Arte: Carol Araújo - Foto col. Adonias Soares |
José Pedro Araújo
Minha avó costumava repetir como
um mantra uma frase que nunca me saiu da cabeça: “meu filho, quando cheguei
para morar no Curador, havia aqui apenas dezessete casas construídas. Todas de
palha”. Saudosa, se referia a sua vinda de Pedreiras para a região do Curador
acompanhando os pais que se estabeleceram no alto onde mais tarde se formaria o
largo de São Bento, no começo, depois Praça São Sebastião. Contava apenas nove
anos de idade na época. O período a que ela se referia era fins do século XIX,
início do XX. A afirmativa, que se repetia com alguma assiduidade, vinha em
razão das dimensões que a cidade havia adquirido, na sua percepção, passando de
um reles povoado de rudes choupanas de palha, encravado no mais profundo da
mata maranhense, ao que agora considerava uma quase metrópole. Dona Zezé viveu
abraçada com as suas lembranças até o seu centésimo ano de vida, e fez do
Curador a sua morada definitiva na terra.
Quanto ao seu pai, José Nunes,
piauiense que chegou à região advindo da ribeira do Mearim, tocando umas poucas
cabeças de gado, encontrou a terra
prometida e nela se fixou até que um contratempo o fez retornar para Pedreiras.
Nunca me ocorreu perguntar à dona Zezé os nomes dessas poucas pessoas que aqui
encontrou quando chegou. Lamento isso, porque seriam essas as verdadeiras fundadoras da povoação que
convencionaram chamar CURADOR.
Não restam dúvidas de que os
homens e mulheres que vieram para cá para construir essa cidade, tal qual hoje
a conhecemos, fizeram um trabalho de gigantes. Se imaginarmos que as pessoas
que se estabeleceram na região assentaram as primeiras forquilhas na terra
provavelmente antes de 1890, lá se vão bons 128 anos. E fizeram todo o trabalho
praticamente sozinhos, vez que não se estabeleceram, como na maioria das
cidades mais antigas do nordeste, à sombra de alguma igreja ou capela, no
perímetro de alguma portentosa fazenda de criação de gado. O Curador não. O
primeiro que por aqui resolveu se estabelecer, alguém que logo os viajantes que
passavam convencionaram chamar Curador(ou Curandeiro), ergueu o seu barraco nas
margens de uma lagoa piscosa, e deu nome à povoação. O seu apelido. E depois
desapareceu sem deixa nenhum registro.
Mas o local já estava conhecido
pelas pessoas que vinham em busca de cuidados para algum mal do corpo ou da
mente. Virara ponto de atração. E os que buscavam tratamento, observaram também
que não havia terra melhor do aquela para assentar alguma fazendinha de gado ou
jogar sementes no chão com a certeza de colheita farta. Terra já livre de
silvícolas e desembaraçada legalmente, posto não existir um dono para
reclamar a sua titularidade, um sesmeiro que afirmasse ser seu único e
verdadeiro proprietário.
Assim se formou a comunidade que se
transformou na cidade mais importante da região conhecida como Japão.
Precisamos fazer justiça a esses homens e mulheres e esquecer a história criada
por uma mente estranha à região que precisava registrar algo na Enciclopédia
dos Municípios Brasileiros do IBGE. E assim inventaram a história dos cunhados
que vieram de Codó através de trilhas de caça e se estabeleceram nas brejeiras
de São Bento, São Joaquim do do Caxixi e Corrente. Até mesmo o site da
prefeitura municipal traz essa história pouco verossímil, com o título “Nossa
História”. Nenhum desses lugares acima assinalados fica na região onde, de fato,
a vila do Curador foi erguida. E nenhum deles pertence ao território de
Presidente Dutra. Se os tais cunhados não se estabeleceram na região, por que
insistir com isso? Precisamos acabar com essa falácia e por cobro a essa
inverdade, ressuscitando o que os mais antigos contavam como sendo a verdadeira
história de fundação do Curador.
Ao mesmo tempo em que nos rejubilamos
com o desenvolvimento da cidade, entristecemo-nos, na mesma medida, com suas
mazelas sociais, e com tudo de ruim que se abateu sobre essa terra de promissão,
criando nela uma pirâmide social excessivamente achatada na sua base. Um lugar
só é completamente feliz quando oferece as mesmas possibilidades de sobrevivência para
todos. E esse não é o nosso caso, como também não o é do nosso estado e, finalmente,
o do nosso país.
Mas, mesmo assim, temos muito a
comemorar nesse dia 28 de junho, dia em que a cidade completa 74 anos de emancipação
política. Precisam-se gastar os anos futuros na melhoria do padrão de vida de
todos, trabalhar por um lugar onde a paz, a concórdia e a riqueza sejam
equitativas a todos. Parabéns, Presidente Dutra, minha terra querida!
Gostaria de saber mais sobre essas verdadeira história.
ResponderExcluirE
ResponderExcluir