terça-feira, 18 de julho de 2017

Raul Seixas encontrou a saída para o Brasil!

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(José Pedro Araújo)

Hoje cedo ouvi uma música do Raul Seixas que não me lembrava de já ter ouvido. Mas, ela calou fundo na minha alma e me levou a uma reflexão a respeito do tema da canção. Raulzito, como um gênio que era, propunha uma solução simples como a invenção dos clipes, ou mesmo do fósforo. E cunhou a seguinte pérola: vamos alugar o Brasil! Ideia fantástica, talvez assim encontremos uma solução para o grave problema gerencial que tornou esse país em um retumbante fracasso, um lugar falido desde o seu nascimento. É isso mesmo, o nosso problema não é que não tenhamos um sistema de governo capaz de nos tirar do atraso de séculos, pois já experimentamos todos eles, desde a realeza, com os dois imperadores que tivemos; o falso parlamentarismo de João Goulart, as ditaduras, até mesmo um arremedo de socialismo “caviar com pinga”, tudo o que é tipo de governo já tentamos, e nada deu certo.

Do alto da sua sabedoria adquirida nos botecos baianos, ou à sombra dos coqueiros desfraldados pelos ventos que varrem aquele estado e o torna tão festivo, Raul Seixas encontrou a saída para nós. Ou será que a sua sabedoria adveio do consumo do acarajé com uma pitada pesada de malagueta? Quanto a isso, não sei responder. O que eu sei é que ele terminou encontrando uma saída honrosa para esta nação que se degenera a cada momento, e caminha aceleradamente para o caos total.
Vejam o que cantou o sábio Raulzito: “A solução pro nosso povo eu vou dar. Negócio bom assim, ninguém nunca viu. Tá tudo pronto aqui é só vir pegar. A solução é alugar o Brasil! Nós não vamos pagar nada! Nós não vamos pagar nada! É tudo free! Tá na hora, agora é free, vamos embora! Dá lugar pros gringo entrar, que esse imóvel tá pra alugar! Os estrangeiro eu sei que eles vão gostar. Tem o Atlântico, tem vista pro mar! A Amazônia é o jardim do quintal, e o dólar deles paga o nosso mingau!”. Perfeito, Raul Seixas! Só precisamos fazer isso muito rápido, antes que a galera roube tudo e leve para Miami.
Mas ai eu passei a pensar em algumas cláusulas contratuais para nos resguardarmos contra alguns senões. Por exemplo, estariam fora da concorrência países como a China, Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, Rússia, por motivos óbvios, pois os caras poderiam criar um sistema administrativo em que uns poucos teriam que trabalhar para sustentar o restante da galera, que é a imensa maioria. Ficaríamos na mesma! Não daria certo!

Impediríamos os árabes de entrarem na concorrência também. Uma vez que, em menos de um ano, o Piauí declararia guerra ao Maranhão, ou vise versa, e São Paulo estenderia as suas fronteiras do leste até o Rio de Janeiro, e a esticaria para o sul até os limites com o Uruguai.

Os Estados Unidos também seriam vetados. Não poderiam participar do processo licitatório, também por motivos óbvios: iriam incentivar a guerra em todos os pontos da terra, nos vestiria com fardas verde oliva, colocariam um fuzil H & K em nossas mãos e nos elevariam à condição de sub-xerifes, com estrela de lata na lapela e tudo o que temos direito. Antes, estimulariam o aumento na produção de armas nas fábricas instaladas no seu próprio país, e investiria pesado na fabricação de tanques de guerra de último tipo. Não, não gostamos de brigar! Já apanhamos dos argentinos e quase levamos a pior contra os paraguaios! Preferimos dançar, cantar, discursar, embriagarmos até cair e depois dormir esplendidamente, que ninguém é de ferro!

Bom, vamos simplificar a coisa. A bem da verdade, o que propomos não é tecnicamente um aluguel, mas um contrato de prestação de serviço, uma proposta de parceria público-privada com as suas peculiaridades. Relacionaremos os países que poderiam participar do processo licitatório. Ops! Licitação me cheira a corrupção, a acertos por baixo do pano! Não, precisamos encontrar outra maneira de firmar contrato com a nação que iria nos alugar! Que tal partirmos para analisar o que alguns países europeus fizeram nos países colonizados por eles? Não seria má ideia. Assim, vamos começar com os países notoriamente colonialistas. Portugal está fora, por motivos já conhecidos. O seu modelo gerencial não deu certo por aqui. A Espanha também não: dizimou as nações nativas sem dó nem piedade, e se apropriou das suas riquezas! Imagina se lhe ocorresse a ideia de fazer isso novamente!

