sexta-feira, 29 de maio de 2015

Cajueiro Velho

Cajueiro de Humberto de Campos, Parnaíba-PI



                                        
          Devo confessar que não sou um grande apreciador do fruto do cajueiro, a não ser na forma de doces ou na da inigualável Cajuína, verdadeiro néctar dos deuses. Também a amêndoa do caju deve ser considerada uma das mais saborosas castanhas existentes nos quatro cantos da terra, sobretudo quando bem torrada. Entretanto, a árvore em si é uma das mais belas e luxuriosas. E o cheiro das florezinhas? O que têm de pequenas, exultam em beleza. São verdadeiros rubis em cachos, lançando um cheiro de eterna saudade no ar. O fruto também é de uma beleza transgressora. Ao se apresentar dependurado nos galhos retorcidos da frondosa árvore, traveste-se de uma profusão de cores e matizes que encantam pela beleza do visual. E esse, contrastando com o verde brilhante das folhas grandes e espalmadas, apresenta-se nas cores amarela, vermelha, vermelha-amarela ou amarela salpicada de vermelho ou vice-versa. São tantas as cores combinadas que precisaríamos de uma página inteira para descrevê-las aqui. Pois somente na cor vermelha existe uma variação tremenda de matizes.
          A sensação de velha e resistente saudade que me causa o cajueiro, também acontece em muitas outras pessoas, a julgar pela quantidade de homenagens que esta árvore tem recebido, tanto na literatura, quanto na música. A começar pelo grande escritor maranhense Humberto de Campos e pelo compositor também originário do Maranhão, João Carlos, pai da cantora Alcione. Também o velho Luiz Gonzaga, em parceria com o compositor Cecéu, homenageou o Anacardium occidentale, planta xerófita de importância ímpar para o nordestino. 
          Resistente ao clima árido do nordeste, assim como a mangueira, o cajueiro floresce e dá frutos exatamente no período mais crítico, quando as outras fruteiras padecem pela falta de umidade no solo. Ai é o cajueiro quem aparece como verdadeiro refrigério para o homem, para os animais e para os pássaros da região. 
          Em Parnaíba, no Piauí, ai pelo final do século XIX, quando tinha apenas dez anos de idade, Humberto de Campos plantou um cajueiro no quintal de casa e ao se mudar para São Luiz do Maranhão para completar seus estudos, despediu-se dele de forma melodramática, abraçando-o e prometendo voltar para revê-lo. Recentemente estive naquela cidade e fui conhecê-lo: ainda está lá, centenário e dando muitos frutos amarelos, como é possível ver na foto acima. As castanhas são grandes e cheias, prometendo boas e saborosas amêndoas. Ao contemplar aquela árvore viçosa que deverá está hoje com 118 anos, veio-me à lembrança um cajueiro que eu conheci na minha infância, no meu querido Curador. Desde então nasceu a intenção de prestar-lhe pequena homenagem na forma desta singela crônica.
          A árvore a qual me refiro, estava plantada em plena Praça Diogo Soares no lugar onde depois foi erguida uma residência. Do velho cajueiro só sobraram as lembranças vivas das tantas vezes em que me abriguei na sombra da sua copa para fugir do sol abrasador que incendeia o meu sertão, sobretudo no verão. Quem o plantou ali no meio da Praça, não posso dar conta. Sei apenas que, quando o conheci, já estava árvore muito alta, de tronco possante e ereto, sustentando centenas de galhos longos e esparramados. Ocupava uma área bastante grande com a sua saia. Lembro-me ainda que produzia frutos de um vermelho metálico e de uma doçura convidativa. Já um tanto entrado na idade, a carga de cajus não era lá muito grande quando o conheci, mas foi nele que aprendi a conhecer o que era um maturi ou uma muxiba, palavras que identificam um fruto ainda verde ou outro já ressecado, repasto anterior de alguma Pipira que recorria ao velho cajueiro para matar a fome e a sede.
          Vizinho a ele também ficava o nosso campo de futebol, lugar onde corríamos incansáveis atrás de uma bola naquelas manhãs e tardes ensolaradas. Os primeiros frutos que ele dava ficavam, invariavelmente, na sua parte mais alta, dificultando sobremaneira a sua colheita. Como sempre, o melhor petisco sempre fica muito distante das nossas mãos. Assim, derrubar um deles com baladeira, nem pensar. Com a queda perdíamos o belo fruto que se esborracharia ao chão, tornando-se imprestável. A colheita, deste modo, devia ser feita com a mão, dificuldade que só aumentava o seu valor. Até alguns anos atrás ainda sonhava buscando caju no meu velho cajueiro.
          Muitos daquela época também devem lembrar daquela árvore fantástica e de galhos que quase tocavam ao chão. Sob ele também nos reuníamos para contar histórias ou para contar as novidades daquela pequena cidade sem muitas notícias novas.
          No próximo post continuarei a contar a história do cajueiro velho da Praça Diogo Soares. Falarei mais também sobre o antiquíssimo cajueiro de Humberto de Campos, plantado lá na Parnaíba.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Outras Fotografias Comparativas: O novo e o velho PK

