Bienal do Livro 2018 |
José Pedro Araújo
Quando ainda na ativa, no meio da
ciranda da vida em que temos pouco tempo para o que realmente nos diverte,
posto que todo o nosso tempo esteja cedido ao trabalho profissional, pegava-me
a pensar quando teria tempo suficiente para ler todos os livros que gostaria. E
quando esse tempo chegou, vi que precisaria de bem mais do que vinte e quatro
horas por dia para dar vazão à minha vontade de me debruçar sobre todos os
assuntos do meu interesse. Mais que isso. Precisaria combater o sono que
costuma nos acompanhar quando a vista já se mostra cansada, e até mesmo me
desligar das outras atrações que teimam em chamar a nossa atenção. Como a
internet, por exemplo, que traz para junto de nós um mundo de perspectivas sem
fronteiras. Ou mesmo os games, para aqueles aficionados.
Por conta disto – já que o tempo
de que disponho não será suficiente – resolvi ser mais seletivo com relação ao
que vou ler. Nessa nova fase estão fora do meu catálogo de leitura os
best-sellers, ou quase todos os livros que aparecem nas listas de mais
vendidos. Sobre os outros, não costumo lançar olhos por razões que não gostaria
de falar nessas poucas linhas. E como me sobra pouco tempo para ver tudo o que
gostaria, tenho me dedicado, isso sim, aos clássicos, principalmente à
releitura de alguns livros que considero ter acrescentado algo de positivo na
minha vida.
A atração pelas ideias postas no
papel tem me atraído desde sempre, quando passei a me apegar às revistas em
quadrinhos lá nos distantes dias da minha infância. Costumo dizer que gosto,
desde sempre, até mesmo do cheiro da tinta sobre um livro novo. Aprecio,
sobretudo, manusear uma brochura, ler suas orelhas e prefácio, admirar alguma
gravura ou fotografia que porventura ela contenha. Talvez por isso, não
acredite que o livro um dia venha a desaparecer frente às novas propostas
tecnológicas da escrita. Como os e-books, por exemplo. Aliás, também tenho o
meu leitor de livros digitais recheado com alguns títulos que aprecio, e o
carrego comigo sempre, sobretudo quando estou viajando. Dá para levar junto comigo
uma biblioteca quase completa, sem comprometer o peso da bagagem. Por isso, não
gosto de entrar muito na discursão sobre esse negócio de o que é melhor, o
livro físico ou digital. Mas posso adiantar que tenho alguma preferência pelo
livro físico, de papel.
Por tudo o que afirmei acima,
toquei tambores quando se anunciaram – há dezesseis anos passados – que alguns
abnegados estariam organizando a primeira feira de livros do Piauí. Mal esperei
pela sua abertura, e lá estava eu para conferir tudo. Não é preciso dizer que
fiquei deveras feliz com o que vi. E mal começou o evento, uma multidão de
jovens e crianças saia de todas as ruas para desaguar no local do acontecimento
literário do ano. Anui que dali sairia muitos leitores, e que muitos se
apegariam aos livros como um náufrago à tábua salva-vidas.
Todos os anos volto ao SALIPI,
várias vezes em cada edição, sempre que o mês de junho chega, para apreciar a
festa em que se transformou o nosso salão literário.
Poucas semana atrás, estava eu em
São Paulo quando uma notícia mais do que interessante me chamou a atenção no
jornal que tinha em mãos: começaria naquela sexta-feira a Bienal do Livro de
2018. Quase não me contive. Sem querer, sem programar nada, estava em vias de
visitar a maior feira de livros da América Latina. Era inacreditável que isso
estivesse acontecendo comigo. Como já havia feito uma programação de visitas
que eu gostaria de realizar em Sampa, tive que alterar tudo para incluir uma
visita ao Anhembi, local em que a Bienal aconteceria. Só me preocupava uma
coisa; será que a minha netinha de cinco anos gostaria da mudança de programa?
Não só gostou, ficou encantada. E eu mais que todos.
A Bienal realmente merece todos
os elogios que vêm recebendo todos os anos. É um lugar de encantamento e de prazer
para os aficionados; um espaço em que as pessoas transitam felizes pelas ruas
bem delineadas, largas, identificadas pelas letras do alfabeto que vai de A a
O. Aqui um pequeno reparo. Ou uma ideia. Talvez ficasse melhor se ao invés de
caracteres, dessem nomes de grandes autores nacionais às ruas. Rua Ariano
Suassuna, Rua Bandeira Tribuzi, Rua Gonçalves Dias, Rua Machado de Assis, e
assim por diante. Ou até mesmo se homenageassem escritores paulistas, quem
sabe. No mais, nenhum outro reparo a fazer.
Transitar pelas ruas da Bienal e
encontrar tantas pessoas com um largo sorriso estampado no rosto era uma coisa
tão prazerosa e cheia de encantamento que não vi o tempo passar. Cada estande
edificado com tanto esmero e beleza era motivo para uma parada e uma consulta
em busca de algum título que me agradasse. Precisaria de mais de um dia para
apreciar tudo de bom que vi por lá.
Minha netinha Bela, alvo da minha
preocupação inicial, ficou também encantada com o que viu, e não reclamou uma
única vez de cansaço. Tirou de letra. De resto, observar famílias inteiras passeando
entre livros como se aquilo as transportasse para o sétimo céu, o céu de
saturno, tornava-me o dia muito feliz. Enquanto isso, pessoas organizavam-se em
grupos em um espaço livre para degustar um lanche como se estivessem em um
piquenique ao ar livre. Nada mais agradável. Em suma, a festa do livro de São
Paulo foi uma experiência incrível e que posso catalogar como uma das mais
agradáveis da nossa viagem.
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