quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A HISTÓRIA DE PRESIDENTE DUTRA (Parte 1)

Foto de uma comunidade real da região - By Eva Mills




José Pedro Araújo

A conquista dos sertões de dentro - “Sertões de dentro”, assim se conheciam as terras do Piauí e do Grão-Pará, que envolviam o Maranhão e os Estados amazônicos. Já os “sertões de fora”, consistiam nos territórios da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará.

Continuando a saga dos novos desbravadores, com a ocupação das terras do entorno da ilha de São Luís, os recém-chegados foram em busca das terras situadas no vasto sertão. Começava, assim, a conquista dos ditos “sertões de dentro”, imensa área de floresta aonde, até então, apenas os nativos corriam soltos, vivendo do plantio da mandioca e batata, da pesca e da caça abundante, e usufruindo uma liberdade até então nunca ameaçada.

Tentaremos discorrer sobre as formas e os roteiros de penetração das bandeiras que avançaram sobre o vasto território maranhense, transpondo serras, rios e campos infestados pelo nativo belicoso, sempre em busca das terras ubérrimas e incultas que o desconhecido ocultava. Montados em animais de sela, a pé ou navegando em embarcações rudimentares, esses homens penetraram fundo o território vasto e desconhecido. Nessa caminhada rumo ao poente e ao sul, iam estabelecendo suas fazendas de gado nas vastas áreas de campo nativo, uns, e promovendo as primeiras derrubadas, outros, trabalhando a terra antes ocupada por vegetação milenar, e implantando culturas exóticas no solo virgem e receptivo. E foi assim que acabaram por chegar e lançar âncoras nas terras apetitosas do Japão maranhense.

Para entender melhor esse termo, ”Japão”, é necessário lembrarmos que o solo maranhense era mais ocupado nas ribeiras do baixo Itapecuru, baixo Pindaré, e baixo Mearim. E que nos sertões existiam apenas duas vilas importantes àquela época, a de Caxias e a de Pastos Bons. A de Pastos Bons, por exemplo, tinha como território as dilatadas porções de terras que iam do rio Parnaíba até o rio Tocantins. Por esse tempo também, começava a ser povoada a ribeira do rio Grajaú, de onde futuramente seríamos destacados, juntamente com Barra do Corda.        

            Diante das dificuldades para penetrar na região, começaram a chamar o lugar que hoje pertence aos municípios de Presidente Dutra, Dom Pedro, Graça Aranha, São José dos Basílios, Parte de Tuntum, e parte de São Domingos do Maranhão, e que lhes parecia tão indevassável, de região da Mata ou Japão. Com o passar dos anos, a informação daquela muralha verde e impenetrável, com solos ubérrimos e água de superfície em quantidades benfazejas, chegou até a Caxias e Pastos Bons, além da capital do Estado, despertando a atenção dos nossos irmãos situados mais ao leste. Com essas características impeditivas, logo a região passou a ser chamada por eles de Japão, numa referência, portanto, a algo distante e desconhecido para eles.

                Foi o que aprendemos com os nossos antepassados, que esse nome devia-se a nossa localização distante das áreas mais povoadas, como se estivéssemos situado no fim do mundo. Não restam dúvidas de que esse sentimento era verdadeiro. Não possuíamos um rio navegável por onde se pudesse aqui chegar, e, por outro lado, a floresta fechada, com suas árvores poderosas, dificultava a abertura dos caminhos, que naquele tempo necessitavam do braço forte dos pioneiros para serem construídos, já que não havia o menor interesse público e ainda não possuíamos maquinário capaz de substituir a força humana e a dos animais de tração. 
 
            Mas, o nosso isolamento também decorria da insalubridade da região. Aqui, doenças como o impaludismo (malária), e a febre amarela, impunham dificuldades para aqueles que por ventura se dispusessem a se estabelecer neste lugar longínquo. E esse aspecto, somado ao fato de sermos descendentes de famílias nordestinas, enquanto que os moradores da região mais a leste foram colonizados por europeus ou descendestes destes, gerou, por parte das autoridades sediadas na capital, um tratamento discriminatório que ainda hoje se abate sobre nós quando se trata de recebermos os investimentos públicos de que tanto necessitamos.


            A soma de todos esses percalços, não foi bastante para barrar o desenvolvimento da última parte do solo maranhense a ser colonizado. Do mesmo modo, a distância da sede do município ao qual pertencíamos, não nos privou de alcançarmos rapidamente a condição de vila importante no município de Barra do Corda. Nem mesmo a falta de acesso à sede e o descaso para com a comunidade que lutava contra tudo e contra todos, impediu que logo conquistássemos a nossa independência do município-mãe e voássemos alto com asas de fênix em busca do nosso próprio destino. 


            A combinação de solos férteis com um índice pluviométrico invejável, cujos quantitativos de chuvas ultrapassavam a barreira dos 1.600 mm/ano, somados ao espírito desbravador e indômito dos nossos pioneiros, alavancaram o desenvolvimento da comunidade que nasceu à beira da lagoa do Curador, longe das ribeiras mais importantes do território maranhense.


3 comentários:

  1. Dr. Araújo,
    Excelente ideia de publicar semanalmente, em Folhas Avulsas, esse importante livro "Viajando do Curador a Presidente Dutra" de autoria do ilustre cronista e romancista presidutrense. A título de sugestão acho viria a calhar bem a postagem também da foto da capa desse livro.

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    1. Obrigado, Chico Carlos. A ideia é realmente boa e vou segui-la nos próximos capítulos.

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