José Pedro Araújo
Como passa rápido esse
interstício entre uma copa do mundo e outra. São quatro anos relâmpagos, talvez
porque entre o final de uma copa e o começo de outra temos as olimpíadas, e
depois a Copa das Confederações. Não sei. O que sei é que quando menos nos
espantamos, já estamos brigando nas eliminatórias para tentar uma vaga para o
próximo mundial. Pela primeira vez o país ganhador do último campeonato teve
que disputar as eliminatórias, pois apenas o país anfitrião estava classificado
antecipadamente. E lá fomos nós em busca da nossa vaga para confirmar o fato de
sermos o único país do mundo a disputar todas as copas realizadas até então.
O Brasil ainda chegou a se
oferecer para disputar a copa de 2006, mas tinha concorrentes fortes para esse
jogo fora dos gramados que, como ficou provado mais tarde, é bastante sujo,
onde a compra de voto corre solta. Assim, estrategicamente, o Brasil retirou o
nome da disputa para sediar o certame e apoiou a África do Sul, pensando em
obter os votos dos membros do continente africano para a disputa seguinte. Mas
deu Alemanha.
Então, fomos disputar as
eliminatórias. Não fomos mal, e ficamos em primeiro lugar do grupo da América
do sul. Estávamos pronto para defender o nosso título de último campeão do
mundo no velho país europeu, um dos grandes do futebol mundial. Levamos uma
seleção que impunha respeito pois contava com Kaká, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e
Ronaldo Fenômeno. Tínhamos chances reais de brigar pelo hexa campeonato.
O sorteio nos colocou, na
primeira fase, em um grupo tranquilo, juntos com Croácia, Japão e Austrália.
Vencemos as três partidas e fomos para as oitavas-de-final contra a seleção de
Gana, a quem impusemos uma vitória sem contestação por 3x0. Nessas alturas já
estávamos empolgadíssimo com a seleção brasileira e a cada jogo o número de
torcedores aumentava na nossa casa. Meus filhos já estavam numa fase em que os
amigos são muitos, e eles mesmos se encarregavam em organizar o evento. Mas a
nossa animação vinha de antes. Depois das eliminatórias, confiantes na força do
grupo que iria para a Alemanha, compramos uma tevê nova. A escolhida desta vez foi uma Sony LED Bravia de 40 polegadas. Como
evoluímos desde a copa de 66 quando ouvíamos as partidas através de um rádio
SEMP de pilhas, por não termos energia por essa época na cidade!
Ia esquecendo-me de dizer que
alguns meses antes do início das competições montávamos o Álbum de Figurinhas
da Copa. Comecei a organizar o primeiro para o meu filho recém-nascido ainda na
copa do mundo de 1982. E desde então damos sequencia a esta tradição que tem o
dom de nos aproximar da competição antes mesmo que ela comece. O Álbum da 2006
já era montado pelos meus filhos, que faziam de tudo para concluí-lo antes dos
primeiros jogos. E valia tudo mesmo, desde a simples aquisição dos saquinhos
com os cinco cromos nas bancas de revistas, a troca com os colegas, e até mesmo
a aposta no jogo de bafo. Tudo era motivo para arranjar uma figurinha que nos
estivesse faltando no nosso álbum.
Voltando à copa daquele ano, animação
nas alturas, inflada jogo a jogo, passamos paras as quartas-de-final. Os
adversários seriam os franceses de Zidane. Aquele mesmo país que nos havia
desmoralizado em Saint-Denis, quando perdemos a final pelo placar acachapante de
3x0. Chegara o dia da vingança.
Mas, o Brasil encontrou Zidane em
uma fase esplendorosa, e apesar de não termos jogado mal, perdemos o jogo pelo
placar de 1x0. Foi uma ducha de água fria. Para as semifinais a torcida na
minha casa estava reduzida somente aos membros da família. E na final, bateu
aquela tristeza de ver a Itália com uma seleção voluntariosa apenas, mas fraca
individualmente, bater os franceses nas penalidades, depois de ter
desqualificado os donos da casa na semifinal. A Itália sagrou-se campeã do
mundo com méritos, mas com um futebol feio e retrancado.
