse receio era, e ainda é, uma das grandes paranoias nacionais: o medo de perder esse imenso território que a diplomacia americana e europeia considera como  patrimônio universal.
Desse modo, para lá foram levadas milhares de famílias, especialmente originárias do sul e do nordeste do país, que depois foram relegadas à própria sorte, para enfrentando sozinhas todas as dificuldades de residirem em um lugar isolado, com a falta de acesso para comercializarem o que conseguiam produzir; enfrentar ainda as doenças, e os conflitos agrários com os grandes grupos econômicos que pouco-a-pouco foram se apossando das terras da região.
No nosso Estado, os militares tiraram do papel o velho projeto rodoviário da estrada Central do Maranhão, que previa a interligação da capital ao rio Tocantins, rasgando-o de norte a sul, antiga aspiração dos maranhenses. Foi nesse período que aqui se instalou uma companhia do 2º Batalhão de Engenharia e Construção, o 2º BEC, com o propósito de concluir a construção da BR – 226, entre Presidente Dutra e Porto Franco, promovendo a sua ligação com a rodovia Belém-Brasília.
Foi talvez o momento de maior atividade econômica vivida até então por este município, quando aqui aportaram centenas de famílias, promovendo o aluguel de centenas de casas, estimulando o comércio local e trazendo, enfim, um pouco do progresso que tomava conta do país, até a região do japão maranhense.
A Companhia do 2º BEC ocupou a casa e o terreno que pertencia à família Celso Sereno, no centro da cidade. Ali instalou seu quartel general sob o comando de um capitão-engenheiro do exército, construiu alojamentos para os soldados e oficiais, galpões para as máquinas, prédios para escritórios, e até mesmo uma quadra para a prática de futebol de salão foi erigida por eles. Neste local, aliás, promoveram-se grandes torneios desse esporte, ocasião em que os jovens da cidade enfrentavam os militares, fazendo com que a comunidade se aglomerasse ali para assistir às disputas esportivas. Isto serviu para aproximar os militares recém-chegados à população da cidade. E, desta aproximação, muitas jovens presidutrense se uniram a estes militares, e aos civis que desempenhavam o papel administrativo e acompanhavam os soldados na tarefa de construir o acesso ao Tocantins e Brasília. Essas pessoas, que aqui chegaram, vinham na sua maioria de terras piauiense. Principalmente de Teresina.
Grandes máquinas reviravam o solo, rasgando a mata virgem em direção ao sudoeste do estado, derrubando árvores centenárias, transpondo riachos, rios e lagoas, erguendo pontes, construindo o que mais tarde receberia o nome de BR-226. O sertão começava finalmente a receber, com séculos de atraso, a via de acesso à capital que tanto necessitava, unindo os maranhenses do norte, região litorânea, com os do sul, alto sertão, por meio terrestre.
Presidente Dutra teve contato ainda com alguns profissionais da área de saúde que nunca haviam posto os pés por aqui, como os odontólogos, bioquímicos e farmacêuticos, jovens oficiais que cumpriam seu dever cívico com a pátria, atuando dentro das suas profissões na área de saúde, como ainda ocorre hoje em dia. Trouxe também postos de trabalho para muitos jovens locais, empregando-os na área administrativa, iniciando um processo de geração de emprego e renda que nunca mais pararia, mesmo após a saída dos militares para Barra do Corda e Grajaú.
Nesse período ainda, os militares, que administravam o país com mão de ferro, desempenharam um papel importante na área de segurança, pacificando o município com suas patrulhas diárias, pondo freio ao grave costume da violência que sempre nos acompanhou. Viveríamos um período de tranquilidade de que nos ressentimos muito quando o batalhão se mudou daqui para Barra do Corda com o intuito de cumprir com o seu mister.
Nesse período, muitas moças da cidade acompanharam seus maridos, formando suas famílias longe do torrão natal, como acontece sempre nesses casos, espalhando os presidutrenses pelo país afora.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

