José Pedro Araújo (*)
Lá se vão 81 anos desde que o
interventor Paulo Martins de Sousa Ramos assinou o Decreto-Lei 820, em 30 de
dezembro de 1943, ato que elevava o Curador à categoria de município.
Verdadeiramente, o citado ato governamental se tratava de um instrumento
oficial emitido a cada quatro anos pelo governo para definir a nova Divisão
Administrativa do estado maranhense. Era um ato corriqueiro, então. Nessa resolução
administrativa, que tinha validade de 1º de janeiro de 1944 a 31 de dezembro de
1948, muitos municípios foram criados, enquanto alguns outros perderam o status
antigo e voltaram a integrar o território de outro município mais
importante. Vivíamos o tempo da ditadura Vargas, período em que as casas
legislativas se achavam de portas cerradas; daí que a Lei de costume, discutida
e votada pelos senhores deputados, havia sido substituída por um decreto-lei que
continha apenas a vontade única do chefe do executivo. Mas a luta por reconhecimento do povoado Curador vinha de longe, desde quando os primeiros moradores chegaram por ali na segunda metade do século XIX, e fixaram-se em casebres de pau-a-pique e palha de babaçu.
Esse edito, a que nos referimos no início do parágrafo anterior, foi o passo inicial que conferiu
à comunidade, situada no interior mais profundo da região conhecida como Japão
maranhense, poderes e independência, desligando-o do seu município-mãe, Barra
do Corda. Afirmo que foi o passo inicial porque a solenidade oficial de
elevação da Vila à categoria de município somente se daria no dia 28 de junho
do ano seguinte, seis meses após a publicação daquele diploma legal. Passou aquele dia a ser considerado como data oficial que ensejou o início da
nossa caminhada de maneira independente, desligado que fomos do imenso
território barra-cordense; aquele que consideramos o dia primeiro da nossa
caminhada solo.
O interventor Paulo Ramos não se
fez presente ao ato oficial, talvez porque preferisse participar das festividades
de elevação de algum outro novo município mais próximo da capital, posto que muitos
outros foram criados naquela mesma data; talvez porque chegar até a sede do
velho Curador não era uma tarefa muito fácil. Melhor dizendo, era tarefa das
mais difíceis, visto não possuirmos estradas em condições minimamente
trafegáveis. Até mesmo para se deslocar de Barra do Corda até a sede da
povoação do Curador, naquela época, praticamente só se fazia montado em
alimárias, e assim mesmo utilizando-se de um volteio insano que aumentava a
distância entre esses dois pontos em quase oitenta quilômetros,
comparativamente ao percurso que temos hoje. Estrada sinuosa, como já afirmei,
tinha esta via a obrigação de passar por quase todas as povoações mais
importantes do município, o que quase dobrava a distância entre os dois pontos
que se queria atingir. O relatório emitido pelo governo, em decorrência da
viagem de inauguração de várias estradas de rodagem pelos sertões, viagem
empreendida pelo governador Magalhães de Almeida, no ano de 1928, registrava
que o trecho inaugurado pela citada autoridade entre a vila de Curador e Barra
do Corda media longos 176 quilômetros. Mas isso não foi impedimento para o interventor
barra-cordense, Jamil de Miranda Gedeon, fazer-se presente à solenidade.
Provavelmente havia se deslocado até a Vila de Curador montando em algum animal
de sela. Já a autoridade máxima do estado, preferiu enviar o senhor Secretário Municipal
da cidade de Vargem Grande para substituí-lo no ato que reuniu toda a população
da vila.
Hoje em dia, trafegando pela BR
226, a distância entre a sede do município de Presidente Dutra e a de Barra do
Corda não ultrapassa os 98 quilômetros de extensão. Magalhães de Almeida, naquela vigem de inauguração de caminhos que chamava de estradas,
foi o primeiro governador do estado maranhense a pisar em terras curadoense. Isso
aconteceu no distante ano de 1928, já citado. E para registrar a sua passagem
pelo povoado, existem fotografias, talvez as primeiras imagens registradas da
região e eternizadas na celulose. Bem-merecida a homenagem àquela autoridade
prestada pelos presidutrenses, que deu à sua principal artéria, o nome daquele
ilustre conterrâneo.
