quinta-feira, 30 de julho de 2020

OS PRIMEIROS EVANGÉLICOS DE BARRA DO CORDA.

 

Missionário Perrin Smith e D. Ana Smith

Álvaro Braga é cronista, historiador e membro da Academia Barra-Cordense de Letras.

 

Em 2011, na semana em que se comemorou os 100 anos da fundação das Igrejas Assembleia de Deus no Brasil, ocorrida em Belém do Pará a 18 de junho de 1911, pelo sueco Daniel Berg, juntamente com Gunnar Vingren e 18 crentes Batistas, passamos a pena no pergaminho da história e descortinamos para os dias atuais a grande luta do povo de Deus em terras cordinas, focalizando todas as igrejas evangélicas:

João Batista Pinheiro nasceu em 1850, na localidade Capim Pubo, pertencente à cidade de Icó, no Ceará, e ainda cedo é acometido de inchaços e erupções nas pernas, que é diagnosticado como uma doença conhecida como framboésia, também chamada de doença de bouba.

Seus irmãos são: José Batista, Istandislau, Romana, Constância e Joaquina.

Ainda muito jovem casa-se com uma bonita moça chamada Mariana, com quem tem os filhos José Pinheiro Batista e Azuba Pinheiro Batista.

Com o agravamento de sua saúde vai à Fortaleza e lá sofre várias amputações na perna direita e passa a esmolar para ganhar o seu sustento. A muleta que usava era toda esculpida com um canivete e ajudava a chamar a atenção para o seu problema.

Sua família que, havia ficado na cidade de Icó, sofre com o drama da estiagem e tem notícias de que o Maranhão oferece melhores condições de vida e formulam planos para a mudança.

Logo a família Pinheiro parte em difícil viagem e se localiza na região de Viana, em 1877. No ano seguinte partem para a região de Barra do Corda, que oferecia maiores atrativos para um recomeço de vida.

Certa vez, João Batista Pinheiro mendigava na praça do Ferreira, histórica praça do centro de Fortaleza, e escutou de um passante o seguinte: “Por que não vai ao Recife? Lá tem médico bom para esse negócio aí”.

Por que? Meditava ele sobre seus infortúnios. Esmolando vai a Recife no porão de um navio. Ao passar por uma igreja presbiteriana se depara e escuta pela primeira vez um pregador dizendo que Jesus Cristo, que pagou por nossos pecados na cruz do Calvário, era o único caminho para o céu. Daí em diante descobriu o Evangelho e passou a estudar a Bíblia. Era o ano de 1887 e por lá ficou cinco anos.

Como não melhorasse da saúde precária, João Batista Pinheiro toma um vapor para São Luís e lá tem a outra perna amputada.

Voltando à São Luís, em 1892, ajudado pelos missionários presbiterianos, George Butler e o reverendo D. William Thompson, aparece novamente o problema, dessa vez na perna esquerda, que, para tristeza de todos seus amigos, também é amputada.

A missionária Eva Mills no livro Em Lugar do Espinheiro, assim descreve o seu martírio:

“Ele aprendeu a locomover-se sobre uma tábua pequena com rodas. Protegia as mãos com pedaços de couro, e seus braços tiveram que se tornar suficientemente fortes para impulsionar o carrinho, também recoberto de couro e amarrado ao corpo desprovido de pernas”.

Recuperado e resignado, surge em João Batista a ideia de pregar para seus parentes em Barra do Corda e embarca em um batelão cheio de caixotes, engradados, sacos de sal bruto e muitos passageiros, conduzidos por uma lancha, que percorreu por duas semanas o rio Mearim com destino à Barra do Corda. Corria o ano da graça de 1893.

João veio numa rede armada no porão do batelão, enfrentando todas as dificuldades daquele percurso, como mosquitos e insetos de toda a espécie, o forte calor e a comida preparada com sal bruto nos panelões da embarcação. Com a valorosa ajuda dos passageiros e tripulantes conseguiu chegar à “Rainha do Interior”, que era como chamavam Barra do Corda naquela época.

Em Barra do Corda desembarca no porto da Sapucaia, onde o esperava o irmão Istandislau Batista Pinheiro, o Láu, que ao vê-lo sem pernas e sem nariz começa a chorar, sendo imediatamente repreendido por João Batista, que afirma estar muito feliz mesmo sem saúde.

