domingo, 24 de dezembro de 2023

No Natal, presente é estar presente.


 

Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Todos corridos, parece que o tempo acelerou as horas, os dias, as semanas, os meses, os anos. Não temos tempo para nada. Estamos açambarcados de coisas quase sempre inócuas. Perdemos tempo com questiúnculas. Vivemos a época do descartável. Não precisa nem quebrar, basta avariar. Joga-se fora, troca-se, coloca outro no lugar. Isso serve para objetos, coisas e relacionamentos.

É Natal outra vez. Tempo de reunir, juntar, ajuntar, aglomerar, para celebrar. Mas celebrar o que mesmo? O Papai Noel e suas renas? O panetone e os presentes? Roupas novas e reluzentes?

Com o mundo cada vez mais mercantilista, onde o consumismo virou religião, falar em Jesus Cristo ficou quase démodé.

O número de agnósticos cresce no mundo todo, especialmente nos países ditos “desenvolvidos”.

 A mídia nos bombardeia a cada segundo: compra, compra, compra.

Importamos novo modismo norte americano, -mais um, a Black Friday, onde compramos o que não precisamos, gastando o que não temos, nos endividamos. Tempos em que tudo tem preço, nada tem valor.

Aprendi que o melhor desconto da tal Black Friday foi aquele que não comprei o que não precisava e economizei 100%.

Natal para mim remete ao tempo em que minha querida e saudosa mãe Dinha, com seu salário de professora primária, ia ao comércio, nos armazéns, e comprava “pano”, como era chamado o tecido e seus aviamentos. Depois íamos todos na costureira, nossa vizinha, para tirar as medidas e fazer a roupa nova de toda a família para a noite de Natal. Nossa pequena casa, com piso em cimento corrido, vermelho, era encerrado com um escovão pesado e cera Parquetina vermelha. A pequena árvore de Natal verde, com ponteira dourada, bolas que lembravam casca de ovo de tão frágeis, e pisca-pisca de frutinhas e Papai Noel a enfeitar nossa pequena casa. Na radiola Telefuken, pé de palito, madeira clara, togava ‘Jingle bell’.

Embaixo da árvore os presentes, que por mágica amanheciam debaixo de nossas camas de campanha no dia seguinte. Presentes de Papai Noel.

As melhores comidas que tenho registradas em minha memória gustativa vêm dessa época. Arroz com passas e abacaxi, farofa, pernil, torta de camarão, macarronada e peru. Detalhe, o peru era comprado vivo e morto na véspera. Nessa época não exista chester. Acompanhado de refrigerantes e espumante George Aubert, da garrafa verde, que à época era chamado de champanhe. E, o melhor, as sobremesas: pavê, bolos, torta fria e rabanadas. O Natal era a única época do ano que se comia nozes, tâmaras, damasco, castanhas portuguesas e queijo do reino Jong, o famoso queijo cuia.

Tudo tão simples, tão marcante. Antes da meia noite, íamos: mamãe e os filhos maiores, para a igreja do bairro assistir à Missa do Galo.

Hoje, fico a me perguntar como minha mãe, com seu minguado salário de professora primária fazia para nos sustentar. Milagre de mãe, bênçãos divinas.

Nos Natais eu ganhava carros de fricção ou de controle remoto. Tive carro de polícia, dos bombeiros, ambulância; além de Forte Apache. Quando o dinheiro dava, até Autorama e Ferrorama da marca Estrela, o maior fabricante de brinquedo da época, eu ganhava.

Hoje tudo mudou. Os brinquedos são eletrônicos e tecnológicos, de última geração. Crianças de dois anos se entretém com celulares e tablets.

Naqueles natais não via tantas pessoas passando fome em nosso entorno.

É vergonhoso e aviltante vê 30 milhões de pessoas passando fome, segundo o IBGE, em um país tão rico, um dos maiores produtores de alimentos do mundo.

