A arquitetura das
residências e a configuração das ruas – Com paredes de palha ou taipa e teto com cobertura também
de palha, eram rudimentares as primeiras casas que, se não bastasse, ainda
possuíam o piso de chão batido, e as portas e janelas, na sua maioria, feitas
de esteiras tecidas também à partir da palha do babaçu. Com o passar dos anos
as pessoas foram melhorando o padrão de suas habitações, e em substituição à
palha, ergueram paredes de taipa; depois começaram a se utilizar do Adobe cru,
fabricado por eles mesmos, o que já se constituía em um avanço considerável em
termos de segurança e conforto.
Num primeiro momento,
na rua que hoje conhecemos como Magalhães de Almeida, com suas casas comerciais
belas e coloridas, era comum as pessoas construírem o próprio curral junto à
casa de morada. E em lugar de muros, faziam cercas de faxina circulando o
quintal da moradia.
Com o crescimento da vila, as casas
foram também se modernizando, o tijolo substituiu o Adobe e a taipa, e o piso
de chão batido deu lugar ao cimentado, ao tijolo e ao ladrilho, até finalmente
chegar à cerâmica como vemos hoje. Construídas rente à calçada, sem recuo, era
praxe o vizinho do lado “emprestar” a parede lateral ao outro que começava a
erguer a sua casa também. Formou-se então o arruado como conhecemos hoje, com
as casas geminadas, ligando-se umas às outras para baratear o custo de
construção.
A casa padrão possuía paredes grossas,
dobradas, sendo que as outras construídas internamente não chegavam até ao
teto, formando o que se convencionou chamar de “meia-parede”. Mas, essas
paredes grossas tinham como função primordial diminuir a temperatura interna do
ambiente, uma vez que o calor se mostra muito forte em locais de baixas
latitudes, como a que vivemos. E as paredes internas, que não chegavam até ao
teto, tinham também como função permitir que o ar circulasse internamente
beneficiando todos os cômodos, especialmente os dormitórios, com temperaturas
um pouco mais amenas.
À falta de alpendres na frente, era
comum se erguer outro na parte de trás das residências, de modo que se pudessem
armar uma rede para descansar da labuta diária. Da mesma forma, também na parte
de trás das casas era bastante comum se cultivarem jardins simples, com as
plantas ornamentais mais conhecidas, onde pontificavam as rosas, os jasmins, os
onze-horas, os lírios e os copos-de-leite, entre tantas outras plantas, beleza
que ficava escondida, à disposição apenas dos amigos. Às vezes, construíam-se
as casas, deixando-se espaços vazios no centro, uma espécie de pátio interno, e
ali se cultivavam também plantas ornamentais, espaço hoje denominado de
jardins-de-inverno.
Os chamados “quartos de banho” eram
construídos separadamente das latrinas, que invariavelmente eram erguidas no
quintal, distante da casa para não incomodar com o seu mau odor característico.
Por essa época não se tinha água encanada e o banho era tomado utilizando-se
baldes, latas, bacias ou tinas para armazenar a água retirada de poços
construídos no próprio quintal. O aparelho sanitário era na verdade um buraco
cavado no chão sobre o qual se colocava um tablado com um furo no centro à
guisa do tal aparelho. Somente em fins da década de 60, quando do aparecimento
da água encanada, as famílias foram construindo os banheiros no interior das
próprias residências, eliminando-se o desconforto de ter que procurar o quintal
em noites de chuva torrencial.
Esse tipo de casas pioneiras, cujo
principal material de construção era a palha de babaçu e o barro, ainda hoje
são muito comuns em todo o interior maranhense, especialmente na região dos
cocais, pela facilidade de sua construção, usando-se a madeira abundante, a
palha, também sempre à mão e o barro visguento, chamado de massapê. Os costumes
também ainda são os mesmos nessas pequenas comunidades: dorme-se em redes,
utiliza-se do mato próximo para as necessidades fisiológicas e a higiene
corporal é feita em banheiros rudimentares construídos nos quintais. Grande
parte das pessoas residentes nessas habitações simples nunca se utilizou de um
chuveiro para tomar banho ou de um vaso sanitário para fazer as suas
necessidades fisiológicas. Contudo, a maioria dessas comunidades já possui
energia elétrica, e recebe sinais de televisão através das famosas antenas
parabólicas, o que lhes transmite algum conforto. Quanto aos outros hábitos,
esses permanecem os mesmos de muitos anos atrás.
Por outro lado, as
ruas sem calçamento, favoreciam a formação de uma poeira vermelha que penetrava
nas casas e impregnava tudo, transformando as tarefas domésticas de uma dona de
casa em algo muito mais difícil. Pior mesmo era quando chegavam as chuvas. Esse
mesmo barro solto que provocava a poeira, quando molhado, transformava-se em um
lamaçal digno dos grandes atoleiros. As águas escorriam velozes e livres aproveitando
a inclinação do terreno, e formavam grandes valas no leito das ruas,
verdadeiras voçorocas.
Foi dessa maneira que
o arruado começou a ser formado, e em pouco tempo já existia o que se poderia
chamar de uma rua, encontrando-se até algumas casas comerciais. Assim, aí pelos
idos de 1920, era possível descrever a Rua Grande, como uma artéria ainda em
formação, onde se alternavam algumas casas com paredes de tijolo, outras de
taipa, e outras completamente de palha; era até possível encontrar alguns
currais juntos as casas mais importantes, seguidos de trechos com capões de
mato, para logo em seguida aparecer outra casa. Ganhou ate mesmo um nome, Rua
Frederico Figueira, em homenagem a um político famoso de Barra do Corda, para,
finalmente, receber o nome de Magalhães de Almeida, um militar maranhense que
ocupou o destacado cargo militar de comandante da Marinha, vindo depois a se
tornar um governador dos mais operante para o nosso estado.
Quando menino, aí
pelos idos dos sessenta, a residência de um tio meu, Chico Barros, tinha a
frente voltada para a Magalhães de Almeida(hoje funciona lá o Armazém Paraíba),
e o quintal servia como curral para o seu rebanho, e ficava voltado para a rua Cel.
Sebastião Gomes. Mais na frente, local onde hoje residem os Bezerra, existia um
engenho para moer cana-de-açúcar. Lá se fabricava rapadura, garapa de cana, e
até mesmo um pouco de aguardente.
Depois que a chamada rua Grande ficou sem espaço, vieram
as ruas do Cisco, do Segredo, do Sol, do Campo, da Mangueira, o Largo da Feira,
entre tantas outras que foram se formando a medida que a povoação ia crescendo.
Assim se formavam as
vilas pobres do sertão, sem a presença dos sobradões habitados pelos coronéis,
sem as praças com fontes no centro, sem a opulência, por fim, das regiões de
fronteira agropecuária como se vê hoje em dia, quando ricos desbravadores
erguem seus impérios em poucos anos.
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