Também vem recebê-lo no porto, vindo da Unha de Gato o outro irmão, José, que traz sua esposa Mariana e seus dois filhos.

João Batista fica morando com o irmão Láu e conta a todos que era crente e aí residia o motivo de sua felicidade. Sua esposa Mariana não gostou da notícia e nunca quis se converter.

Como ainda era novo, João teve com Mariana ainda mais três filhos, Tadon, Ezequias e Antônio Batista.

No início nada foi fácil. Ninguém queria saber das pregações daquele aleijado.

O ódio contra ele chegou a tal ponto que em certa noite, quando pregava a palavra em um largo no centro da cidade, um estranho se aproximou e tomou-lhe a Bíblia das mãos, queimando-a em seguida, juntamente com outras cinco Bíblias.

Em seguida foi apedrejado e pisoteado pelas patas de um cavalo de um vendedor de cachaça do sertão, visivelmente alcoolizado, que gritava: - Matem esse aleijado! C. de couro dos infernos!

Os crentes ficaram conhecidos pela alcunha de “c de couro” ou fundo de couro por muitos anos, graças a João Batista que andava se arrastando pelas ruas com o couro servindo de forro.

João Batista Pinheiro não esmorece e faz um pedido para que seus amigos no Maranhão (São Luís) lhe enviem algumas Bíblias com urgência. Logo chegam doze Bíblias, enviadas pelo reverendo William Thompson. Estas logo chegam e não mais lhes são arrancadas das mãos e ele pode semear a boa-nova, agora com mais tranquilidade, pois já havia adquirido das pessoas o respeito necessário a esse mister.

Assim, surge uma pequena igreja, que passa a chamar a atenção de todos pelo modo como se vestiam, com a limpeza das vestes, com os seus testemunhos e hinos de louvor.

João Batista gostava de cantar o hino número 235 de salmos e hinos. Um dia já com seu grupo formado, recebe a visita de seu amigo, o missionário D. William Thompson, vindo de Caxias.

A seis léguas do centro de Barra do Corda, na Lagoa da União, em 1901, três famílias de crentes: Dodô, Barros e Cassiano, compram terras, às margens do rio Flores e fundam uma colônia de pequenas fazendas, que os outros chamavam de Centro dos Protestantes. Um pastor que visitava o local o chamou de “O paraíso dos crentes”.

Por essa época o casal Antônio Silvério e Margarida Silvério Sousa, precursores da família Silvério em São José dos Pachecos, tiveram os filhos: Alvino Silvério, Maria Silvério, Enedina Silvério, José Silvério, Newton Silvério, Hilton Silvério, Doninha Silvério, Raimundo Silvério, Joana Silvério e Maria Rosa Silvério Sousa, que nasceu em 13/02/1922.

Maria Rosa era costureira e cedo abraçou a fé protestante, a exemplo de sua família. Casou com Nícero Elias de Sousa, nascido em 04/07/1911 e tiveram vários filhos dentre eles Marileide Silvério.


Por volta de 1908, Perrin Smith, que havia chegado à região de Grajaú para pregar o Evangelho em 1905, resolve casar com Ana Tavares Bastos, prima de Eunice Bastos Salomão.

Em 1911, o tempo passava e João Batista já doente, cego, surdo, sem nariz, deitado numa rede a relembrar o passado, costumava orar: “Pai, mande alguém de sua escolha, para ensinar a esses crentes a sua palavra, para que eles possam aprender a evangelizar, para engrandecer mais o seu nome, amém”.

João recolhe-se à casa de uma filha. Ao seu redor, algumas famílias cuidavam dele com todo amor. A esse tempo um sobrinho seu, muito simples e analfabeto já pregava em seu lugar.

E suas preces foram ouvidas: Ali estavam para conhecê-lo o missionário canadense Perrin Smith, de 35 anos e a esposa, agora Ana Smith, que estavam na Barra devido a um defeito na lancha que os transportavam de Grajaú a São Luís, em sua viagem rumo ao Canadá.

