terça-feira, 12 de junho de 2018

História de Presidente Dutra - DE DISTRITO A CIDADE DE CURADOR(Parte 16¨)


A maioridade - O mundo vivia a fase mais cruenta da 2ª Grande Guerra Mundial e o Brasil preparava seus pracinhas para enviá-los ao teatro onde se desenrolava o maior conflito já presenciado pela humanidade, quando aqui aconteceu o fato que iria mudar os destinos do nosso Curador: sua elevação à condição de novo município maranhense.
O ano de 1943 já exalava seus últimos suspiros quando em 30 de dezembro o interventor do estado, Dr. Paulo Martins de Sousa Ramos, assinou o Decreto-Lei 820/43, elevando à condição de município o distrito de Curador. Chegava quase ao fim uma luta de muitos anos em prol desta causa que tantos anseios haviam causado aos nossos munícipes. Um reconhecimento de que finalmente havíamos chegado à maioridade, e já podíamos caminhar com as nossas próprias pernas.
Não é fácil para uma povoação se desligar do município-mãe. Via de regra, este lança mão de todos os meios possíveis para não perder uma fatia do seu território, e, consequentemente, parte do seu eleitorado e dos repasses de recursos financeiros. Perder um povoado importante, muitas vezes significa a estagnação, a perda de prestígio, a redução das rendas públicas, enfim.
Às vezes acontece da cidade remanescente perder para a filha recém-emancipada a condição de cidade mais importante da região, fato que atrapalha sobremaneira o seu desenvolvimento. São inúmeros os casos acontecidos no nosso Estado que demonstram a veracidade da afirmação acima. Veja-se o caso de Pastos Bons, município do qual foram subtraídos todos os demais localizados a oeste e ao sul, como Imperatriz, Balsas, Grajaú, Carolina, Barra do Corda e o próprio município de Presidente Dutra. Somente há poucos anos, com o advento do cultivo da soja para exportação, a região voltou novamente a crescer, após ter passado anos paralisado no mais completo subdesenvolvimento. 
A mesma coisa aconteceu com outros importantes municípios. A medida que foram perdendo parte do seu território, viram surgir dessa divisão outros que logo tomariam o seu lugar como polo regional.
É revelador o fato de apesar do decreto-lei de criação do novo município ter sido assinado em 30 de dezembro de 1943, mas que somente em 28 de junho de 1944, seis meses depois, deu-se oficialmente a sua elevação. A historiografia relata que para a solenidade de criação do município de Curador, foi enviado o Sr. Raimundo Ferreira de Sousa, secretário da Prefeitura de Vargem Grande, para, como representante do senhor governador do Estado do Maranhão, presidir a solenidade de instalação do novo município. Qual a importância desse senhor? Não havia nenhum secretario de estado disponível para substituir o interventor Paulo Ramos?
Homem de confiança do interventor federal, o Prefeito de Barra do Corda Jamil de Miranda Gedeon também estava presente ao festivo evento.  E por que foi enviado um simples secretário municipal de uma cidade distante da nossa para presidir os trabalhos de instalação, quando em Barra do Corda existiam alguns políticos importantes e com bastante prestígio junto ao governo de Paulo Ramos? São perguntas que merecem um maior aprofundamento para serem respondidas.
Assim, o distrito de Curador para se tornar município demandou uma luta tenaz envolvendo seus humildes cidadãos contra personalidades importantes do meio político maranhense, a maioria originária de Barra do Corda, que sempre contou com uma representação poderosa na casa legislativa do Maranhão. Além destes, muitas outras autoridades que ocupavam cargos de destaque no executivo e no judiciário, lutaram para que a divisão não ocorresse. A disputa foi travada nos bastidores, mantendo-se a elegância dos cavalheiros, mas, ao mesmo tempo, o jogo bruto dos gladiadores. Tudo debalde, pois o futuro se encarregaria de mostrar que Barra do Corda não precisava de Presidente Dutra para se colocar entre os maiores municípios do território maranhense.
Para nós, contudo, foi a deixa que precisávamos. Logo vieram os repasses das verbas públicas para a edificação de escolas, postos de saúde e a abertura de estradas, possibilitando a criação de empregos e ofertando serviços de melhor qualidade aos moradores da florescente cidade.
Em 1943 governava o Maranhão o interventor Paulo Martins de Sousa Ramos, como já foi dito acima, amigo e ex-membro da equipe de governo de Getúlio Vargas. Esse benemérito, que foi imortalizado dando-se seu nome a uma importante rua em nossa cidade, e que antes ostentava o belíssimo nome de rua do Sol, ficaria no cargo até o fim do Estado Novo e a ascensão do Marechal  Eurico Gaspar Dutra como novo Presidente da República, eleito que fora através do sufrágio popular.
A história do Maranhão relata a forma como Getúlio Vargas nomearia o Dr. Paulo Ramos para interventor do Maranhão, escolhendo-o de sua própria equipe de trabalho para por fim a um conturbado clima de disputa instalado no estado, que somente no período inicial do seu governo teria como dirigentes máximos no Estado o Dr. Reis Perdigão, o Major Luso Torres, o Padre Astolfo Serra, o Capitão Lourival Serôa da Mota, o Sr. Álvaro Jansen Saldanha, o Sr. Martins de Almeida, o Dr. Aquiles Farias Lisboa, o Dr. Humberto Carneiro Mendonça, e, finalmente, o Dr. Paulo Martins de Sousa Ramos. Este último governaria o Maranhão por longos anos, iniciando seu mandato em 15 de agosto de 1936, e encerrando-o em outubro de 1945. Muito hábil, pacificaria o estado conflagrado, eliminando o clima de disputa interna entre os próprios aliados da ditadura Vargas.
