José Pedro Araújo
Agora tínhamos a oportunidade de
nos redimirmos da vergonha que fora a Copa de 1950 quando perdemos a final no
Maracanã que não esquecemos até hoje. Pobre de nós. A surpresa negativa que estava
reservada para nós demorará muito mais tempo para sair das nossas lembranças,
se é que esqueceremos algum dia. Mas, deixa essa história para o final do
texto. Voltemos ao começo da história.
A Copa do Mundo de Futebol de
2014 foi organizada em cima de um processo de corrupção monstruoso. Desde a
escolha do país sede, no caso nós, o dinheiro rolou sem pena para os bolsos dos
homens da FIFA, responsáveis pela escolha do país que sediaria o certame. E
depois disso, os governos responsáveis pela construção e reforma dos estádios
onde os jogos deveriam acontecer se espojaram em uma roubalheira jamais vista
no mundo. Poderíamos afirmar, sem sombras de dúvidas, que a de 2014 foi a copa
da vergonha. Sobre todos os aspectos.
Acho que essa Copa nunca me
animou, primeiro porque sempre achei um absurdo um país com sérios problemas
financeiros e sociais se dedicar a organização dos dois eventos esportivos de
maior importância do mundo: a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas. Mas foi
o que ocorreu, para gáudio de um governo totalmente irresponsável que queria
mostrar-se como uma grande nação para os demais. E em cima disso armaram o
maior esquema de corrupção já visto no mundo. Fomos, sim, campeões do mundo
nesse quesito. Ganhamos o campeonato mundial da corrupção e, de quebra, amealhamos
todas as medalhas de ouro na modalidade desvio de dinheiro público. E por isso não me empolguei em nenhum momento
com o fato de estarmos jogando em casa; o ufanismo não me atingiu. Além disso, coisas
ruins ainda me aconteceram durante o campeonato que me fizeram pedir que o ano
de 2014 caísse nos desvãos do esquecimento da minha memória.
Por conta disso começamos a nos
preparar modestamente para assistir as partidas na nossa casa de forma modesta
e sem a animação das copas anteriores. Nem mesmo a TV, trocamos, como já era
praxe. Assistiríamos aos jogos na nossa Sony Bravia da copa anterior. Do mesmo
modo, nem o fato de termos ganho a Copa das Confederações com sobras, foi
combustível suficiente para melhor o meu humor. Mas, em fim, tínhamos uma copa
do mundo para disputar e que os céus nos trouxesse a animação dos campeonatos
passados.
Em 12 de junho, na Arena
Corinthians, jogamos uma partida de pouca empolgação contra a Croácia, e
ganhamos o jogo por 3x1. Começava a Copa e com uma vitória, e isso era o que
importava. Mas ai veio o jogo contra o México e não saímos do empate sem gols.
A luz da desconfiança que estava acesa desde muito no meu cérebro brilhou com
força extra. Só muita cerveja para empurrar aquilo goela abaixo. E não
regateamos nem um pouco. O dia seguinte nos reservava, porém, uma ressaca
brutal, por duas razões: a partida mal jogada, mas, e, sobretudo, pela cerveja
ingerida em excesso.
Fomos para o jogo contra Camarões
com uma pulga gigante atrás da orelha. Mas contra os africanos a seleção jogou
a sua melhor, é única, partida e vencemos pelo elástico placar de 4x1.
Estávamos classificados para a fase seguinte com a mesma pontuação do México. Fomos para as quartas-de-final contra o Chile,
um adversário que não nos metia medo pelo número de vezes que já ganhamos deles
em torneios aqui na América do Sul. Jogamos uma partida horrorosa e empatamos
no tempo normal por 1x1. E ainda vimos o centroavante chileno chutar uma bola no
travessão no último minuto do jogo. Era o último lance da partida e, caso o
Chile tivesse feito aquele gol facílimo, estaríamos desclassificados. E, sabem,
teria sido muito melhor!. Outro dia vi uma entrevista do jogador chileno Pinilla,
aquele mesmo que chutou a bola na trave e perdeu um gol daqueles que chamamos
gol feito. Alegava ele que aquele gol perdido havia dado o tom do seu futuro.
Caso tivesse acertado o lance teria trilhado uma carreira vitoriosa em algum
clube da Europa. Como não acertou, permaneceu jogando em clubes sem importância
no seu país. E nós não teríamos passado o que passamos na semifinal contra a Alemanha,
Pinilla!
Passamos pelo Chile nos pênaltis.
