sábado, 29 de novembro de 2025

Despedida do frio

 

Leusden - Holanda (Google)

Luiz Thadeu Nunes e Silva(*)

 

 

Tarde fria do outono europeu. Estou em Leusden, pequena cidade holandesa. Faz 3° graus lá fora. Da janela do quarto vejo uma garoa fina que começou pela manhã. Árvores desfolhadas, folhagem por calçadas e ruas.

Arrumei a mala; amanhã começa meu retorno para o Brasil, após trinta e três dias visitando países da Europa e da Ásia. Como Giramundo, pisei em 15 países, sendo onze novos, que ainda não conhecia. Chego à marca de 162 países visitados em todos os continentes.

A Holanda, derradeiro destino desta epopeia, é um país fascinante e surpreendente. Com pouco mais de 20 milhões de habitantes, é um dos países mais densamente povoados do mundo, com mais de 400 habitantes por km².

Fugi dos grandes centros, estou hospedado em Leusden, pequena cidade cercada por fazendas. Hoje acordei com o cantar do galo, algo que não ouvia fazia tempo. Terra das bicicletas, minha anfitriã, Fernanda, vai buscar leite, ovos, queijo, de bike. Maravilhoso. Algo especial para mim que fui criado junto à natureza, no sítio dos meus avós paternos, e que perdeu esse ar bucólico com o tal “desenvolvimento”.

Quando comecei a planejar a viagem no meu período de férias, a ideia inicial era visitar 13 países da África.

Mapa mundi nas mãos, juntamente com o amigo Ivan Zanella, íamos traçando o roteiro dos países a serem visitados. Durante uma semana, quebramos cabeça para montarmos o roteiro. Mas as complicações fizeram desistir da África e optar pela Europa e Ásia. Era preciso tirar muitos vistos para os países africanos, além de guerrilhas, o que gera insegurança, e do problema do ebola. Com tudo contra, optamos pelo roteiro que fiz nestes trinta e três dias.

Visitei países fantásticos, que não sabia que iriam me surpreender. A ideia Islândia, último país europeu que faltava para fechar todos do Velho Mundo. Desembarquei em Reykjavik, temperatura de 1°, após uma nevasca dias antes. Ruas cobertas de gelo.

Embarquei para a Ásia. Dos 15 países que formavam a ex-União Soviética: Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Estônia, Geórgia, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão, -esses países tornaram-se independentes após a dissolução da URSS em 1991. Já visitei 14 países, só não conheço o Turcomenistão.

Nesta maratona visitei Baku, Azerbaijão; Dushanbe, Tajiquistão; Tashkent, Uzbequistão; Bishkek, Quirguistão; Almaty, Cazaquistão.

Além de visitar Ulan Bator, Mongólia, a capital mais fria do mundo. Peguei frio de 18 graus negativos, quando a temperatura, em algumas épocas do ano, chega a 40 graus negativos.

Agora é hora de voltar para casa. Sigo de trem de Leusden para Amsterdam, onde embarco para Lisboa, apenas conexão. Atravesso o Atlântico e desembarco em Fortaleza. No dia seguinte sigo viagem para São Luís do Maranhão, minha caliente Ilha do Amor, terra de encantos e magia. Me esperam 32°. Frio é bom, mas nordestino gosta mesmo é de calor.

Como uma viagem nunca acaba, agora é viajar nas lembranças e memórias de dias que já entraram para a história.

(*)

Luiz Thadeu Nunes e Silva  é Engenheiro Agrônomo, escritor e Globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.

Instagram: @luiz.thadeu

Facebook: Luiz Thadeu Silva


quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Outros verões virão

 

Imagem extraída do Google

José Pedro Araújo (*)

 

Esses dias que correm são de uma malvadeza tremenda. Refiro-me ao tempo, não a outros problemas da vida atual. E então me pergunto se o tempo já era assim, tão desumano, quando eu ainda era uma criança. No velho Curador, correndo descalço pelas ruas incandescentes e poeirentas, ou embrenhado na mata em busca de passarinhos, não me lembro de meu corpo padecer tanto quando nos dias atuais. O calor terrível que hoje me martiriza, já era tão grande assim, quando não havia a presença do ar-condicionado, e nem mesmo de um ventilador? Não sei responder a essa pergunta, pois as imagens que me vem à mente são de um frescor consolador. Além do mais, quando o sol castigava demais, sempre havia o riacho Firmino ou mesmo as pequenas lagoas que se formaram às margens da rodovia recentemente construída, a nos fornecer as suas águas dadivosas, espantando para longe o calor.

