(José Pedro Araújo)
Diferentemente dos
administradores que passaram pelo governo maranhense, Magalhães de Almeida era
um homem dado à grandes aventuras. Talvez isso se devesse à sua condição de
militar, posto ser ele um comandante da marinha brasileira. Nascido em Codó, em
1883, residiu por mais de cinco anos na Europa enquanto acompanhava a
fabricação de navios para a armada brasileira, daí, talvez, a sua percepção
progressista, mormente quanto à educação, mas, e principalmente, no tocante a abertura
de estradas, como motor desenvolvimentista. Atento às deficiências do estado,
logo viu que a falta de comunicação entre as várias regiões do estado
trabalhava fortemente em favor do atraso, especialmente ao impedir o escoamento
da grande produção agrícola e pecuária que existia nas diversas regiões do
Maranhão. Apenas para exemplificar essa dificuldade, basta dizer que a capital,
São Luís, vivia isolada do restante dos municípios maranhenses, uma vez que
faltava uma ponte que facilitasse o acesso da população interiorana à ilha. E
isso, mesmo depois da construção da estrada de ferro Estiva-Flores(Timon). A
dita ferrovia se iniciava na Estiva, povoação localizada nas imediações do
Estreito dos Mosquitos, e terminava em Flores, hoje Timon. O embarque no trem
se dava após a transposição do Canal dos Mosquitos através de barcos, e o seu
desembarque em Timon, precedia a tomada de outra embarcação para transpor o rio
Parnaíba, e chegar a Teresina, no Piauí.
Depois de passar pelo cargo de
Deputado Federal(1921-1926), o capitão-de-corveta José Maria Magalhães de
Almeida, elegeu-se para o cargo de Presidente do Estado Maranhão, hoje equivalente
ao de Governador. Mas, antes, servira sob as ordens do comandante em chefe da
marinha americana durante a primeira grande guerra. Era um homem de muita
experiência e visão, achando-se talhado para assumir os destinos do atrasado
Maranhão. E o fez com muita competência e desenvoltura, tornando-se um dos mais
atuantes governantes brasileiros no período de 1926 - 1930. Magalhães de
Almeida foi reconhecido pelo povo do seu estado e hoje é nome de ruas, escolas,
avenidas, e até mesmo de um município maranhense. Até mesmo no Rio de Janeiro
há uma rua com o seu nome. Ninguém recebe tantas homenagens sem ter prestado
grandes serviços. E ele fez isso muito bem.
Até o ano de 1928, penúltimo da
sua administração, ele abriu, ou melhorou, cerca de 1.671 km de estradas em
todas as regiões do estado, ligando o Parnaíba ao Tonantins por meios de rodovias
de boa trafegabilidade. Outros 808 km ele deixou em condições de bom tráfego em
várias regiões do estado. Em dezembro de
1928 o administrador resolveu fazer o reconhecimento e a inauguração das
estradas que construiu. Partiu às dez horas da noite de São Luís, de automóvel,
e foi até o Estreito dos Mosquitos, na Estiva, demorando-se cerca de duas horas
para cumprir o trajeto. Lá deixou o automóvel, fez a travessia de barco para o
continente, e embarcou em um trem que o levaria até Coroatá.
Desembarcou às sete da matina na
vetusta cidade, e subiu novamente em um automóvel para fazer um périplo pelos
municípios do sertão maranhense.
Precisava ter coragem e determinação para realizar uma viagem que já
fizera, pelo menos, outra vez. Na viagem anterior, demorara-se 14 dias para
concluí-la, tal era as dificuldades de trafegabilidade dos caminhos que
encontrou. Nesta, pernoitando, apenas uma vez, em Carolina, concluiu-a em cinco
dias.
