quinta-feira, 24 de outubro de 2019

MUTIRÃO DO BEM







José Pedro Araújo


Talvez tenha que esclarecer o significado da palavra acima, sobretudo para os mais jovens e pouco afeitos às coisas do interior. Podem alguns até achar que esse termo já saiu há muito do hinterland e chegou às cidades, sendo até comum o seu uso em conferências ou coisa que o valha. Mesmo assim, vou pôr em prática a minha teimosia e dizer que o Dicionário Aurélio o define como sendo “Auxílio gratuito, que prestam uns aos outros os lavradores”. Paro por aqui, pois este é o verdadeiro sentido que quero explorar com o vocábulo.
Hoje cedo acordei com essa palavra a ribombar na minha mente. Mais que isto. Acordei com as lembranças dessa prática entre os mais humildes. Tudo porque vi a minha vizinha fazendo reparos no telhado da sua casa. Reparos que durou muitos dias, e que me causou uma aflição verdadeira quando vi que uma chuva torrencial começa a cair e flagrava a sua casa destelhada em alguns pontos. E eu não pude fazer nada para oferecer a minha ajuda. Em primeiro lugar, porque não havia ninguém na dita residência. Estavam todos viajando para o litoral. Depois, por não saber fazer nada que diga respeito ao ato de retelhar uma casa. E por fim, por não conseguir mesmo subir naquele telhado. Já não me acho mais em condições disso.
Antes de prosseguir com essa conversa, devo dizer para os mais preocupados, que os estragos oferecidos pela chuva não foram tão grandes assim. A laje suportou bem e reteve a água que caiu naquela noite.  Mas, mesmo assim, fiquei incomodado em ver que o trabalho de reparo prosseguiu lentamente por alguns dias ainda. Menos mal que a chuva que veio no dia seguinte foi bem rápida e muito mais moderada. E que tudo terminou bem, afinal. Mas aquela situação permaneceu na minha mente por algum tempo ainda. A ponto de me lembrar dos mutirões que presenciei no meu interior para a cobertura das casas simples de muitos moradores.
Lá, a prática é adotada com muita frequência. Ou era, não sei mais. Não tenho mais notícia. Mas, acredito que em alguns locais, ainda seja praticada com muita frequência. E o evento termina se transformando em um momento festivo, alegre.
Na minha terra, quando se aproxima o período das chuvas torrenciais, aí pelo mês de dezembro, as pessoas costumam fazer reparos nos telhados de suas casas para evitarem goteiras ou coisas que o valha. Quem possui casa com cobertura de telha cerâmica, sobe lá e substitui as que estão quebradas ou rearruma as que estão afastadas do lugar correto. Para quem possui casa coberta de palha (e são muito ainda, sobretudo nos povoados), o trabalho é maior. Precisam, na maioria das vezes, trocar todas as palhas da cobertura. E é aí que entra a figura do mutirão.
Com o material já preparado antecipadamente, um grupo de pessoas se junta para realizar o trabalho com a maior presteza, pois a casa não pode permanecer descoberta por muito tempo. Esse tipo de moradia não possui laje ou mesmo forro que possa reter os raios solares, ou mesmo a água da chuva. Daí a rapidez que precisam serem recobertas. E é nesse momento que, enquanto uns se postam no teto, outros ficam em baixo para arremessar as palhas. É tudo feito com a maior alegria e desprendimento, de forma que, em um período curto de tempo, todo o serviço de retirada das palhas velhas, e a sua troca por outras novas, é feito. Terminada a operação, todos se juntam para comer uma galinha caipira, ou mesmo beber algumas doses de cachaça da terra. O que era trabalho para alguns dias, termina sendo feito em uma tarde, às vezes.
O mesmo acontece nas roças. Ou na colheita do arroz, do feijão ou do milho.  O ritual é o mesmo. E o proprietário da casa ou do roçado, fica devendo um dia de mutirão para cada uma daquelas pessoas que participaram do seu ajuntamento. Em breve terá a oportunidade de pagar a sua dívida.
E é feito também na conservação de estradas vicinais, já cansados da espera pelo poder público que nunca chega (nesse caso ninguém fica devendo o dia de serviço para ninguém, visto terem trabalho em prol do interesse comum), nas farinhadas, e até mesmo nos trabalhos de queimada e aceiramento quando da preparação do terreno para nova roça.
Ultimamente tenho visto o emprego desse tipo de ação também nas cidades. Como por exemplo está acontecendo no presente momento para a limpeza das praias nordestinas depois do criminoso derramamento de óleo. Em todos os estados, grupos de pessoas estão trabalhando em conjunto para evitar que o dano ambiental seja maior ainda. É um exemplo que precisa ser seguido por todos em outros tipos de catástrofes. Como quando cai um prédio, como ocorreu agora recentemente em Fortaleza, no Ceará. Ou nas queimadas (também criminosas, ocorridas na Amazônia).
Até mesmo na religião esse tipo de ação vem sendo adotado. Certa vez fiquei sabendo a respeito de um grupo de jovens estudantes americanos ligados à Igreja Cristã Evangélica, haviam desembarcado no Maranhão para realizarem mutirões de reforma e construção nas casas de uma comunidade muito pobre da capital. Aqueles universitários usariam dos conhecimentos obtidos em suas universidades para porem em prática de um jeito louvável. E todo o material era adquiro também com recursos dos seus próprios bolsos, não gastariam apenas o tempo de descanso das suas férias escolares. Um belo tipo de mutirão.
O fato, é que esse tipo de ação denota que o ser humano ainda age prontamente para defender o próximo, ou a uma causa comum, quando a situação se apresenta. E isso só denota que nem tudo está perdido. O exemplo dos mutirões em defesa da vida, que são adotados na África, por exemplo, é algo que enobrece o ser humano e o eleva ao patamar mais elevado na escala dos animais criados na natureza.
Precisamos adotar isso também nas nossas cidades em relação à limpeza dos nossos rios, ruas e praias. Somente o fato de se deixar de jogar lixo pelas ruas da sua comunidade, já é uma forma de ação coletiva de grande impacto. Os governos também devem fazer a sua parte. Se deixarem de jogar o esgoto dentro dos rios Parnaíba e Poti, já estarão fazendo um grande trabalho para a posteridade. E essa também poderia ser um trabalho coletivo deflagrado pelos governos federal, estadual e municipal. Seria o mutirão do bem!
Pensando bem, como estamos no final de outubro, nesse momento muitas pessoas já devem está correndo pelos babaçuais em busca de palha nova para realizarem os seus mutirões. E nos chiqueiros, os frangos e os suínos já estão sendo engordados para a festança em que tudo acaba se transformando. A pior parte dessa história sempre sobra para eles!
E eu, que não posso contar com nenhum mutirão para fazer o retelhamento da minha casa, já estou passando da hora de ir atrás de um profissional para fazer isso por mim. Afinal, as nuvens já estão se agrupando no céu e não tardarão a chegar por aqui. Vejo alguns nimbos no horizonte. Elas nunca falham, e atestam benfazejas chuvas à mãos cheias! Que venham logo, pois o calor está terrível!


