quinta-feira, 28 de junho de 2018

De Curador a Presidente Dutra – Mais de um século de existência

Arte: Carol Araújo - Foto col. Adonias Soares


José Pedro Araújo
Minha avó costumava repetir como um mantra uma frase que nunca me saiu da cabeça: “meu filho, quando cheguei para morar no Curador, havia aqui apenas dezessete casas construídas. Todas de palha”. Saudosa, se referia a sua vinda de Pedreiras para a região do Curador acompanhando os pais que se estabeleceram no alto onde mais tarde se formaria o largo de São Bento, no começo, depois Praça São Sebastião. Contava apenas nove anos de idade na época. O período a que ela se referia era fins do século XIX, início do XX. A afirmativa, que se repetia com alguma assiduidade, vinha em razão das dimensões que a cidade havia adquirido, na sua percepção, passando de um reles povoado de rudes choupanas de palha, encravado no mais profundo da mata maranhense, ao que agora considerava uma quase metrópole. Dona Zezé viveu abraçada com as suas lembranças até o seu centésimo ano de vida, e fez do Curador a sua morada definitiva na terra.
Quanto ao seu pai, José Nunes, piauiense que chegou à região advindo da ribeira do Mearim, tocando umas poucas cabeças de gado, encontrou  a terra prometida e nela se fixou até que um contratempo o fez retornar para Pedreiras. Nunca me ocorreu perguntar à dona Zezé os nomes dessas poucas pessoas que aqui encontrou quando chegou. Lamento isso, porque seriam essas as verdadeiras fundadoras da povoação que convencionaram chamar CURADOR.
Não restam dúvidas de que os homens e mulheres que vieram para cá para construir essa cidade, tal qual hoje a conhecemos, fizeram um trabalho de gigantes. Se imaginarmos que as pessoas que se estabeleceram na região assentaram as primeiras forquilhas na terra provavelmente antes de 1890, lá se vão bons 128 anos. E fizeram todo o trabalho praticamente sozinhos, vez que não se estabeleceram, como na maioria das cidades mais antigas do nordeste, à sombra de alguma igreja ou capela, no perímetro de alguma portentosa fazenda de criação de gado. O Curador não. O primeiro que por aqui resolveu se estabelecer, alguém que logo os viajantes que passavam convencionaram chamar Curador(ou Curandeiro), ergueu o seu barraco nas margens de uma lagoa piscosa, e deu nome à povoação. O seu apelido. E depois desapareceu sem deixa nenhum registro.
Mas o local já estava conhecido pelas pessoas que vinham em busca de cuidados para algum mal do corpo ou da mente. Virara ponto de atração. E os que buscavam tratamento, observaram também que não havia terra melhor do aquela para assentar alguma fazendinha de gado ou jogar sementes no chão com a certeza de colheita farta. Terra já livre de silvícolas e desembaraçada legalmente, posto não existir um dono para reclamar a sua titularidade, um sesmeiro que afirmasse ser seu único e verdadeiro proprietário.
 Assim se formou a comunidade que se transformou na cidade mais importante da região conhecida como Japão. Precisamos fazer justiça a esses homens e mulheres e esquecer a história criada por uma mente estranha à região que precisava registrar algo na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros do IBGE. E assim inventaram a história dos cunhados que vieram de Codó através de trilhas de caça e se estabeleceram nas brejeiras de São Bento, São Joaquim do do Caxixi e Corrente. Até mesmo o site da prefeitura municipal traz essa história pouco verossímil, com o título “Nossa História”. Nenhum desses lugares acima assinalados fica na região onde, de fato, a vila do Curador foi erguida. E nenhum deles pertence ao território de Presidente Dutra. Se os tais cunhados não se estabeleceram na região, por que insistir com isso? Precisamos acabar com essa falácia e por cobro a essa inverdade, ressuscitando o que os mais antigos contavam como sendo a verdadeira história de fundação do Curador.
Ao mesmo tempo em que nos rejubilamos com o desenvolvimento da cidade, entristecemo-nos, na mesma medida, com suas mazelas sociais, e com tudo de ruim que se abateu sobre essa terra de promissão, criando nela uma pirâmide social excessivamente achatada na sua base. Um lugar só é completamente feliz quando oferece as mesmas possibilidades de sobrevivência para todos. E esse não é o nosso caso, como também não o é do nosso estado e, finalmente, o do nosso país.
Mas, mesmo assim, temos muito a comemorar nesse dia 28 de junho, dia em que a cidade completa 74 anos de emancipação política. Precisam-se gastar os anos futuros na melhoria do padrão de vida de todos, trabalhar por um lugar onde a paz, a concórdia e a riqueza sejam equitativas a todos. Parabéns, Presidente Dutra, minha terra querida!

