Capa do Livro Viajando do Curador a P. Dutra |
A HISTÓRIA DE
PRESIDENTE DUTRA (Parte 4)
José Pedro Araújo
De onde viemos: Pastos Bons, Barra do Corda ou Caxias(1)? – Apesar de termos realizado demorada e cuidadosa pesquisa em documentos de época e em bibliografias sobre o assunto, persistiu uma tremenda dificuldade para se achar informações mais detalhadas que nos levassem a identificar, com precisão, quais os primeiros habitantes da vila de Curador, de onde vieram e como aqui chegaram. Identificá-los pelo nome correto será uma meta a ser perseguida por novos estudos, que doravante devem ser empreendidos.
Sendo este o último pedaço do território central a ser desbravado, em decorrência das dificuldades já realçadas em passagens anteriores, não nos oferecem muitos registros para a pesquisa. Depois, não se pode perder de vista que nos situamos no final do território em que as bandeiras encerraram seu desbravamento. A que partiu de Pastos Bons, parou onde situou o povoado denominado de Missão, mais tarde chamado de Barra do Corda. E a bandeira proveniente de Caxias chegou até Codó, ou em suas imediações. Somente muito mais tarde iriam conhecer a região que resultou no município de Dom Pedro, aqui do lado, onde também pararam. Ficou esse miolo quase escondido e sem ser habitado. A conhecida região da mata, mais tarde também chamada de região do Japão, mostrava-se quase inacessível, uma barreira mesmo, para os boiadeiros que precisavam de campos mais limpos e pastagem abundante para seus rebanhos.
Muito importante, todavia, é a
informação de que o homem branco já havia transitado por aqui para se
confrontar com os nativos, buscando aprisioná-los. Portanto, já conheciam a região
desde fins do século XVIII, sendo pouco provável que alguém tenha se fixado com
alguma fazenda de gado, como era de costume. É mais factível que tenham chegado
até aqui apenas com o propósito de caçar os índios que habitavam essas terras,
vendendo-os depois na praça de Caxias.
Portanto, essa é outra questão que
merece ser analisada com muito cuidado, evitando-se cair em armadilhas que são
muito comuns numa caminhada quase no escuro como é esta de se estabelecer o
roteiro que nos levará a determinado lugar, sem que identifiquemos algumas
marcas deixadas no trajeto pelos que nos antecederam. Com este raciocínio
inicial, levantaremos algumas pistas, para finalmente apresentar uma resposta à
pergunta acima.
Presidente Dutra se encontra situada em uma
região com vegetação luxuriante e de alto porte, o que dificultava a instalação
de fazendas para a criação de gado. Como já afirmamos, os primeiros criadores
preferiam as áreas com predominância da vegetação tipo parque, com grama baixa,
que facilitasse o pastoreio do rebanho e necessitasse de pequeno investimento.
O fato de precisarem de um lugar que exigisse apenas a construção de um curral
rústico e de uma casa simples para seus vaqueiros possuía um significado muito
importante para aqueles desbravadores que, via de regra, possuía parcos
recursos econômicos para a instalação de tais empreendimentos. Não estava em
seus planos, portanto, derrubar a mata fechada para plantar capim, e só depois
alimentar os rebanhos, aumentando sobremaneira o investimento inicial
necessário.
A distância que nos encontrávamos do
litoral, e, por conseguinte, do porto marítimo mais próximo, além da ausência
de rios ou estradas de acesso, também não nos favorecia quanto ao cultivo do
algodão, da cana-de-açúcar ou do fumo, culturas de exportação francamente
cultivadas na província.
Por último, temos o argumento de que o
desbravador Manuel Rodrigues de Melo Uchôa procurou a maneira mais fácil e
menos onerosa ao projetar a primeira estrada de ligação entre Barra do Corda e
a capital da Província. Munido destes pensamentos, escolheu partir da nova
povoação em direção à vila de Pedreiras, sempre margeando o rio Mearim, de onde
poderia realizar o restante do percurso por água nas embarcações que partiam de
lá para a capital. Ficamos, portanto, fora do traçado da estrada originalmente
aberta, prova de que a mata imponente, somada às travessias dos rios Mearim,
Cigana e Flores, também pesaram na sua decisão de escolha daquele trajeto.