Acervo da família Gerson Sereno.
José Pedro Araújo
           As duas fotografias que ilustram este post referem-se a uma das mais belas construções de Presidente Dutra: o Colégio das Irmãs. Hoje, Colégio  Sagrada Família. A primeira foto, feita em início dos anos cinquenta, mostra o prédio em construção, já em fase de acabamento. É uma das poucas imagens que ilustram essa fase da obra. Talvez a única exposição a ilustrar aquela época. A propósito disto, um dos poucos depoimentos que temos sobre a construção deste edifício, foi tomado pelo historiador Elyellson Morais à professora Jesus Jardim. Na entrevista, ela afirma que ajudou a carregar pedras para a construção do colégio, assim como grande parte da população. A monumental obra deve ter empregado vultuosos recursos, e esses custos se acentuaram mais ainda em razão de parte do material de construção ter vindo de fora. O jornal O Diário de São Luis, do dia 20 de fevereiro de 1949, ilustra as dificuldades enfrentadas para a construção da obra de tal magnitude. A matéria publicada naquela época, afirma que "a exposição feita pela senador Vitorino Freire ao chefe da nação sobre a extrema pobreza em que se encontra o Colégio das Irmãs Capuchinhas de Presidente Dutra, antigo município do Curador,  impressionou de tal forma o primeiro magistrado do país que o general Dutra prometeu tomar parte pessoalmente na campanha de arrecada de donativos, afim de auxiliar o município que lhe prestou significativa homenagem tomando o seu nome. Ontem o general Dutra informou ao senador Vitorino Freire que conseguiu um donativo de Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros), sendo quarenta mil para o educandário daquele município, e dez mil para frei Carmelo, capelão daquela localidade, adiantando, ainda, o Presidente da República, que a importância total do donativo seria remetida hoje, através da agência do Banco do Brasil, em nome da madre superiora do colégio de Presidente Dutra".
          Não resta dúvidas que a substituição do antigo nome do município pelo do Presidente da República da época, rendeu frutos. Há notícia de que verbas foram repassadas ao prefeito da época, inclusive houve também a doação de um Jipe Willys, acredito que o primeiro veículo automotor da cidade. 
          Bem, afirma-se que o tal veículo terminou ficando para o recém criado município de Tuntum. Mas essa já é outra história.



          A fotografia acima é do dia 28/04/20015. Foi tirada de um ângulo diferente. Para concluir o presente texto, uma informação que deve passar desapercebida para muitos que transitam diariamente pela praça São Sebastião e que estão cansados de ver o texto em latim sob a gárgula no frontispício do salão paroquial:  Otium Cum Dignitate. A frase em questão foi cunhada pelo filósofo romano Cícero, e significa "Descanso com os meios necessários para viver honestamente". Ou, descansar com dignidade.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Grande Sertão, Paixão!

José Pedro Araújo


            Criou-se em mim, desde sempre, uma grande afinidade com a palavra “sertão”. Agradava-me tanto a sonoridade que ela embutia, como o seu belo significado. No Aurélio, sertão significa ‘região agreste, longe das povoações ou terras despovoadas’. Mas prefiro a definição de Guimarães Rosa: “o sertão é dentro da gente”. Tudo a ver comigo, com a minha ojeriza a multidões, a trânsito complicado, enfim, a gente em demasia.

            Certa vez me deparei com o termo “sertões de dentro” dos historiadores. Definia algo ainda mais interior, encravado no mais profundo do Brasil desconhecido. Passei a gostar mais ainda de ‘ser tão’ de lá de dentro.