sexta-feira, 22 de junho de 2018

CRÔNICAS VIVIDAS – MAIOR EVENTO DO MUNDO

Imagem extraída do Google


José Ribamar de Barros Nunes*

No mundo digital em que vivemos os acontecimentos chegam, instantaneamente, a todos os cantos. Uns digitam e digitalizam mais que outros e atingem o universo em segundos e o sacodem literalmente.
No contexto geral dos eventos, sem dúvida, o esporte domina e predomina sobre todos. No contexto esportivo o futebol, inventado pelos ingleses, reina soberano. Os aficionados e fanáticos agem e agitam as arenas, os estádios e as peladas. Talvez se possa afirmar, exagerando um pouco, que o homem é um animal que joga futebol, destacando que as mulheres não ficam atrás.
Certamente, considerando o tempo, as Olimpíadas sobrepujam o futebol, porém, sob qualquer outro prisma, ele se impõe. É inegável que o mundo se rejubila, quando a FIFA proclama os países e as datas escolhidos para a realização da Copa do Mundo, o que se verifica de quatro em quatro anos.
Em todas as áreas e em todas as atividades a Copa atua e repercute profundamente. Não me arrisco a dizer em qual delas a dimensão é maior, mais palpável e mais visível. Logística, mídia, economia, turismo e intercâmbio agitam e movimentam os indivíduos e as nações.
E a próxima Copa, maior evento esportivo do mundo, terá o dobro de seleções, sessenta e quatro. Talvez tudo se dobre e se multiplique também... É esperar pra ver.

(*)José Ribamar de Barros Nunes é autor de “Duzentas Crônicas Vividas”.

e-mail: RNPI13@hotmail.com

sexta-feira, 15 de junho de 2018

O DIA EM QUE GARRINCHA DRIBLOU ATÉ A COMISSÃO DE ARBITRAGEM.