Perrin Smith ao sentir a força de sua poderosa pregação promete voltar para fazer o seu ministério em Barra do Corda, e aproveitando a parada, faz mais de 30 batismos. Todos pediram que voltasse e ele ficou sensibilizado.

João Batista Pinheiro sorriu e ficou com a certeza de que a partir de então poderia viajar tranquilo ao lar celestial.

Perrin Smith cumpre a promessa e regressa em 1914, construindo a casa denominada Vila Canadá em um platô, onde atualmente funciona o Fórum Eleitoral, no bairro Vila Canadá. Também construiu uma outra no outro lado da cidade no local chamado Alta-Mira e batiza o aprazível local, que possuía uma vista deslumbrante, de Itamarati.


João Batista Pinheiro morre no dia 22 de março de 1916, às margens do rio Flores.

No ano de 1923 chegam os primeiros missionários que viriam trabalhar em terras indígenas, provenientes da Austrália e Inglaterra. Em 1924 chega da Inglaterra: Leonard Bland, Alexandre Hutcheson, Normand Lang e Carlos Knight.

Em 1926 iniciam-se as Festas Evangélicas para congraçamento espiritual dos crentes no Centro dos Protestantes.

Sempre preocupado com a expansão de sua religião, convida para vir à Barra os missionários: Donaldo Montieth, da Austrália; Davi e Eva Mills, da Inglaterra e George Thomas do Canadá, entre outros.

Em 1927 chega ao Brasil George Stears para auxiliar Perrin Smith. No mesmo ano Eva Mills e o esposo David Mills chegam ao Maranhão, mas já andavam pelo norte do Brasil desde 1923.


Em 1928, chega à Barra do Corda a missionária Eva Mills, e se situa às margens do rio Mearim. Logo conhece Perrin Smith e Patrício Cavalcante, que foi um dos pioneiros evangélicos também da região de Grajaú, Colinas e São Domingos. Eva missionou no norte do Brasil por mais de 30 anos.

No ano de 1932 o missionário inglês George Stears lança a pedra fundamental da Igreja Cristã Evangélica de Barra do Corda – AICEB, na rua Arão Brito, número 490, esquina com a rua Coelho Neto, antiga rua da Areia, junto com os líderes Altino Barros, José Dodô, Antonio Dodô, Amâncio Ferreira e outros.

No dia 13 de dezembro de 1933 é efetivamente fundada em Barra do Corda a Igreja Cristã Evangélica.

Muito auxiliaram na obra os senhores José Lau em Barra do Corda, Antônio Mariz em Colinas, Antônio Macedo em Curador e José Leite em Pedreiras.

Em 1933 Smith pede a Eva para fundar uma escola preparatória e depois transformá-la em Escola Bíblica.

Em 1934, três das filhas de Perrin Smith, Amy,.... e Annie foram estudar com Eva Mills em Balsas.


Instituto Bíblico

O IBM – Instituto Bíblico do Maranhão funcionou na Barra de 1936 a 1952 e muito colaboraram com ele os missionários George e Blanche Thomas.

Em 1936 foi aberta a Escola Bíblica no bairro Sítio dos Ingleses em Barra do Corda pelo missionário canadense George Thomas a 2 quilômetros do centro da cidade.

Lídia a filha do pregador Patrício Cavalcante, torna-se professora e casa-se com o professor Abdoral Fernandes Silva, o Bidó, que depois foi diretor do Seminário Bíblico do Maranhão no período de 1972 a 1982.

Em 18/3/1939 a Igreja Cristã Evangélica tem a seguinte composição: Presidente: Luiz Higino de Sousa; 1º Secretário: Joana Martins Jorge; 2º Secretário: Antônio F. Pinheiro; Tesoureiro: Joaquim O. Barros.

A Igreja Evangélica se expande muito em Barra do Corda no ano de 1940 e a partir de 1952 se instala também na Barra a Assembleia de Deus, que já tinha raízes fincadas há muitos anos no povoado Leandro, assim como nos povoados Ipiranga e Cajazeiras.

Em 1941 acontece a Conferência Anual da Aliança das Igrejas Evangélicas do Norte em Barra do Corda e o missionário Mirddin Thomas faz a seguinte pergunta: “E vocês, o que tem feito do tempo e das oportunidades que tiveram até aqui?” Entre os presentes estava um jovem de 20 anos que viria a se tornar o reverendo Abdoral Fernandes da Silva.