Não bastasse já está firmemente abraçado ao termo, João Guimarães Rosa me veio com um tal de Grandes Sertões – Veredas. Um livro. Um estupendo livro. Foi demais. Descreveu ele o sertão de forma magistral. Só ele mesmo para definir tão bem o vocábulo amado. E olha que comecei mal a leitura desse livro, como já havia acontecido com outro sobre outro sertão: o de Euclides da Cunha. Comecei a ler e... parei. Se no livro do Euclides a razão foi a cansativa e avassaladora descrição geográfica do ambiente em que a história se passava, no do Guimarães Rosa foi a avalanche de neologismos e frases de trás pra frente. Isso tudo porque sertão para mim era coisa simples, de fácil entendimento, fácil de sentir e gostar.

Mas, sertão também é coisa áspera, campo de luta, habitat de bravos, foi o que compreendi depois. E assim voltei aos dois livros. Ganhei nova alma com a minha persistência; senti-me mais sertanejo ainda. Como diria o autor: “Ah, uma ideia que vale, ora veja! A gente tem de conceber também, é o bom exemplo pra se aproveitar...” Entenderam? Difícil, não?  

            A obra do Guimarães Rosa ficou para sempre na minha memória e empurra-me sempre para a sua releitura. E ao lê-la novamente, é como se estivesse me debruçando sobre ela pela primeira vez: surpreendo-me a cada virada de página com algo novo. Então passo a me indagar como aquilo me passou despercebido.

E quando pensei que já havia parado de me surpreender com a história de Diadorim e Riobaldo, eis que uma dupla pra lá de competente me surpreende novamente ao lançar a incomparável obra sertaneja em quadrinhos. O roteirista Guazzelli e o quadrinhista Rodrigo Rosa fizeram um trabalho primoroso ao eternizar na nona arte esta obra basilar da literatura brasileira. Sem fugir aos termos e às frases quase ininteligíveis da peãozada mineira, a dupla conseguiu produzir uma obra monumental e de fácil compreensão. Foi paixão a primeira vista. Como sou - os poucos que acompanham já sabem - um grande apreciador dos quadrinhos, foi algo avassalador mesmo.

            Fazer o que eles fizeram foi um ato de coragem. E mesmo correndo grandes riscos ao passar para a graphic novels uma obra prima da língua portuguesa, acredito que a dupla produziu um trabalho que beira à perfeição. Pena que a triste e bela história de Diadorim e Riobaldo não poderá ser vista por um contingente maior de leitores, uma vez que a sua tiragem é limitadíssima e o seu preço de capa muito alto. Para mim, valeu a pena o investimento.

            Comecei esta arenga – o termo é usual do mestre Cineas Santos – com o propósito de reafirmar o meu amor e o meu respeito por tudo o que diz respeito ao sertão e aos sertanejos, e terminei por propagandear a obra publicada pela Biblioteca Azul. Iniciei o texto para dizer que voltar ao meu sertão – termo que os meus concidadãos reinventaram e transportaram para a palavra Japão – revigora-me e me deixa com a alma em regozijo. Nonada? Não, grandes vivências, seo moço!  

segunda-feira, 18 de maio de 2015

POR QUEM OS SINOS DOBRAM?