José Pedro Araújo

Algumas histórias, ou acontecimentos, ocorridos durante as vinte Copas do Mundo de Futebol jogadas até agora, muitas vezes são tão gostosas de contar quanto um gol de mão e no último minuto da prorrogação. Algumas delas, pelo ineditismo, merecem constar nos livros de história sobre o futebol mundial com muita ênfase. Como a que ocorreu com o craque brasileiro Garrincha durante a Copa do Mundo no Chile em 1962. O caso Sui Generis ocorreu mais ou menos assim:
No jogo disputado entre o Brasil e o Chile pelas semifinais do mundial de 1962, a seleção brasileira estava sem Pelé, mas contava com o craque de pernas tortas Mané Garrincha no seu melhor momento. Endiabrado como nunca, nesse dia o maior driblador da história do futebol mundial já vinha sendo caçado pelo jogador chileno Eladio Rojas desde o começo da partida, tudo sob as vistas coniventes do árbitro peruano Arturo Yamasaki. Mesmo assim, o craque brasileiro já balançara as redes adversárias por duas vezes até aquele instante.
Por outro lado, nem os gols já marcados por Garrincha foram motivo para o chileno o tratar com respeito devido à sua genialidade ou, pelo menos, parasse de tratá-lo com tanta truculência e saboreasse a oportunidade que tinha de enfrentar um dos maiores da história. Lembre-se que naquele tempo não existia ainda a figura do cartão amarelo ou do vermelho. Ficava tudo na admoestação verbal, o que, como no caso aqui narrado, fazia com que nunca se soubesse o que ia pela cabeça do árbitro do jogo.
Cansado de tanto apanhar em campo, bordoadas cumuladas com diversas cuspidas acintosas no rosto, tudo sob o olhar complacente do árbitro peruano, Garrincha não suportou o assédio violento do adversário e, a certa altura do jogo, revidou à altura a uma entrada recebida. Incontinente, o juiz Yamasaki o expulsou de campo. Para a torcida, e para os demais que assistiam ao jogo, foi de uma deslealdade gritante o fato do juiz ter punido justamente a vítima naquela refrega, posto que tivesse sido o nosso craque acossado violentamente de todas as formas dentro de campo pelo seu adversário. Já sem Pelé para partida final contra a Tchecoslováquia, o Brasil perderia mais um dos seus principais jogadores para aquela partida. Perderia, contudo, muito mais, a torcida, além dos patrocinadores daquela copa, com aquele gesto tresloucado do árbitro.
Foi quando entrou em campo o chefe da delegação brasileira naquela copa, o Dr. Paulo Machado de Carvalho, mais tarde chamado de “Marechal da Vitória”. Empresário bem sucedido e acostumado ao trabalho de bastidores da política, sobretudo quando era para defender seus interesses, ou de qualquer instituição sob a sua responsabilidade, apelou ele a uma figura que tinha uma certa influência na comissão de arbitragem para aquela copa, o também brasileiro João Etzel Filho. Foi em busca de uma solução para o problema que desagradava a todos. E foi ai que também entrou no jogo que não acabara até então outra figura importante da partida contra o Chile: o auxiliar de arbitragem uruguaio Esteban Marino.
O auxiliar uruguaio, exatamente por atuar durante a partida como bandeirinha, precisava assinar, juntamente com o juiz do jogo, além do outro bandeira, a súmula do jogo que seria encaminhada para comissão de arbitragem. Mas o uruguaio Esteban deixou Santiago incógnito, desapareceu, virou fumaça, sem concluir a sua obrigação. Sem isso, a súmula do jogo perderia a sua validade, e a expulsão do jogador brasileiro ficaria sem efeito. E logo as versões mais desencontradas ganhariam o mundo e virariam fofoca no meio futebolístico. Alguns afirmavam até que a Confederação Brasileira de Futebol, a CBD, havia desembolsado cerca de 15.000,00 dólares para fazer com que o bandeirinha sumisse sem assinar a bendita súmula, antecipando o seu retorno para casa. Mas outros diziam que não fora tanto dinheiro assim, que o auxiliar do árbitro Yamasaki se contentou com bem menos, apenas e tão somente U$ 5.000,00, para escafeder-se e esquecer de assinar o documento que teria importância vital na escalação da seleção do Brasil para o jogo seguinte.
A verdade é que todo mundo trabalhou no sentido de que aquela expulsão injusta não prejudicasse o espetáculo que seria realizado dai a quatro dias. A imprensa não mencionou a expulsão do craque; os organizadores da copa não gastaram um só minuto para encontra o bandeirinha desaparecido; e até mesmo a direção da seleção adversária, a Tchecoslováquia, intercedeu para que o jogador brasileiro estivesse em campo para enriquecer o espetáculo.
E assim todos saíram ganhando com mais uma jogada genial do craque Garrincha, escolhido o melhor jogador do mundial após o Brasil bater a Tchecoslováquia na final, no Estádio Nacional do Chile, pelo placar de 3x1. O que de fato ocorreu nunca ninguém ficou sabendo, mas virou história. Sem a emoção que envolveu o caso naquele instante após a expulsão injusta do brasileiro, e sem se levar em conta a importância que teria para a aquela final a presença de um craque fenomenal como Garrincha em campo, o fato constituiu-se apenas em mais uma patuscada cometida pelos homens que controlam o futebol mundial. Hoje se costuma julgar com muita severidade fatos ocorridos no passado sem se levar em conta os principais componentes que enfeixavam as porfias travadas.
Mas, para muitos, o que aconteceu naqueles distantes dias foi que, mesmo transitando-se por caminhos tortuosos, acabou-se por se fazer justiça, decisão aprovada e sacramentada pelos deuses do futebol que nem sempre estão alerta ao que acontece dentro das quatro linhas, a ponto de deixar sempre que as injustiças transitem à larga pelos campos de jogo. Bom para o Brasil que conquistou o seu segundo caneco ao impingir uma derrota por 3x1 sobre os Tchecos e os Eslovacos, por aquela época ainda jogando juntos, defendendo a mesma bandeira e envergando a mesma camisa. Histórias do futebol!


terça-feira, 12 de junho de 2018

História de Presidente Dutra - DE DISTRITO A CIDADE DE CURADOR(Parte 16¨)


