José
Pedro Araújo
Cap. Diolindo Luis de Barros |
“Quando meu pai me trouxe para a
região do Curador, tinha por aqui, no máximo, vinte e seis ou vinte e sete
casinhas. Todas de palha”. O depoimento com o qual início este texto sobre a
família Barros e outras mais que foram se associado a ela, foi prestado pela
senhora Maria José Nunes Barros, minha avó materna. Era assim que ela, ainda
muito lúcida, e já beirando aos cem anos de existência, gostava de fazer a
comparação da pequena vila da sua infância com a Presidente Dutra dos anos
noventa.
D. Zezé, como era conhecida, veio para
a região com os pais, José Nunes de Almeida e Maria de Melo Nunes, lá pelos
idos de 1897, saindo da cidade de Pedreiras para situarem uma fazendinha de
gado na região da Lagoa de Pedra, próxima ao Centrinho. O local hoje faz parte
da zona urbana da cidade. Poucos anos depois, por volta de 1903, chegava ao
Curador, originado de Pastos Bons, o jovem Diolindo Luís de Barros, casado,
família já em formação, para se situar também na vila que nascia já como boa
opção de vida.
Quis Deus que ele ficasse viúvo, completados
poucos anos de seu casamento com a senhora Maria Barros. Naqueles anos,
morria-se muito facilmente na região, nem uma pequena farmácia se tinha, caso
houvesse necessidade de se adquirir um analgésico para combater uma dorzinha de
nada. As doenças palustres, em especial o impaludismo, também conhecida como
sezão ou maleita, grassavam vorazes na região, e provocavam uma mortandade
considerável, especialmente em crianças e idosos. E assim, afligida não sei por
qual das doenças mais comuns, faleceu a primeira esposa do Capitão Diolindo
Luís de Barros, Capitão da Guarda Nacional, título honorífico portado por
poucos.
Quanto a José Nunes de Almeida,
proprietário de uma das melhores fazendas da região, construiu a primeira casa
de telha na vila, no largo de São Bento, lugar onde depois seria também construída
uma capela, e depois a igreja matriz de São Sebastião. Defronte a ele, no lado
oposto, também erigiu a sua morada o Cap. Diolindo, no lugar onde hoje está o
Convento que abriga o Colégio da Sagrada Família. Esses dois homens tornaram-se
amigos fraternais, mais isso não impediu que o viúvo com seis filhos tomasse a
jovem filha do amigo, Maria José, em casamento. Este fato, naturalmente, não
foi do agrado do sogro. Pior que isso, causou imensa decepção no fazendeiro,
que abandonou as terras, a casa de morada e retornou para Pedreiras. Nunca mais
pôs os pés no Curador. Começava assim a história da família Barros no Curador.
O Capitão Diolindo ocupou funções de
mando na nascente vila, o principal deles foi o de Agente Fiscal Estadual (Fiscal
do Consumo, como era denominado pelo povo do Curador), posto que antecedeu ao
de coletor. Já havia sido professor - um dos primeiros -, comerciante, marchante,
e muitas coisas mais antes de se responsabilizar pelos impostos na região. O
arrecadador de imposto, pela distância da sede que distava mais de 100 km,
também tinha a responsabilidade pela administração da vila e pelo pagamento das
despesas que surgissem por lá. Depois disto, todo final de mês tinha que selar
a montaria e partir para Barra do Corda para prestar contas do que arrecadara. Diolindo
era irrequieto, gostava de viajar por estes sertões, principalmente para
realizar uma das atividades que mais o animava: a garimpagem. Por esta razão, pediu
afastamento do cargo de agente fiscal em agosto de 1934, de acordo com o
relatado no Oficio 15/6, de 15.09.1934, enviado pelo Fiscal de Rendas Estadual,
Mucio Monteiro, cuja cópia ainda temos conosco. Depois disto, partiu para a
primeira das muitas viagens que realizaria para o Pará.