A BIENAL E O MUNDO MARAVILHOSO DOS LIVROS

Bienal do Livro 2018


José Pedro Araújo
Quando ainda na ativa, no meio da ciranda da vida em que temos pouco tempo para o que realmente nos diverte, posto que todo o nosso tempo esteja cedido ao trabalho profissional, pegava-me a pensar quando teria tempo suficiente para ler todos os livros que gostaria. E quando esse tempo chegou, vi que precisaria de bem mais do que vinte e quatro horas por dia para dar vazão à minha vontade de me debruçar sobre todos os assuntos do meu interesse. Mais que isso. Precisaria combater o sono que costuma nos acompanhar quando a vista já se mostra cansada, e até mesmo me desligar das outras atrações que teimam em chamar a nossa atenção. Como a internet, por exemplo, que traz para junto de nós um mundo de perspectivas sem fronteiras. Ou mesmo os games, para aqueles aficionados.
Por conta disto – já que o tempo de que disponho não será suficiente – resolvi ser mais seletivo com relação ao que vou ler. Nessa nova fase estão fora do meu catálogo de leitura os best-sellers, ou quase todos os livros que aparecem nas listas de mais vendidos. Sobre os outros, não costumo lançar olhos por razões que não gostaria de falar nessas poucas linhas. E como me sobra pouco tempo para ver tudo o que gostaria, tenho me dedicado, isso sim, aos clássicos, principalmente à releitura de alguns livros que considero ter acrescentado algo de positivo na minha vida.
A atração pelas ideias postas no papel tem me atraído desde sempre, quando passei a me apegar às revistas em quadrinhos lá nos distantes dias da minha infância. Costumo dizer que gosto, desde sempre, até mesmo do cheiro da tinta sobre um livro novo. Aprecio, sobretudo, manusear uma brochura, ler suas orelhas e prefácio, admirar alguma gravura ou fotografia que porventura ela contenha. Talvez por isso, não acredite que o livro um dia venha a desaparecer frente às novas propostas tecnológicas da escrita. Como os e-books, por exemplo. Aliás, também tenho o meu leitor de livros digitais recheado com alguns títulos que aprecio, e o carrego comigo sempre, sobretudo quando estou viajando. Dá para levar junto comigo uma biblioteca quase completa, sem comprometer o peso da bagagem. Por isso, não gosto de entrar muito na discursão sobre esse negócio de o que é melhor, o livro físico ou digital. Mas posso adiantar que tenho alguma preferência pelo livro físico, de papel.
Por tudo o que afirmei acima, toquei tambores quando se anunciaram – há dezesseis anos passados – que alguns abnegados estariam organizando a primeira feira de livros do Piauí. Mal esperei pela sua abertura, e lá estava eu para conferir tudo. Não é preciso dizer que fiquei deveras feliz com o que vi. E mal começou o evento, uma multidão de jovens e crianças saia de todas as ruas para desaguar no local do acontecimento literário do ano. Anui que dali sairia muitos leitores, e que muitos se apegariam aos livros como um náufrago à tábua salva-vidas.
Todos os anos volto ao SALIPI, várias vezes em cada edição, sempre que o mês de junho chega, para apreciar a festa em que se transformou o nosso salão literário.
Poucas semana atrás, estava eu em São Paulo quando uma notícia mais do que interessante me chamou a atenção no jornal que tinha em mãos: começaria naquela sexta-feira a Bienal do Livro de 2018. Quase não me contive. Sem querer, sem programar nada, estava em vias de visitar a maior feira de livros da América Latina. Era inacreditável que isso estivesse acontecendo comigo. Como já havia feito uma programação de visitas que eu gostaria de realizar em Sampa, tive que alterar tudo para incluir uma visita ao Anhembi, local em que a Bienal aconteceria. Só me preocupava uma coisa; será que a minha netinha de cinco anos gostaria da mudança de programa? Não só gostou, ficou encantada. E eu mais que todos.
A Bienal realmente merece todos os elogios que vêm recebendo todos os anos. É um lugar de encantamento e de prazer para os aficionados; um espaço em que as pessoas transitam felizes pelas ruas bem delineadas, largas, identificadas pelas letras do alfabeto que vai de A a O. Aqui um pequeno reparo. Ou uma ideia. Talvez ficasse melhor se ao invés de caracteres, dessem nomes de grandes autores nacionais às ruas. Rua Ariano Suassuna, Rua Bandeira Tribuzi, Rua Gonçalves Dias, Rua Machado de Assis, e assim por diante. Ou até mesmo se homenageassem escritores paulistas, quem sabe. No mais, nenhum outro reparo a fazer.
Transitar pelas ruas da Bienal e encontrar tantas pessoas com um largo sorriso estampado no rosto era uma coisa tão prazerosa e cheia de encantamento que não vi o tempo passar. Cada estande edificado com tanto esmero e beleza era motivo para uma parada e uma consulta em busca de algum título que me agradasse. Precisaria de mais de um dia para apreciar tudo de bom que vi por lá.
Minha netinha Bela, alvo da minha preocupação inicial, ficou também encantada com o que viu, e não reclamou uma única vez de cansaço. Tirou de letra. De resto, observar famílias inteiras passeando entre livros como se aquilo as transportasse para o sétimo céu, o céu de saturno, tornava-me o dia muito feliz. Enquanto isso, pessoas organizavam-se em grupos em um espaço livre para degustar um lanche como se estivessem em um piquenique ao ar livre. Nada mais agradável. Em suma, a festa do livro de São Paulo foi uma experiência incrível e que posso catalogar como uma das mais agradáveis da nossa viagem.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Teresina 166 Anos - a aposta de um visionário