Que tal a Inglaterra? Nova Zelândia e Austrália foram colonizadas muito depois do Brasil, e hoje são exemplos a serem seguidos de países que deram certo. É, mas para lá eles levaram a sua própria população, deixando isolados em pequenos guetos os aborígenes, povos que ocupavam as terras agora colonizadas desde tempos imemoriais. Depois, tivemos o exemplo da Índia, país que esteve sob o domínio britânico por quase noventa anos, e que eles abandonaram a sua própria sorte, e com problemas muito maiores do que os que haviam quando ocuparam a região em 1858. Os ingleses também não!

Então, por exclusão, e também em decorrência da experiência que eles implantaram com o príncipe Maurício de Nassau, voltemos os nossos olhos para a Holanda! Eles já possuem experiência de Brasil, pois ocuparam Pernambuco e região por cerca de vinte e quatro anos, e deixaram um legado extraordinário para aquela gente. Infelizmente, para os pernambucanos, foram expulsos pelos portugueses e tudo voltou ao que era antes.

Curioso, fui em busca dos maiores avanços realizados por aqui em pouco menos de um quarto de século. E olha o que eles fizeram em Pernambuco: - “Investimentos na infraestrutura de Recife como, por exemplo, construção de pontes, diques, drenagem de pântanos, canais e obras sanitárias. Estabelecimento de aliança política com os senhores de engenho de Pernambuco. Incentivo ao estudo e retratação da natureza brasileira, principalmente com a vinda de artistas e cientistas holandeses. Adoção de melhorias nos engenhos, visando o aumento da produção de açúcar. Criação do Jardim Botânico no Recife, assim como o Museu Natural e o Zoológico. Melhoria da qualidade dos serviços públicos em Recife, investindo na coleta de lixo e nos bombeiros. Redução dos tributos cobrados dos senhores de engenho de Pernambuco. Estabelecimento da liberdade religiosa aos cristãos”. Vixe! Não foi pouca coisa, e tudo isso em tão pouco tempo!

Eu mesmo conheci algumas pontes construídas pelos holandeses em Recife. E que beleza de pontes! Nem mesmo a ineficiência do poder público brasileiro na sua conservação, abalou as suas estruturas. Estão lá, lindas e intactas para quem quiser ver. A hoje denominada Ponte Maurício de Nassau foi a primeira desse porte construídas nas Américas.

Pronto, decidi-me pela Holanda. Eles já nos deram exemplo do que podem fazer de bom por aqui. Então, que voltem. Vamos fazer com eles um contrato de mais vinte e quatro anos. Estabeleceremos cláusulas contratuais que nos sejam favoráveis, como, por exemplo, que todas as riquezas do país sejam aplicadas aqui mesmo. A Holanda receberia um percentual dos nossos lucros, além de um salário anual que seria reajustado à medida que as nossas contas fossem melhorando. Também teria direito a um bônus pelo incremento das nossas receitas sem que precisem recorrer ao aumento de impostos ou a criação de outros novos.

Outra cláusula importante a ser estabelecida é que todos os gerentes sejam importados da terra deles, além dos membros dos tribunais e das casas legislativas. E para que isso pudesse ser possível, teriam eles carta branca para fechar o nosso próprio congresso, as assembleias legislativas, as câmaras municipais, e coisas que tal. Nos tribunais seriam aproveitados os servidores, prática também adotada nos ministérios criados ou mantidos. Mas teriam a liberdade de cobrar eficiência da parte desses tabalhadores. Poderiam também fechar os sindicatos. E por fim, anualmente, avaliaríamos os termos do contrato, e os avanços ou retrocessos seriam estudado detalhadamente e alterados, em caso de ausência de resultados na sua execução. Teriam, ainda, poderes ilimitados para construir cadeias para encarcerar toda a malandragem ou os picaretas que fossem identificados, julgando-os sumariamente. Serviço forçado seria admitido nas cadeias e até estimulado por nós a fazerem parte dos termos acordados. Aluga-se um País!


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