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(José Pedro Araújo)
Hoje cedo ouvi uma música do Raul
Seixas que não me lembrava de já ter ouvido. Mas, ela calou fundo na minha alma
e me levou a uma reflexão a respeito do tema da canção. Raulzito, como um gênio
que era, propunha uma solução simples como a invenção dos clipes, ou mesmo do
fósforo. E cunhou a seguinte pérola: vamos alugar o Brasil! Ideia fantástica, talvez
assim encontremos uma solução para o grave problema gerencial que tornou esse
país em um retumbante fracasso, um lugar falido desde o seu nascimento. É isso
mesmo, o nosso problema não é que não tenhamos um sistema de governo capaz de
nos tirar do atraso de séculos, pois já experimentamos todos eles, desde a
realeza, com os dois imperadores que tivemos; o falso parlamentarismo de João Goulart,
as ditaduras, até mesmo um arremedo de socialismo “caviar com pinga”, tudo o
que é tipo de governo já tentamos, e nada deu certo.
Do alto da sua sabedoria
adquirida nos botecos baianos, ou à sombra dos coqueiros desfraldados pelos
ventos que varrem aquele estado e o torna tão festivo, Raul Seixas encontrou a
saída para nós. Ou será que a sua sabedoria adveio do consumo do acarajé com
uma pitada pesada de malagueta? Quanto a isso, não sei responder. O que eu sei
é que ele terminou encontrando uma saída honrosa para esta nação que se
degenera a cada momento, e caminha aceleradamente para o caos total.
Vejam o que cantou o sábio
Raulzito: “A solução pro nosso povo eu
vou dar. Negócio bom assim, ninguém nunca viu. Tá tudo pronto aqui é só vir
pegar. A solução é alugar o Brasil! Nós não vamos pagar nada! Nós não vamos
pagar nada! É tudo free! Tá na hora, agora é free, vamos embora! Dá lugar pros
gringo entrar, que esse imóvel tá pra alugar! Os estrangeiro eu sei que eles
vão gostar. Tem o Atlântico, tem vista pro mar! A Amazônia é o jardim do
quintal, e o dólar deles paga o nosso mingau!”. Perfeito, Raul Seixas! Só
precisamos fazer isso muito rápido, antes que a galera roube tudo e leve para
Miami.
Mas ai eu passei a pensar em
algumas cláusulas contratuais para nos resguardarmos contra alguns senões. Por
exemplo, estariam fora da concorrência países como a China, Cuba, Venezuela,
Coreia do Norte, Rússia, por motivos óbvios, pois os caras poderiam criar um
sistema administrativo em que uns poucos teriam que trabalhar para sustentar o
restante da galera, que é a imensa maioria. Ficaríamos na mesma! Não daria certo!
Impediríamos os árabes de entrarem
na concorrência também. Uma vez que, em menos de um ano, o Piauí declararia
guerra ao Maranhão, ou vise versa, e São Paulo estenderia as suas fronteiras do
leste até o Rio de Janeiro, e a esticaria para o sul até os limites com o
Uruguai.
Os Estados Unidos também seriam
vetados. Não poderiam participar do processo licitatório, também por motivos
óbvios: iriam incentivar a guerra em todos os pontos da terra, nos vestiria com
fardas verde oliva, colocariam um fuzil H & K em nossas mãos e nos
elevariam à condição de sub-xerifes, com estrela de lata na lapela e tudo o que
temos direito. Antes, estimulariam o aumento na produção de armas nas fábricas
instaladas no seu próprio país, e investiria pesado na fabricação de tanques de
guerra de último tipo. Não, não gostamos de brigar! Já apanhamos dos argentinos
e quase levamos a pior contra os paraguaios! Preferimos dançar, cantar, discursar,
embriagarmos até cair e depois dormir esplendidamente, que ninguém é de ferro!
Bom, vamos simplificar a coisa. A
bem da verdade, o que propomos não é tecnicamente um aluguel, mas um contrato
de prestação de serviço, uma proposta de parceria público-privada com as suas
peculiaridades. Relacionaremos os países que poderiam participar do processo
licitatório. Ops! Licitação me cheira a corrupção, a acertos por baixo do pano!