Conselheiro Saraiva, fundador de Teresina


José Pedro Araújo
A história da transferência da capital do Piauí de Oeiras para Teresina é do conhecimento de todos, especialmente dos piauienses. Quanto às dificuldades enfrentadas pelo Conselheiro Saraiva, então Presidente da Província, nem tanto assim. E não me refiro somente à questão de falta de recursos financeiros como principal entrave. A reação da parte dos oeirenses para manterem a capital na sua cidade foi tremenda e quase resvala para a violência pura, com riscos para a própria vida do Presidente em questão. A situação de Saraiva junto ao Imperador Pedro II também não era das mais confortáveis, tal o número de reclamações que os parlamentares piauienses, a maioria originários de Oeiras, levavam até aos ouvidos do mandatário maior da nação. A história oral chega a afirmar mesmo que o Imperador ficou muito agastado quando soube da promulgação da Lei que sacramentava a transferência da capital para Teresina: “é isso que eu ganho ao nomear um menino inexperiente para dirigir uma província como o Piauí”, teria dito. Se afirmou isso, não podemos confirmar, mas não há dúvidas de que seus ouvidos ficaram incomodados com tantas reclamações que recebeu pelo ato praticado pelo seu indicado.

O que se sabe mesmo é que Saraiva era um homem determinado e com uma visão de futuro muito aguçada, pois não foram poucas as vezes que se tentou mudar a sede do governo de Oeiras, e não se conseguiu. A última vez que tal intento ocorreu elegia-se como nova sede do governo a povoação de São Gonçalo (Regeneração), sem que lograssem êxito. Quando viram que Saraiva se mostrava irredutível, e com algum apoio no parlamento, alguns ainda aventaram a possibilidade de transferência da sede para... São Gonçalo, que não ficava tão distante assim da velha capital. Mas o Conselheiro os enfrentou com argumentação na ponta da língua para não se render aos apelos dos refratários à mudança. Vislumbrava mesmo a utilização do Rio Parnaíba como meio para retirar a província do atraso e, ao mesmo tempo, evitar que o Piauí continuasse a ver todas as transações econômicas da região ser negociadas em Caxias, próspera cidade maranhense.

O parlamento da província ainda tentou levar a coisa na manha e postergar a transferência, mas Saraiva reagiu a tempo e incluiu no relatório encaminhado em 1º de julho de 1852 aos parlamentares, um rol de motivos que não deixava dúvidas quanto às vantagens da mudança sugerida, nem quanto à sua determinação de procedê-la. Deixemos que fale então:

  “Quando vontade tivesse de esquecer agora assunto tão importante, para entregá-lo sem reflexão à vossa sabedoria, e experiência, era nisso embargado pela necessidade que tendes dos conhecimentos práticos indispensáveis para considerar uma matéria de tão subida gravidade”.

“No meu anterior relatório, manifestei muito explicitamente quanto pensava a respeito dessa questão, e cada vez mais me tenho convencido de que a mudança da capital, é a primeira necessidade da Província, e que cumpre-vos satisfazer à esta necessidade de uma maneira que mais se harmonize com os nossos recursos, e com os interesses, que devem ser de alguma forma consultados”.