A maioridade - O mundo vivia a fase mais cruenta da 2ª Grande Guerra Mundial e o Brasil preparava seus pracinhas para enviá-los ao teatro onde se desenrolava o maior conflito já presenciado pela humanidade, quando aqui aconteceu o fato que iria mudar os destinos do nosso Curador: sua elevação à condição de novo município maranhense.
O ano de 1943 já exalava seus últimos suspiros quando em 30 de dezembro o interventor do estado, Dr. Paulo Martins de Sousa Ramos, assinou o Decreto-Lei 820/43, elevando à condição de município o distrito de Curador. Chegava quase ao fim uma luta de muitos anos em prol desta causa que tantos anseios haviam causado aos nossos munícipes. Um reconhecimento de que finalmente havíamos chegado à maioridade, e já podíamos caminhar com as nossas próprias pernas.
Não é fácil para uma povoação se desligar do município-mãe. Via de regra, este lança mão de todos os meios possíveis para não perder uma fatia do seu território, e, consequentemente, parte do seu eleitorado e dos repasses de recursos financeiros. Perder um povoado importante, muitas vezes significa a estagnação, a perda de prestígio, a redução das rendas públicas, enfim.
Às vezes acontece da cidade remanescente perder para a filha recém-emancipada a condição de cidade mais importante da região, fato que atrapalha sobremaneira o seu desenvolvimento. São inúmeros os casos acontecidos no nosso Estado que demonstram a veracidade da afirmação acima. Veja-se o caso de Pastos Bons, município do qual foram subtraídos todos os demais localizados a oeste e ao sul, como Imperatriz, Balsas, Grajaú, Carolina, Barra do Corda e o próprio município de Presidente Dutra. Somente há poucos anos, com o advento do cultivo da soja para exportação, a região voltou novamente a crescer, após ter passado anos paralisado no mais completo subdesenvolvimento. 
A mesma coisa aconteceu com outros importantes municípios. A medida que foram perdendo parte do seu território, viram surgir dessa divisão outros que logo tomariam o seu lugar como polo regional.
É revelador o fato de apesar do decreto-lei de criação do novo município ter sido assinado em 30 de dezembro de 1943, mas que somente em 28 de junho de 1944, seis meses depois, deu-se oficialmente a sua elevação. A historiografia relata que para a solenidade de criação do município de Curador, foi enviado o Sr. Raimundo Ferreira de Sousa, secretário da Prefeitura de Vargem Grande, para, como representante do senhor governador do Estado do Maranhão, presidir a solenidade de instalação do novo município. Qual a importância desse senhor? Não havia nenhum secretario de estado disponível para substituir o interventor Paulo Ramos?
Homem de confiança do interventor federal, o Prefeito de Barra do Corda Jamil de Miranda Gedeon também estava presente ao festivo evento.  E por que foi enviado um simples secretário municipal de uma cidade distante da nossa para presidir os trabalhos de instalação, quando em Barra do Corda existiam alguns políticos importantes e com bastante prestígio junto ao governo de Paulo Ramos? São perguntas que merecem um maior aprofundamento para serem respondidas.
Assim, o distrito de Curador para se tornar município demandou uma luta tenaz envolvendo seus humildes cidadãos contra personalidades importantes do meio político maranhense, a maioria originária de Barra do Corda, que sempre contou com uma representação poderosa na casa legislativa do Maranhão. Além destes, muitas outras autoridades que ocupavam cargos de destaque no executivo e no judiciário, lutaram para que a divisão não ocorresse. A disputa foi travada nos bastidores, mantendo-se a elegância dos cavalheiros, mas, ao mesmo tempo, o jogo bruto dos gladiadores. Tudo debalde, pois o futuro se encarregaria de mostrar que Barra do Corda não precisava de Presidente Dutra para se colocar entre os maiores municípios do território maranhense.
Para nós, contudo, foi a deixa que precisávamos. Logo vieram os repasses das verbas públicas para a edificação de escolas, postos de saúde e a abertura de estradas, possibilitando a criação de empregos e ofertando serviços de melhor qualidade aos moradores da florescente cidade.
Em 1943 governava o Maranhão o interventor Paulo Martins de Sousa Ramos, como já foi dito acima, amigo e ex-membro da equipe de governo de Getúlio Vargas. Esse benemérito, que foi imortalizado dando-se seu nome a uma importante rua em nossa cidade, e que antes ostentava o belíssimo nome de rua do Sol, ficaria no cargo até o fim do Estado Novo e a ascensão do Marechal  Eurico Gaspar Dutra como novo Presidente da República, eleito que fora através do sufrágio popular.
A história do Maranhão relata a forma como Getúlio Vargas nomearia o Dr. Paulo Ramos para interventor do Maranhão, escolhendo-o de sua própria equipe de trabalho para por fim a um conturbado clima de disputa instalado no estado, que somente no período inicial do seu governo teria como dirigentes máximos no Estado o Dr. Reis Perdigão, o Major Luso Torres, o Padre Astolfo Serra, o Capitão Lourival Serôa da Mota, o Sr. Álvaro Jansen Saldanha, o Sr. Martins de Almeida, o Dr. Aquiles Farias Lisboa, o Dr. Humberto Carneiro Mendonça, e, finalmente, o Dr. Paulo Martins de Sousa Ramos. Este último governaria o Maranhão por longos anos, iniciando seu mandato em 15 de agosto de 1936, e encerrando-o em outubro de 1945. Muito hábil, pacificaria o estado conflagrado, eliminando o clima de disputa interna entre os próprios aliados da ditadura Vargas.
