sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O CONTRASTE DE UM CARTÃO POSTAL

Fonte: Google. Foto de Eduardo Crispim



(Chico Acoram Araújo)*

            Final da tarde de domingo de um dos meses “B-R-O BRÓ”, resolvi visitar novamente um dos pontos turísticos de Teresina – O Parque Municipal do Encontro dos Rios, situado no bairro Poti Velho, zona Norte da cidade. Nesse horário, o clima beirava quarenta graus centígrados. “Vou respirar um pouco o ar do encontro das águas”, pensei. Chegando lá, o infalível e belo pôr do sol começava a reluzir no longínquo horizonte a Oeste. Era uma paisagem crepuscular de tirar o fôlego, fenomenal. Permaneci na beira do rio por algum tempo, admirando aquele poente dourado, um colírio para o final de mais um dia de trabalho.
            Depois de contemplar extasiado aquele esplêndido quadro da natureza, baixei os olhos para a barra onde os rios Poti e Parnaíba se encontram. Confesso que fiquei desapontado com o que vi ali. A minha felicidade foi quase ao chão. Enormes bancos de areia cobertos de pequenos arbustos e outras plantas típicas de vazantes entravavam a correnteza do canal do velho monge. Era o assoreamento, implacável, que sufocava o rio. E o rio Grande dos Tapuias, outrora tão caudaloso, estava ali a definhar-se lentamente.
Do lado do tributário Poti, a poluição e os aguapés tomavam conta da sua desembocadura, dificultando a respiração do rio, asfixiando-o. Era um mar de águas túrbidas, e não um espelho d’água que pudesse refletir a beleza do céu, a lua cheia que começava a brilhar no céu, a dança das árvores das ribanceiras, ou mesmo as acrobacias e piruetas das aves que sobrevoavam o local. A escassez de peixes de ambos os rios são reclamos recorrentes dos pescadores do antigo Arraial da Barra do Poti, posto que sumiram do antigo paraíso.
            Apenas para ilustrar o presente texto, recorro ao imortal poeta piauiense Da Costa e Silva em seu poema “Rio das Garças”:
            “(...)
                É o Parnaíba, assim carpindo as suas mágoas,
                -  Rio da minha terra, ungido de tristeza,
                Refletindo o meu ser à flor móvel das águas.”

            Ergui as vistas novamente para o ocaso – e vi descortinado um céu ruivo fenomenal; baixei-as novamente para o encontro dos rios – e mirei uma desolação total. Aquele estranho quadro surreal fora pintado por um artista louco varrido? Ou seria um cartão postal sobreposto por um anti cartão postal produzido por um fotógrafo vesgo e míope? Mas as pessoas que por ali perambulavam não olhavam para o pôr do sol, e tampouco para as águas da barra do Poti. E se olharam, nada viram. Mas, todos observaram, admirados, a grande estátua do “Cabeça de Cuia” (o jovem Crispim) que, penando por século, ainda vaga errante nas águas dos rios Poti e Parnaíba.
Depois disso, entediado, retornei para carregando na minha memória aquele triste cartão postal do Encontro dos Rios. 

(*)Chico Acoram é contador, funcionário público federal e cronista.

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