E foi já no fim do seu longo período de governo, que um médico de nome Dr. Otávio Vieira Passos, na época residindo em Pedreiras, amigo pessoal do interventor Dr. Paulo Ramos, viajando de Barra do Corda para São Luís, passou pelo povoado de Curador, e inteirado-se da luta de seu povo para ver o distrito transformado em município, foi tomado do firme propósito de ajudá-los, intercedendo junto ao dirigente maior. É muito pouco provável que tenha sido somente isto que tenha ocorrido, diante do poder de pressão que os barracordenses tinham junto ao governo, em especial o ex-deputado Ismael Salomão. Político influente e com poder de mando em todo o sertão central, mesmo tendo perdido o mandato de deputado com o fechamento da Assembléia Legislativa, teria ele lutado para não permitir a subtração de parte do seu município, e logo a parte mais produtiva dele.
Assim, é razão muito mais provável, o fato do novo interventor de Barra do Corda ser um técnico apolítico, que antes fazia parte da equipe de governo do Dr. Paulo Ramos, como aconteceu com inúmeros outros administradores nomeados para dirigir o futuro de importantes municípios maranhenses. Esses técnicos de alto nível, muitas das vezes nem ao menos conheciam o local que logo iriam administrar. Tentava o governador com isto aliviar um pouco as tensões que existiam nos municípios em decorrência das disputadas escancaradas para ver quem mandava mais na política local. Depois, planejava ele nomear um grupo de interventores preocupados unicamente com o desenvolvimento local e sem entrar nas disputas políticas que tanto atrapalhavam o desenvolvimento do Estado do Maranhão, e, por via de conseqüência, trabalhariam pelo aumento da arrecadação dos dízimos públicos. Foi assim que escolheu o Sr. Jamil de Miranda Gedeon para administrar os destinos do florescente município de Barra do Corda no período de 1941 a 1945.
Esclarecedor ainda, é o fato do Dr. Paulo Ramos ter estado em visita a Barra do Corda exatamente no ano de 1943. Lá, certamente, planejou os atos que iriam ter grande repercussão entre nós, como os dois excepcionais feitos que o colocaram, em definitivo, no patamar dos grandes benfeitores da região, que foi a elevação do Distrito do Curador à categoria de município, e a criação da Colônia Agrícola Nacional de Barra do Corda.
Este último empreendimento viria mais tarde propiciar a construção das pontes de concreto sobre os rios Mearim e Corda, em 1947, e no rio Cigana, pouco depois. Foi o mote que faltava para se iniciar a construção da estrada carroçável entre aquela cidade e a de Presidente Dutra, magnífica obra que poria fim ao atraso de uma região esquecida, e ao sofrimento de tantos quantos fizeram esse trajeto em lombo de animal, ou mesmo a pé, durante longos e longos anos. Estava também iniciada a ligação da capital com a região do Tocantins.
Jamil Gedeon era um predestinado, e como bom administrador, viria se constituir no grande propulsor da economia da região, transpondo os obstáculos políticos locais e dando marcha ao progresso que chegaria nos anos seguintes. Oriundo de Coroatá fez o que era mais correto pensando unicamente no desenvolvimento da região por ele administrada. Passou para a posteridade com a instalação do novo município em 28.06.44, ocasião em que deu posse, temporariamente, até a nomeação do interventor efetivo, do primeiro administrador da cidade recém elevada, José Lúcio Bandeira de Melo.
José Lúcio Bandeira de Melo também era um técnico ligado à área de arrecadação de impostos, assim como Jamil Gedeon. Coletor Estadual, pertencia a uma família influente de Barra do Corda, e já exercia a função de Agente Distrital no Curador, passando pois a acumular as duas funções: coletor e interventor. Alerte-se que o cargo de Agente Distrital, de livre nomeação do prefeito, concedia poderes ao indicado de agir como delegado de polícia, assim também como de administrador do distrito.
São estas, portanto, as razões que levaram este autor a crer que estaria ai, na pessoa do Sr. Jamil de Miranda Gedeon, a figura de maior peso na criação do novo município. Administrador competente e sem maiores intenções políticas optou por promover o desenvolvimento da região, pensava também na possibilidade de aumento na arrecadação de impostos para o estado.
Não quero, com isso, tirar os méritos do nobre médico caxiense, Dr. Otávio Vieira Passos, que deve ter intercedido junto ao interventor estadual, somando esforços e viabilizando a concretização do sonho do povo sofrido do Curador. Com méritos inegáveis, entrou também para a história como um dos nossos beneméritos, merecedor de ocupar lugar de honra no panteão dos nossos heróis, e na memória do povo de Presidente Dutra.

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