Capa do livro "Viajando do Curador a Presidente Dutra" |
José Pedro Araújo
Pastos
Bons, Barra do Corda, Codó ou Caxias(2)?Na
Monografia do Município de Presidente Dutra, editada pelo IBGE, existe a
informação de que dois cidadãos oriundos de Codó, José de Souza Carvalheiro e José de Souza Albuquerque, que seriam
cunhados, ainda no século XIX, embrenharam-se pela mata adentro buscando um
local ideal para se fixar, atingindo as brejeiras de São Bento, São Joaquim do
Caxixi e Corrente, hoje município de Tuntum, as duas primeiras, e Barra do
Corda, “tomando conhecimento de que já existiam brancos por lá”.
A informação nos serve como exemplo de que era possível a penetração
de pessoas advindas da não tão distante povoação de Codó. Mas, sobretudo, que
já existiam pessoas residindo na região. E isso afasta a possibilidade de serem
eles fundadores da povoação.
Uma outra informação contida na Monografia é que em 1.901
chegava à região o cidadão Cesário Saraiva da Costa, juntamente com algumas
outras pessoas e se fixava na região do Curador, mais precisamente na
confluência dos riachos Firmino e Preguiça, onde construíram suas moradas. A
informação é, no mínimo, questionável, uma vez que nesse lugar citado não há
vestígios de nenhuma morada anterior, sendo uma região em que dificilmente
alguém escolheria para ali construir uma morada, por se constituir em um ponto
alagável no período das chuvas.
Por sua vez, já
existiam outros moradores na região, como o cidadão José Nunes de Almeida, que
chegou ao Curador por volta de 1897 juntamente com um grupo de vaqueiros, e
fixou sua fazenda nas margens do riacho Preguiça, no lugar chamado Caiçara e,
mais tarde, construiria sua residência no largo de São Bento, depois Praça de
São Sebastião. Escolheu o local porque algumas famílias já se achavam
estabelecidas naquele local seguro e ao abrigo de enchentes. José Nunes, pai de d. Maria José Nunes Barros, seria o precursor da grande família Barros no Curador.
Temos, por fim, voz corrente entre os mais antigos, a
informação de que antes mesmo da formação do povoado que mais tarde se
transformaria na Vila de Curador, algumas fazendas já haviam sido instaladas em
diversas localidades do município. E citavam o Mandacaru, a Jacoca, a
Canafístula, o Angical, a Lagoa de Dentro e a Palma, além do Calumbi e da Santa
Maria, entre outras localidades, como sendo alguns dos locais onde alguns
fazendeiros instalaram as primeiras fazendas de gado. Trata-se de uma
informação verdadeira porque esses locais estão encravados dentro das Datas de
Sesmaria doadas aos primeiros proprietários de terra da região, as Datas
Jacoca, Taboa do Belizário, Santa Maria e Serra dos Veados, esta ultima situada
no novo município de São José dos Basílios. As últimas Datas Sesmarias foram emitidas
em 1822. Portanto, as Datas acima referidas são anterior a esse ano.
Outra certeza que tinham era a de que parte desses pioneiros
possuía origem nos Estados do Ceará e Piauí, expulsos de lá pela fome e pela
sede advindas da maior seca que se tem registro no Nordeste, quando o rebanho
cearense ficou reduzido a algo em torno de 30%. Nesse mesmo período milhares de
pessoas pereceram atingidas pela fome e pela sede. A grande seca de 1877 foi o
maior flagelo vivido pelo povo nordestino.
Não acredito ser possível que o personagem que deu nome ao
povoado, contudo, como muitos querem, se tratasse de um curandeiro cearense, que emprestava seus conhecimentos às pessoas
que o procuravam em razão de algum mal, fosse um desses retirantes da seca.
Assim como é pouco provável que seu nome fosse Abel Martins, como alguns dos
nossos historiadores também tentam fazer crer.
O pior de tudo é que tal informação já faz parte de algumas monografias
escritas por nossos futuros historiadores, distribuindo inverdades com se
fossem informações históricas confiáveis.
Por outro lado, os principais argumentos daqueles que
defendem que o curandeiro que
habitava as margens da lagoa do Curador era, na realidade, um índio
remanescente das tribos que habitaram a região estão sedimentadas exatamente no
fato de ninguém conhecer a sua procedência, seu nome correto, se tinha filhos,
e até mesmo que rumo tomou ao sair das terras do Curador. Seria pouco provável
que uma pessoa tão útil à comunidade que se formava tivesse seu nome
desconhecido, caso se tratasse mesmo de um branco. Em caso contrário, é muito
comum as pessoas conviverem por anos a fio com um indígena sem lhe conhecer o
verdadeiro nome. Faz muito sentido.
