A
maioridade - O mundo vivia a fase mais cruenta da 2ª Grande Guerra
Mundial e o Brasil preparava seus pracinhas para enviá-los ao teatro onde se
desenrolava o maior conflito já presenciado pela humanidade, quando aqui
aconteceu o fato que iria mudar os destinos do nosso Curador: sua elevação à
condição de novo município maranhense.
O ano de 1943 já exalava seus últimos
suspiros quando em 30 de dezembro o interventor do estado, Dr. Paulo Martins de
Sousa Ramos, assinou o Decreto-Lei 820/43, elevando à condição de município o
distrito de Curador. Chegava quase ao fim uma luta de muitos anos em prol desta
causa que tantos anseios haviam causado aos nossos munícipes. Um reconhecimento
de que finalmente havíamos chegado à maioridade, e já podíamos caminhar com as
nossas próprias pernas.
Não é fácil para uma povoação se
desligar do município-mãe. Via de regra, este lança mão de todos os meios
possíveis para não perder uma fatia do seu território, e, consequentemente,
parte do seu eleitorado e dos repasses de recursos financeiros. Perder um
povoado importante, muitas vezes significa a estagnação, a perda de prestígio,
a redução das rendas públicas, enfim.
Às vezes acontece da cidade
remanescente perder para a filha recém-emancipada a condição de cidade mais
importante da região, fato que atrapalha sobremaneira o seu desenvolvimento.
São inúmeros os casos acontecidos no nosso Estado que demonstram a veracidade
da afirmação acima. Veja-se o caso de Pastos Bons, município do qual foram
subtraídos todos os demais localizados a oeste e ao sul, como Imperatriz,
Balsas, Grajaú, Carolina, Barra do Corda e o próprio município de Presidente
Dutra. Somente há poucos anos, com o advento do cultivo da soja para
exportação, a região voltou novamente a crescer, após ter passado anos
paralisado no mais completo subdesenvolvimento.
A mesma coisa aconteceu com outros
importantes municípios. A medida que foram perdendo parte do seu território,
viram surgir dessa divisão outros que logo tomariam o seu lugar como polo
regional.
É revelador o fato de apesar do decreto-lei
de criação do novo município ter sido assinado em 30 de dezembro de 1943, mas que
somente em 28 de junho de 1944, seis meses depois, deu-se oficialmente a sua
elevação. A historiografia relata que para a solenidade de criação do município
de Curador, foi enviado o Sr. Raimundo Ferreira de Sousa, secretário da
Prefeitura de Vargem Grande, para, como representante do senhor governador do
Estado do Maranhão, presidir a solenidade de instalação do novo município. Qual
a importância desse senhor? Não havia nenhum secretario de estado disponível
para substituir o interventor Paulo Ramos?
Homem de confiança do interventor
federal, o Prefeito de Barra do Corda Jamil de Miranda Gedeon também estava
presente ao festivo evento. E por que foi
enviado um simples secretário municipal de uma cidade distante da nossa para
presidir os trabalhos de instalação, quando em Barra do Corda existiam alguns
políticos importantes e com bastante prestígio junto ao governo de Paulo Ramos?
São perguntas que merecem um maior aprofundamento para serem respondidas.
Assim, o distrito de Curador para se
tornar município demandou uma luta tenaz envolvendo seus humildes cidadãos
contra personalidades importantes do meio político maranhense, a maioria
originária de Barra do Corda, que sempre contou com uma representação poderosa
na casa legislativa do Maranhão. Além destes, muitas outras autoridades que
ocupavam cargos de destaque no executivo e no judiciário, lutaram para que a
divisão não ocorresse. A disputa foi travada nos bastidores, mantendo-se a
elegância dos cavalheiros, mas, ao mesmo tempo, o jogo bruto dos gladiadores.
Tudo debalde, pois o futuro se encarregaria de mostrar que Barra do Corda não
precisava de Presidente Dutra para se colocar entre os maiores municípios do
território maranhense.
Para nós, contudo, foi a deixa que
precisávamos. Logo vieram os repasses das verbas públicas para a edificação de
escolas, postos de saúde e a abertura de estradas, possibilitando a criação de
empregos e ofertando serviços de melhor qualidade aos moradores da florescente
cidade.
Em 1943 governava o Maranhão o
interventor Paulo Martins de Sousa Ramos, como já foi dito acima, amigo e
ex-membro da equipe de governo de Getúlio Vargas. Esse benemérito, que foi
imortalizado dando-se seu nome a uma importante rua em nossa cidade, e que
antes ostentava o belíssimo nome de rua do Sol, ficaria no cargo até o fim do
Estado Novo e a ascensão do Marechal
Eurico Gaspar Dutra como novo Presidente da República, eleito que fora através
do sufrágio popular.
A história do Maranhão relata a forma
como Getúlio Vargas nomearia o Dr. Paulo Ramos para interventor do Maranhão,
escolhendo-o de sua própria equipe de trabalho para por fim a um conturbado
clima de disputa instalado no estado, que somente no período inicial do seu
governo teria como dirigentes máximos no Estado o Dr. Reis Perdigão, o Major
Luso Torres, o Padre Astolfo Serra, o Capitão Lourival Serôa da Mota, o Sr.
