Escravos - Jean-Baptiste Debret |
José Pedro Araújo
O Curador e a
mão-de-obra escrava
- não se têm registros da existência de escravos em terras presidutrenses,
mesmo porque os documentos que retratam essa época são bastante escassos e,
quando muito, fazem referência ao nome dos chefes de algumas famílias locais. Ou
por outra, porque no período da escravatura havia ainda poucos moradores na
região, todos vivendo isolada e modestamente.
De todo o modo, alguns aspectos agiram
contra a presença de escravos negros nas primeiras fazendas de gado na região,
como o baixo poder econômico dos proprietários que por aqui se estabeleceram,
situação que os impedia que praticassem esse desvio ético adotado pela imensa
maioria do empresariado em outras partes do país. E isso era uma prática tão
comum, que muitas famílias compravam escravos para a execução de trabalhos
domésticos, ou mesmo para exercer a comercialização de alimentos preparados em
suas próprias casas e que depois seriam oferecidos na rua.
A literatura, bem como o trabalho de
alguns artistas/pesquisadores estrangeiros que visitaram o Brasil na época em que
estamos tratando, mostra gravuras com escravos com tabuleiros de doce, bolos e
outras iguarias sobre a cabeça, enquanto transitavam pelas ruas a oferecer aos
transeuntes.
Na região do Curador, quando estava em
voga a escravatura, havia poucos habitantes, a maioria vivendo isoladamente. E
mesmo, era bem provável, que esses não dispusessem de recursos para adquirir um
escravo. Próximo à promulgação da Lei Áurea, 1888 pela Princesa Isabel, por
exemplo, uma
saca de café era comprada por 12 mil-réis e um escravo comum era cotado a 350
mil-réis. Ou seja, um escravo comum valia o equivalente a quase trinta sacas de
sessenta quilos de café.
Os escravos hábeis em
carpintaria, construção, fundição ou operação de máquinas, por exemplo, valiam
715 mil-réis em média. O equivalente a quase sessenta sacas de café. Uma
fortuna para os padrões da época. Valores impraticáveis para um pequeno
fazendeiro encravado no mais profundo do sertão maranhense.
Pelos números acima
mostrados, dificilmente um dos habitantes do velho Curador tinha esse dinheiro
em seu poder. Tratava-se de pessoas pobres, a maioria retirantes nordestinos de
regiões assoladas pela falta de chuvas e que buscavam por aqui reerguer suas
economias destroçadas pela seca.
Por outro lado, dados estatísticos
mostram que, em Barra do Corda, na sede do município do qual éramos parte
integrante, existiam, no ano 1869, cerca de 72 escravos, diante de uma
população de 512 pessoas. Mostra ainda que, dessa população, 278 era composta por
homens e 234 por mulheres. Isto significa que apenas 14% dos moradores no município era formado por escravos. Destes
total de cativos, 33 eram homens e 39 mulheres.
Os dados acima foram colhidos no
Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, do grande César
Augusto Marques. Mais adiante, o historiador César Marques continua a descrição dos dados estatísticos sobre a Vila
de Barra do Corda relativos agora ao ano de 1884: “Consta agora sua população de 5.000 habitantes, sendo 3.260 livres de
ambos os sexos, 400 escravos e 1.340 índios, em sua quase totalidade pagãos.
Não possui, ao que é de se admirar, nem um só batalhão do serviço ativo da
Guarda Nacional e nem companhia do da reserva” (MARQUES, 1884).
Concluindo, poderemos afirmar, até com
alguma convicção, que é quase impossível que alguns proprietários de terras
encravadas em território presidutrense possuíssem também os seus escravos,
mesmo em reduzida quantidade, dado o pequeno poder econômico dos novos
moradores, como já citamos acima. É o que pensamos hoje, mesmo sem grandes
referências a esse respeito na fonte bibliográfica consultada. Menos mal. O
velho Curador não padeceu dessa pústula que enodou a biografia do país até
final do século XIX, ocasião em que a riqueza dos poderosos era construída por
outros braços que não os seus. Ademais, já temos nossos próprios senões a
exigir nossas penitências.
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