O Brasil com enorme concentração de renda e má distribuição, nos torna iníquos e bestiais. Sai governo, entra governo, de todas as colorações partidárias, muitas promessas, e as coisas só pioram.

Se você não tem muito para dar, dê atenção e afeto neste Natal, são coisas que nunca envelhecem, não saem de moda. E, lembre-se que celebramos o nascimento de Jesus Cristo, o filho de DEUS.

Mas é Natal, é nascimento, tempo de renovar a esperança de tempos melhores. Fico com a simplicidade da poetisa goiana Cora Coralina: “Enfeite a árvore de sua vida com guirlandas de gratidão! Coloque no coração laços de cetim rosa, amarelo, azul, carmim. Decore seu olhar com luzes brilhantes, estendendo as cores em seu semblante. Em sua lista de presentes em cada caixinha embrulhe um pedacinho de amor, carinho, ternura, reconciliação, perdão. Tem presente de montão no estoque do nosso coração e não custa um tostão”. E, lembre-se o Natal não é somente em dezembro, mas o ano todo.

Feliz Natal para todos, com saúde, fé, paz, amor, respeito e proteção divina.

(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é Eng. Agrônomo, Palestrante, escrevinhador, cronista e viajante. O latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. Membro do IHGM.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

ÀS PALMEIRAS DA CASA DO CANTADOR (Em Teresina-PI).

Palmeiras Reais da Casa do Cantador(Imagem: Joames)


Joames(*)

Essas palmeiras são almas

De poetas falecidos;

A brisa nas horas calmas

Passa soltando gemidos

 

Entre as delicadas palmas,

Cujos sons são parecidos

Com poemas de vivalmas,

Mas que nunca foram lidos.

 

Diversas placas gravadas

Nos rudes troncos pregadas

Dizem numa exclamação:

 

Por ordem do Soberano

Poetas mudam de plano,

Mas as suas poesias não!

(*) Joaquim Mendes Sobrinho (Joames) é escritor, cordelista, poeta, estudioso e professor de Literatura de Cordel nas escolas municipais de Teresina. É membro da União Brasileira de Escritores – UBE/Tersina; da Associação dos Poetas Populares de Timon e Região dos Cocais (MA). Autor de livros: Antologia dos Cantadores e Poetas Populares do Piauí; As Proezas de Konaré (Poema); Como fazer Versos; Ajuricaba; Pérolas do Improviso; poemas avulsos e dezenas de folhetos de Cordel.

sábado, 16 de dezembro de 2023

A NOITE DE AUTÓGRAFOS NO CURADOR FOI IMPACTANTE

 

Minhas netinhas: Bela, Alice, Lavínia e Gabriela
(Foto de autoria de Caroline S. Araújo)

José Pedro Araújo (*)

Já repeti, até quase a exaustão, o que me levou a escrever um livro sobre a história da ocupação das terras centrais da região conhecida como Japão maranhense. Mas vou repetir, para que alguém que não tenha lido algum dos textos em que fiz referência a este fato, ou mesmo ouvido o que eu dizia oralmente em alguma das minhas conversas sobre o tema.

Essa história começou assim: estava, certo dia em uma rodada de conversa com o meu irmão Jônatas e outros amigos do velho Curador, quando o tema sobre a história da região veio à baila. E na continuação da conversa, alguém tocou no ponto nevrálgico do assunto, ao afirmar que a memória da cidade estava apenas no formato oral e que vinha desaparecendo rapidamente com o falecimento dos nossos pioneiros. Foi nesse ponto da conversa que o meu irmão me desafiou a escrever sobre a história da região. E por mais que eu alegasse não ser versado no assunto, que gostava era de escrever crônicas e até mesmo alguns textos de ficção, ele continuou insistindo. Para não encompridar muito o assunto, antecipo logo que terminei me dobrando ao desafio, afinal, a gelada que consumíamos já estava elevando o nível do meu otimismo aos píncaros. Saí de lá com a promessa de preparar um livrinho sobre a história do nosso torrão natal, e com o compromisso de que haveria de conseguir o patrocínio para a publicação do opúsculo.