Não, precisamos encontrar outra maneira de firmar contrato com a nação que iria
nos alugar! Que tal partirmos para analisar o que alguns países europeus
fizeram nos países colonizados por eles? Não seria má ideia. Assim, vamos
começar com os países notoriamente colonialistas. Portugal está fora, por
motivos já conhecidos. O seu modelo gerencial não deu certo por aqui. A Espanha
também não: dizimou as nações nativas sem dó nem piedade, e se apropriou das
suas riquezas! Imagina se lhe ocorresse a ideia de fazer isso novamente!
Que tal a Inglaterra? Nova
Zelândia e Austrália foram colonizadas muito depois do Brasil, e hoje são
exemplos a serem seguidos de países que deram certo. É, mas para lá eles
levaram a sua própria população, deixando isolados em pequenos guetos os
aborígenes, povos que ocupavam as terras agora colonizadas desde tempos
imemoriais. Depois, tivemos o exemplo da Índia, país que esteve sob o domínio
britânico por quase noventa anos, e que eles abandonaram a sua própria sorte, e
com problemas muito maiores do que os que haviam quando ocuparam a região em
1858. Os ingleses também não!
Então, por exclusão, e também em decorrência da experiência que
eles implantaram com o príncipe Maurício de Nassau, voltemos os nossos olhos
para a Holanda! Eles já possuem experiência de Brasil, pois ocuparam Pernambuco
e região por cerca de vinte e quatro anos, e deixaram um legado extraordinário
para aquela gente. Infelizmente, para os pernambucanos, foram expulsos pelos
portugueses e tudo voltou ao que era antes.
Curioso, fui em busca dos maiores avanços realizados por aqui em
pouco menos de um quarto de século. E olha o que eles fizeram em Pernambuco: - “Investimentos na infraestrutura de Recife
como, por exemplo, construção de pontes, diques, drenagem de pântanos, canais e
obras sanitárias. Estabelecimento de aliança política com os senhores de
engenho de Pernambuco. Incentivo ao estudo e retratação da natureza brasileira,
principalmente com a vinda de artistas e cientistas holandeses. Adoção de
melhorias nos engenhos, visando o aumento da produção de açúcar. Criação do
Jardim Botânico no Recife, assim como o Museu Natural e o Zoológico. Melhoria
da qualidade dos serviços públicos em Recife, investindo na coleta de lixo e
nos bombeiros. Redução dos tributos cobrados dos senhores de engenho de
Pernambuco. Estabelecimento da liberdade religiosa aos cristãos”. Vixe! Não
foi pouca coisa, e tudo isso em tão pouco tempo!
Eu mesmo conheci algumas pontes construídas pelos holandeses em
Recife. E que beleza de pontes! Nem mesmo a ineficiência do poder público
brasileiro na sua conservação, abalou as suas estruturas. Estão lá, lindas e
intactas para quem quiser ver. A hoje denominada Ponte Maurício de Nassau foi a
primeira desse porte construídas nas Américas.
Pronto, decidi-me pela Holanda. Eles já nos deram exemplo do que
podem fazer de bom por aqui. Então, que voltem. Vamos fazer com eles um
contrato de mais vinte e quatro anos. Estabeleceremos cláusulas contratuais que
nos sejam favoráveis, como, por exemplo, que todas as riquezas do país sejam
aplicadas aqui mesmo. A Holanda receberia um percentual dos nossos lucros, além
de um salário anual que seria reajustado à medida que as nossas contas fossem
melhorando. Também teria direito a um bônus pelo incremento das nossas receitas
sem que precisem recorrer ao aumento de impostos ou a criação de outros novos.
Outra cláusula importante a ser estabelecida é que todos os
gerentes sejam importados da terra deles, além dos membros dos tribunais e das casas
legislativas. E para que isso pudesse ser possível, teriam eles carta branca
para fechar o nosso próprio congresso, as assembleias legislativas, as câmaras
municipais, e coisas que tal. Nos tribunais seriam aproveitados os servidores,
prática também adotada nos ministérios criados ou mantidos. Mas teriam a
liberdade de cobrar eficiência da parte desses tabalhadores. Poderiam também
fechar os sindicatos. E por fim, anualmente, avaliaríamos os termos do
contrato, e os avanços ou retrocessos seriam estudado detalhadamente e
alterados, em caso de ausência de resultados na sua execução. Teriam, ainda,
poderes ilimitados para construir cadeias para encarcerar toda a malandragem ou
os picaretas que fossem identificados, julgando-os sumariamente. Serviço
forçado seria admitido nas cadeias e até estimulado por nós a fazerem parte dos
termos acordados. Aluga-se um País!
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