Em 1949, ocorre a Convenção no Instituto Bíblico e missiona o pastor Harry Heath, a esposa Lili Heath e Miriã, neta de Joaquim Bina, pastor de São Domingos. Miriã evangelizava também os índios em companhia de seu esposo Durval de Melo Uchôa.

Em 1954, nas dependências do Instituto Maranata, é fundado pela filha de Eva Mills, professora Ana Davina, juntamente com seu esposo George Doepp, a Escola Normal Regional Maranata. George foi seu diretor até 1968.

Pioneiros da Assembleia de Deus em Barra do Corda

Em setembro de 1950 chegou a essa cidade o senhor João Alves Rocha e sua família, se transferindo para o povoado Uchôa logo em seguida.

Em 1952 chegou o primeiro pastor, de nome João Sousa Araújo.

Em 1954 o pastor João Araújo efetuou o primeiro batismo no povoado Uchôa. Foram ali batizados o senhor Manoel Pereira e a senhora Alice Alves Rocha.

O pastor Joao Araújo, entre 1954 e 1956 comprou um terreno do Sr. Lulu Rodrigues pela quantia de 150 mil réis e logo em seguida construíram uma pequena Igreja. Com o passar do tempo outros pastores surgiram como Estevão, Antônio, Gabriel, Moisés e outros.

Outros Evangélicos

Antônio Resplandes de Araújo - o evangelista peregrino, nasceu em 1880 no lugar Jenipapo dos Resplandes, em Barra do Corda. Se converte ao Evangelho em 1920.

Com a saúde em ruínas, também com uma perna amputada, saía a pregar por todo o sertão a palavra de Deus. Era muito estimado por todos. Morreu cantando o hino:

“Oh! Que saudades! Lembranças tenho de ti, ó Sião!

Terra que eu tanto amo, pois és de meu coração

Eu para ti voarei quando o Senhor regressar

Pois Ele foi para o Céu e breve vem me buscar!”

Ernesto Wooton chegou ao Maranhão em 1909 e em 1922 casou com a brasileira Ana Correia Araújo, a D. Ninoca. Em 1930 missiona com os índios Guajajara em Barra do Corda até 1935. Diziam que “ele nunca revidou uma ofensa”.

David e Eva Mills – Vieram à Barra no início de 1928 e ficaram morando com os missionários australianos Donald e Vera Montieth, sob orientação de Perrin Smith. Eva ficou pelo norte do Brasil de 1923 até 1960.

Mirddin Thomas veio do País de Gales em 1929 para trabalhar com os índios Guajajara ao lado de Ernesto Wooton, nas aldeias Lagoa da Pedra, Colônia e Bananal. Em 1936 passou a trabalhar com George Thomas.

Reverendo George Thomas – Foi o fundador do Instituto Bíblico do Maranhão e primeiro presidente da “Aliança das Igrejas Cristãs Evangélicas do Norte do Maranhão” até 1952.

Reverendo Abdoral Fernandes da Silva – Natural de São Domingos do Zé Feio, nasceu em 18/03/1921 e teve 11 filhos. Nos anos 20 e 30 Perrin Smith visitava muito a região de Colinas e São Domingos em companhia de David e Eva Mills.

Em 1934 eles chegaram na casa de Joaquim Bina, conhecido pregador da região e um dos seus filhos lhes ofereceu um punhado de uma certa frutinha roxa, exótica, conhecida como guabiraba. Os missionários gostaram tanto da fruta, como da atitude daquele garoto altivo que vinha dos matos. Aquele garoto viria a ser no futuro o pastor Abdoral Fernandes da Silva.

Em 1936 levaram o Colégio Cristão da Barra do Corda para Colinas, junto com Dugal Smith, a aluna Salustiana Matos, Annie Smith e a família Bina de São Domingos. As convenções anuais dos evangélicos sempre ocorriam no Instituto Bíblico em Barra do Corda.

Abdoral casou-se com Lídia em 30/12/1946 no Tabernáculo (auditório) do Instituto.