                                                                                                                      (Chico Acoram)*


O nobre escritor e cronista José Pedro Araújo Filho, amigo dileto, sempre reclama que devo escrever com mais frequência sobre os mais variados temas em forma de contos ou crônicas. Diz-me, também, que tenho muita preguiça para escrever. Nesse ponto, meu amigo tem toda razão. Os poucos escritos (contos e poesias) de minha autoria foram redigidos, realmente, por obra de um extremo esforço, aliado a uma rara inspiração que me acomete vez por outra.
Lembrando-me dessa assertiva, prometi a mim mesmo que qualquer dia desses tentaria escrever uma crônica sobre um assunto interessante que me viesse à mente. Pois bem, promessa é dívida.
Outro dia, lendo uma crônica “Sinos da Minha Aldeia”, de autoria do amigo acima citado (publicada no seu blog Folhas Avulsas), onde descreve com maestria a origem dos sinos da Igreja de São Sebastião na cidade de Presidente Dutra, do vizinho Estado do Maranhão. Salientando sua curiosidade, acabou descobrindo de onde esses instrumentos sonoros tinham vindos. Veio-me então a ideia de escrever algo sobre tema parecido.    
Depois que li essa interessante narrativa, brotou-me abruptamente do fundo do meu consciente (ou talvez do inconsciente), a seguinte frase em letra do tipo negrito itálico, caixa alta: POR QUEM OS SINOS DOBRAM?  Essa frase martelou minha cabeça por algumas horas sem que eu soubesse o motivo da lembrança dessa interrogativa. Indaguei a mim mesmo se a frase seria algum título de filme que tinha visto há muito tempo, ou talvez o nome de um livro, ou até mesmo de um provérbio. Apesar do esforço mental, a resposta foi negativa.
Diante disso, resolvi consultar a melhor enciclopédia do mundo, o pai moderno de todos os burros, a oitava maravilha do mundo, ou seja, a Internet, através de uma lâmpada mágica conhecida como Google. Espetacular! Digitei referida frase nesse aplicativo tendo como resultado da pesquisa uma agradável surpresa. Descobri que a frase acima mencionada   refere-se a uma parte do célebre trecho que abre um romance do cético escritor inglês Ernest Hemingway com o título “Por Quem os sinos Dobram”. O livro foi publicado em 1940, e recebeu versão para o cinema três anos depois sob a direção de Sam Woods e roteiro de Dudley Nichols. Obteve um Oscar de melhor atriz coadjuvante (Katina Paxinou) e indicação para mais oito categorias, entre elas a de melhor filme.
Diz ainda a pesquisa que Ernest Hemingway, apesar de cético, tinha muita influência do escritor e clérigo anglicano John Donne que redigiu em sua “Meditação 17” o famoso trecho: “Nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. A citação de Hemingway no seu livro é mais do que uma simples referência; talvez esteja mais para deferência, ou até reverência. De acordo com a pesquisa, isso chega a ser uma ironia, pois Donne, um dos principais arquitetos do pensamento de Hemingway, esteve “no porão” até seu reaparecimento, no preâmbulo de “Por quem os Sinos Dobram”. Assim, Donne tornou-se, portanto, o arauto contemporâneo de voz importante, mas esquecida, de séculos atrás.
Revela a mesma pesquisa que, embora de formas diferentes, Donne e Hemingway tinham em si a chama do existencialismo. Jonh Donne, especialmente no período em que produziu as “Meditações”, quando esteve acometido de uma doença grave, dialogou com a morte em seus escritos.
Por outro lado, fiquei sabendo também que o trecho “Por quem os Sinos Dobram” influenciaria também o pensamento de um controverso e genial artista brasileiro, Raul Seixas, que batizou seu 9º álbum – e uma de suas canções – com esse título. Assim como Donne e Hemingway, o famoso roqueiro baiano também tinha, em toda a sua obra, uma dialética particular com a morte, o que fica explícito em “Canto Para a Minha Morte” que em resumo se destaca:
(“...vou te encontrar vestida de cetim/Pois em qualquer lugar esperas só por mim/E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,/mas tenho que encontrar ...”).
Com relação ao filme “Por Quem os Sinos Dobram” (For Whom the Bell Tolls), é do gênero aventura, drama e história, produzido nos Estados Unidos em 1943 e estreado em 28/04/1944. A sinopse do filme retrata fatos da Guerra Civil da Espanha, nos anos 30 do século passado, onde o idealista Robert Jordan (Gary Cooper) se engaja no conflito para defender os princípios de liberdade e democracia, e que em uma missão de altíssimo risco, ele aguarda o melhor momento de explodir uma ponte de importância vital para as tropas inimigas. Neste cenário de idealismos e tensões quase insuportáveis, a mística Pilar, líder das forças da resistência civil, encoraja a bela e jovem Maria (Ingrid Bergman) a ajudar Robert em sua missão. Durante uma noite debaixo das estrelas, o medo da morte e a possibilidade do amor caminham lado a lado, em pleno horror da guerra.
Consultando a sinopse desse filme no Google, dirigi-me o mais rápido possível para uma locadora próxima a minha casa e, para meu desapontamento, me informaram não dispor de tal película. Então, recorri ao meu genro Gilson que gentilmente baixou e gravou referido filme pela Internet. Assistir ao filme “Por Quem os Sinos Dobram” foi meu divertimento principal do final de semana. Não me arrependi. O filme é fantástico. Um dos melhores que já vi, embora este tenha sido produzido em Tecnicolor.
Em suma: depois que li a crônica “Sinos da Minha Aldeia” não é que tive a felicidade de assistir a um grande clássico do cinema internacional! 

