domingo, 27 de fevereiro de 2022

Não adianta ficar Putin

Máscara do Carnaval da Guerra(Rep. Dominicana)

 

 Luiz Thadeu Nunes e Silva(*)

É carnaval, pelo menos era pra ser, segundo o calendário gregoriano que nos rege.

O Carnaval foi trazido ao Brasil pelos colonizadores portugueses entre os séculos XVI e XVII, manifestando-se inicialmente por meio do “entrudo”, uma brincadeira popular. Com o passar do tempo, o Carnaval foi adquirindo outras formas de se manifestar, como o baile de máscaras. O surgimento das sociedades carnavalescas contribuiu para a popularização da festa entre as camadas pobres.

A partir do século XX, a popularização da festa contribuiu para o surgimento do samba, estilo musical muito influenciado pela cultura africana, e do desfile das escolas de samba, evento que acabou sendo oficializado com apoio governamental. Nesse período, o Carnaval assumiu a sua posição de maior festa popular do Brasil.

Por causa da pandemia, este ano não teremos as festas momescas, no país que é o país da alegria, da esbórnia, do desbunde. Um país onde “não existe pecado do lado do equador”, onde tudo termina em samba.

Não podemos colocar o bloco não rua, pelo menos não deveríamos, ensina o bom senso, o coronavírus e suas variantes estão aí a sambar em nossa cara: lépido, livre, leve, solto e letal, maltratando uns, matando outros.

A variante ômicron, de transmissão mais rápida, chegou até a inexpugnável rainha da Inglaterra, Elizabeth II, 95 anos, 70 anos de reinado, a mais longeva monarca do mundo; e também em Paulo Salim Maluf, 90 anos, internado em SP, com covid-19. Então, caro leitor, amiga leitora, ninguém escapa desse flagelo, se ainda não chegou a sua vez, não tardará. As autoridades de saúde já estão falando em quarta dose de vacinação, na esperança de barrar o coronavírus.

Representantes dos setores de Saúde e do Turismo alertaram para o risco de agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil caso sejam realizados os festejos de Carnaval em 2022. O tema foi debatido em audiência pública da Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados. A recomendação dos especialistas é que não se relaxe com os protocolos, as precauções devem ser mantidas, principalmente pela natureza dessa comemoração, que dificulta o cumprimento de medidas sanitárias de distanciamento social e uso de máscara. “A gente sabe que o Carnaval é uma festa de congregação, de aproximação entre as pessoas”.

Segundo a Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape), a retomada das festas de casamento e formaturas, por exemplo, com rígidos protocolos de controle sanitário, foram importantes para a retomada da economia.

Todo cuidado é pouco, por não se levar em consideração os alertas dos agentes de saúde, logo após o carnaval de 2020, primeiro ano da pandemia, o número de óbitos por causa da Covid-19 foi enorme.

Se estamos “putin” por que estamos em casa, sem poder cair na esbórnia, beber todas, ir atrás do trio elétrico, extravasar toda alegria reprimida, pense nos ucranianos e ucranianas, que estão no centro do fogo cruzado de um exército poderoso e inclemente como o russo, para satisfazer um capricho de um czar insaciável pelo poder.

Triste e deprimente assistir pela TV, sentado no sofá da casa, bombas sendo despejadas sobre civis indefesos de um lindo país, a Ucrânia, que tive o prazer de visitar em 2018.

Mal demos um suspiro de alívio com o incipiente recuo da variante Ômicron, a sandice da invasão da Ucrânia pela Rússia veio tirar nosso sossego. O conflito no norte da Europa, embora pareça distante, vai afetar a economia brasileira -o preço do petróleo e do gás já aumentaram, assim como a cotação do dólar e das comodities.

Era para ser carnaval, mas, pelo segundo ano seguido, temos carnaval sem carnaval. Vamos —quem sobreviver— demorar muito tempo para nos curar dos efeitos trágicos da ausência de alegria explosiva/criativa das aglomerações nas ruas. Somos sobreviventes de um mundo louco; temos que ser gratos à Deus por morarmos longe do autocrata Vladimir Putin. Enquanto escrevo vejo pela TV o soar de sirenes, a população ucraniana se escondendo do arsenal bélico russo.

Senhor Deus tenha piedade daquele povo.

(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes.