José Pedro Araújo
O uso do fogão à
lenha – Nos primórdios da vila de Curador, usavam-se as famosas
“trempes”, formadas por três pedras de tamanho razoável, e sobre elas se
colocavam as panelas de ferro para fazer o cozimento dos alimentos. Desse
“mobiliário” muito simples, foi-se evoluindo para o fogareiro construído em
cupins, ou em latas de biscoito e até de querosene, até se chegar ao fogão à
lenha, construído de taipa, com furos no centro por onde as panelas de ferro
recebiam o fogo da lenha que queimava abaixo. Esses rudimentares fogões, com o
tempo foram sendo substituídos por outros construídos de tijolo, com chapa de
ferro, erigido no canto da cozinha das casas mais “abastadas’. Alguns mais criativos,
logo começaram a erguer chaminés por onde a fumaça era expelida. Nem todo mundo
adotava esse instrumento para se ver livre da fumaça que negrejava as paredes
da cozinha com uma fuligem escura e espessa. A maioria não erguia chaminés,
continuava cozinhando seus alimentos em meio à fumaça e ao calor, como se o
fumo que brotava da lenha em chamas não incomodasse em nada.
A lenha
seca era apanhada no mato, tarefa quase sempre entregue aos meninos maiores da
casa. Outras vezes, eram os próprios adultos quem rachavam as toras de madeira
com machados bem amolados. Esse procedimento se acentuava quando se aproximava
o período das chuvas. Tornava-se necessário ajuntar o maior número de achas de
lenha e guardá-las abrigadas das águas que caíam torrencialmente na região. Os
imprevidentes, por sua vez, padeciam quando as chuvas caíam - às vezes por dias
a fio -, de maneira que estes não conseguiam achar lenha seca, ocasião em que,
envergonhados, tinham que pedir emprestada alguma aos vizinhos.
Alguns mais engenhosos construíam uma
espécie de câmara ardente sob o fogão, que servia de depósito. Ali colocava a
lenha um pouco úmida para secar através do calor emanado do fogo que ardia
acima. Esses mais previdentes possuíam lenha seca durante todo o tempo de invernada,
abstendo-se da necessidade de ter que armazenar grandes quantidades de madeira
no período chuvoso.
A venda de lenha, madeira seca cortada
em pequenas toras ou lascas, durante muitos anos se constituiu em profissão
para muitos pais de família. Era comum a visão de cidadãos pelas ruas
empoeiradas da cidade tangendo seus animais à procura de compradores. As cargas
eram transportadas em cambitos, colocados aos pares em um e outro lado do
animal, presos à cangalha. Esses pobres animais levavam cargas enormes,
arrumadas de maneira a cobrir a parte de cima, formando um semicírculo de
madeira, que a seguir era amarrada com cordas para não se esparramar pela rua.
Com o tempo, essa profissão foi
completamente eliminada à medida que a lenha foi sendo paulatinamente
substituída pelo carvão vegetal, e depois pelo gás butano.
Era muito comum também, erguerem-se
fornos de barro no quintal, onde eram assados bolos, pães e, até mesmo, leitões
inteiros para gáudio da meninada que também apreciava as broas de milho e os
bolos de tapioca que as mães preparavam para o lanche da tarde, ou para o café
da manhã. Ainda é possível encontrar esses fornos nas fazendas e sítios, e em
menor medida na cidade, usados ainda como forma de se manter viva a tradição.
Não são
poucas as pessoas que ainda apreciam uma boa comida caseira feita em fogões à
lenha. Seguindo esse costume, as melhores pizzarias assam suas massas em
grandes fornos à lenha, resgatando essa prática antiga, para felicidade de quem
aprecia uma comida feita através desses instrumentos antigos.
O fogão a gás, utilizado hoje, só
chegou até nós em meados da década de 60, facilitando sobremaneira a vida das
donas de casa. Bendito o sujeito que inventou o gás butano para amainar um
pouco a tarefa cansativa das mães de família!
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