Dávamos como certo, que neste mês de novembro, as primeiras chuvas já apareciam por lá. Esparsas, talvez três ou quatro borrifos que mal dava para aplacar o calor do vento e faziam com que a terra se tornasse mais agradável de se pisar. Mas elas sempre estavam por ali. Dois de novembro, então, Dia de Finados, quando choramos os nossos que partiram, era um desses dias em que já se saia de casa com um guarda-chuvas nas mãos, pois havia a certeza de que o céu derramaria água sobre a terra. Pois os últimos dois de novembro têm fugido a essa regra. Nada de chuvas, apesar de algumas nuvens escuras terem ocupado espaço no firmamento, para depois seguirem mansamente em direção ao oeste, sem derramar uma gota sequer.

Nesse tempo também, os agricultores da minha região já haviam preparado as suas roças, feito a derrubada de praxe da mataria, e até aproveitavam-se do tempo seco para atochar fogo na galharia ressecada. Quanto aos retardatários, aqueles que não confiavam na regra imposta, arrependiam-se de não terem tido a cautela de praxe, e se preparavam para os próximos dias de estio, quando então também tacavam fogo nas suas derrubadas. Era isso, ou corriam o risco de perderam o tempo ideal, pois as chuvas do final do mês já vinham mais intensas e amiudadas, impedindo que as árvores caídas secassem e aceitassem o fogo que iria contribuir para a limpeza do terreno, preparando-o para receber as sementes.

Hoje em dia, não sabemos ao certo quando as chuvas cairão, molhando a terra e refrescando o ar. Os meteorologistas até já se aproveitaram do You Tube para divulgar as suas notícias sobre o clima, mas nem sempre acertam. Estão sempre procurando explicações nas condições climáticas para justificar os seus erros. Hoje, por exemplo, teríamos um pouco de chuva aqui em Teresina, diziam, coisa leve, mas que deixaria o ar mais respirável. Até vi algumas nuvens brigando contra o sol desde o começo da manhã, mas não creio que as minhas plantas venham a receber a dádiva da água caindo sobre elas ainda no dia de hoje. E à tarde, e até na primeira parte da noite, o calor vai se acentuar e nos torturar. Essa é outra diferença que sinto. Parece que a cidade se aquece muito mais quando o sol vai embora e a noite se derrama sobre ela. Nunca vi nada igual. O calor às oito da noite é mais intenso do que a temperatura que tivemos às três da tarde. Por quê? A pergunta que faço é para mim mesmo, não quero uma resposta dos ambientalistas ou de seus contrários. Já chega de ouvir sandices de um e de outro lado. Mas de uma coisa eu tenho certeza: a manhã esteve um pouco mais fresca que as dos dias anteriores. Bastou uma ameaça de chuva para o calor amainar e o vento derramar sobre nós um leve frescor.

A cada ano que passa clamo mais pela chegada das chuvas. Olho para o nascente com a esperança de que de lá venha uma nuvem carregada de gotas de água para serem derramadas sobre a cidade que se debate tristemente entre o calor e a esperança. Enquanto isso, vamos sofrendo também para honrar os elevados boletos que a empresa energética depositou na nossa caixa de correspondência. A conta da água também sofre uma grande elevação nesse período, chegando quase a dobrar. Ainda bem que não precisamos ligar o aquecedor de água, pois o líquido já desce do chuveiro tão quente que temos que praticar um grave desperdício, deixando que ela escorra por um bom tempo até se tornar mais acessível. 

Voltando ao meu velho Curador, recordo-me ainda de que a água que usávamos para tomar banho, e que era coletada no poço que tínhamos no nosso quintal, era mais fresca e não nos queimava o cocuruto como a que sai da tubulação que abastece a nossa rua. Eram tempos difíceis, sem água encanada, sem energia elétrica durante o dia, mas parece que convivíamos mais facilmente com o clima.

É certo que o período de chuvas, ou os invernos, como chamamos por aqui, trazem também os seus infortúnios, como as nuvens de muriçocas que invadem as nossas casas, a queda da energia que nos deixa no escuro, os alagamentos, até mesmo as ventanias que muitas das vezes nos causam sérios problemas. Mas nada rivaliza com as temperaturas escaldantes que nos afligem nos dias atuais. E é por isso que olho para o levante todos os dias na esperança de que aquela nuvenzinha fraca que se forma se junte às suas colegas e formem nébulas carregadas de água. Conto os dias para que isso aconteça.

E quando o inverno vem, fico a contar o tempo, preocupado de que o verão logo voltará. Teremos novos verões em breve, é o que me vem à cabeça. E olha que eu não planto roças, não crio animais, não faço nada disso. Imaginem só se eu me preocupasse com a sede dos meus animais ou com a secura dos meus roçados!