Sendo assim, o argumento de que os
primeiros habitantes brancos a chegar aqui talvez tenha partido de Barra do
Corda não prospera.
Portanto, a posição geográfica distante
de onde passaram os primeiros tropeiros e boiadeiros saídos da vila de Barra do
Corda para levar seus produtos até a capital do Estado, situação que perduraria
até inicio do século XX, nos leva a deduzir que os primeiros colonizadores
chegaram até aqui vindos de outro lado, e sem o conhecimento dos
barra-cordenses.
Poderiam ter vindo de Caxias, conforme
afirma Melatti, citado em texto
anterior. Ou mesmo de Pastos Bons, fugindo dos inimigos após o fim da revolta
conhecida com Balaiada, por volta de 1841. Como já afirmamos anteriormente, os
“cabanos”, como eram conhecidos os conservadores que defendiam o método de
governo adotado na época, e o imperador empreenderam verdadeira caçada aos
“bem-te-vis”, seus adversários, no sangrento conflito que gerou tantas mortes.
E os dois centros mais desenvolvidos na ocasião, palco de verdadeiras
carnificinas, foram exatamente Caxias e Pastos Bons.
Encontramos também uma pista importante
no trabalho do historiador Eloy Coelho
Netto, denominado Geo-História do
Maranhão, no qual ele faz referencia a um numeroso grupo de pessoas
originárias de outros estados nordestinos que procuravam “asilo” em outras
terras para fugirem da sanha perseguidora de seus inimigos políticos
encastelados no poder. Assim, o historiador põe luzes sobre a questão ao
relatar que:
[...]
em 1829, é feita no médio Maranhão, entre as matas do Japão e do Nascimento, por nordestinos, vítimas de
perseguições políticas, que vieram através de Pastos Bons, atravessaram o Alto
Itapecuru e rumo adentro do território maranhense, num verdadeiro
bandeirantismo, ficaram na região onde havia brejos e lagoas nos municípios, hoje,
de Presidente Dutra, Dom Pedro,
Gonçalves Dias, Tuntum, Graça Aranha e São Domingos”.
Reforçando a afirmativa acima, outra
vez recorremos ao prof. Edgar Brandes, que, em pesquisa realizada em documentos
de época, encontrou provas incontestáveis da presença de brancos em terras do Japão. Ele especifica, por exemplo, que
o fundador da cidade de Barra do Corda, Manoel Rodrigues de Melo Uchôa, responsável pela cessão das terras na
região, fazia suas anotações sobre os negócios realizados e depois as encaminhava
para o Termo da Chapada(Grajaú) para registro no Livro de Notas do Cartório do
1º Ofício, isso já em 1861.
Existem muitos registros sobre a
comercialização de terras nesse período. E entre outros nomes, Melo Uchoa
relacionou Raimundo Gomes, a quem
disse ser “originário das terras do Japão”.
O professor Brandes só incorre em um equívoco, interpretando que o mesmo tenha
vindo de Dom Pedro, ou da “Mata do Nascimento”, como relata no livro. Como é do
conhecimento de todos, a região conhecida como “Japão”, engloba também os
municípios de Presidente Dutra, Graça Aranha, São Domingos, e parte de Tuntum,
e não somente o município de D. Pedro. Estaria aí um dos primeiros habitantes
do lugar conhecido como Curador?
Outro lugar não muito distante de onde
poderiam ter partido os primeiros devassadores era a florescente Vila de
Urubu(Codó), um entreposto comercial importante por sua localização à beira do
Itapecuru e que recebia uma leva constante de imigrantes nordestinos que fugiam
das secas periódicas que assolavam seus estados de origem. Pode ser que a
notícia de terras férteis e desocupadas os tenham feito penetrar cada vez mais
no interior do Maranhão em busca desse espaço disponível. (A segunda parte da
pergunta tentaremos responder na próxima semana).
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