Dr. Murilo Braga |
José Pedro Araújo
Murilo Braga de Carvalho foi talvez o cidadão
piauiense de maior destaque nacional durante o governo Vargas, e início do
governo Eurico Gaspar Dutra. Nascido em Luzilândia, em 08 de dezembro de 1912, ainda
adolescente seguia para o Rio de Janeiro onde se matricularia, em regime de
internato, no colégio Pedro II. Murilo Braga era filho de José Raimundo Braga de Carvalho e
Carmosina Pires Braga e consta que iniciou seu aprendizado básico em colégios
do seu município. No Colégio Pedro II concluiu o curso de humanidades e logo
ingressou na Universidade do Brasil(Rio de Janeiro), para cursar o ensino
superior, graduando-se em Direito na turma de 1937. Estudante dedicado, logo
foi convidado pelo professor Lourenço Filho para trabalhar no Instituto de
Educação, passando a ocupar o cargo de Assistente de Gabinete. Já formado, em
1937, foi para o DASP para compor a equipe do grande educador, Dr. Luís Simões
Lopes. E não parou mais, dado à sua reconhecida competência, logo ocuparia o
importante cargo de Diretor da Divisão de Pessoal daquele órgão. A sua carreira
meteórica encontrou campo fértil no governo Vargas, sempre atento a novos
talentos e, não demorou muito, foi deslocado para o Ministério da Educação e
Saúde para desempenhar a elevada função de Diretor do INEP – Instituto Nacional
de Estudos Pedagógicos. O Governo federal planejava a interiorização da
educação no país e destinou a Murilo Braga a missão de implantar escolas em
todos os recantos do Brasil.
Ativo, e muito disciplinado, o piauiense organizou durante o ano de 1946 o “Plano de
Construção Escolar” em todo o Brasil, implantando centenas de escolas na
maioria dos estados brasileiros. E ao mesmo tempo prestava a sua valiosa
colaboração à Fundação Getúlio Vargas(1944), órgão criado para preparar pessoal
qualificado para a administração pública e privada do país, de
cujo Conselho Diretor ele tomava parte.
Murilo Braga de Carvalho era um homem de múltiplas
atividades, pois nesse mesmo tempo participou da criação da associação dos
ex-alunos do internato do Colégio Pedro II, entidade que se reunia anualmente,
no dia 2 de dezembro, em um almoço no velho casarão de São Cristóvão. E coube a
ele falar em nome dos seus ex-colegas logo na primeira reunião que ocorreu no
ano de 1945.
Foi casado com a professora municipal Cléia Santos
Braga de Carvalho, com quem tinha três filhos, dos quais só localizamos o nome
de dois deles: Murilo Braga de Carvalho Júnior e Cléia Maria Braga de Carvalho.
Homem de múltiplas atividades, como já
explicitamos, Murilo Braga ocupava também o cargo de Diretor do SESC – Serviço
Social do Comércio, sendo responsável pela organização do Serviço Social Rural
do Brasil. Foi nessa condição que ele viajou para os EUA para representar o
país em um encontro mundial que tratava sobre o tema de interesses da fundação,
quando foi vitimado por um acidente aéreo no qual veio a falecer. Na sua
companhia ia também o funcionário do SESC, Alain Carneiro.
A morte prematura de Murilo Braga, e de todos os
passageiros e tripulantes do avião “President”
da Pan Am, causou muita comoção ao país em virtude também das dificuldades de
localização dos destroços para o resgate das vítimas. O local do acidente do
avião Clipper, só foi identificado três dias depois. Mas a remoção dos corpos
dos passageiros e tripulantes sou ocorreu cerca de dois meses e meio após a
ocorrência, em decorrência das dificuldades de acesso ao local dos destroços da
aeronave, mas principalmente devido a problemas no planejamento e execução do
serviço de regate. E isso causou imenso sofrimento e revolta às famílias das
vitimas, fazendo com que a imprensa nacional, principalmente a Carioca,
pressionasse as autoridades para que adotasse maior rapidez e eficiência na
adoção de providências. Ainda tinham esperança de que houvesse passageiros com
vida.