O Capitão não era muito interessado
por política, mas, anos depois, alguns da sua descendência enveredaram por este
caminho. O primeiro deles foi o genro, Antônio Macedo, que cerrou fileiras
junto ao grupo do Capitão Virgulino Cirilo de Sousa, primeiro adversário dos
Léda. Não fez grande carreira, apesar de ser um dos lideres daquela facção, e
de tentar um mandato de vereador na primeira eleição ocorrida no município. O
primeiro membro da família a ter sucesso político foi meu pai, José Pedro de
Araújo, casado com uma das filhas do Capitão Diolindo Barros, a professora
Teresinha Barros.
José Pedro de Araújo |
José Pedro de Araújo compôs
politicamente com a ala do Capitão Honorato Gomes e, depois, até a sua morte,
com o grupo de Remy Soares, continuandor daquele esquema. Nunca mudou de lado.
Natural de Picos, Piauí, pertencia a uma família de políticos de destaque no
estado. Parentes seus ocuparam cargos eletivos em todo o espectro político
estadual, desde vereador, prefeito, deputado estadual e federal, senador e
governador. Trazia, portanto, no sangue, a genética da política quando veio
para Presidente Dutra. Ativo, e portador do sentimento de que o homem deve
fazer o seu próprio caminho, saiu do Piauí ainda jovem e veio para o Maranhão, sozinho.
Incorporou-se a policia militar, atividade que terminou por levá-lo a
Presidente Dutra. Mas, antes mesmo de casar, deu baixa da corporação e
enveredou pelo campo do comércio, profissão que abraçou por longos anos.
Enquanto isso participava ativamente do movimento político local, elegendo-se
vereador por dois mandos consecutivos, nos anos sessenta (1960 a 1969). Como
vereador, representava a extensa região do Crioli do Joviniano, onde também
tinha uma filial do seu comércio, chegando a residir naquele povoado por dois
anos.
Por vontade própria, abandonou a
vereança, pois sabia que a sua condição de político era a fonte de todas as
preocupações da minha mãe, em um tempo em que ser candidato a alguma coisa no
Curador era uma atividade de alto risco. Abandonou a disputa por cargos, mas
nunca deixou a política em si, que estava entranhada no seu sangue. Nem a
política sindical. Foi fundador da cooperativa de eletrificação rural e diretor
e membro efetivo do sindicato dos proprietários rurais; como pastor protestante,
foi presidente da Aliança das Igrejas Cristãs Evangélicas(AICEB), além de
Tesoureiro da Federação da Agricultura do Estado do Maranhão. Era um homem de
múltiplas atividades, com se pode ver.
Nelson Falcão Barros foi o segundo
membro da família a galgar uma posição política no município. Neto de Diolindo
Barros, foi vice-prefeito municipal na chapa encabeçada por Antenor Léda (1970
a 1973). Nelson era comerciante e proprietário rural, e participou da primeira
e única grande aliança política no município, quando oposição e situação se
juntaram e lançaram um só candidato. Pouco envolvido com a política local, era,
contudo, uma liderança na área agropecuária, presidindo o Sindicato dos
Proprietários Rurais de Presidente Dutra por longo período. E nessa condição, transitava
com desenvoltura tanto pela situação como pela oposição. A paz duraria pouco
tempo, após a eleição que selou a aliança na política local. Passados poucos
meses, voltaram as velhas práticas e a temperatura política voltou a níveis
inimagináveis. Poder-se-ia dizer que o clima retornou ao seu normal, pois a
temperatura nunca esteve baixa, desde os primeiros embates ocorridos com a
fundação do Curador. Nelson terminou o seu mandato e nunca mais quis se
envolver com a política partidária. Passou o resto da sua vida administrando os
bens que possuía e tentado fazer funcionar o velho sindicato patronal. Aliás,
naquele sindicato funcionou um gabinete odontológico que prestou grandes
serviços à comunidade mais carente do município.