Fazer o quê? Guardamos o nosso
álbum de figurinhas, juntamos as nossas tralhas de decoração, e fomos curtir a
nossa decepção com uma enorme dor de cotovelos. Agora era esperar a copa
seguinte que seria disputada, agora sim, na África do Sul. Pela primeira vez o
torneio seria disputado em um país africano. Dois anos depois tinha início às
competições para definir quem ia para a África em 2010. Esperávamos seguir com
a escrita de nunca faltar a esse compromisso tão importante para nós
brasileiros.
Depois de nos classificarmos em
primeiro na zona Sul Americana, e de vermos a Argentina amargar um quarto
lugar, partimos confiantes para o país daquela copa. Mas, antes disso, ganhamos
outra vez a Copa das Confederações, pela terceira vez, torneio preparatório que
antecede à principal competição de futebol mundial. Kaká e Luís
Fabiano, ganhadores dos principais prêmios na Copa das Confederações, eram as
nossas principais esperanças de título. Kaká, aliás, havia sido escolhido o
melhor jogador do mundo três anos antes, e depositávamos as nossas maiores
esperanças no craque do Real Madrid.
Na minha casa partimos para
organizar os nossos jogos mais uma vez. Com alguma parcimônia na compra de
bandeiras e camisas. Talvez não estivéssemos tão confiantes em razão dos
últimos reveses. O certo é que foi só a bola rolar, e já estávamos no clima da
copa. Ganhamos os nossos dois primeiros jogos e empatamos o terceiro com
Portugal, classificando-nos em primeiro do grupo. Não foi nada muito animador, não jogamos aquele futebol de encher os brasileiros de urgulho. Precisávamos engrenar melhor, mas sempre
havia a promessa de crescimento durante a competição para chegar tinindo no
final do torneio. Nesse mesmo tempo, as duas últimas campeãs do mundo, França e
Itália, não conseguiram passar da primeira fase e voltaram cabisbaixas para
casa.
O nosso Álbum de Figurinhas da Copa já estava completo também.
Tentamos animar a torcida na
nossa casa, e até reforçamos os comes-e-bebes para dar uma cara melhor de Copa
do Mundo. Nas oitavas-de-final batemos o Chile com folga, 3x0. Estávamos
melhorando, mas pegaríamos um osso duro nas quartas-de-final, a Holanda. Agora
a Copa estava no nosso sangue, a animação era total. O jogo haveria de ser realizado
no estádio Nelson Mandela Bay, e nós estávamos prontos para encarar uma seleção
que era sempre difícil de ser batida, mas sobre a qual obtivemos vitórias nos
últimos confrontos.
Fizemos um jogo horroroso, Felipe
Melo aprontou das suas, e perdemos com um gol de cabeça do jogador mais baixo
da seleção adversária, Sneijder. Do mesmo modo que a temperatura havido subido
com as vitórias da seleção brasileira, caiu vertiginosamente como um balão
vazio. Voltamos para casa mais uma vez ao parar nas quartas. Na final a Espanha
se sagrou campeã, como todos já sabem, batendo a Holanda que amargou mais um
vice-campeonato. Assistimos a final com aquele sentimento de que vença o melhor.
Nada mais importava para nós. De bom nessa copa só a presença de Nelson
Mandela, um ícone para todos os adeptos da liberdade, um homem acima de todas
as suspeitas, diferente de uns e outros que tentaram nos enganar por aqui ao
posar de bom moço. Mas, deixa isso pra lá, que em 2014 a Copa seria em nossa
casa e precisaríamos nos preparar, pois a nossa seleção estava envelhecida e seria preciso
trocar algumas peças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário