segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Leandro Gomes de Barros - O Principe dos Poetas do Sertão

José Pedro Araújo

Ler é um exercício tão prazeroso, que leio quase tudo o que me cai nas mãos. Obviamente tem aqueles textos que são bom demais para serem lidos somente uma vez. Poderíamos dizer que estes são a cereja do bolo. Ou o suprassumo da boa leitura. São estes textos que produzem, além do prazer, conhecimento e aprendizagem. Essa compulsão pela leitura aconteceu desde tenra idade quando comecei a ler revistas em quadrinhos. Acredito que tive como exemplo o meu saudoso pai, ele também um aficionado leitor. E como uma coisa sempre puxa outra, logo estava lendo romances, poesias, revistas de variedade, fotonovelas, e por ai em diante. 

Alguns entendidos afirmam que toda música de boa lavra merece ser ouvida; que não existe esta história de que ritmo este ou ritmo aquele é o melhor. Todo ele é bom a seu tempo. Existe o momento ideal para se ouvir um bom Rock, um bom tango, um baião, uma música clássica, ou mesmo um sertanejo - por que não? Assim é também com relação à literatura. Há hora para se ler um Gabriel Garcia Marques, um Jorge Amado, ou mesmo uma revista em quadrinhos. Uma Tex Willer ou uma revista da Mônica, por exemplo. Descansamos e esvaziamos a mente das preocupações do dia-a-dia, nesses momentos de imersão e total enleio. 

Como existe na minha região uma forte presença de cearenses e piauienses, a cultura também, por consequência, sofreu forte influência dos cabeça chatas e dos piauiseiros. E essa preponderância se deu também na música, na literatura, e até mesmo na linguagem. Isso pode ser constatado quando temos dois maranhenses conversando: um originário da ilha de São Luís ou mesmo da baixada maranhense, e outro da região central do estado. A fonética é tão diferente que parece estarmos de frente com duas pessoas de estado natal diferentes. 

Deste modo, a chegada às minhas mãos de um livreto de cordel - chamávamos romance -, foi uma previsível consequência. Foi um deslumbre, uma empatia que permanece até os dias de hoje. Não demorou muito para conhecer os melhores cordelista da época, como Expedito Sebastião, Elias E. Carvalho, Cego Aderaldo, Patativa do Assaré - talvez um dos mais completos e conhecido de todos -, e o que considero o maior deles: Leandro Gomes de Barros, tido como o Príncipe dos Poetas Cordelistas. Cego Aderaldo era cantado na feira da nossa cidade como se fosse um Roberto Carlos do ramo, pelos violeiros e até mesmo por outros cegos que por lá apareciam. Mas o Leandro Gomes de Barros foi um caso a parte. Quando li o seu cordel O Cachorro dos Mortos, entrei em choque, quase fui às lágrimas com a história simples, mas com grande carga emotiva,de Floriano, as irmãs e o velho cachorro Calar. Tenho um exemplar desse livreto comigo que é mantido na estante junto com Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, entre tantos outros autores de minha predileção.

Objeto de tese de mestrado, Leandro Gomes de Barros foi o primeiro cordelista a viver unicamente da venda da sua poesia. Ele também produzia e imprimia seus trabalhos em um velho mimeógrafo, e saia pelas feiras comercializando o produto do seu ofício. Certa vez, transitando pela Praça Rio Branco, aqui em Teresina, deparei-me com uma banquinha exclusiva para a venda de cordel. Comprei alguns exemplares. Voltei outras vezes lá para adquiri alguns outros títulos. Mas a praça foi fechada para reforma e depois disto nunca mais encontrei o feirante do cordel. 

Do mesmo modo, certa vez encontrei em uma feira em Piripiri um vendedor de romance de cordel, o senhor Francisco Peres de Souza que, além de comerciante, também é cordelista. A maioria do seu material ainda é produzido de forma essencialmente artesanal. E em uma das edições do SALIPI - Salão do Livro do Piauí, encontrei-me com a cordelista Maria Ilza Bezerra, uma piauiense, comercializando produto da sua lavra. Depois de alguns minutos de conversa, tomei conhecimento de que a escritora é graduada em Letras, com especialisação em Literatura Brasileira, Ensino, Comunicação e Cultura. E faz parte de um grupo de pessoas que tenta, a todo o custo, impedir o desaparecimento desta cultura eminentemente nordestina.  Bravíssimos!

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