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José Pedro Araújo
A idade do velho cemitério de Presidente
Dutra é indefinida. Parece que os primeiros ocupantes do lugarejo escolheram aquele
local distante para sepultar os seus mortos. E como não conheço outro campo
santo mais antigo do que aquele na cidade, acredito que os primeiros enterrados
lá remontam ao começo do século XX, ou até mesmo antes. Talvez tenha inicio
naquela época também o pouco interesse em organizar aquele espaço de uma forma
mais cuidadosa, planejando bem aquela necrópole e dividindo o seu espaço em
ruas, alamedas, quadras e lotes, para melhor orientação aos visitantes. Nunca vi coisa pior, mais sem organização.
O termo cemitério (Coemeterium), significa
“fazer deitar”, definição para o local escolhido pelos primeiros cristãos para
sepultar os seus falecidos. E esses locais, via de regra, são muito bem
conservados, religiosamente respeitados, cuidadosamente planejados e, por isso
mesmo, sempre prontos para a pesquisa ou mesmo para a meditação. Os
pesquisadores quando se debruçam sobre a história de algum povo costumam
devassar os cemitérios em busca de dados fidedignos sobre a nação estudada. E
muito do que se sabe hoje, as informações que temos sobre os primórdios das
civilizações, especialmente sobre os seus principais protagonistas, foram obtidas
depois de exaustivas pesquisas em antigos cemitérios. É o caso das tumbas egípcias
que ainda hoje contribuem com a história daquele povo a cada novo sarcófago
encontrado, a cada nova catacumba descoberta.
Por sua vez, existem cemitérios tão
importantes e tão visitados, como o Père
Lachaise, em Paris, inaugurado em 1804, que recebe por ano mais de dois
milhões de visitantes; ou o da Recoleta, em Buenos Ayres, que se transformou em
um dos pontos de atração para os turistas do mundo todo que visitam a cidade
argentina. A modernidade também chegou aos “campos santos”. O San Cataldo, em Modena, Itália, é um
cemitério vertical, instalado em um prédio gigantesco e com muitos andares. Trata-se
de um ossuário humano em que a estrutura do corpo do extinto é guardada em caixas
individuais em meio a uma decoração florida e muito alegre.
Já o velho cemitério do Curador é
um dos piores “campos santos” que já visitei até hoje. Sem sombras de dúvidas, o pior, o mais
desorganizado, aquele que diariamente é mais vilipendiado. Recentemente voltei lá,
em datas alternadas, para realizar o sepultamento de duas pessoas muito
queridas, e o encontrei imerso no caos de sempre. Mato em profusão sobre os
túmulos, sujeira por toda a parte, e o velho e maior problema de todos: a falta
de disciplinamento na hora de realizarem-se o sepultamento dos corpos dos
falecidos. Como isso vem acontecendo ao longo de muito tempo, parece até que o
local é terra de ninguém, onde cada um escolhe o espaço para o sepultamento do seu
defunto ao seu bel prazer, no meio dos antigos passeios, muitas vezes uns sobre
os outros, sem um mínimo de respeito com quem já ocupou primeiro aquele
endereço. Não existem mais ruas para o acesso das pessoas aos túmulos localizados
mais para o seu interior, obrigando o visitante a caminhar sobre as sepulturas
ou saltar por cima dos túmulos mais difíceis de transpor.
Outra coisa que constatei também:
não existe ninguém para informar a localização do jazigo de alguém que se
pretenda visitar. Não existe numeração definida ou endereço que possa ser
informado. Se você não souber a localização exata da cova de quem pretende
visitar, com certeza voltará de lá sem concretizar o seu desejo.
Mas o pior mesmo é a disputa por
espaço que se instalou no cemitério. Parece até que as pessoas vão cavando as
sepulturas no local que bem entenderem, sem o mínimo de respeito para com quem
já chegou ali antes. Nessa última visita, procurei pelo jazigo de uma irmã
falecida ainda criança e não mais o encontrei. No local em que fora sepultada, alguém
construiu um monstrengo a guisa de catacumba, quadrado, preto, ocupando um
espaço de aproximadamente dois metros e meio por dois e meio. A última morada
da minha irmãzinha Célia, antes localizado ao lado da campa que continha os
restos mortais do seu avô, foi soterrado pelo desrespeitoso invasor, assim como
deve ter ocorrido com outros defuntos sepultados nas suas proximidades. Meu
coração, já tão abarrotado pela tristeza dos acontecimentos daqueles dias,
transbordou de dor e decepção. O descaso com os nossos extintos é brutal ali.
Conto que este meu grito de
revolta possa chegar aos ouvidos do nosso Alcaide, um homem sensível e ligado
aos interesses da nossa coletividade, e que tem muitos dos seus sepultados no
velho Cemitério do Curador. Não me refiro apenas a uma demão de cal nos muros. Mas
a algo maior. Ainda é tempo de impor alguma ordem naquele pouco mais de um
hectare de terra; organizar o seu funcionamento; estabelecer um gerenciamento eficiente
por lá, pois os extintos cidadãos presidutrense precisam também de um bom
tratamento para que possam descansar definitivamente em paz.
Lamentável o descaso das autoridades com o cemitério do velho Curador. O seu texto sobre esse lugar Santo é, de fato, é chocante e triste.
ResponderExcluirLá no meu torrão natal fizeram o pior. O antigo cemitério da cidade, que guardava tanta histórias dos nossos antepassados, simplesmente desapareceu; destruíram.
Piracuruca, Chico Carlos, bem mais antiga e menor que o Curador, preserva muito bem os seus cemitérios,todos bem planejados, ruas internas largas, limpas, quadras e travessas com boa orientação. Um exemplo de respeito com os mortos.
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