* Chico Acoram é Contador, Funcionário Público Federal, contista e poeta.






sexta-feira, 15 de maio de 2015

Fotos comparativas: O novo e o velho PK

          Recentemente estive em Presidente Dutra e me ocorreu fazer algumas fotografias de específicos pontos da cidade. O primeiro pensamento que me ocorreu foi no sentido de guardar essas fotos para a posteridade e, depois, fazer comparação com fotos futuramente feitas desses mesmos locais. Depois, pensando melhor, veio-me a pergunta: por que não compará-las também com as fotos antigas que eu disponho e apresentar para os seguidores do Blog Folhas Avulsa? 
          As primeiras fotos seriam feitas da torre da igreja de São Sebastião, logo pensei também. Imediatamente recorri ao amigo Carlos Magno, grande apreciador e cultuador das coisas do Curador, para subir até o alto da torre, pois não me acho mais em condições físicas apropriadas para tal aventura. Se subir naquela torre quando criança já foi uma coisa difícil, imaginei que agora seria impossível. Ainda mais depois de ser alertado pelo Pe. Charles sobre a presença de enxames de abelhas lá nas alturas.  Vesti-me do meu egoísmo habitual e passei a bola para o amigo.
          O resultado foi espetacular. Vamos publicar estas fotos a conta-gotas e alternadamente para a apreciação dos amigos deste blog. 
          Primeiramente um comparativo com a foto panorâmica feita no início da década de cinquenta. Comparem e veja a diferença com a panorâmica de agora.
 


Fotógrafo: Carlos Magno - abril de 2015

Acervo do IBGE- início da década de 50.

terça-feira, 12 de maio de 2015

O Polêmico Mercado Municipal


           Poucos dias atrás tivemos uma polêmica exacerbada sobre a situação em que o velho mercado municipal se encontra. O debate começou interessante, com pontos de vista pro e contra uma reforma no espaço em que está localizado aquele importante estabelecimento público. Depois, como acontece sempre, a discussão enveredou para as questões políticas, e logo começaram as trocas de acusação sobre quem era culpado ou não pelo aspecto vexaminoso em que se acha este importante e bem localizado espaço comercial da nossa cidade.
          Diante disto, e com o propósito único de ajudar no debate, publicamos hoje duas fotografias sobre o local em questão: uma feita nos anos setenta, e outra bem recente, agora do final do mês de abril deste. 




          A importância deste local para centenas de famílias que retiram dali o seu sustento é inquestionável. E qualquer reforma que se queira fazer no local deverá mexer e tirar o sono desse grande contingente de pessoas, pelo menos durante o tempo necessário à conclusão da obra. A questão que fica para discussão é a seguinte: estamos sendo justos com o restante da população, com a cidade, e, de resto, com as pessoas que trabalham no mercado e seu entorno, mantendo este espaço comercial tão importante neste estado de completo abandono e promiscuidade?
          Em Teresina aconteceu algo parecido e que pode servir para ajudar um pouco na discussão. As ruas do centro da cidade estavam apinhadas de camelôs, enfeando a cidade e provocando transtorno em quem precisava se deslocar ao centro para resolver algum negócio. Quando houve a decisão de remover aqueles comerciantes informais de lá, acendeu-se grande debate em meio à sociedade, dividindo-se as opiniões em contra e a favor da mudança. O prefeito apresentou o plano de construção de um shopping popular para abrigar aqueles comerciantes de rua e, depois de muitas discussões com os representantes dos camelôs, o plano foi aprovado e o empreendimento construído. Hoje seria impensável a cidade sem o Shopping da Cidade, como aquele espaço comercial passou a ser chamado. Por outro lado, as ruas do centro da cidade voltaram a ser de todos, facilitando o acesso de quem procura aquela região para resolver algum negócio ou mesmo comprar no comercio formal.
          Com uma coisa acredito que todos concordam: é preciso fazer algo urgentemente. O ministério público deve voltar os olhos para este local e impedir que nesse logradouro público se faça construções irregulares e permanentes, e até mesmo casas residenciais, como hoje acontece. A cidade agradeceria se o espaço do velho mercado municipal fosse transformado em algo atraente e convidativo a um passeio saudável.
                 




sexta-feira, 8 de maio de 2015

Feliz Dia das Mães



"Quando Eu For Pequeno"*

Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.

Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.

Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.

 
Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.


Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou
                                                       [pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.


*José Jorge Letria é poeta português.