quarta-feira, 4 de abril de 2018

A HISTÓRIA DE PRESIDENTE DUTRA (Parte 7)





José Pedro Araújo

O uso do fogão à lenha Nos primórdios da vila de Curador, usavam-se as famosas “trempes”, formadas por três pedras de tamanho razoável, e sobre elas se colocavam as panelas de ferro para fazer o cozimento dos alimentos. Desse “mobiliário” muito simples, foi-se evoluindo para o fogareiro construído em cupins, ou em latas de biscoito e até de querosene, até se chegar ao fogão à lenha, construído de taipa, com furos no centro por onde as panelas de ferro recebiam o fogo da lenha que queimava abaixo. Esses rudimentares fogões, com o tempo foram sendo substituídos por outros construídos de tijolo, com chapa de ferro, erigido no canto da cozinha das casas mais “abastadas’. Alguns mais criativos, logo começaram a erguer chaminés por onde a fumaça era expelida. Nem todo mundo adotava esse instrumento para se ver livre da fumaça que negrejava as paredes da cozinha com uma fuligem escura e espessa. A maioria não erguia chaminés, continuava cozinhando seus alimentos em meio à fumaça e ao calor, como se o fumo que brotava da lenha em chamas não incomodasse em nada.
            A lenha seca era apanhada no mato, tarefa quase sempre entregue aos meninos maiores da casa. Outras vezes, eram os próprios adultos quem rachavam as toras de madeira com machados bem amolados. Esse procedimento se acentuava quando se aproximava o período das chuvas. Tornava-se necessário ajuntar o maior número de achas de lenha e guardá-las abrigadas das águas que caíam torrencialmente na região. Os imprevidentes, por sua vez, padeciam quando as chuvas caíam - às vezes por dias a fio -, de maneira que estes não conseguiam achar lenha seca, ocasião em que, envergonhados, tinham que pedir emprestada alguma aos vizinhos.
Alguns mais engenhosos construíam uma espécie de câmara ardente sob o fogão, que servia de depósito. Ali colocava a lenha um pouco úmida para secar através do calor emanado do fogo que ardia acima. Esses mais previdentes possuíam lenha seca durante todo o tempo de invernada, abstendo-se da necessidade de ter que armazenar grandes quantidades de madeira no período chuvoso.
A venda de lenha, madeira seca cortada em pequenas toras ou lascas, durante muitos anos se constituiu em profissão para muitos pais de família. Era comum a visão de cidadãos pelas ruas empoeiradas da cidade tangendo seus animais à procura de compradores. As cargas eram transportadas em cambitos, colocados aos pares em um e outro lado do animal, presos à cangalha. Esses pobres animais levavam cargas enormes, arrumadas de maneira a cobrir a parte de cima, formando um semicírculo de madeira, que a seguir era amarrada com cordas para não se esparramar pela rua.
Com o tempo, essa profissão foi completamente eliminada à medida que a lenha foi sendo paulatinamente substituída pelo carvão vegetal, e depois pelo gás butano.       
Era muito comum também, erguerem-se fornos de barro no quintal, onde eram assados bolos, pães e, até mesmo, leitões inteiros para gáudio da meninada que também apreciava as broas de milho e os bolos de tapioca que as mães preparavam para o lanche da tarde, ou para o café da manhã. Ainda é possível encontrar esses fornos nas fazendas e sítios, e em menor medida na cidade, usados ainda como forma de se manter viva a tradição.
            Não são poucas as pessoas que ainda apreciam uma boa comida caseira feita em fogões à lenha. Seguindo esse costume, as melhores pizzarias assam suas massas em grandes fornos à lenha, resgatando essa prática antiga, para felicidade de quem aprecia uma comida feita através desses instrumentos antigos.
O fogão a gás, utilizado hoje, só chegou até nós em meados da década de 60, facilitando sobremaneira a vida das donas de casa. Bendito o sujeito que inventou o gás butano para amainar um pouco a tarefa cansativa das mães de família!






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