Foto de uma comunidade real da região - By Eva Mills |
José Pedro Araújo
A conquista dos
sertões de dentro
- “Sertões de dentro”, assim se conheciam as terras do Piauí e do Grão-Pará,
que envolviam o Maranhão e os Estados amazônicos. Já os “sertões de fora”,
consistiam nos territórios da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará.
Continuando a saga dos
novos desbravadores, com a ocupação das terras do entorno da ilha de São Luís,
os recém-chegados foram em busca das terras situadas no vasto sertão. Começava,
assim, a conquista dos ditos “sertões de dentro”, imensa área de floresta
aonde, até então, apenas os nativos corriam soltos, vivendo do plantio da
mandioca e batata, da pesca e da caça abundante, e usufruindo uma liberdade até
então nunca ameaçada.
Tentaremos discorrer sobre as formas e
os roteiros de penetração das bandeiras que avançaram sobre o vasto território
maranhense, transpondo serras, rios e campos infestados pelo nativo belicoso,
sempre em busca das terras ubérrimas e incultas que o desconhecido ocultava.
Montados em animais de sela, a pé ou navegando em embarcações rudimentares,
esses homens penetraram fundo o território vasto e desconhecido. Nessa
caminhada rumo ao poente e ao sul, iam estabelecendo suas fazendas de gado nas
vastas áreas de campo nativo, uns, e promovendo as primeiras derrubadas,
outros, trabalhando a terra antes ocupada por vegetação milenar, e implantando
culturas exóticas no solo virgem e receptivo. E foi assim que acabaram por
chegar e lançar âncoras nas terras apetitosas do Japão maranhense.
Para entender melhor esse termo,
”Japão”, é necessário lembrarmos que o solo maranhense era mais ocupado nas
ribeiras do baixo Itapecuru, baixo Pindaré, e baixo Mearim. E que nos sertões
existiam apenas duas vilas importantes àquela época, a de Caxias e a de Pastos
Bons. A de Pastos Bons, por exemplo, tinha como território as dilatadas porções
de terras que iam do rio Parnaíba até o rio Tocantins. Por esse tempo também,
começava a ser povoada a ribeira do rio Grajaú, de onde futuramente seríamos
destacados, juntamente com Barra do Corda.
Diante das dificuldades para penetrar
na região, começaram a chamar o lugar que hoje pertence aos municípios de
Presidente Dutra, Dom Pedro, Graça Aranha, São José dos Basílios, Parte de
Tuntum, e parte de São Domingos do Maranhão, e que lhes parecia tão
indevassável, de região da Mata ou Japão. Com o passar dos anos, a informação
daquela muralha verde e impenetrável, com solos ubérrimos e água de superfície
em quantidades benfazejas, chegou até a Caxias e Pastos Bons, além da capital
do Estado, despertando a atenção dos nossos irmãos situados mais ao leste. Com
essas características impeditivas, logo a região passou a ser chamada por eles
de Japão, numa referência, portanto, a algo distante e desconhecido para eles.
Foi o que aprendemos com os nossos
antepassados, que esse nome devia-se a nossa localização distante das áreas
mais povoadas, como se estivéssemos situado no fim do mundo. Não restam dúvidas
de que esse sentimento era verdadeiro. Não possuíamos um rio navegável por onde
se pudesse aqui chegar, e, por outro lado, a floresta fechada, com suas árvores
poderosas, dificultava a abertura dos caminhos, que naquele tempo necessitavam
do braço forte dos pioneiros para serem construídos, já que não havia o menor
interesse público e ainda não possuíamos maquinário capaz de substituir a força
humana e a dos animais de tração.
Mas, o
nosso isolamento também decorria da insalubridade da região. Aqui, doenças como
o impaludismo (malária), e a febre amarela, impunham dificuldades para aqueles
que por ventura se dispusessem a se estabelecer neste lugar longínquo. E esse
aspecto, somado ao fato de sermos descendentes de famílias nordestinas,
enquanto que os moradores da região mais a leste foram colonizados por europeus
ou descendestes destes, gerou, por parte das autoridades sediadas na capital,
um tratamento discriminatório que ainda hoje se abate sobre nós quando se trata
de recebermos os investimentos públicos de que tanto necessitamos.
A soma de
todos esses percalços, não foi bastante para barrar o desenvolvimento da última
parte do solo maranhense a ser colonizado. Do mesmo modo, a distância da sede
do município ao qual pertencíamos, não nos privou de alcançarmos rapidamente a
condição de vila importante no município de Barra do Corda. Nem mesmo a falta
de acesso à sede e o descaso para com a comunidade que lutava contra tudo e
contra todos, impediu que logo conquistássemos a nossa independência do
município-mãe e voássemos alto com asas de fênix em busca do nosso próprio
destino.
A
combinação de solos férteis com um índice pluviométrico invejável, cujos
quantitativos de chuvas ultrapassavam a barreira dos 1.600 mm/ano, somados ao
espírito desbravador e indômito dos nossos pioneiros, alavancaram o
desenvolvimento da comunidade que nasceu à beira da lagoa do Curador, longe das
ribeiras mais importantes do território maranhense.
Dr. Araújo,
ResponderExcluirExcelente ideia de publicar semanalmente, em Folhas Avulsas, esse importante livro "Viajando do Curador a Presidente Dutra" de autoria do ilustre cronista e romancista presidutrense. A título de sugestão acho viria a calhar bem a postagem também da foto da capa desse livro.
Obrigado, Chico Carlos. A ideia é realmente boa e vou segui-la nos próximos capítulos.
ExcluirLendo e amando o trabalho.
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