Acontece, como dá para notar, que sou um admirador da chuva, daqueles que invocam um dia chuvoso como “um belo dia”, e não como um “dia feio”, como costumam proferir os sulistas.  Daí, também, ir na contramão dos irmãos Goncourt, escritores franceses citados por Montello no seu ótimo Diário Completo, quando dizem que “Na província, a chuva é uma distração”, para destacar o tédio ou falta de ocupação dos provincianos. De minha parte, prefiro humildemente admirar o fenômeno natural como uma das mais belas oferendas da natureza para os seres humanos. Para mim, é como se gotas de prata estivessem sendo lançadas do alto para enriquecer os meus dias.

Porém, as notícias que acabo de ler no jornal local é de que Teresina terá uma semana de intenso calor e baixa umidade. Porque eu fui dirigir o meu olhar para o You Tube!

(*)


José Pedro Araújo é engenheiro agrônomo, funcionário público federal aposentado, historiador, cronista, romancista, e coordenador do blog Folhas Avulsas.    


sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Pelo mundo; um café em Varsóvia

 



Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

Luiz Thadeu em Varsóvia, Polônia.

                                                                                                          Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)


Terça feira, 04/11, desembarquei em Varsóvia, Polônia, vindo de Reykjavík. Este é o quarto país que visito nesta trip. Já passei por Lisboa, Portugal, Amsterdam, Utrecht, Leusden, Haia, na Holanda; Reykjavík, Islândia. Tive sorte no curto tempo que estive na Islândia. Dois dias antes de desembarcar na gélida Reykjavík, teve uma nevasca, com 50 centímetros de neve, coisa que não ocorria no país, neste mês de novembro, há 50 anos. Caminhei por uma Reykjavík com gelo derretendo em ruas e calçadas. Cuidado redobrado para quem se locomove com muletas. O aeroporto de Reykjavík fica a 60 km do centro da fascinante cidade. Deu para conhecer a grande ilha, os lugares mais distantes conhecerei em uma próxima viagem. O Velho mundo me fascina. A Europa com seus 50 países, tem arte, história, gastronomia, experiências e pessoas interessantes. Como diz o amigo Francisco Brandão, português com coração brasileiro, “A Europa é um grande museu”.

Na Holanda, visitei Haia: almocei com amigos queridos, visitei a Casa de Maurício de Nassau, que tem muito a ver com nossa história.

Varsóvia, com seus dois milhões de habitantes, cosmopolita e efervescente, pulsa o moderno ao lado do passado. Musical, tem artistas de rua, espalhados pela cidade. A Polônia, localizada ao lado da Ucrânia, já recebeu mais quatrocentos mil ucranianos, que se refugiaram em suas cidades, fugindo da famigerada guerra com a Rússia. Em 2018 tive a oportunidade de visitar Kiev, e andei por praças, ruas e avenidas arborizadas e bem cuidadas. Nunca imaginei tamanha barbárie por causa de uma mente doentia como a de Wladimir Putin. Assistir pela TV as cenas horripilantes da guerra é muito triste. Escrevo de um Café, no centro comercial e econômico de Varsóvia, que em nada lembra que tenha uma guerra sangrenta tão perto.

Observo o frenesi das pessoas, aturdidas em seus afazeres. Um casal à minha frente, a sorrir, com o frescor da jovialidade. Um senhor solitário, a ler calmante o seu jornal, atualizando-se sobre as mazelas de dias loucos. Uma senhora com seu cachorro, ambos agasalhados do frio, não parecem preocupados com o seu entorno. Um jovem, cabelos ruivos, alargados nos lóbulos das orelhas, Piercing no nariz, lembra índios da Amazônia. O termômetro marca 8 graus. Gosto de frio, vou tomar mais um café e checar a planilha das novas viagens que planejei.

Gosto do Velho mundo, da calmaria de sentar-se em um Café, sem a neurose com preocupação que toma conta de nós brasileiros, inseguros em qualquer lugar de país chamado “Brasil”, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que a cada dia fica mais violento. As mazelas do Brasil vistas de longe nos tornam cada vez mais feios.

Amanhã me despeço da Europa, sigo para a Ásia, o continente exótico e populoso, que mais me encanta. Primeiro vou para Azerbaijão, com sua capital Baku, planejada e cada vez mais ocidental. Depois visito oitos novos países.

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Luiz Thadeu Nunes e Silva é Engenheiro Agrônomo, escritor e Globetrotter, autor do livro “Das muletas fiz asas”.

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