segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Um pouco da História do Creoli do Joviniano (Com foco em suas famílias tradicionais)

Rua Central do Creoli do Joviniano

 Remy Soares de Carvalho(*)

A história do Creoli do Joviniano, no município de Presidente Dutra (MA), é uma história centenária, ainda que se trate de um pequeno povoado, que hoje é um dos distritos do município. Neste trabalho, de incansável pesquisa iniciada em 2008 e atualizada em 2021, contei com a colaboração dos senhores Hesion Alves Barbosa, Messias Pereira da Silva e Eldemy Teixeira Carvalho. Todos são filhos de famílias tradicionais desta localidade. Foi de relevante importância, também, as informações que obtive com o meu cunhado José Zuza de Souza.

Informo, preliminarmente, que sou filho do senhor Raimundo Anselmo e da senhora Doracy Moura Fonseca de Carvalho.  Ele chegou no povoado dos Anselmos em 1940, casado com a senhora Perolina, irmã do senhor Milton Anselmo e tinha dois filhos: João e Maria. Ficou viúvo em 1943. Três anos depois casou-se com a senhora Doracy Moura Fonseca. Com menos de 35 anos de idade ela já havia dado luz a 12 filhos e faleceu no dia 19 de abril de 1963. Deixou os seguintes filhos: Iracema (1947), Beatriz (1950), José (1951), Sandoval (1953), Sebastião (1955), Irandy (1957), Romildo (1959) e Remy (1960), todos nascidos no povoado dos Anselmos.

No mesmo ano, em 1963, ele casou-se com a jovem Dalva Soares, que morava no povoado Patioba, município de Gonçalves Dias. Os cinco filhos mais novos foram então registrados com o sobrenome dela, daí o meu nome Remy Soares de Carvalho. Deste casamento nasceram em Axixá do Tocantins: Hélder Kenedy (1968), Agnel (1969), Odinel (1972), Raimundo Heldon (1973), Hélder Kley (1978) e Kesley (1979).

O povoado Centro dos Anselmos não existe mais. Foi fundado em 1936 pelo senhor Anselmo Dias Carvalho, egresso dos campos de Caxias. Do casal Anselmo e Sebastiana nasceram os seguintes filhos: Benedito, Raimundo, Maria do Carmo, José, Luís Gonzaga, Olímpia, Augusto, Rosilda e Manoel. Do segundo casamento do senhor Anselmo com Maria José Fonseca de Carvalho, famosa parteira, nasceram Romão, Antônio, João e Alexandre.

Das pesquisas empreendidas encontrei que o fundador do povoado Creoli do Joviniano, senhor Joviniano Anes de Carvalho, era casado com a dona Cecília Pereira de Carvalho, que irmã das senhoras Glória e Maria de Jesus e do senhor João Pereira. O casal Joviniano e Cecília, teve os seguintes filhos: João Anes, Mundico Anes, Messias Anes, Antônio Anes, Elvira e Anésia.

Naquele tempo, no início do século XX, o senhor Joviniano morava na Lagoa de Dentro, no mesmo município. No seu ofício de caçador, ao se embrenhar na mata, descobriu uma lagoa rodeada de pés de creoli, uma árvore que existia em abundância na região e que hoje está em fase de extinção. No quintal da minha irmã Beatriz, nas proximidades da antiga lagoa, há um pé solitário desta árvore histórica.

Nas imediações da lagoa havia muita caça. Ali teve início a construção das primeiras casas, aproximadamente em 1905. Com a notícia da descoberta da lagoa começaram a chegar outros moradores, que também foram pioneiros, a exemplo da família do senhor José Dias, que era casado com a dona Glória. Eles tiveram os seguintes filhos: Joaquina, Júlia, Henrique e Maria Viúva.

