quarta-feira, 28 de março de 2018

A HISTÓRIA DE PRESIDENTE DUTRA (Parte 6)





A arquitetura das residências e a configuração das ruas – Com paredes de palha ou taipa e teto com cobertura também de palha, eram rudimentares as primeiras casas que, se não bastasse, ainda possuíam o piso de chão batido, e as portas e janelas, na sua maioria, feitas de esteiras tecidas também à partir da palha do babaçu. Com o passar dos anos as pessoas foram melhorando o padrão de suas habitações, e em substituição à palha, ergueram paredes de taipa; depois começaram a se utilizar do Adobe cru, fabricado por eles mesmos, o que já se constituía em um avanço considerável em termos de segurança e conforto.
Num primeiro momento, na rua que hoje conhecemos como Magalhães de Almeida, com suas casas comerciais belas e coloridas, era comum as pessoas construírem o próprio curral junto à casa de morada. E em lugar de muros, faziam cercas de faxina circulando o quintal da moradia.
Com o crescimento da vila, as casas foram também se modernizando, o tijolo substituiu o Adobe e a taipa, e o piso de chão batido deu lugar ao cimentado, ao tijolo e ao ladrilho, até finalmente chegar à cerâmica como vemos hoje. Construídas rente à calçada, sem recuo, era praxe o vizinho do lado “emprestar” a parede lateral ao outro que começava a erguer a sua casa também. Formou-se então o arruado como conhecemos hoje, com as casas geminadas, ligando-se umas às outras para baratear o custo de construção.
A casa padrão possuía paredes grossas, dobradas, sendo que as outras construídas internamente não chegavam até ao teto, formando o que se convencionou chamar de “meia-parede”. Mas, essas paredes grossas tinham como função primordial diminuir a temperatura interna do ambiente, uma vez que o calor se mostra muito forte em locais de baixas latitudes, como a que vivemos. E as paredes internas, que não chegavam até ao teto, tinham também como função permitir que o ar circulasse internamente beneficiando todos os cômodos, especialmente os dormitórios, com temperaturas um pouco mais amenas.
À falta de alpendres na frente, era comum se erguer outro na parte de trás das residências, de modo que se pudessem armar uma rede para descansar da labuta diária. Da mesma forma, também na parte de trás das casas era bastante comum se cultivarem jardins simples, com as plantas ornamentais mais conhecidas, onde pontificavam as rosas, os jasmins, os onze-horas, os lírios e os copos-de-leite, entre tantas outras plantas, beleza que ficava escondida, à disposição apenas dos amigos. Às vezes, construíam-se as casas, deixando-se espaços vazios no centro, uma espécie de pátio interno, e ali se cultivavam também plantas ornamentais, espaço hoje denominado de jardins-de-inverno. 
Os chamados “quartos de banho” eram construídos separadamente das latrinas, que invariavelmente eram erguidas no quintal, distante da casa para não incomodar com o seu mau odor característico. Por essa época não se tinha água encanada e o banho era tomado utilizando-se baldes, latas, bacias ou tinas para armazenar a água retirada de poços construídos no próprio quintal. O aparelho sanitário era na verdade um buraco cavado no chão sobre o qual se colocava um tablado com um furo no centro à guisa do tal aparelho. Somente em fins da década de 60, quando do aparecimento da água encanada, as famílias foram construindo os banheiros no interior das próprias residências, eliminando-se o desconforto de ter que procurar o quintal em noites de chuva torrencial.
Esse tipo de casas pioneiras, cujo principal material de construção era a palha de babaçu e o barro, ainda hoje são muito comuns em todo o interior maranhense, especialmente na região dos cocais, pela facilidade de sua construção, usando-se a madeira abundante, a palha, também sempre à mão e o barro visguento, chamado de massapê. Os costumes também ainda são os mesmos nessas pequenas comunidades: dorme-se em redes, utiliza-se do mato próximo para as necessidades fisiológicas e a higiene corporal é feita em banheiros rudimentares construídos nos quintais. Grande parte das pessoas residentes nessas habitações simples nunca se utilizou de um chuveiro para tomar banho ou de um vaso sanitário para fazer as suas necessidades fisiológicas. Contudo, a maioria dessas comunidades já possui energia elétrica, e recebe sinais de televisão através das famosas antenas parabólicas, o que lhes transmite algum conforto. Quanto aos outros hábitos, esses permanecem os mesmos de muitos anos atrás.
Por outro lado, as ruas sem calçamento, favoreciam a formação de uma poeira vermelha que penetrava nas casas e impregnava tudo, transformando as tarefas domésticas de uma dona de casa em algo muito mais difícil. Pior mesmo era quando chegavam as chuvas. Esse mesmo barro solto que provocava a poeira, quando molhado, transformava-se em um lamaçal digno dos grandes atoleiros. As águas escorriam velozes e livres aproveitando a inclinação do terreno, e formavam grandes valas no leito das ruas, verdadeiras voçorocas.
Foi dessa maneira que o arruado começou a ser formado, e em pouco tempo já existia o que se poderia chamar de uma rua, encontrando-se até algumas casas comerciais. Assim, aí pelos idos de 1920, era possível descrever a Rua Grande, como uma artéria ainda em formação, onde se alternavam algumas casas com paredes de tijolo, outras de taipa, e outras completamente de palha; era até possível encontrar alguns currais juntos as casas mais importantes, seguidos de trechos com capões de mato, para logo em seguida aparecer outra casa. Ganhou ate mesmo um nome, Rua Frederico Figueira, em homenagem a um político famoso de Barra do Corda, para, finalmente, receber o nome de Magalhães de Almeida, um militar maranhense que ocupou o destacado cargo militar de comandante da Marinha, vindo depois a se tornar um governador dos mais operante para o nosso estado.
Quando menino, aí pelos idos dos sessenta, a residência de um tio meu, Chico Barros, tinha a frente voltada para a Magalhães de Almeida(hoje funciona lá o Armazém Paraíba), e o quintal servia como curral para o seu rebanho, e ficava voltado para a rua Cel. Sebastião Gomes. Mais na frente, local onde hoje residem os Bezerra, existia um engenho para moer cana-de-açúcar. Lá se fabricava rapadura, garapa de cana, e até mesmo um pouco de aguardente.
Depois que  a chamada rua Grande ficou sem espaço, vieram as ruas do Cisco, do Segredo, do Sol, do Campo, da Mangueira, o Largo da Feira, entre tantas outras que foram se formando a medida que a povoação ia crescendo.
Assim se formavam as vilas pobres do sertão, sem a presença dos sobradões habitados pelos coronéis, sem as praças com fontes no centro, sem a opulência, por fim, das regiões de fronteira agropecuária como se vê hoje em dia, quando ricos desbravadores erguem seus impérios em poucos anos.

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