Mapa de Presidente Dutra - MA |
José Pedro Araújo
Desde muito tenho pensado em
escrever sobre esse assunto que teve um peso considerável no desenvolvimento social
e econômico do velho e querido Curador: a criação e o desmembramento do
município de Tuntum. Mas, antes de entrar no assunto principal, deixem-me
tergiversar um pouco e enveredar pelos caminhos tortuosos e estreitos da região
conhecida como Japão maranhense. O nome se deu em consequência da sua
localização no mais profundo sertão, distante de tudo, especialmente da capital
do estado, dificuldade acentuada pela falta de acessos, tanto por terra, à
falta de estradas, quando pela ausência de um rio navegável, a tarefa de lá chegar era ingrata.
O Curador era o centro dessa
região recoberta por um tapete verde formado por uma floresta portentosa e
quase impenetrável. Embaixo dela, todavia, dormia desde a existência do mundo,
um solo ubérrimo, escuro, receptivo às sementes de quaisquer cereais,
especialmente daqueles adaptados ao clima tropical. E tudo isso sob as bênçãos
de chuvas benfazejas e em quantidades apropriadas ao regadio. Era assim que
todos os pesquisadores e aventureiros que tiveram a felicidade de passar por
ali descreviam a boníssima região do Japão.
O Curador, portanto, àquela época,
pertencia territorialmente ao município de Barra do Corda, cuja sede distava
longos 177 quilômetros em razão da tortuosidade do seu caminho de acesso. Hoje, depois do traçado novo da estrada
conhecida como Central do Maranhão, essa distância não passa de 98 quilômetros.
O Curador, já desde então, transformou-se num entroncamento rodoviário
importante. E por conta disso, não restou outra saída aos homens que
administravam o estado naquela época a não ser a nossa separação do município
tronco, acelerando o desenvolvimento da região. Com a criação do município em
dezembro de 1943, destinaram a ele uma área esplêndida e vasta, de 6.675 km², quase a área de um estado.
Para demonstrar o tamanho do território que abrangia o novo município
do Curador, basta falar sobre os nossos confinantes, como consta do Decreto-lei de criação: "Barra do Corda, desde as
margens do Rio Alpercatas até a foz do rio Flores. Deste ponto, a norte, como o
município de Pedreiras desde a dita Foz, seguindo-se pela margem direita do Rio
Mearim, até o Divisor de Águas Itapecuru-Mearim, no município de Codó, ao
leste. Deste ponto, seguindo-se para o sul, limitava-se com o município de
Colinas desde o divisor de águas Itapecuru-Mearim, até o Rio Alpercatas. E,
finalmente, com o município de Mirador, seguindo pelo Alpercatas até o ribeirão
Maravilha, fechando assim o perímetro na confluência com Barra do Corda". Era
esse, portanto, o território do novo município do Curador que passava a contar
com uma população de 36.687 habitantes.
Mas então sobrevieram os problemas políticos, todos querendo o poder de
mando do novel município. Depois de acirrada disputa política e judicial,
assume o primeiro prefeito, Ariston Leda, chefe de uma família que deteria nas
mãos o poder administrativo por muito tempo. Veio o segundo prefeito, José de
Freitas Barros, que logo renuncia, e em seguida Gerson Sereno. Nesse período,
como já descrevemos aqui nesse espaço, travou-se uma luta pela responsabilidade
dos destinos do Curador que terminou por resvalar para a violência pura e
explícita. E enquanto isso ocorria, Ariston Leda que havia sido eleito
vereador, e depois assumira a presidência da câmara municipal, trabalhava silenciosamente
pela criação do município de Tuntum, região onde morava e detinha suas
fazendas. Tuntum até então não figurava como uma povoação importante, tanto que
não passou nem pelo processo de transformação em vila ou distrito. Aliás, a
povoação mais importante da região que passou a ser conhecida como Tuntum era
São Joaquim dos Melo. Mas a região que abrigava os Leda era outra e eles tinham
peso político, como veremos.
Enquanto se trava renhida disputa pelo poder de mando do Curador,
Ariston Leda ia dando azo à sua ideia de criar um novo município para si. Com
forte influência no governo Eugênio Barros e com um aliado de peso na
Assembleia Legislativa do Estado, o deputado Eurico Ribeiro, seu sobrinho, o
político foi armando a sua teia e logo conseguia o seu objetivo: criou-se o
município de Tuntum, destacando toda a sua área territorial do de Presidente
Dutra. Estaria tudo bem se com a sua criação não se suprimisse a maior parte do
município-tronco. Tuntum levou 79% do território, ficando Presidente Dutra com
apenas 21%. Situação inédita esta. Sempre que se cria um novo município, aquele
que sofreu a supressão fica com a parte
maior do seu território, diferente do caso aqui tratado. Quando o
Curador foi destacado de Barra do Corda, por exemplo, o município tronco ficou
com uma área de 13.838 km², enquanto que ao novo foi destinado apenas 6.221 km².
Fez-se justiça, a meu ver.
Mapa de Tuntum - MA |
O professor e historiador tuntuense, Jean Carlos Gonçalves, em artigo
publicado no blog Bate Tuntum, assim se referiu ao caso da divisão territorial em
razão da questão levantada no nosso livro “Do Curador a Presidente Dutra –
história, personalidades e fatos”: “O cenário de rivalidades e
disputas não só ajuda a compreender o processo de emancipação de Tuntum na
perspectiva do desmembramento, mas de entender como tal processo foi
caracterizado por um aspecto bastante singular de nossa história: O município
criado possui uma extensão territorial superior ao “Município Mãe”. Diante
dessa conjuntura, aproveitou-se muito bem Ariston Leda, que após o término de
seu mandato como prefeito, conseguiu se eleger para vereador nas eleições de
1950, ocupando inclusive, a presidência da Câmara. Desse modo, Ariston se
colocava como uma importante liderança local e com fortes relações com o
governador Eugênio Barros e também com o Senador Vitorino Freire que a época
reinava absoluto na política maranhense. Somado a isto, o quadro de
turbulências inclinaria Ariston a articular um plano para separar Tuntum de
Presidente Dutra. De outro lado, Eurico Ribeiro via com bons olhos a separação,
pois, tal medida lhe daria amplo controle do eleitorado do novo município”.
Dito isto, o historiador
concluiu a informação: “O popularmente
conhecido Mestre Elias, antigo mecânico da cidade e que chegou à Tuntum em 1954
relata: “Enquanto os Serenos e os Gomes de Gouveia travavam o embate pelo
controle do poder, Ariston contratou secretamente um topógrafo em São Luís para
percorrer e traçar as linhas limítrofes do mapa que viria constituir no
território do município Tuntum”.
E foi assim que as disputas
políticas levaram o Curador a perder parcela importante do seu território para
o novo município criado, o que muito influiu no seu desenvolvimento socioeconômico,
em razão da apropriação, a nosso ver indevida, da fração maior de suas terras
mais produtivas. Beneficiou-se Tuntum, contudo, da intransigência e falta de bom-senso dos políticos do Curador. Ponto para o novo município.
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