quarta-feira, 2 de maio de 2018

A HISTÓRIA DE PRESIDENTE DUTRA - A Influência Nordestina - (Parte 11)











José Pedro Araújo

Gravura extraída do Google
A influência cultural nordestina As pessoas que moram na cidade grande costumam pensar, equivocadamente, que o lazer é um bem escasso nas cidades menores ou nas pequenas povoações. Todavia, a verdade é que as crianças do interior possuem uma gama de brincadeiras muito mais saudáveis do que as das cidades, e terminam se divertindo muito mais também, por desfrutar de muito espaço físico.  No passado, quando a luz elétrica era apenas uma miragem, um sonho, a meninada entrava noite adentro cantando cantigas de roda apropriadas a cada brincadeira que escolhiam para aquele momento. Os meninos, quando não se encaixavam na diversão das meninas, recorriam ao esconde-esconde ou viajavam no imaginário através das Estórias de Trancoso. O certo é que as noites para a meninada se transformavam em períodos para muita diversão, a se somar às brincadeiras de boneca, para as meninas, e a uma variada quantidade de opções para os meninos. Variadas, porque iam desde o pião, a bolinha de gude, a pipa, e os carrinhos feitos de madeira e lata, até as caçadas, os banhos de rio, as pescarias, entre uma infinidade de outras opções.
Para os adultos, sempre havia as festas dançantes, as quermesse, as festas de padroeiros das igrejas, para os católicos; ou os congressos religiosos, e os “retiros” para os crentes. Deste modo, as noites de lua clara transformavam-se em um convite para a brincadeira, hábito deixado de lado com a chegada da luz elétrica e da televisão. Havia ainda as pescarias, as caçadas, as vaquejadas, entre tantas formas de diversão que preenchiam o tempo vago do homem do interior.
Já afirmamos antes que a formação cultural do maranhense do sertão difere muito da dos nossos irmãos nascidos na ilha de São Luís, ou mesmo na baixada maranhense. Enquanto a influência portuguesa e africana deu o tom para os nativos de lá, aqui no sertão a cultura nordestina nos deixa à parte de festas populares como o bumba-meu-boi, por exemplo. Até mesmo a fala “cantada” das pessoas que nascem naquela região litorânea não é encontrada nos nativos daqui.
A forte influência nordestina entre a população local pode ser vista através do censo demográfico de 1960. A população eminentemente maranhense somava, nessa época, 20.083 pessoas, de um total de 29.679 almas. Deste total de “estrangeiros”, 4.150 eram piauienses, e os 3.878 restantes, eram originários do Estado do Ceará. Esse cálculo fica ainda mais acentuado, se se considerar que mesmo as pessoas computadas como maranhense, possuem, na sua maioria, descendência nordestina, oriundos de Estados mais ao sul da região.
Portanto, os nordestinos puros, com seu linguajar diferente, e os seus costumes tão próprios, tiveram influência preponderante nos nossos hábitos e na nossa formação cultural. A música nordestina de raiz, como o forró, o xaxado, e hoje o axé, sempre ocupou o espaço de outros ritmos musicais que são próprios do maranhense da costa oceânica. Assim também, são diferentes as nossas lendas e Estórias de Trancoso, e o somatório do imaginário indígena, africano e nordestino.
Até mesmo os maus costumes dos povos do nordeste que vieram para aqui se estabelecer, nós herdamos. Como o hábito da vingança de sangue e das disputas entre famílias que, vez por outra, desemboca em guerra aberta e cruenta. Assim também como o coronelismo que rege a política partidária, em que um só mandatário, e sua família, regem os destinos de uma população inteira sem que os seus comandados sejam ao menos consultado sobre as escolhas que lhes foram feitas.
Mas herdamos também a sua propensão à amizade e ao companheirismo, além da coragem desmedida para enfrentar situações extremas, para fazer frente aos desafios mais amedrontadores. Somente gente acostumada a enfrentar toda a sorte de desafios, tanto das forças da natureza quanto do destino, seria capaz de se se estabelecerem em uma região tão selvagem como a do “Japão maranhense”, e aqui criar uma comunidade vanguardista e desenvolvimentista em tão pouco tempo.  

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