O senhor João Pereira da Silva, eram descendente de índio e originário do Estado do Ceará. Era conhecido, também, por João Pereira Velho, cunhado do senhor Joviniano. Casou-se com a dona Josefa Pereira dos Santos, natural do município de Graça Aranha. Ambos eram viúvos. Do primeiro casamento dele nasceram José, Antônio, Maria e Elisa. A D. Josefa era viúva do senhor Benedito Leite e são os pais da senhora Leodinília, casada com o senhor Antônio Altino.

Do casamento do senhor João Pereira Velho com a dona Josefa nasceram no Creoli do Joviniano os seguintes filhos: Nonato, José de Arimatéia, Minelvina, Maria Pereira (conhecida por Santa Pereira), Zelinda, Messias, Isaura, Maura e Elmar, todos Pereira.

Pois bem. O lugar foi crescendo e nos seus primeiros anos de existência chegou a família do senhor Joaquim Teixeira. Deixo aqui consignado para a história a contribuição da família do senhor Benedito Belo, casado com a senhora Luíza, eles são os pais do líder político local, senhor Santo Belo. Outra família de muita tradição no local é a família do senhor Adelino e da dona Glória, que tiveram os seguintes filhos: Pedro, João, Raimundo, Joviniano, Ludjero, José, Antônio, Maria, Luís e Luzia, todos Adelino.

O senhor José Adelino continua morando no Creoli do Joviniano. Em frente à casa dele há uma árvore frondosa onde as pessoas se reúnem para colocar a conversa em dia. O senhor Antônio Adelino, fazendeiro e pecuarista, era casado com a D. Adalgisa e são avôs maternos dos filhos do autor deste breve relato histórico. Ele faleceu em Presidente Dutra, no dia 9 de outubro de 1998.

No bojo das famílias antigas do aprazível povoado, trago à citação a família do meu cunhado José Zuza de Souza, casado com Beatriz, que nunca deixou a terra onde nasceu. A família do Zuza representa o grupo dos cearenses que chegaram na região em 1953, oriundos do município de Barbalha, na microrregião de Missão Velha, sul do Estado do Ceará, quase na divisa com o Estado da Paraíba.

E, por falar nos cearenses, recordo aqui Luís Gonzaga – famoso cantor brasileiro que nasceu em Exu (PE). Em uma das músicas escritas por João do Vale – que é natural de Pedreiras (MA) –, intitulada “De Teresina a São Luís”, ao falar sobre os cearenses que vieram para o Maranhão, ele disse o seguinte: “Alô Coroatá, os cearenses acabaram de chegar. Meus irmãos, uma safra bem feliz. Vocês vão para Pedreiras, que eu vou pra São Luís.”.

Na contextualização da sua história, Creoli do Joviniano conta, há muitos anos, com uma família tradicional remanescente dos Arapuás. Estou me referindo à família Capoeira, com menção saudosista ao senhor Luís Capoeira e sua esposa, dona Emília. Eles são os pais do Melquíades Capoeira, que tocava rabeca; Riba Capoeira, que foi vereador e bom jogador de bola, além de ter sido compadre do meu pai; Ovídio, lavrador; Arlindo Capoeira, que era caçador e fazedor de armas; Diomar, que desempenhava o ofício de alfaiate; e Cosme, que era lavrador. A família se completava com as filhas Mundinha e Ansília.

Ainda sobre as famílias tradicionais do Creoli do Joviniano trago a lume a família do senhor Chico Inácio, representada pelos seus filhos Antônio Inácio, Joaquim Inácio e José Inácio. Naquela época, nos anos 50, as famílias guardavam dinheiro em casa. Não tinha essa coisa de banco. Nada disso. E, além do mais, as pessoas respeitavam a propriedade alheia. Os níveis de segurança eram maiores.

Nesse sentido, o senhor Antônio Inácio, que era surdo, escondia o seu dinheiro numas malas que enterrava no chão. Ele nem se preocupava, pois não havia inflação. Depois de muito tempo ficou pobre, pois houve a mudança da moeda e, quando ele arrancou o dinheiro que estava enterrado, não valia mais nada. Eram muitas notas, todas novinhas. Essa história foi contada pelo Messias Pereira da Silva.