Álvaro Jansen Saldanha, o Sr. Martins de Almeida, o Dr. Aquiles Farias Lisboa,
o Dr. Humberto Carneiro Mendonça, e, finalmente, o Dr. Paulo Martins de Sousa
Ramos. Este último governaria o Maranhão por longos anos, iniciando seu mandato
em 15 de agosto de 1936, e encerrando-o em outubro de 1945. Muito hábil, pacificaria
o estado conflagrado, eliminando o clima de disputa interna entre os próprios
aliados da ditadura Vargas.
E foi já no fim do seu longo período de
governo, que um médico de nome Dr. Otávio Vieira Passos, na época residindo em
Pedreiras, amigo pessoal do interventor Dr. Paulo Ramos, viajando de Barra do
Corda para São Luís, passou pelo povoado de Curador, e inteirado-se da luta de
seu povo para ver o distrito transformado em município, foi tomado do firme
propósito de ajudá-los, intercedendo junto ao dirigente maior. É muito pouco
provável que tenha sido somente isto que tenha ocorrido, diante do poder de
pressão que os barracordenses tinham junto ao governo, em especial o
ex-deputado Ismael Salomão. Político influente e com poder de mando em todo o
sertão central, mesmo tendo perdido o mandato de deputado com o fechamento da
Assembléia Legislativa, teria ele lutado para não permitir a subtração de parte
do seu município, e logo a parte mais produtiva dele.
Assim, é razão muito mais provável, o
fato do novo interventor de Barra do Corda ser um técnico apolítico, que antes
fazia parte da equipe de governo do Dr. Paulo Ramos, como aconteceu com
inúmeros outros administradores nomeados para dirigir o futuro de importantes
municípios maranhenses. Esses técnicos de alto nível, muitas das vezes nem ao
menos conheciam o local que logo iriam administrar. Tentava o governador com
isto aliviar um pouco as tensões que existiam nos municípios em decorrência das
disputadas escancaradas para ver quem mandava mais na política local. Depois,
planejava ele nomear um grupo de interventores preocupados unicamente com o
desenvolvimento local e sem entrar nas disputas políticas que tanto
atrapalhavam o desenvolvimento do Estado do Maranhão, e, por via de
conseqüência, trabalhariam pelo aumento da arrecadação dos dízimos públicos.
Foi assim que escolheu o Sr. Jamil de
Miranda Gedeon para administrar os
destinos do florescente município de Barra do Corda no período de 1941 a 1945.
Esclarecedor ainda, é o fato do Dr.
Paulo Ramos ter estado em visita a Barra do Corda exatamente no ano de 1943.
Lá, certamente, planejou os atos que iriam ter grande repercussão entre nós,
como os dois excepcionais feitos que o colocaram, em definitivo, no patamar dos
grandes benfeitores da região, que foi a elevação do Distrito do Curador à
categoria de município, e a criação da Colônia Agrícola Nacional de Barra do
Corda.
Este último empreendimento viria mais
tarde propiciar a construção das pontes de concreto sobre os rios Mearim e
Corda, em 1947, e no rio Cigana, pouco depois. Foi o mote que faltava para se
iniciar a construção da estrada carroçável entre aquela cidade e a de Presidente
Dutra, magnífica obra que poria fim ao atraso de uma região esquecida, e ao
sofrimento de tantos quantos fizeram esse trajeto em lombo de animal, ou mesmo
a pé, durante longos e longos anos. Estava também iniciada a ligação da capital
com a região do Tocantins.
Jamil Gedeon era um predestinado, e
como bom administrador, viria se constituir no grande propulsor da economia da
região, transpondo os obstáculos políticos locais e dando marcha ao progresso
que chegaria nos anos seguintes. Oriundo de Coroatá fez o que era mais correto
pensando unicamente no desenvolvimento da região por ele administrada. Passou
para a posteridade com a instalação do novo município em 28.06.44, ocasião em que deu posse, temporariamente, até a nomeação
do interventor efetivo, do primeiro administrador da cidade recém elevada, José Lúcio Bandeira de Melo.
José Lúcio Bandeira de Melo também era
um técnico ligado à área de arrecadação de impostos, assim como Jamil Gedeon.
Coletor Estadual, pertencia a uma família influente de Barra do Corda, e já
exercia a função de Agente Distrital no Curador, passando pois a acumular as
duas funções: coletor e interventor. Alerte-se que o cargo de Agente Distrital,
de livre nomeação do prefeito, concedia poderes ao indicado de agir como
delegado de polícia, assim também como de administrador do distrito.
São estas, portanto, as razões que
levaram este autor a crer que estaria ai, na pessoa do Sr. Jamil de Miranda
Gedeon, a figura de maior peso na criação do novo município. Administrador
competente e sem maiores intenções políticas optou por promover o
desenvolvimento da região, pensava também na possibilidade de aumento na arrecadação
de impostos para o estado.
Não quero, com isso, tirar os méritos
do nobre médico caxiense, Dr. Otávio Vieira Passos, que deve ter intercedido
junto ao interventor estadual, somando esforços e viabilizando a concretização
do sonho do povo sofrido do Curador. Com méritos inegáveis, entrou também para
a história como um dos nossos beneméritos, merecedor de ocupar lugar de honra
no panteão dos nossos heróis, e na memória do povo de Presidente Dutra.
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