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O moderno e o antigo convivendo harmoniosamente no Estoril(Foto do autor) |
SINTRA/CABO DA ROCA/CASCAIS E ESTORIL
José Pedro Araújo
L
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ogo após um reforçado café da
manhã embarcamos no nosso ônibus com destino a Vila de Sintra, Patrimônio
Mundial da UNESCO, terra que os nobres portugueses escolheram para erigir seus
belos e luxuosos palácios de verão. Não apenas cidadãos com sangue real
circulando pelas veias escolheu o lugar para descanso, mas toda uma plêiade de velhos
ricos e novíssimos detentores de fortunas mirabolantes procuraram Sintra e ali
ergueram verdadeiros monumentos de beleza arquitetônica que rivalizam com os
mais belos palácios europeus. Escolha também de religiosos mais preocupados com
o sagrado do que com o mundano, no alto das montanhas de Sintra também foram
erguidos inúmeros conventos, posto que diversas ordens religiosas também escolhessem
a região como lugar para meditar sobre os pecados do mundo, local ideal para
mergulhar por inteiro na clausura. O inicio da história dessa vila bela e
aconchegante, data de 1154 e está recheada de ocupações por estrangeiros, mas
também de retomadas espetaculares por renomados heróis portugueses. Depois de
ocupada pelos romanos, muçulmanos, pelos franceses de Napoleão Bonaparte, mas
também pelos vizinhos espanhóis, Sintra tem vivido em paz nos últimos séculos
para satisfação de toda a humanidade que tem enviado para lá levas de turistas
cada vez maiores.
Andar de
maneira descompromissada pelas ruas, becos e ladeiras da vila é um exercício
prazeroso e que requer algum preparo físico, em razão das inúmeras ladeiras que
suas vielas serpenteantes possuem. Algumas delas levam tão alto, até onde se
situam os castelos mais belos e estonteantes que, vistos das partes baixas,
parecem tocar nas nuvens. Para aqueles menos compenetrados com a sua forma
física, sempre existem as lojinhas repletas de belos suvenires e os cafés
espalhados na parte baixa da vila estonteante.
Situada
a pouco menos de trinta quilômetros de Lisboa, ou a pouco mais de trinta
minutos de uma deliciosa viagem, chegamos a Sintra antes das oito horas da
manhã de um belo dia de sol. Uma brisa fria, mas profundamente aconchegante,
nos acolheu logo que descemos do nosso veiculo. Estava armado o clima para um
belo dia de visita aos arredores da bela Lisboa. Difícil foi embarcar novamente
no ônibus para continuar a viagem rumo ao Cabo da Roca. No trajeto observamos
as belas quintas – como são chamadas
as chácaras portuguesas – que os endinheirados do mundo inteiro mantem na
região. O solo rochoso e acidentado do local é recoberto por uma bela e verde
vegetação formada por árvores de porte alto e luxuriante.
Tomamos
uma estradinha sinuosa, mas bem conservada no sentido de Cabo da Roca. Difícil
era manter o olhar fixo em um ponto único. A paisagem estonteante e a beleza
das Quintas que íamos encontrando pelo caminho nos surpreendiam a cada
instante, impedindo que aquela imagem que acabávamos de capturar instantes
atrás ficasse gravada para sempre na nossa memória. O todo, o conjunto da obra,
tomou o lugar do individual e ficará para sempre nas nossas recordações.
Por
fim, Cabo da Roca. Ponto mais ocidental da Europa, seus paredões rochosos
avançam mar adentro, recebendo a um só tempo as fortes lufadas de vento e as
chicotadas das águas do Oceano Atlântico. No alto, ponto culminante daquela
fração de terreno rochoso, um imponente farol serve de aviso aos navegantes,
que descem para o sul ou de lá estão voltando, é que o local guarda imensos
perigos. Luís de Camões descreveu com a maestria da sua pena, e o canto lírico brotado
da sua alma, a importância de Cabo da Roca: “Eis aqui, quase cume da cabeça de Europa toda, o Reino Lusitano, onde a terra se acaba e o mar começa e onde Febo
repousa no oceano”.
Fizemos
muitas fotos, grande parte delas voltada para o mar sem fim, como se quiséssemos
enquadrar como pano de fundo da imagem os contornos sinuosos e o verde das
matas do nosso país distante. Não sabemos se as nossas mulheres guardam boas
lembranças daquela parte de Portugal uma vez que aquele impertinente vento
teimava em deixá-las assanhadas, mandando ao espaço os laquês e as escovas que
levaram horas para deixar seus cabelos bem arrumados para a posteridade nas
fotografias que tão freneticamente se prepararam em poses compenetradas. Mas,
afinal, devem ter gostado sim. Testemunhar aquela beleza selvagem e a dureza da
rocha íngreme ficará para sempre na nossa memória de viajante. Perder mesmo, só
aconteceu ao Jônatas que teve o seu novíssimo boné arrancado pelo vento
indomável. Havia sido adquirido poucas horas antes, em Sintra. Deve hoje
proteger a cabeça de alguma entidade marinha que habita aquelas velhas águas
ibéricas.