No ano de 1956, durante a gestão do prefeito Adir Léda, o povoado ganhou uma de suas obras mais importantes, o Açude Grande, empreendimento que atraiu a atenção do povo de toda a redondeza para a comunidade. As águas do maior açude do município, atraia tanto para o lazer quanto para a execução dos serviços das lavadeiras de roupa. E suprimiu o grave problema da falta de água nos momentos de maior escassez.

No elenco das famílias tradicionais de Creoli do Joviniano cito a família do senhor Vicente Caboclo. Ele foi criado pelo senhor Joviniano e é o pai da dona Dalcira, esposa do senhor José Adelino. Outra família de valor histórico no povoado é a do senhor Constantino e da dona Aurora. Deixo aqui a minha menção de apreço à família do senhor José Rosa Neto, pai da minha comadre Alzirene, bem como ao Sr. Manula Lima, proprietário de um engenho de cana-de-açúcar no povoado, cujo filho, Elias João, nascido no Creoli, é médico e escritor no Piauí. por fim, no início dos anos 60 chega ao Creoli do Joviniano o Sr. Raimundo Quirino, com a família e irmãos. Alguns anos depois, os irmãos dele foram residir em Axixá de Goiás, hoje Tocantins, localidade em que contribuíram de forma decisiva para o seu desenvolvimento, especialmente no que diz respeito à educação da sua população.

No caminhar intrépido da história Creoli do Joviniano contou em seus áureos tempos com a presença marcante da família do senhor José Pedro de Araújo e da sua esposa, a senhora Teresinha Barros de Araújo. Ele, ex-militar, vereador e pastor evangélico natural de Picos – PI. 

O senhor Araújo foi um homem empreendedor e destacado comerciante na sede do município de Presidente Dutra. Em 1960 ele abriu uma loja de tecidos no pequeno povoado Creoli do Joviniano, assim como um pequeno armazém para a compra e estocagem de Arroz e Babaçu, produtos colhidos nas ubérrimas terras da região. Para conduzir a contento os seus negócios, morou no referido povoado por pouco tempo, pois precisou voltar à sede do município para matricular os filhos no ensino fundamental. Antes disso, contudo, seus filhos menores residiram no Creoli com a família, e a filha única, inclusive, teve como primeira escola formal, aos três anos de idade, o Grupo Escolar do Creoli. Hoje a Dra. Benedita reside em Teresina, está aposentada como juíza do Tribunal de Justiça do Estado. Outro dos filhos do Senhor Araújo, o penúltimo, Dr. Jonas Araújo, é Odontólogo, e voltou ao Creoli para prestar seus serviços profissionais durante alguns anos passados. Os outros dois restantes, Jônatas e Josélio, são empresários em Presidente Dutra, e continuam com fortes ligações com o velho Creoli do Joviniano. 

O senhor Araújo sempre foi um homem sábio e comprometido com a moral, a ética e os princípios norteadores da doutrina cristã. É o pai do nobre amigo e arauto das letras e da história, Dr. Araujinho, José Pedro de Araújo Filho, que herdou dos seus pais o apego à palavra de vida extraída das Sagradas Escrituras.

O Dr. Araujinho, como é conhecido no Creoli do Joviniano, é autor de obras de referências para a história do Curador, a exemplo do livro que escreveu e publicou em 2007, intitulado: “Viajando do Curador a Presidente Dutra”. É, também, o titular do Blog Folhas Avulsas. É engenheiro agrônomo e servidor público aposentado do Incra, tendo inclusive, prestado seus serviços no extremo norte goiano, em Araguatins, que desde 1988 passou a integrar o Estado do Tocantins.