A fotografia que ilustre o
presente texto, e que nos mostra a cidade nos seus primeiros anos após a sua
elevação à categoria de cidade, nos dá uma ideia aproximada do que era ela no
tempo do seu desligamento de Barra do Corda. A visão que temos é a de uma Rua
Grande desnuda, sem calçamento, sem posteamento para rede elétrica, favorece a nossa imaginação e nos leva a pensar que por baixo daquele piso de terra não devia
correr água encanada. Sem a mínima infraestrutura de serviço em prol de sua
população, mostrava a nossa primeira rua a ser formada pelos nossos pioneiros, as
enormes carências pelas quais passava a população naqueles tempos. Nessa época
ainda, a educação se resumia a essa escola particular que vemos em destaque na
foto, dedicada às estudantes de sexo feminino; e ao colégio São Bento,
instituição criada para receber os rapazes da cidade. As duas, implantadas pelos
capuchinhos que haviam se instalado pouco tempo antes na região. No mais, a educação se
resumia aos mestres-escola que ainda atendiam a criançada da povoação.
Quando criança, andar pelas ruas
sem calçamento ou correr por elas durante as chuvas pesadas que desabavam sobre
a cidade, trazia-me uma sensação de completa liberdade e enlevo; para mim, nada
faltava por ali, pois as brincadeiras de cada período me bastavam. Banhos de
riacho no período invernoso, papagaios de papel colorindo o céu azul no período
de estio, piões, bolas de gude, chuço, e os jogos de futebol em qualquer
período, fizesse sol ou chovesse, completavam as minhas necessidades maiores. Por outro lado, à noite, as brincadeiras de
esconde-esconde ou as estórias de trancoso contadas com excesso de
amedrontamento, supriam com folga a falta de energia elétrica.
Mas aí crescemos, e as exigências
passaram a se apresentar muito maiores. Já não nos satisfazíamos somente com as
brincadeiras.
O aniversário de Presidente Dutra
vai além das celebrações; é um momento para refletir sobre os avanços que o
município alcançou ao longo dos anos. Investimentos em infraestrutura, educação
e saúde têm contribuído para o crescimento da cidade e o bem-estar de seus
moradores. Mas ainda nos falta muito. Precisamos avançar em vários campos que ainda
estão carecendo de melhorias, como a segurança, a falta de oportunidades para
os jovens que chegam à idade em que comumente começa-se a laborar, por exemplo.
Além disto, o abastecimento de água e a coleta e o tratamento de esgoto são
ainda pontos que deixam muito a desejar em um município que cresce a olhos
vistos e que clama pela melhoria desses serviços para se equiparar àqueles que
possuem o seu tamanho em alguns estados brasileiros mais desenvolvidos.
Contudo, quem como eu viu as ruas
da cidade às escuras, com a poeira levantada pelo vento invadindo as residências;
quem, como eu, padeceu da carência de um atendimento médico banal, fato que nos
fazia correr para a cidade de D. Pedro em busca do Dr. Armando Leandro, médico amigo e
muito conceituado, à falta de profissionais do seu quilate na nossa cidade; há
de convir que avançamos muito em vários campos, especialmente neste em
particular. Hoje o município já dispões de três hospitais públicos que prestam
a maioria dos serviços necessários à população. Ademais, clínicas médicas e
odontológicas se espalham por vários pontos da cidade, e a maioria dos seus
profissionais são nascidos nela. A cidade se tornou um polo regional importante
na região central do Maranhão e é quase autossuficiente no campo da saúde.
Parabéns, Presidente Dutra!
Estamos felizes com o que temos, mas queremos mais!
(*)
Aviso: Junho é o mês de
aniversário da cidade de Presidente Dutra. E por conta disso, por todo este mês
estamos realizando uma promoção dos últimos exemplares do livro " Viajando
do Curador a Presidente Dutra - história, personalidades e fatos". Se você
residir em alguma das cidades onde o livro foi posto à venda, cada exemplar
importará em apenas R$ 60,00 reais. Caso seja necessário o envio do livro para
qualquer outra cidade do país, acrescentar mais R$ 15,00, que é o valor do
frete. Portanto, durante os trinta dias de junho, o livro sairá por apenas R$
60,00 reais. E poderá ser encontrado em Presidente Dutra, na Complast, em
Teresina, nas livrarias Universitária e Entrelivros, e em São Luís, na livraria
Amei, no Shopping São Luís. Como já informado, trata-se dos últimos exemplares
que ainda dispomos em estoque. E aquelas pessoas que se interessarem pela
história da região conhecida como Japão maranhense, tem a última oportunidade
de adquirir o livro que traz também, resumidamente, a história do estado do Maranhão.
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