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

TEM UM POTE DE OURO NO ARCO-IRÍS




José Ribamar de Barros Nunes*

Li essa informação num artigo de Armínio Fraga, famoso economista, Ex-presidente do Banco Central do Brasil. Gostei, apesar de não possuir conhecimentos econômicos suficientes e nem experiência política para entender e compreender assunto tão complicado.
Ele fala das desigualdades sociais e das ações para transformar o Brasil num país rico e feliz. O tema me parece interessante, difícil, enigmático, quase misterioso. O tal pote de ouro existe, porém, é complicado e trabalhoso chegar lá, segundo reconhece o conceituado mestre.
Como testemunha ocular da história, tenho minha opinião e minha previsão. Apesar da bestialidade do ser humano, reconhecida por gênios como Stephen Hawking e Einstein, sou otimista e acredito na conquista planetária, espacial e até cósmica. Quanto ao arco-íris e ao pote de ouro, não tenho convicção nem muito menos conclusão.
Como em outros casos e assuntos, quedo-me, estático, estático, mudo, inerte, inerme, quase agnóstico, sem ter para quem apelar...

(*) José Ribamar de Barros Nunes, Cronista, Assessor Parlamentar Aposentado, é autor de “313 Crônicas Seletas”.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

FELIZ DIA DO MESTRE


                      MINHA PRIMEIRA PROFESSORA, MEU PRIMEIRO AMOR!


(Jean Carlos Gonçalves) *

Muito obrigado, tia Conceição porque:
"Deu vida ao quadro escuro
Desenhou fantásticas paisagens
Fez da lousa um encantado portal
Para um mundo mágico
Mas inteiramente real."
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Uma manhã ensolarada,
Um portão aberto para o caminho
Uma sala que o alarga
Um rígido banco que assiste
 
Uma afetuosa acolhida

Na força do verbo com doçura
No texto delicadamente gravado
Na ternura dos orquestrados gestos
No afago das mãos inspiradas
Na singeleza da grandeza de alma


Negra tia Ceição
A Conceição, a Concebida
Da cátedra da anunciação
De história imaculada
Gentil heroína da Educação


Fez a minha vida infanta
Com o carinho e lápis
Inscreveu na folha branca
Com a nitidez do contraste das cores
As virtudes na primeira infância


Deu vida ao quadro escuro
Desenhou fantásticas paisagens
Fez da lousa um encantado portal
Para um mundo mágico
Mas inteiramente real.


(*) Jean Carlos Gonçalves, é professor, historiador e poeta.