“Não sei por que, Senhores, a Assembleia passada entendeu em sua sabedoria conveniente o adiamento de um projeto, que nesta casa foi elaborado em atenção a essa ideia, e isso tanto mais reparo mereceu, quando em épocas mais remotas o Corpo Legislativo quase que sem convicção de exequibilidade de execução das leis a respeito, votou-as com suma facilidade. Como Administrador, cumpro meu dever, trazendo a este recinto o que penso em benefício da Província; e se a mudança da capital só pode oferecer-me desgostos e sacrifícios, porque ela exige trabalhos avultados para sua realização, e necessidade de se ofender até os interesses de amigos, força é reconhecer que é preciso muita dedicação aos interesses públicos para que alguém queira tomar sobre seus ombros.”

“Confesso que a tenho promovido com empenho; porque a mudança da capital é uma dessas medidas que tem necessidade para o seu triunfo de esforços grandes, e de uma calculada perseverança da parte de seus amigos, e devo dizer-vos ainda agora, Senhores, que deveis contar com esses esforços; porque não serei eu quem, convencido da vantagem imensa da mudança da capital da Província, recue diante de sacrifícios, e de embaraços, enquanto me restarem forças para suportar aqueles, e meios legítimos e honestos para remover a estes”.

“Em vossas mãos está, pois, a solução dessa questão que prende a atenção da Província inteira, e como apenas hoje os inimigos dessa medida só lhe opõe a objeção de se a querer realizar para um lugar inconveniente, e com precipitação, me parece necessário insistir sobre essa circunstância”. 

“Quanto a mim a mudança da capital para o Poti há de produzir a navegação em grande escala no rio Parnaíba; há de dar à Província um importante ponto comercial; e há de possuir uma civilização grande, porque há de ter riqueza, e há de ficar ligada por navegação a todos os municípios da Província, e a todos os grandes centros de civilização do Império”.

...


 “Assim, pois, Senhores, votai a lei, se achares é isso a bem da Província. Votai, sem vos esquecerdes de nela consignar todos os meios indispensáveis para sua execução”.

“Não gosto de arbítrio; porém o arbítrio é necessário em semelhantes medidas: porque elas jogam com circunstâncias imprevistas, que tem de ser convenientemente atendidas”.

Vinte dias depois a lei estava aprovada e sancionada. Apesar de muito jovem, 29 anos apenas, o Conselheiro Saraiva era um homem determinado e mostrou isso ao se contrapor às principais lideranças políticas da Província, que advogavam a manutenção da capital em Oeiras; ou com os parnaibanos, que queriam a instalação da sede do governo no litoral. Saraiva provou ser um homem também de visão ao propugnar pela localização da capital bem no centro do território piauiense.

O Piauí deve muito a esse baiano ilustre. Nenhum piauiense tem dúvidas, hoje, que criou uma bela e estratégica cidade na Chapada do Corisco. Salve o 16 de agosto! Salve José Antonio Saraiva! (Texto Publicado originalmente no Portal MaisPiaui.com)               

domingo, 12 de agosto de 2018

NAQUELA MESA - UMA HOMENAGEM AOS PAIS


NAQUELA MESA

(Sérgio Bittencourt)



Naquela Mesa Ele Sentava Sempre
E Me Dizia Sempre O Que É Viver Melhor
Naquela Mesa Ele Contava Histórias
Que Hoje Na Memória Eu Guardo E Sei De Cor


Naquela Mesa Ele Juntava Gente
E Contava Contente O Que Fez De Manhã
E Nos Seus Olhos Era Tanto Brilho
Que Mais Que Seu Filho Eu Fiquei Seu Fã


Eu Não Sabia Que Doía Tanto
Uma Mesa Num Canto Uma Casa E Um Jardim
Se Eu Soubesse O Quanto Dói A Vida
Essa Dor Tão Doída Não Doía Assim


Agora Resta Uma Mesa Na Sala
E Hoje Ninguém Mais Fala No Seu Bandolim
Naquela Mesa Tá Faltando Ele,
E A Saudade Dele Tá Doendo Em Mim