No dia seguinte – sempre tem um dia seguinte para os seguidores da deusa Ninkasi – arrependi-me de ter feito a promessa e levei a história do meu arrependimento para o meu irmão. Mas ele não aceitou o meu retrocesso e me cobrou o cumprimento da palavra dada. Bom, o certo é que fui à luta e me debrucei nas pesquisas para levantar os fatos verdadeiros que culminaram com a colonização e ocupação da região em que o velho Curador se insere.

Em 2007, publiquei, com uma aceitação gloriosa da população de Presidente Dutra, a primeira edição do livro que intitulei “Viajando do Curador a Presidente Dutra – história, personalidades e fatos”, pois contar a história de um lugar é uma viagem no tempo. A noite de autógrafos, que aconteceu na sede da AABB na cidade, foi um grandioso sucesso. Mas o que me deixou mais contente naquele dia já tão distante, foi ver a felicidade estampada no rosto que cada um dos nossos munícipes ali presentes. Mostravam-se imbuídos daquela certeza de que agora as lutas e o suor derramado pelos nossos pioneiros não cairiam em absoluto esquecimento, estando agora registrado para a posteridade. E isso, como não poderia deixar de ser, me deixou imensamente feliz e com aquele sentimento de ter retirado dos meus ombros um peso enorme, dada à responsabilidade da missão a que havia me proposto.

Contudo, em razão do peso e da responsabilidade já descrita no parágrafo anterior, prometi para mim mesmo que aquela primeira edição seria também a última. Mal sabia eu que as coisas não funcionam bem assim. Que elas escapam do nosso querer e que, quando nos damos conta, estamos debruçados sobre novas pesquisas a cada dia que o Criador nos concede.

E foi assim que, logo nos dias que se seguiram ao lançamento do nosso humilde trabalho, voltamos a pesquisar sobre o tema, pois acreditávamos que muitas coisas ainda precisavam ser descobertas e trazidas à luz. E assim, os dias foram passando e novos fatos foram surgindo; muitos documentos foram encontrados, muitos testemunhos foram obtidos, e várias lacunas foram supridas na montagem da história real do nosso amado Curador.

Sabedor de que eu continuava com o hábito de continuar com as minhas pesquisas, meu irmão voltou à carga e disse-me que achava que já era hora de lançar uma edição revista e ampliada do livrinho com a história da região. Não havia como desprezar a proposta, pois até podia contar novamente com o apoio dos beneméritos Jônatas Barros de Araújo/Wilana Carvalho de Araújo, Paulo Sérgio Ferreira Falcão/Maria Neusa Falcão, José Alves de Carvalho/Hilarilda Carvalho Torres, Dr. Orlando Sousa Pinto Filho/Kárita de Guadalupe Gomes, Raimundo Alves de Carvalho e Fabiana da Silva Carvalho. E dos novos parceiros, Dr. Elian Oliveira Barros/Dra. Rosy Ane Barros, e Arão Oliveira Barros/Elenice Fonseca Barros. Devo admitir que, dessa vez, não foi preciso muitos argumentos da parte dele. Afinal, eu já vinham meditando nessa possibilidade, dada à necessidade de atualizar algumas informações e, até mesmo, fazer alguns ajustes em algumas situações que estavam necessitando de complemento ou mesmo de alteração. E se eu já estava com um calhamaço de documentos em mãos, faltava ainda transformar tudo em texto, coisa que demanda muito tempo e trabalho. O fato é que levei este último ano trabalhando na montagem da nova edição do livro. Finalmente, dia 7 do mês em curso, estávamos mais um vez na terrinha para o seu lançamento.

