José Pedro Araújo
Gravura extraída do Google |
A influência
cultural nordestina – As
pessoas que moram na cidade grande costumam pensar, equivocadamente, que o
lazer é um bem escasso nas cidades menores ou nas pequenas povoações. Todavia,
a verdade é que as crianças do interior possuem uma gama de brincadeiras muito
mais saudáveis do que as das cidades, e terminam se divertindo muito mais
também, por desfrutar de muito espaço físico. No passado, quando a luz elétrica era apenas uma
miragem, um sonho, a meninada entrava noite adentro cantando cantigas de roda
apropriadas a cada brincadeira que escolhiam para aquele momento. Os meninos,
quando não se encaixavam na diversão das meninas, recorriam ao esconde-esconde
ou viajavam no imaginário através das Estórias de Trancoso. O certo é que as
noites para a meninada se transformavam em períodos para muita diversão, a se
somar às brincadeiras de boneca, para as meninas, e a uma variada quantidade de
opções para os meninos. Variadas, porque iam desde o pião, a bolinha de gude, a
pipa, e os carrinhos feitos de madeira e lata, até as caçadas, os banhos de
rio, as pescarias, entre uma infinidade de outras opções.
Para os adultos, sempre havia as festas
dançantes, as quermesse, as festas de padroeiros das igrejas, para os
católicos; ou os congressos religiosos, e os “retiros” para os crentes. Deste
modo, as noites de lua clara transformavam-se em um convite para a brincadeira,
hábito deixado de lado com a chegada da luz elétrica e da televisão. Havia
ainda as pescarias, as caçadas, as vaquejadas, entre tantas formas de diversão
que preenchiam o tempo vago do homem do interior.
Já afirmamos antes que a formação
cultural do maranhense do sertão difere muito da dos nossos irmãos nascidos na
ilha de São Luís, ou mesmo na baixada maranhense. Enquanto a influência
portuguesa e africana deu o tom para os nativos de lá, aqui no sertão a cultura
nordestina nos deixa à parte de festas populares como o bumba-meu-boi, por
exemplo. Até mesmo a fala “cantada” das pessoas que nascem naquela região
litorânea não é encontrada nos nativos daqui.
A forte influência nordestina entre a
população local pode ser vista através do censo demográfico de 1960. A população
eminentemente maranhense somava, nessa época, 20.083 pessoas, de um total de
29.679 almas. Deste total de “estrangeiros”, 4.150 eram piauienses, e os 3.878
restantes, eram originários do Estado do Ceará. Esse cálculo fica ainda mais
acentuado, se se considerar que mesmo as pessoas computadas como maranhense,
possuem, na sua maioria, descendência nordestina, oriundos de Estados mais ao
sul da região.
Portanto, os nordestinos puros, com seu
linguajar diferente, e os seus costumes tão próprios, tiveram influência
preponderante nos nossos hábitos e na nossa formação cultural. A música
nordestina de raiz, como o forró, o xaxado, e hoje o axé, sempre ocupou o
espaço de outros ritmos musicais que são próprios do maranhense da costa
oceânica. Assim também, são diferentes as nossas lendas e Estórias de Trancoso,
e o somatório do imaginário indígena, africano e nordestino.
Até mesmo os maus costumes dos povos do
nordeste que vieram para aqui se estabelecer, nós herdamos. Como o hábito da vingança
de sangue e das disputas entre famílias que, vez por outra, desemboca em guerra
aberta e cruenta. Assim também como o coronelismo que rege a política
partidária, em que um só mandatário, e sua família, regem os destinos de uma
população inteira sem que os seus comandados sejam ao menos consultado sobre as
escolhas que lhes foram feitas.
Mas herdamos também a sua propensão à
amizade e ao companheirismo, além da coragem desmedida para enfrentar situações
extremas, para fazer frente aos desafios mais amedrontadores. Somente gente
acostumada a enfrentar toda a sorte de desafios, tanto das forças da natureza
quanto do destino, seria capaz de se se estabelecerem em uma região tão
selvagem como a do “Japão maranhense”, e aqui criar uma comunidade vanguardista
e desenvolvimentista em tão pouco tempo.
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