Nessa altura do campeonato eu já estava completamente descrente das nossas
possibilidades. E ainda fui acometido por uma Dengue que me jogou em um leito
de hospital por um bom número de dias. Assisti à partida deitado em um leito hospitalar
e em um TV de 14 polegadas que me ofertava uma imagem péssima. Ainda por cima, tomando soro na veia, ao invés da costumeira
cerveja gelada. Ninguém merecia aquilo. Ganhamos a partida pelo apertado placar
de 2x1, mas outra vez não jogamos bem. E o pior, pegaríamos a temível Alemanha
nas semifinais.
Precisamos parar aqui para
analisar a nossa situação. Saímos do hospital quase que forçado, ainda muito fraco
e sem ânimo nenhum, tanto fisicamente, quanto moralmente, na véspera do jogo
contra os alemães. E ainda por cima, aquela velha desconfiança havia voltado
com força, e eu não poderia nem ao menos tomar um copo que fosse para recolocar
os meus nervos no lugar. Meus filhos ainda tentaram me animar e organizaram o
ambiente como sempre fazemos nessas ocasiões. Mas aos vinte e nove minutos do
primeiro tempo ainda, já tomávamos de cinco dos nossos adversários. Aos vinte e
três minutos, já perdendo por dois a zero, levantei-me com muita dificuldade,
tal o meu estado físico de convalescente, para ir ao banheiro. E de lá ouvi o
Galvão Bueno gritar Goool da Alemaaanha!, uma, duas, três vezes, nos três
minutos seguintes. Lembro-me de ter pensado: “O Galvão está exagerando na
repetição do segundo gol da Alemanha”. Retornei à sala e encontrei todos em
estado de choque. Ninguém acreditava no que viam. Alemanha 5, Brasil 0.
Ai bateu um desespero em todo o
mundo, os copos de cerveja ficaram esquentando sobre a mesa, e um ar de
profundo abatimento caiu sobre nós. Ainda tomaríamos mais dois gols para completar
a maior vergonha que já passamos em qualquer campo de futebol do mundo. E
estávamos jogando em casa! Quatro dias depois assistimos o Brasil tomar outra
sapatada, dessa vez dos Holandeses: 3x0. Na disputa pelo terceiro e quarto
lugares, havíamos sido mais uma vez humilhados. Em duas partidas apenas havíamos
tomado 10 gols. Não me dei ao trabalho de pesquisar, mas acho que nunca havíamos
tomado tal quantidade de gols em uma copa do mundo inteira.
Já um pouco restabelecido, desci
para o litoral e fui assistir a final da Copa que os nossos governantes haviam
trazido para cá à custa do dinheiro suado da nação, refazendo-me das minhas
agruras no ar salino do litoral piauiense. Mal sabíamos que a farra que eles
haviam feito com o dinheiro do contribuinte fora muito maior do que penávamos.
Um escárnio!.
Mas, dizem por aqui que desgraça
pouco é bobagem no país. E parece que é isso mesmo. Passamos os últimos anos a
ouvir diariamente nas televisões alguma notícia de que um novo roubo foi
descoberto na miserável relação firmada entre os governantes e empreiteiros no
ato da construção ou reforma dos estádios para a Copa de 2014. Trata-se de um
suplício que parece não ter mais fim. E enquanto isso, vez por outra, algum
jornalista relembra os terríveis 7x1 que tomamos da Alemanha. Desgraça maior
não acredito que nos reserve o nosso futuro.
Menos mal que cada vez que um
corrupto que se locupletou daquele dinheiro roubado, vai para trás das grades,
tenho ímpetos de gritar: Gooool do Braaaaasiiiiiil!
Para a Copa deste ano que terá
início no dia 14 de junho, já estou mais animado. Receoso, mas animado. Até já
adquiri uma TV nova e com todos os avanços tecnológicos que as grandes marcas
nos oferecem. Não sei o que o futuro nos reservará, mas quando souber eu conto!
Ah!, já estou montando também o
meu álbum de figurinhas da copa! Estou quase nos finalmente.
Mestre,
ResponderExcluirNesse jogo miserável, quando a gente pensava que ainda estava passando o videotape, na realidade o Brasil já tinha tomado outro gol. Depois, os nossos jogadores ficaram em estado catatônico, em que nada havia de tônico, mas só de fraqueza mesmo; e depois um de nossos "craques" deu para chorar em campo, o que tornou a coisa ainda mais patética, com onze triste tigres patetas correndo à toa dentro do gramado.
Abraço,
Elmar Carvalho
É verdade!Só mesmo um Poeta e Filósofo para descrever com fidedignidade o que acontecia no gramado naquele fatídico dia! Nenhum comentarista global se apercebeu do estado miserável em que se arrastavam aqueles pobres homens batidos em campo. Estavam todos catatônicos também!
ResponderExcluirFoi inacreditável, em sentido negativo absoluto...
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