De minha parte, prefiro achar que o nosso curandeiro fosse,
na verdade, uma pessoa oriunda de Codó, município cujos limites chegavam
próximo do Curador. Naquele município existia, e ainda existe, uma grande
quantidade de descendentes de escravos, ou por outra, de pessoas de origem
humilde que praticavam o Curandeirismo, o chamado Terecô. Terecô é um
seguimento do Candomblé que adota como pratica o curandeirismo e a medicina natural
para tratar as doenças do corpo. E nos terreiros de Codó se adota exatamente a
chamada “linha da mata” ou de cura/pajelança. A antropóloga Mundicarmo
Ferretti, professora da UEMA e pesquisadora do CNPQ, uma maiores estudiosas do
assunto, apresentou um trabalho na VI
Reunião de Antropólogos do Norte e Nordeste, em Belém, no qual afirma que
os seguidores da Linha da Mata ou Barba
Soeira, praticam o curandeirismo em seus terreiros. Ao discorrer sobre o
depoimento de uma Mãe-de-santo fundadora de um terreiro famoso da capital, diz
ter ouvido que ela era “macumbeira, médica, rezadeira e conselheira. Cruzava
menino com ervas, cheiro(orisa, jardineira, pau d’Angola), vela, copo d’água,
embira, nó e reza”(“Tambor-de-Mina
e Tambor-de-Crioulo”, 60 anos depois, p. 8, 1.999).
Em outro trabalho, denominado “Opressão e resistência na religião afro-brasileira”, esta renomada
antropóloga registra que os praticantes do Candomblé foram perseguidos durante
muito tempo, acusados de práticas de feitiçaria e curandeirismo. E cita que, em
Codó, em 1848, foi adotado um Código de
Posturas em que os praticantes eram punidos com penas severas. E que, até
mesmo depois da Proclamação da Republica, “o
Código Penal de 1890 e posteriores, passaram a enquadrar os seguidores do
candomblé em crimes contra a saúde pública, e os terreiros passaram a ser encarados como centros geradores de
loucura(em virtude do transe ser visto por eles como uma alucinação, como um
estado mórbido).(Ferretti, 2001).
Diante da perseguição perpetrada dentro dos terreiros em
Codó, muitos praticantes do Candomblé fugiram para não serem presos. No povoado
Santo Antonio dos Pretos, localizado as margens do rio Codozinho, entre Codó e
Dom Pedro, existe uma comunidade negra onde se professa o curandeirismo desde
tempos imemoriais. Um dos descentes mais famosos dessa localidade é o
pai-de-santo Mestre Bita do Barão Guaré, conhecido mundialmente e com terreiro
em Codó. Deste povoado, mais próximo do
Curador, pode ter saído também o nosso curandeiro. Não é uma constatação, mas
pode ser uma hipótese que não deva desprezar. De minha parte, encaro até como
uma possibilidade bastante plausível que o homem que deu nome ao antigo
município tenha saído de Codó, lugar não muito distante e onde o curandeirismo
é uma pratica largamente adotada. Portanto, a meu ver, o curandeiro que se
situou às margens da lagoa do Curador deve ter partido de Codó, acossado que se
achava pelo poder policial da época.
De qualquer forma, pouco importa qual a origem do nosso
personagem, ou qual o seu verdadeiro nome. Nem mesmo o fato de ele ter
desaparecido sem deixar vestígios é tão importante assim, a não ser para que
pudéssemos homenageá-lo, dando seu nome a uma rua ou escola da região. Importa,
sim, que seu codinome ficou registrado para a posteridade na história deste
município, passando a ser conhecido como Curandeiro
ou Curador, nome que será respeitado por toda a posteridade. Está,
portanto, o cidadão Curador
umbilicalmente ligado a esta terra, ao seu passado, assim como também ao seu
futuro. E todos os cidadãos nascidos nessa parte do estado maranhense
consideram-no como um dos primeiros habitantes do florescente município de
Curador. Ele seria apenas o primeiro morador a se estabelecer na região.
Entretanto, não pretendemos polemizar com quem quer que seja
sobre o local de onde viemos. Pretendemos, sim, historiar como o município se
formou, desenvolveu-se, bem como relatar os costumes da nossa gente, as lutas
travadas contra o isolamento e a pobreza, e, finalmente, como os nossos
munícipes o construíram, tijolo a tijolo, rua a rua, povoado a povoado, até os
dias de hoje, deixando para os que nos sucederão a saga de um povo operoso e
destemido que venceu todas as barreiras do atraso e do descaso, para construir
com suas próprias mãos um destino seguro e voltado para o progresso.
muito bom amigo, estou querendo seu contato, pra você me da umas dicas a respeito do concurso que vai acontecer em Presidente Dutra!!
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