segunda-feira, 16 de abril de 2018

As Minhas Copas do Mundo de Futebol (5)



José Pedro Araújo

Como passa rápido esse interstício entre uma copa do mundo e outra. São quatro anos relâmpagos, talvez porque entre o final de uma copa e o começo de outra temos as olimpíadas, e depois a Copa das Confederações. Não sei. O que sei é que quando menos nos espantamos, já estamos brigando nas eliminatórias para tentar uma vaga para o próximo mundial. Pela primeira vez o país ganhador do último campeonato teve que disputar as eliminatórias, pois apenas o país anfitrião estava classificado antecipadamente. E lá fomos nós em busca da nossa vaga para confirmar o fato de sermos o único país do mundo a disputar todas as copas realizadas até então.

O Brasil ainda chegou a se oferecer para disputar a copa de 2006, mas tinha concorrentes fortes para esse jogo fora dos gramados que, como ficou provado mais tarde, é bastante sujo, onde a compra de voto corre solta. Assim, estrategicamente, o Brasil retirou o nome da disputa para sediar o certame e apoiou a África do Sul, pensando em obter os votos dos membros do continente africano para a disputa seguinte. Mas deu Alemanha.

Então, fomos disputar as eliminatórias. Não fomos mal, e ficamos em primeiro lugar do grupo da América do sul. Estávamos pronto para defender o nosso título de último campeão do mundo no velho país europeu, um dos grandes do futebol mundial. Levamos uma seleção que impunha respeito pois contava com Kaká, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno. Tínhamos chances reais de brigar pelo hexa campeonato.

O sorteio nos colocou, na primeira fase, em um grupo tranquilo, juntos com Croácia, Japão e Austrália. Vencemos as três partidas e fomos para as oitavas-de-final contra a seleção de Gana, a quem impusemos uma vitória sem contestação por 3x0. Nessas alturas já estávamos empolgadíssimo com a seleção brasileira e a cada jogo o número de torcedores aumentava na nossa casa. Meus filhos já estavam numa fase em que os amigos são muitos, e eles mesmos se encarregavam em organizar o evento. Mas a nossa animação vinha de antes. Depois das eliminatórias, confiantes na força do grupo que iria para a Alemanha, compramos uma tevê nova. A escolhida desta vez  foi uma Sony LED Bravia de 40 polegadas. Como evoluímos desde a copa de 66 quando ouvíamos as partidas através de um rádio SEMP de pilhas, por não termos energia por essa época na cidade!

Ia esquecendo-me de dizer que alguns meses antes do início das competições montávamos o Álbum de Figurinhas da Copa. Comecei a organizar o primeiro para o meu filho recém-nascido ainda na copa do mundo de 1982. E desde então damos sequencia a esta tradição que tem o dom de nos aproximar da competição antes mesmo que ela comece. O Álbum da 2006 já era montado pelos meus filhos, que faziam de tudo para concluí-lo antes dos primeiros jogos. E valia tudo mesmo, desde a simples aquisição dos saquinhos com os cinco cromos nas bancas de revistas, a troca com os colegas, e até mesmo a aposta no jogo de bafo. Tudo era motivo para arranjar uma figurinha que nos estivesse faltando no nosso álbum.

Voltando à copa daquele ano, animação nas alturas, inflada jogo a jogo, passamos paras as quartas-de-final. Os adversários seriam os franceses de Zidane. Aquele mesmo país que nos havia desmoralizado em Saint-Denis, quando perdemos a final pelo placar acachapante de 3x0. Chegara o dia da vingança.

Mas, o Brasil encontrou Zidane em uma fase esplendorosa, e apesar de não termos jogado mal, perdemos o jogo pelo placar de 1x0. Foi uma ducha de água fria. Para as semifinais a torcida na minha casa estava reduzida somente aos membros da família. E na final, bateu aquela tristeza de ver a Itália com uma seleção voluntariosa apenas, mas fraca individualmente, bater os franceses nas penalidades, depois de ter desqualificado os donos da casa na semifinal. A Itália sagrou-se campeã do mundo com méritos, mas com um futebol feio e retrancado.

Fazer o quê? Guardamos o nosso álbum de figurinhas, juntamos as nossas tralhas de decoração, e fomos curtir a nossa decepção com uma enorme dor de cotovelos. Agora era esperar a copa seguinte que seria disputada, agora sim, na África do Sul. Pela primeira vez o torneio seria disputado em um país africano. Dois anos depois tinha início às competições para definir quem ia para a África em 2010. Esperávamos seguir com a escrita de nunca faltar a esse compromisso tão importante para nós brasileiros.

Depois de nos classificarmos em primeiro na zona Sul Americana, e de vermos a Argentina amargar um quarto lugar, partimos confiantes para o país daquela copa. Mas, antes disso, ganhamos outra vez a Copa das Confederações, pela terceira vez, torneio preparatório que antecede à principal competição de futebol mundial.  Kaká e Luís Fabiano, ganhadores dos principais prêmios na Copa das Confederações, eram as nossas principais esperanças de título. Kaká, aliás, havia sido escolhido o melhor jogador do mundo três anos antes, e depositávamos as nossas maiores esperanças no craque do Real Madrid.

Na minha casa partimos para organizar os nossos jogos mais uma vez. Com alguma parcimônia na compra de bandeiras e camisas. Talvez não estivéssemos tão confiantes em razão dos últimos reveses. O certo é que foi só a bola rolar, e já estávamos no clima da copa. Ganhamos os nossos dois primeiros jogos e empatamos o terceiro com Portugal, classificando-nos em primeiro do grupo. Não foi nada muito animador, não jogamos aquele futebol de encher os brasileiros de urgulho. Precisávamos engrenar melhor, mas sempre havia a promessa de crescimento durante a competição para chegar tinindo no final do torneio. Nesse mesmo tempo, as duas últimas campeãs do mundo, França e Itália, não conseguiram passar da primeira fase e voltaram cabisbaixas para casa.
O nosso Álbum de Figurinhas da Copa já estava completo também.

Tentamos animar a torcida na nossa casa, e até reforçamos os comes-e-bebes para dar uma cara melhor de Copa do Mundo. Nas oitavas-de-final batemos o Chile com folga, 3x0. Estávamos melhorando, mas pegaríamos um osso duro nas quartas-de-final, a Holanda. Agora a Copa estava no nosso sangue, a animação era total. O jogo haveria de ser realizado no estádio Nelson Mandela Bay, e nós estávamos prontos para encarar uma seleção que era sempre difícil de ser batida, mas sobre a qual obtivemos vitórias nos últimos confrontos.

Fizemos um jogo horroroso, Felipe Melo aprontou das suas, e perdemos com um gol de cabeça do jogador mais baixo da seleção adversária, Sneijder. Do mesmo modo que a temperatura havido subido com as vitórias da seleção brasileira, caiu vertiginosamente como um balão vazio. Voltamos para casa mais uma vez ao parar nas quartas. Na final a Espanha se sagrou campeã, como todos já sabem, batendo a Holanda que amargou mais um vice-campeonato. Assistimos a final com aquele sentimento de que vença o melhor. Nada mais importava para nós. De bom nessa copa só a presença de Nelson Mandela, um ícone para todos os adeptos da liberdade, um homem acima de todas as suspeitas, diferente de uns e outros que tentaram nos enganar por aqui ao posar de bom moço. Mas, deixa isso pra lá, que em 2014 a Copa seria em nossa casa e precisaríamos nos preparar, pois a nossa seleção estava envelhecida e seria preciso trocar algumas peças.


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