Estranhamente, eu estava mais preocupado do que na vez anterior, por acreditar que aqueles que haviam se dedicado à leitura da primeira edição, esperavam alguma coisa bem melhor do que o que havia feito nela. Não sei se conseguiu isso, mas a receptividade dos meus conterrâneos foi estupenda. Por sua vez, os patrocinadores do livro também responderam prontamente ao chamado e ensejaram que apresentássemos um livro com algo em torno de duzentas páginas a mais, e com um nível de qualidade material muito melhor.

Portanto, no dia 7 deste mês de dezembro do sagrado ano de 2023, o auditório da Câmara de Vereadores da cidade estava lotado. A imprensa, capitaneada pelos jornalistas Paulo Andrews e Léo Souza, deu cobertura total ao acontecimento e a noite de autógrafos se transformou em um evento dos mais concorridos na cidade. A minha mulher, Assistente Social Helena de Sousa Lima Araújo, partícipe e vítima ao mesmo tempo – fiquei com o comportamento instável – que também havia se jogado de cabeça na tarefa de me ajudar na montagem do livro ainda no ano corrente, observou que a plateia se mostrava muito feliz naquela noite para receber a segunda edição do livro Viajando do Curador a Presidente Dutra. Que isso era um bom sinal. E que magnífico evento cultural conduzido pelo cerimonialista, poeta Orfileno Gomes! Quão gratificante foi assistir a minha irmã, juíza aposentada e presidutrense Benedita Araújo Lima desfiar a sua competência e oratória na apresentação do livro.  Como o povo da minha terra tem sido condescendente com esse projeto de escriba. Obrigado, Presidente Dutra!

Na solenidade de lançamento da primeira edição do livrinho ainda não contava com as minhas quatro netinhas esbanjando alegria na família. Agora, fiquei imensamente feliz em ver três das quatro princesas do vovô, correndo alegremente por entre os presentes, inundando o ambiente com seus sorrisos cantantes. Parentes e amigos também vieram de longe para abrilhantar a festa em que se transformou o lançamento desta edição. Meus filhos e minhas noras, que também haviam colocado suas mãos na massa e somaram comigo na cansativa tarefa, também estavam exultantes em ver que a solenidade organizada pela minha cunhada Wilana Carvalho de Araújo estava acima da altura dos nossos merecimentos.

O espaço em que se deu o evento, o novo auditório da Câmara Municipal, mostrou-se mais que adequado aos nossos propósitos e por isso agradecemos imensamente ao presidente daquela casa, Ricardo Lucena, e aos vereadores André Jardins e Raimundo Nava pela disponibilidade e empenho de fazer com que a Casa do Povo se transformasse também no espaço ideal para a solenidade de relançamento do nosso livro. Ao prefeito de Presidente Dutra, Raimundo Carvalho, representado no ato pelo advogado Lucas Castro, pelo apoio ao nosso projeto. Agora, só nos resta esperar que o resultado do trabalho seja adotado pelas escolas e bibliotecas da região na difusão da história do nosso município de Presidente Dutra.

Ademais, como já falei anteriormente, quão grande é o prazer de ter nascido em um lugar que tem o venturoso nome de Curador. Senti-me como os pioneiros que buscavam o nosso Curandeiro para tratar dos males do corpo naquela encruzilhada que se formou na região da Santa Maria do Japão em meados do século dezenove. E quanta ajuda me prestaram os meus conterrâneos. Aliás, em matéria de ajuda, olho para trás e vejo a multidão de pessoas que ombrearam comigo a fim de que esse projeto chegasse a bom termo. Esposa, noras, filhos, netos, irmãos, cunhadas e cunhado, amigos, conhecidos, além dos mantenedores deste livro, formamos uma só corrente na execução deste trabalho. Nunca estive sozinho!  

(*)José Pedro Araújo é engenheiro agrônomo, funcionário público federal aposentado, historiador, cronista, romancista, e coordenador do blog Folhas Avulsas.