Paulo Falcão Barros |
Coube a Paulo Barros Falcão, irmão de
Nelson, também empresário, dar continuidade aos projetos políticos da família,
anos mais tarde, e se envolver em eleições. Respeitado como um dos comerciantes
mais hábeis e bem sucedido da região, sempre participou ativamente dos embates
políticos locais como um dos seus apoiadores mais fiéis. Quando houve a grande
reviravolta que levou Remy Soares à prefeitura de Presidente Dutra, estava ele
entre os mais entusiasmados componentes do grupo vencedor, depois de anos de
derrotas acachapantes. Paulo Falcão ganhou prestígio político nesse tempo, a
ponto de ser escolhido candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada pelo
médico Agripino Campos Neto. A chapa foi vencedora, e Paulo Falcão mais um
descendente do Capitão Diolindo Barros a ocupar um cargo público no município.
Terminado o mandato (1989 a 1992), voltou ele a desempenhar apenas as suas
atividades favoritas, o comércio e a agropecuária. Paulo ainda é uma palavra
respeitada quando se trata de traçar estratégias visando futuros embates
eleitorais. Mas, nunca mais quis se candidatar para cargo eletivo. Leva uma
vida sossegada, entre o comércio e a residência edificada no recanto da cidade
onde a família Barros reside, a chamada região da Bomba. Aliás, a região é
chamada assim porque por lá existem alguns postos de combustíveis. Paulo Barros
Falcão foi também o precursor dessa atividade econômica, pois foi ele quem instalou
na cidade o primeiro posto para abastecimento de veículos automotor.
Raimundo Falcão Nava |
A família Barros é um grupo familiar
dos mais numerosos em Presidente Dutra. Filhos, netos, bisnetos, tetranetos, e
sei lá o que mais, de Diolindo Barros, são contados às centenas em terras do
Curador. E dentre estes, mais um descendente enveredou pelo campo político:
Raimundo Falcão Nava. Raimundo Nava é filho de José Nava e Neusa Falcão Nava, e
bisneto do velho fundador do clã dos Barros. Funcionário público estadual, tem obtido
vitórias eleitorais há várias eleições, elegendo-se vereador desde a 12ª
legislatura. Faz parte do grupo político organizado por Jean Carvalho, ala esta
continuada pelos irmãos, Jurandy e Juran Carvalho. Atuante, Raimundo Nava
trabalha diuturnamente como um verdadeiro prestador de serviços à comunidade
mais carente do município, situação que o transformou em um dos vereadores mais
sufragados em todas as eleições que participou. Está atualmente no seu quinto
mandato consecutivo e, pelo visto, não tem intenção de parar por aqui. Raimundo
Nava já presidiu a câmara municipal e é uma das maiores lideranças na casa. A
sua lealdade ao grupo que acompanha desde a sua primeira eleição, faz dele um
dos seus mais destacados membros. Lealdade, nesses tempos de mudanças
constantes de rumo, é uma mercadoria rara. Raimundo Falcão Nava é o
representante da família Barros na política do Curador, sempre presente nos
embates eleitorais nestes setenta e dois anos de sua emancipação política.
Belas histórias de grandes vencedores e construtores do Curador.
ResponderExcluirÉ verdade, meu amigo. Principalmente porque se tratavam de homens fortes, destemidos, mas pobres, sem grandes riqueza. Nascemos de pequenas fazendas, não nos colossos das casas grandes, das grandes plantações, dos grandes rebanhos. Ao contrário, o desbravamento foi feito por gente que pouco tinha além de uma família numerosa, tangida pela seca nordestina.
ResponderExcluirDE GRANDE VALIA ESSA HISTÓRIA DA FAMÍLIA BARROS, HOJE JÁ NÃO ESTÁ CONOSCO NOSSO QUERIDO PEDRO ARAÚJO, CASADO COM MINHA TIA TEREZINHA IRMÃ DE MEU PAI DEOCLÉCIO NUNES BARROS
ResponderExcluirEita, como é bom vc relembrar nossa trajetória, de onde viemos e o que cultivamos para a vida, um legado para nossos filhos
ResponderExcluirParabenizo mais uma vez por nos abrilhantar com a cultura e historia de nossa terra
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