Acompanhava a maior autoridade do
estado, o irmão, deputado federal Arthur Magalhães de Almeida, e o secretário
Clarindo Santiago, relator da viagem que tão bem a registrou. O Irmão, com uma
garrafa de café sempre à mão, também fazia às vezes de motorista e fotógrafo,
enquanto Clarindo Santiago anotava tudo para transformar em um diário da
viagem. Arthur Magalhães fez algumas das fotos mais antigas da então vila do
Curador que temos notícia, e que ilustram esta singela crônica. A comitiva iniciou
a sua viagem de automóvel em Coroatá, como já afirmamos, e seguiu de lá direto
para Pedreiras, estabelecendo-se, então, o seguinte roteiro: Coroatá →
Pedreiras →
Mata do Nascimento(D. Pedro) → Curador(Pres. Dutra) →
Barra do Corda → Fortaleza dos Nogueiras → Carolina →
Riachão →
Balsas →
Loreto →
Mirador →
Colinas →
Curador →
Mata do Nascimento → Codó. Em Codó embarcou novamente no trem com destino a
São Luís, capital do estado. Foram gastos no cansativo trajeto, cinco dias,
como já afirmamos. Um espanto, para aquela época.
Na vila do Curador, ainda na zona
rural, foi recebido pelo Sr. Sebastião Gomes na sua fazenda Fortaleza, conforme
registro na foto que faz parte do presente texto. O fazendeiro, à época Subdelegado
do Distrito de Curador, principal autoridade local, dirigiu-se com a sua
comitiva governamental até a vila, onde a maior autoridade maranhense foi
recepcionada pela população local. Foi um momento impar, pois não existe
registro de outra personalidade tão marcante ter pisado em terras do velho e
isolado Curador.
A comitiva foi recepcionada no
largo de São Bento, em frente à capela em construção, tendo sido saudado pelo
frei Heliodoro de Inzago, capuchinho sediado em Barra do Corda, que por àquele
tempo também passava pelo Curador. Na foto vemos a população trajando as suas melhores
roupas para receber as autoridades que passavam pela sua terra. Naquele
momento, ao término das palavras do missionário capuchinho, o Presidente do
Estado fez uma doação para o término do templo em construção. A capela em
questão foi substituída alguns anos depois pela majestosa igreja de São
Sebastião, tal como a vemos hoje. Isso teria início em 1943, mais de uma década
depois. Mas, essa história já foi aqui contada.
Esta outra fotografia registra a população
cercando o Presidente e comitiva, postados em frente a uma casa que não
conseguiu identificar. Não restam dúvidas que foi um momento inesquecível para
um povo que via o seu governador transitar pelas novas estradas que faziam a
ligação da vila com o restante do estado, tirando-a, de vez, de um isolamento
de décadas.
Registre-se aqui que o trecho
rodoviário que ligava o Curador a Pedreiras, antigo trajeto feito por quem
buscava a capital do estado, muito diferente do traçado que hoje conhecemos, foi
aberto em 1923, e agora havia sido melhorado e adaptado para o tráfego de
veículos automotor. Por sua vez, a viagem do Curador a Barra do Corda possuía também
trajeto bem mais longo e diferente, passando pelo Tuntum. A trecho rodoviário
com esse formato media 177 km, quase o dobro dos atuais 98 km que precisamos transitar
hoje para chegar ao mesmo destino.
Os diversos trechos rodoviários
que o Presidente do Estado inaugurava então haviam sido construídos por vários contratantes.
Eles se utilizavam de mão-de-obra local para a sua execução. Como não existiam,
por aquele tempo, máquinas de terraplenagem ou os tratores de esteira que temos
hoje, todo o trabalho era realizado com pás, picaretas, enxadas, machados,
foices e carros-de-mão. Toda a terra removida era transportada em lombo de
animais. O trabalho de rebaixamento de um morro, por exemplo, era uma atividade
árdua e que demandava muito esforço e uma boa dose de sofrimento, além de tempo
para ser concluído. As pontes, por sua vez, eram construídas de madeira,
felizmente um material abundante na região. O trecho rodoviário de Colinas até
o Curador, por exemplo, foi realizado pelo senhor Antônio Castro, por
empreitada.
Ao deixar a Presidência do
estado, Magalhães de Almeida voltou a ocupar a sua vaga no senado federal, cargo
do qual se licenciara para concorrer à Presidência do estado, desempenhando-o
até 1934. No período de 1935-1937 ele ocupou o mandato de deputado federal, último
cargo eletivo que ele desempenhou e que foi interrompido pela ditadura Vargas.
O Comandante José Maria Magalhães
de Almeida, ou simplesmente Magalhães de Almeida, como ficou conhecido por
todos os maranhenses, faleceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 4 de outubro
de 1945. Contava à época com pouco mais de 62 anos de idade, e estava em pleno
vigor físico.
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