Teerã - Foto do autor |
Luiz Thadeu Nunes e
Silva (*)
Em andanças pelo mundo,
desembarquei no aeroporto internacional Tehran-Iman, em Teerã, em uma madrugada
de abril de 2017. O aeroporto fica a 50 km do centro da cidade, onde ficava o
hotel. Para minha surpresa, encontrei uma cidade pulsante, fascinante e surpreendente.
Durante cinco dias visitei os pontos históricos e turísticos da capital do
antigo império persa. Com 10 milhões de habitantes, Teerã tem a mesma população
de toda Israel. Com um povo acolhedor, é governada pelos sanguinários Aiatolás,
tendo Israel como seu maior inimigo.
Noite de quinta-feira, 12 de
junho. Dia dos Namorados. Após jantar, cheguei em casa e os canais de TV
mostravam, ao vivo, o bombardeio de mísseis israelenses sobre Teerã, capital do
Irã, em mais um episódio de ira entre os dois países do Oriente Médio. A
memória me fez voltar no tempo.
Em um histórico belicoso, Israel
e Irã protagonizaram por quatro décadas um conflito latente, com momentos de
maior tensão abafados pelos Estados Unidos a fim de evitar uma guerra com
consequências imprevistas no Oriente Médio. Mas, com o vigoroso ataque de Tel
Aviv em solo persa, as camadas de contenção se esfacelaram.
A decisão do primeiro-ministro
Binyamin Netanyahu de deflagrar "ataques preventivos" contra o Irã
configura, pela legislação internacional, crime de agressão. Ao Conselho de
Segurança da ONU, Teerã os classificou como "declaração de guerra"
—exatamente o que o restante do mundo e até mesmo ambos os inimigos cáusticos
tratavam de evitar. Se estamos perto de uma guerra de proporções desconhecidas,
ainda é cedo para afirmar, mas o mundo está cada vez mais inseguro. Israel com
seu poderio militar e precisão logística, durante dias seguidos de ofensiva
destruíram alvos precisos e reduziram a capacidade de contra-ataque persa. A
instalação nuclear de Natanz foi bombardeada, bases de lançamento de mísseis
terra-terra foram atingidas e parte considerável do comando militar iraniana
foi morta. A resposta do Irã com drones —a maioria deles abatida antes de
atingir os alvos— e cerca de cem mísseis provavelmente não encerra a
retaliação.
O Irã inevitavelmente sofreria
consequências pelo brutal ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023, agravado
por sua retórica de destruição do Estado judeu e seu insistente avanço no
programa nuclear com fins militares, sem contar os cerca de 200 mísseis
lançados contra o inimigo em outubro do ano passado.
Antes, porém, Tel Aviv
concentrou-se na destruição do Hamas, na Faixa de Gaza, do Hezbollah, no
Líbano, e dos houthis, no Iêmen —grupos terroristas financiados pela teocracia
persa.
Quem vê Israel e Irã trocando
ataques em uma guerra com alto potencial destrutivo não imagina que os dois
países já foram aliados próximos. E não faz tanto tempo assim. O Irã apoiou a
criação de Israel, em 1948, e foi um dos primeiros países a reconhecer sua
existência, na direção contrária de seus vizinhos árabes. Além disso, nos anos
1960, Irã e Israel viraram parceiros comerciais, exportando petróleo pelo
oleoduto de Eilat Ashkelon, com gestão e lucros divididos entre ambos.
Israel e Irã foram aliados até
1979. A queda do xá da Pérsia, após anos de insatisfação popular,
intensificados por protestos e greves, levando Reza Pahlavi a fugir do país e
deixando o caminho aberto para a liderança de Khomeini.
O Irã se tornou uma república
islâmica teocrática, revogando regras internas consideradas ocidentais demais e
dando um cavalo de pau na política externa. Estados Unidos e Israel viraram os
inimigos. Abraçando a causa palestina como forma de ganhar proeminência entre
os países do Oriente Médio, o regime dos aiatolás, em um ato que simbolizava a
mudança de postura, tomou a embaixada do estado judeu em Teerã e entregou para
a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
A partir de então, o Irã deixou
de reconhecer a legalidade de Israel e passou a pregar seu extermínio,
financiando grupos acusados de terrorismo como o Hezbollah, no Líbano, e o
Hamas, na Palestina.
É São João na Ilha do Amor, tempo
de alegria, de arraial, de celebrar os festejos juninos. Tempo de brincadeiras,
manifestações folclóricas, muita comida boa. Bomba e fogos por aqui, só de
artifícios. Quão bom é estar longe das guerras.
(*)
Luiz Thadeu Nunes e Silva é Engenheiro Agrônomo, escritor e Globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
Instagram: @Luiz.thadeu
Facebook: Luiz Thadeu Silva
E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br