A imprensa que tanto pressionava o governo e a
empresa aérea responsável pelo voo fatídico, também foi porta-voz de notícias
falsas que trariam muitos problemas para a execução das ações de resgate das
vítimas ao veicular que o avião vitimado fazia o transporte de pedras preciosas
e joias, além de uma partida de Urânio, justamente o que teria ocasionado a
explosão do avião em pleno ar. Essas notícias despertaram a cobiça de muitos
aventureiros que se embrenharam na mata para tentar saquear os pertences das
vítimas, o que obrigou as autoridades a bloquearem todos os acessos à região em
que o avião vitimado se encontrava. Mas
o caso já tomara todo o noticiário nacional, e à medida que dias iam passando,
mais e mais problemas iam surgindo. Foi o que ocorreu quando Ademar de Barros,
em campanha para o governo de São Paulo, mas também de olho nas eleições para presidente
do Brasil, dois anos depois, resolveu entrar no jogo e organizou uma tal “Caravana
da Solidariedade”, para a qual foram destacados trinta homens. Alguns
paraquedistas, mas também gente da força militar do estado, associaram-se para
fazer o traslado das vítimas. E para isto, prometeu o político aos membros da
tal caravana, os bens que conseguissem localizar, seriam seus, inclusive os
tais diamantes que diziam haver em grande quantidade em meio aos destroços da
aeronave.
A tal Caravana da Solidariedade partiu de São Paulo
em dois aviões, armada e disposta a tudo, pois acreditavam existirem muitos
índios belicosos, bem como animais ferozes infestavam a região em que o avião
havia caído. Identificado o local, os membros da comitiva ademarista saltaram
de paraquedas em uma clareira na mata distante seis quilômetros dos despojos.
O governo e a Pan Am, ao saberem que os paulistas
já haviam se deslocados para a região, apressara-se em mandar para o local uma equipe formada com
homens da Aeronáutica brasileira e dos Estados Unidos. Temiam a
descaracterização do local por parte dos paulistas, o que dificultaria ainda
mais a elucidação das causas do tenebroso acidente.
Alguns estudiosos afirmam que os membros da famigerada
Caravana da Solidariedade chegaram primeiro ao local do desastre, enquanto
outros afirmam que eles não saíram da clareira em que foram deixados pelas
aeronaves, amedrontados que estava de enfrentar a mata fechada e também a pela
possível presença de indígenas bravios e animais ferozes. O certo, é que foram
encontrados pelos membros da comitiva oficial já sem suprimentos para a sua
manutenção.
A Equipe oficial providenciou o sepultamento das
vítimas na própria selva, já que não tinham como realizar o traslado dos corpos
mutilados para fora da mata. Pois, o helicóptero enviado pelos americanos,
encontrava-se com avarias e não poderia remover as vitimas. Deste modo,
completado o trabalho de sepultamento dos corpos das vítimas, e estudo do local,
os membros da equipe governamental foram sendo retirados um a um. Mas, quando
os membros da caravana de paulistas se viram sem condições de fazer o mesmo,
visto que Ademar de Barros praticamente os havia abandonado na selva às suas
próprias sortes, fizeram uso das armas e enfrentaram os dois oficiais que ainda
restavam no local, um brasileiro, e outro americano, e os mantiveram como
reféns. Exigiam que eles próprios fossem retirados dali em primeiro lugar. Foi
uma negociação longa e problemática, pois o helicóptero que era utilizado para
realizar o trabalho já estava sem condições de prosseguir com o mesmo.
Depois de muita negociação, ficou acertado que o
governo abriria uma pista de pouso na clareira para a retirada de todos os que
ainda estavam na região, depois que a noticia do fato tomou as principais
páginas dos jornais do mundo inteiro. E assim foi feito, muitos dias depois.
Os restos mortais do ilustre piauiense só seria trasladado,
e sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro, no dia 15 de
agosto daquele ano de 1952, 107 dias após o acidente que vitimou o avião “President”
da Pan Am, fato ocorrido no dia 28/04. Ou mais precisamente, três meses e meio após
o falecimento do nobre educador. Muito sofrimento para a família deste jovem e
abnegado cidadão que tantos benefícios levou para os mais distantes rincões
deste imenso país. Benefício que também beneficiou este escriba, que iniciou o
seu aprendizado escolar em um colégio construído com recursos repassados pelo
homenageado desta singela crônica, e que presta justa homenagem ao grande
Murilo Braga de Carvalho.
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