terça-feira, 21 de agosto de 2018

A BIENAL E O MUNDO MARAVILHOSO DOS LIVROS

Bienal do Livro 2018


José Pedro Araújo
Quando ainda na ativa, no meio da ciranda da vida em que temos pouco tempo para o que realmente nos diverte, posto que todo o nosso tempo esteja cedido ao trabalho profissional, pegava-me a pensar quando teria tempo suficiente para ler todos os livros que gostaria. E quando esse tempo chegou, vi que precisaria de bem mais do que vinte e quatro horas por dia para dar vazão à minha vontade de me debruçar sobre todos os assuntos do meu interesse. Mais que isso. Precisaria combater o sono que costuma nos acompanhar quando a vista já se mostra cansada, e até mesmo me desligar das outras atrações que teimam em chamar a nossa atenção. Como a internet, por exemplo, que traz para junto de nós um mundo de perspectivas sem fronteiras. Ou mesmo os games, para aqueles aficionados.
Por conta disto – já que o tempo de que disponho não será suficiente – resolvi ser mais seletivo com relação ao que vou ler. Nessa nova fase estão fora do meu catálogo de leitura os best-sellers, ou quase todos os livros que aparecem nas listas de mais vendidos. Sobre os outros, não costumo lançar olhos por razões que não gostaria de falar nessas poucas linhas. E como me sobra pouco tempo para ver tudo o que gostaria, tenho me dedicado, isso sim, aos clássicos, principalmente à releitura de alguns livros que considero ter acrescentado algo de positivo na minha vida.
A atração pelas ideias postas no papel tem me atraído desde sempre, quando passei a me apegar às revistas em quadrinhos lá nos distantes dias da minha infância. Costumo dizer que gosto, desde sempre, até mesmo do cheiro da tinta sobre um livro novo. Aprecio, sobretudo, manusear uma brochura, ler suas orelhas e prefácio, admirar alguma gravura ou fotografia que porventura ela contenha. Talvez por isso, não acredite que o livro um dia venha a desaparecer frente às novas propostas tecnológicas da escrita. Como os e-books, por exemplo. Aliás, também tenho o meu leitor de livros digitais recheado com alguns títulos que aprecio, e o carrego comigo sempre, sobretudo quando estou viajando. Dá para levar junto comigo uma biblioteca quase completa, sem comprometer o peso da bagagem. Por isso, não gosto de entrar muito na discursão sobre esse negócio de o que é melhor, o livro físico ou digital. Mas posso adiantar que tenho alguma preferência pelo livro físico, de papel.
Por tudo o que afirmei acima, toquei tambores quando se anunciaram – há dezesseis anos passados – que alguns abnegados estariam organizando a primeira feira de livros do Piauí. Mal esperei pela sua abertura, e lá estava eu para conferir tudo. Não é preciso dizer que fiquei deveras feliz com o que vi. E mal começou o evento, uma multidão de jovens e crianças saia de todas as ruas para desaguar no local do acontecimento literário do ano. Anui que dali sairia muitos leitores, e que muitos se apegariam aos livros como um náufrago à tábua salva-vidas.
Todos os anos volto ao SALIPI, várias vezes em cada edição, sempre que o mês de junho chega, para apreciar a festa em que se transformou o nosso salão literário.
Poucas semana atrás, estava eu em São Paulo quando uma notícia mais do que interessante me chamou a atenção no jornal que tinha em mãos: começaria naquela sexta-feira a Bienal do Livro de 2018. Quase não me contive. Sem querer, sem programar nada, estava em vias de visitar a maior feira de livros da América Latina. Era inacreditável que isso estivesse acontecendo comigo. Como já havia feito uma programação de visitas que eu gostaria de realizar em Sampa, tive que alterar tudo para incluir uma visita ao Anhembi, local em que a Bienal aconteceria. Só me preocupava uma coisa; será que a minha netinha de cinco anos gostaria da mudança de programa? Não só gostou, ficou encantada. E eu mais que todos.
A Bienal realmente merece todos os elogios que vêm recebendo todos os anos. É um lugar de encantamento e de prazer para os aficionados; um espaço em que as pessoas transitam felizes pelas ruas bem delineadas, largas, identificadas pelas letras do alfabeto que vai de A a O. Aqui um pequeno reparo. Ou uma ideia. Talvez ficasse melhor se ao invés de caracteres, dessem nomes de grandes autores nacionais às ruas. Rua Ariano Suassuna, Rua Bandeira Tribuzi, Rua Gonçalves Dias, Rua Machado de Assis, e assim por diante. Ou até mesmo se homenageassem escritores paulistas, quem sabe. No mais, nenhum outro reparo a fazer.
Transitar pelas ruas da Bienal e encontrar tantas pessoas com um largo sorriso estampado no rosto era uma coisa tão prazerosa e cheia de encantamento que não vi o tempo passar. Cada estande edificado com tanto esmero e beleza era motivo para uma parada e uma consulta em busca de algum título que me agradasse. Precisaria de mais de um dia para apreciar tudo de bom que vi por lá.
Minha netinha Bela, alvo da minha preocupação inicial, ficou também encantada com o que viu, e não reclamou uma única vez de cansaço. Tirou de letra. De resto, observar famílias inteiras passeando entre livros como se aquilo as transportasse para o sétimo céu, o céu de saturno, tornava-me o dia muito feliz. Enquanto isso, pessoas organizavam-se em grupos em um espaço livre para degustar um lanche como se estivessem em um piquenique ao ar livre. Nada mais agradável. Em suma, a festa do livro de São Paulo foi uma experiência incrível e que posso catalogar como uma das mais agradáveis da nossa viagem.

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