Hora
de seguir em frente. Embarcamos novamente e seguimos em direção a Cascais. Aliás,
Cascais e Estoril, estas duas cidades gêmeas, apresentam um padrão de beleza
idêntica também. Mas contrastam frontalmente com o estilo barroco das
construções de Sintra. Enquanto esta transpira antiguidade e beleza, aquelas
duas irmãs apresentam uma feição mais moderna e clássica, no que pese ainda
estarem de pé alguns belos e antigos palácios, como a atestar que, apesar de
modernas, já estão plantadas ali há séculos. Se perguntarmos a alguém pouco
afeito ao local, dificilmente saberá dizer em que ponto termina Cascais ou começa
Estoril.
Paramos no
Estoril para apreciarmos a beleza incomparável do lugar e, como já está se
tornando hábito, fazermos as nossas fotografias. A mistura de história antiga e
moderna, aqui se funde como em nenhum outro lugar. A presença do Forte de São
Pedro defronte a um conjunto de moderníssimos prédios de apartamento na
conhecidíssima, e cara, Praia da Poça, é um exemplo patente de como o velho e o
novo podem conviver harmonicamente sem alterar a beleza da paisagem natural. A
vista idílica da baia, coalhada de embarcações de todos os tipos e tamanhos
atrai a quantos tem a sorte de conhecer tão aprazível lugar. Tudo isso, bordejado
por uma linda avenida recheada de belas palmeiras e coloridos jardins que
acompanha o formato sinuoso da bela baia. A visita não comporta palavras exatas
para a sua descrição, mas encerra, e traduz bem, o que foi a nossa maravilhosa
manhã. Precisávamos retornar a Lisboa, pois ainda tínhamos muito a apreciar no
restante do dia.
Fomos
deixados no Shopping Center Vasco da Gama para o almoço. Como sempre, as
mulheres foram logo em busca das vitrines e com muito custo chegamos até a uma
bela churrascaria brasileira instalada na Praça de Alimentação (Somente para
constar: Homens também gostam de vitrine. E mais ainda do interior da loja, aonde
já vão descuidadamente enfiando a mão na carteira). Comida boa, churrasco ao
gosto do brasileiro e um Chopp para distrair, foi o que tivemos. Foi também a
última alimentação parecida com a nossa excelente culinária até o término da
viagem (Apenas doze dias fora do nosso país e já ficamos loucos por um prato de
feijão com arroz, não é mesmo Henrique Almeida?).
Sem querer desmerecer o estupendo bacalhau português, é claro.
Depois fomos
conhecer o comentado Oceanário de Lisboa. Maravilhoso, é tudo que podemos dizer
de imediato. Caminhar pelo fundo do mar e ficar a menos de um metro de Tubarões
e Arraias gigantes, e sem sermos molestados, é tudo de bom. A sensação é
indescritível. Vale a pena passar pelo local quando estiverem em Lisboa. A
imagem daqueles peixinhos coloridos convivendo com alguns grandões na maior paz
e harmonia é algo que deve servir como reflexão.
Depois de
admirar as belezas contidas no Oceanário, fomos passear um pouco e tomamos o
teleférico do Parque das Nações. A vista é admirável, como tudo o que vimos na
terra dos nossos patrícios. O Rio Tejo, que tanto ouvimos falar na história que
une os nossos países, é visto de um ângulo maravilhoso, vários metros acima do
solo. Os portugueses fizeram um trabalho primoroso ao construir um espaço
moderno e arrojado para a EXPO 98, a Feira Mundial que o país sediou em 1998. Onde
existiam construções decadentes, foram erguidos monumentos em arquitetura
moderna e de altíssimo bom gosto, deslanchando o desenvolvimento da região e
proporcionando o aparecimento de um bairro chique para a novíssima classe
média-alta da cidade. Mais uma passadinha no Shopping para um jantar frugal e
retornamos ao hotel para uma noite de descanso merecido. Precisávamos nos
aprontar para a viagem à Itália. Milão nos esperava com a sua perfeita e
harmoniosa união entre o antigo e o novo sem grandes preocupações com os
puristas.
Como disse anteriormente, estou de carona(0800) nessa maravilhosa viagem ao velho mundo, narrada com maestria pelo nosso prestigiado e nobre amigo Dr. Araújo. Estou de olho na próxima etapa desse périplo.
ResponderExcluirSempre cortês, meu velho amigo Acoram. Quarta tem mais, vamos para a Itália.
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