Fonte: Google. Foto de Eduardo Crispim |
(Chico Acoram Araújo)*
Final da
tarde de domingo de um dos meses “B-R-O BRÓ”, resolvi visitar novamente um dos
pontos turísticos de Teresina – O Parque Municipal do Encontro dos Rios,
situado no bairro Poti Velho, zona Norte da cidade. Nesse horário, o clima beirava
quarenta graus centígrados. “Vou respirar um pouco o ar do encontro das águas”,
pensei. Chegando lá, o infalível e belo pôr do sol começava a reluzir no longínquo
horizonte a Oeste. Era uma paisagem crepuscular de tirar o fôlego, fenomenal. Permaneci
na beira do rio por algum tempo, admirando aquele poente dourado, um colírio
para o final de mais um dia de trabalho.
Depois de
contemplar extasiado aquele esplêndido quadro da natureza, baixei os olhos para
a barra onde os rios Poti e Parnaíba se encontram. Confesso que fiquei
desapontado com o que vi ali. A minha felicidade foi quase ao chão. Enormes
bancos de areia cobertos de pequenos arbustos e outras plantas típicas de
vazantes entravavam a correnteza do canal do velho monge. Era o assoreamento,
implacável, que sufocava o rio. E o rio Grande dos Tapuias, outrora tão
caudaloso, estava ali a definhar-se lentamente.
Do lado do tributário Poti, a poluição
e os aguapés tomavam conta da sua desembocadura, dificultando a respiração do
rio, asfixiando-o. Era um mar de águas túrbidas, e não um espelho d’água que
pudesse refletir a beleza do céu, a lua cheia que começava a brilhar no céu, a
dança das árvores das ribanceiras, ou mesmo as acrobacias e piruetas das aves
que sobrevoavam o local. A escassez de peixes de ambos os rios são reclamos
recorrentes dos pescadores do antigo Arraial da Barra do Poti, posto que
sumiram do antigo paraíso.
Apenas para
ilustrar o presente texto, recorro ao imortal poeta piauiense Da Costa e Silva
em seu poema “Rio das Garças”:
“(...)
É o Parnaíba, assim carpindo as
suas mágoas,
- Rio da minha terra, ungido de tristeza,
Refletindo o meu ser à flor
móvel das águas.”
Ergui as
vistas novamente para o ocaso – e vi descortinado um céu ruivo fenomenal; baixei-as
novamente para o encontro dos rios – e mirei uma desolação total. Aquele
estranho quadro surreal fora pintado por um artista louco varrido? Ou seria um
cartão postal sobreposto por um anti cartão postal produzido por um fotógrafo
vesgo e míope? Mas as pessoas que por ali perambulavam não olhavam para o pôr
do sol, e tampouco para as águas da barra do Poti. E se olharam, nada viram. Mas,
todos observaram, admirados, a grande estátua do “Cabeça de Cuia” (o jovem
Crispim) que, penando por século, ainda vaga errante nas águas dos rios Poti e
Parnaíba.
Depois disso, entediado, retornei para carregando na minha memória
aquele triste cartão postal do Encontro dos Rios.
(*)Chico Acoram é contador,
funcionário público federal e cronista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário