Imagem by Adonias Soares |
(José Pedro Araújo)
Pensei em muitas maneiras de
começar este texto. Poderia iniciá-lo afirmando que ele pretende ser uma
homenagem à passagem do 73º aniversário da minha cidade natal, o meu velho e
querido Curador, e falar do imenso amor que lhe devoto. Poderia também começar esta peroração falando
do conflito de datas que existe sobre o real dia do seu nascimento, uma vez que
o Decreto-Lei de elevação da vila à categoria de município foi assinado e
publicado no dia 30 de dezembro de 1943, mas a data da sua instalação, foi
somente no dia 28 de junho de 1944. E que foi esse segundo momento importante, exatamente
aquele que foi escolhido para a data festiva do seu aniversário. Ou até poderia
falar sobre o pavilhão que desfralda as cores do município, e que traz outra
data, 28 de junho de 1976, dia que suponho ser aquele em que foi assinado o
Decreto Municipal que instituiu a bandeira como um dos símbolos da cidade.
Mas, pensando bem, vou começar
por uma polêmica que acredito ser uma invencionice de alguém que queria dar à
cidade um ponto de partida para a sua história, retirando da sua mente fértil
e, talvez, bem intencionada, algo do tipo: tudo começou com a... Estou me
referindo àquele começo da história que está registrado pelo IBGE, e que depois
foi adotado por muitos como sendo o verdadeiro começo do nosso amado município.
Creio até mesmo que foi uma invenção de alguém da própria empresa de
estatística, que a criou e a imortalizou. E a história passou a ser contada
assim: “No século XIX, os cunhados José
de Souza Carvalheiro e José de Souza Albuquerque, buscando local onde pudessem
se fixar, partiram de Codó, desbravando a região. Abriram picadas, seguindo por
trilhas de caças e identificando os acidentes geográficos, tendo como
orientação apenas a trajetória do Sol. Assim, conseguiram localizar as
brejeiras de São Bento, São Joaquim do Caxixi e Corrente, hoje pertencentes a
Tuntum, os dois primeiros e a Barra da Corda, o último”. Convenhamos, não é
um bom começo, uma vez que nenhum dos lugares descritos (brejeiras de São
Bento, São Joaquim do Caxixi ou Corrente), faz parte hoje do nosso município. Se
nunca residiram na região que passou a ser conhecida como Curador, por que
dar-lhes o título de fundadores? E por que credito essa história a alguém do
próprio IBGE, órgão responsável pelo diagnóstico e pelas estatísticas sociais
do país, bem como pela delimitação de seus municípios? Simplesmente porque por
ocasião da elaboração das informações que deveriam fazer parte da Enciclopédia
dos Municípios Brasileiros, ficou determinado que os escritórios da empresa descreveriam
a história de todos os municípios brasileiros. O Curador, que até aquela data
permanecia sem um começo conhecido ou crível, ganhou a história contada acima. Não
gostavam da ideia de que tudo havia começado com um curandeiro desconhecido, alguém
sem nome e sem endereço.
De outro modo, mas seguindo esse
mesmo diapasão, mais recentemente alguém pensou em destinar um nome ao
personagem que primeiro habitou em terras do velho Curador, exatamente o nosso
Curandeiro. E pespegou nele o nome de Abel Martins. Acredito também em
invenção, e com o mesmo propósito daqueles que criaram a história que diz que
os cunhados José de Souza Carvalheiro e José de Souza Albuquerque foram os criadores
da povoação que mais tarde ficaria conhecida como Curador. No meu livro
“Viajando do Curador a Presidente Dutra – história, personalidades e fatos”, observei
que um cidadão com esse nome havia residido, por aquela época, em Colinas,
àquele tempo conhecido como Picos, e que até mesmo chegara a dirigir os
destinos da cidade ao se tornar seu intendente. Defendi ainda que alguém com
aquele perfil jamais poderia ter sido o nosso bravo e desconhecido Curandeiro.
Prefiro acreditar na possibilidade de o primeiro habitante da região, após a
saída dos indígenas, habitantes originais, ter sido um dos moradores de Codó
que praticava o curandeirismo, como de resto muitos da sua região o faziam, e
ainda o fazem. Justifico a minha tese dizendo que naquele mesmo período havia
sido deflagrada insidiosa campanha contra os praticantes do chamado “terecô”,
causando uma verdadeira debandada de muitas pessoas que fugiam para não ser presa
ou exposta a execração pública. Acredito, portanto, que o nosso primeiro nativo
tenha sido um homem que adotava o uso de ervas ou da medicina natural para o
tratamento das mazelas e doenças do corpo. É apenas uma tese a espera de
conformação histórica. Mas poderia ser até mesmo o tal índio que muitos
acreditam. Os mais antigos sempre acharam ter sido um velho índio quem primeiro
se estabeleceu às margens da famosa lagoa que deu nome à povoação, e que passou
a ser conhecida como “Lagoa do Curador”, em sua homenagem. A história oral
afirma que muitas pessoas se dirigiam à região em busca de tratamento de saúde
junto ao velho pajé. É uma tese perfeitamente aceitável, uma vez que não
existia na região central do estado, por aquele tempo, médicos para prestar
atendimento à população carente, mas dispersa.
Poderia ainda ... acho que já
tergiversei demais para dizer: PARABÉNS, PRESIDENTE DUTRA! FELIZ ANIVERSÁRIO!
Que o próximo ano da sua história seja o da resgate da cidadania, da
segurança dos seus habitantes, e da paz tão ansiada!