E foi já no fim do seu longo período de governo, que um médico de nome Dr. Otávio Vieira Passos, na época residindo em Pedreiras, amigo pessoal do interventor Dr. Paulo Ramos, viajando de Barra do Corda para São Luís, passou pelo povoado de Curador, e inteirado-se da luta de seu povo para ver o distrito transformado em município, foi tomado do firme propósito de ajudá-los, intercedendo junto ao dirigente maior. É muito pouco provável que tenha sido somente isto que tenha ocorrido, diante do poder de pressão que os barracordenses tinham junto ao governo, em especial o ex-deputado Ismael Salomão. Político influente e com poder de mando em todo o sertão central, mesmo tendo perdido o mandato de deputado com o fechamento da Assembléia Legislativa, teria ele lutado para não permitir a subtração de parte do seu município, e logo a parte mais produtiva dele.
Assim, é razão muito mais provável, o fato do novo interventor de Barra do Corda ser um técnico apolítico, que antes fazia parte da equipe de governo do Dr. Paulo Ramos, como aconteceu com inúmeros outros administradores nomeados para dirigir o futuro de importantes municípios maranhenses. Esses técnicos de alto nível, muitas das vezes nem ao menos conheciam o local que logo iriam administrar. Tentava o governador com isto aliviar um pouco as tensões que existiam nos municípios em decorrência das disputadas escancaradas para ver quem mandava mais na política local. Depois, planejava ele nomear um grupo de interventores preocupados unicamente com o desenvolvimento local e sem entrar nas disputas políticas que tanto atrapalhavam o desenvolvimento do Estado do Maranhão, e, por via de conseqüência, trabalhariam pelo aumento da arrecadação dos dízimos públicos. Foi assim que escolheu o Sr. Jamil de Miranda Gedeon para administrar os destinos do florescente município de Barra do Corda no período de 1941 a 1945.
Esclarecedor ainda, é o fato do Dr. Paulo Ramos ter estado em visita a Barra do Corda exatamente no ano de 1943. Lá, certamente, planejou os atos que iriam ter grande repercussão entre nós, como os dois excepcionais feitos que o colocaram, em definitivo, no patamar dos grandes benfeitores da região, que foi a elevação do Distrito do Curador à categoria de município, e a criação da Colônia Agrícola Nacional de Barra do Corda.
Este último empreendimento viria mais tarde propiciar a construção das pontes de concreto sobre os rios Mearim e Corda, em 1947, e no rio Cigana, pouco depois. Foi o mote que faltava para se iniciar a construção da estrada carroçável entre aquela cidade e a de Presidente Dutra, magnífica obra que poria fim ao atraso de uma região esquecida, e ao sofrimento de tantos quantos fizeram esse trajeto em lombo de animal, ou mesmo a pé, durante longos e longos anos. Estava também iniciada a ligação da capital com a região do Tocantins.
Jamil Gedeon era um predestinado, e como bom administrador, viria se constituir no grande propulsor da economia da região, transpondo os obstáculos políticos locais e dando marcha ao progresso que chegaria nos anos seguintes. Oriundo de Coroatá fez o que era mais correto pensando unicamente no desenvolvimento da região por ele administrada. Passou para a posteridade com a instalação do novo município em 28.06.44, ocasião em que deu posse, temporariamente, até a nomeação do interventor efetivo, do primeiro administrador da cidade recém elevada, José Lúcio Bandeira de Melo.
José Lúcio Bandeira de Melo também era um técnico ligado à área de arrecadação de impostos, assim como Jamil Gedeon. Coletor Estadual, pertencia a uma família influente de Barra do Corda, e já exercia a função de Agente Distrital no Curador, passando pois a acumular as duas funções: coletor e interventor. Alerte-se que o cargo de Agente Distrital, de livre nomeação do prefeito, concedia poderes ao indicado de agir como delegado de polícia, assim também como de administrador do distrito.
São estas, portanto, as razões que levaram este autor a crer que estaria ai, na pessoa do Sr. Jamil de Miranda Gedeon, a figura de maior peso na criação do novo município. Administrador competente e sem maiores intenções políticas optou por promover o desenvolvimento da região, pensava também na possibilidade de aumento na arrecadação de impostos para o estado.
Não quero, com isso, tirar os méritos do nobre médico caxiense, Dr. Otávio Vieira Passos, que deve ter intercedido junto ao interventor estadual, somando esforços e viabilizando a concretização do sonho do povo sofrido do Curador. Com méritos inegáveis, entrou também para a história como um dos nossos beneméritos, merecedor de ocupar lugar de honra no panteão dos nossos heróis, e na memória do povo de Presidente Dutra.