Creoli do Joviniano por muitos anos continuou pequeno, quase que parado no tempo. Registre-se, no entanto, que o vilarejo experimentou nas últimas décadas, principalmente, depois dos anos 80, com destaque à gestão do prefeito Remy Soares, transformações ditadas pelo progresso, ainda que incipientes, porém significativas, a exemplo da construção de escolas, posto de saúde, calçamento e asfaltamento de ruas, distribuição de água encanada e iluminação pública, além dos serviços de telefonia. O asfaltamento da estrada vicinal que liga o povoado à sede do município, aproximadamente 18 quilômetros, continua sendo o sonho maior dos moradores deste centenário povoado que merece dias melhores.

O êxodo dos seus moradores ao longo de mais de um século de existência se consubstanciou com o envio de muita gente para outros recantos do Brasil. Houve uma época em que o sonho de uma vida melhor consistia em ir para São Paulo, capital. Depois, na segunda metade da década de 1950 e anos seguintes, o foco mudou para Brasília.

Na época da febre do ouro, na Serra Pelada, no sudeste do Pará, muitos homens deixaram o pequeno povoado em busca do metal precioso e da riqueza aparentemente fácil, ainda que revestida de ilusão. Nesta saga e noutras de igual peleja alguns garimpeiros foram sucumbidos pelas doenças da Amazônia e só chegava a notícia de que fulano havia morrido, sem falar nos assassinatos e nos acidentes de serviço, com a queda dos barrancos.

À medida que os garimpos foram perdendo força e se distanciando em direção ao limite norte do Brasil, o povo do Maranhão, notadamente da região dos cocais, foi se deslocando na selva e, nesse compasso, muitos retirantes chegaram ao Estado de Roraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela e Guiana.

Palmas, capital do Tocantins, no início da sua construção, em 1989, despertou a atenção de alguns maranhenses da região de Presidente Dutra. Hoje a poeira se assentou e Palmas perdeu bastante espaço no seu processo de crescimento. É claro que a área construída pelos pioneiros continua em franca fase de adaptação às estruturas de uma cidade bonita, espaçosa e planejada.

Numa das minhas inúmeras viagens a passeio ao lugar onde nasci, pois fui criado em Axixá do Tocantins e morei praticamente 40 anos em Brasília, decidi documentar um pouco a paisagem da região, com destaque às hortas de tomates, que estavam fazendo sucesso na metade da década de 1990.

Em 1997, vi muito moradores felizes com a oportunidade que tiveram de mudar um pouco as condições de vida com o plantio de tomate. Registrei tudo.  As hortas bonitas e bem cuidadas tiveram vida curta. Foi tudo muito rápido. De repente, vários fatores aliados ao cansaço da terra foram determinantes para o total declínio do cultivo de tomate e de outras verduras e hortaliças.

À guisa de conclusão deste simples artigo, como contribuição à sistematização da história do povoado Creoli do Joviniano, presto a minha homenagem às lideranças políticas locais, afinal, foram homens e mulheres que se dignificaram pelo trabalho desenvolvido em prol da comunidade, a exemplo dos senhores Araújo, José Rosa Neto e da sua esposa D. Francisca. Santo Belo (Mauro Eledones), Zezão (José Nunes Martins), Riba Capoeira(José Ribamar Gomes), Zezim do Creoli (José Alves Barbosa) e, mais recentemente, o jovem e dinâmico vereador Wallas Alves Sousa que ao lado do prefeito municipal Raimundinho da Audiolar representam a esperança de um novo tempo, para continuidade do progresso do município de Presidente Dutra – MA.

Casa Típica da Região onde nasceu o autor deste estudo

Parabéns a todos os moradores do Creoli do Joviniano, pois, no dia a dia tem ajudado a escrever, de forma indelével, a história do lugar onde brotaram as raízes da minha família!

 

Axixá do Tocantins, fevereiro de 2021.

 

(*) Remy Soares de Carvalho  é Advogado, jornalista, escritor e servidor público aposentado do Tribunal de Contas do DF.