O Instituto Bíblico do Maranhão mudou-se para São Luís em 1952 e nas mesmas instalações ficou o Colégio Maranata, que lá oferecia os cursos primário e normal. Abdoral era diretor e professor e sua esposa Lídia também era professora. O conselho era formado por Amâncio Ferreira (pai de Abraão Martins Jorge), Antônio Dodô, Doca Dodô (povoado São José dos Pachecos), e Abrão Jorge.

É digno de nota o nome dos filhos do casal Abdoral e Lídia: Robson, Patrício, Sileda e Silas Rondeau (o único barra-cordense que chegou a ministro, no governo Lula).

As Famílias – Para continuar a obra evangélica nos povoados de Barra do Corda, se situaram as seguintes famílias: No povoado Centro dos Protestantes ficou a família Leite. No Ipiranga as famílias Barros e Ferreira; no Naru ficou Veríssimo Santos. José Henrique Leite acrescenta: "Pertinho do Centro dos Protestantes tinha um lugar por nome Barreiros, onde parte de nossa família morava."

No início dos anos 50 já haviam 13 congregações e mais de 500 pessoas no campo da Doutrina em todo o Vale do Mearim, região de Barra do Corda.

Pastor Abdoral e Professores    

Em 1957 Abdoral Fernandes da Silva se transfere para São Luís à convite do missionário João F. Canfield para ser o diretor do Instituto Bíblico.

Foi eleito presidente da Aliança das Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil em 13/07/1962, em São Luís. A AICEB foi organizada e estruturada em 1947.

Um dos Hinos mais cantados pelos fiéis daquela época, sempre com grande emoção, era:

“Compensa servir ao Senhor

Servir a Jesus, oh, que doce prazer!

Maior alegria e gozo não há.

É grato servi-Lo e cumprir-lhe o querer.

Compensa servir a Jesus.

Compensa servir a Jesus mais e mais

Compensa, pois bênçãos produz

Seja a senda da vida difícil demais,

Serás feliz servindo a Jesus!”

Congregações e Igrejas em Barra do Corda:

Igreja Batista Shalom – Pr. Klebert da Costa

Igreja Assembleia de Deus - Pr Silvestre Rodrigues Sales - Pr. Adaías Gomes Cabral e em campo o Pr. Edemerval

1ª Igreja Batista – Pr. Josimar Santos Carvalho

Igreja Batista da Paz – Pr. Alfredo

Igreja Missão Evangélica Pentecostal do Brasil – Pr. Daniel e Pr. Domingos

Igrejas Cristãs – Pr. José Wilson – Pr. Ecleílson – Pr. Eliézio – Pr. Feliciano – Pr. Ribamar

Igrejas Assembleia de Deus Ministério de Madureira – Pr. José Moreira – Pr. Antônio Mendes

Igreja Peniel Missionária – Pr. Francisco

Comunidade Efraim – Pr. Mauro

Igreja Marca da Benção – Pr. Sebastião

Igreja Deus é Amor – Pr. Jadilson Veloso

Igrejas Universal – Igreja Mundial – Igreja Presbiteriana – Comunidade Eclesial Cristã – Igreja do Evangelho Quadrangular – Igreja Adventista do Sétimo Dia – Igreja Cristã Evangélica.

Alguns cantores evangélicos de destaque em Barra do Corda:

Pr. Silvestre, Pr. Adaías, Ir. Madalena Viana, Ir. Diná, Ir. Berenice, Ir. Nílson Araújo, Ir. Zezinho, Ir. Maria da Luz, Ir. Elcana, Ir. Pauleana, Ir. Laudinéia, Ir. Teresinha, Ir, Edileuza, Ir. Raimundão, Ir. Klebert, Ir. Juliana Kathellen e Ir. Valteir Santos.

Obras consultadas:

Nossas Raízes, A Vida de um Servo, de Abdoral Fernandes da Silva;

Barra do Corda na História do Maranhão, de Galeno Edgar Brandes;

Nossas Origens, de Josué Oliveira Barros e Elzemir O. Costa;

Em Lugar do Espinheiro, de Eva Mills e textos de Eduard Kerr.

Nossa homenagem especial ao reverendo Abdoral Fernandes da Silva por toda a sua vida e obra. E homenagem com louvor aos senhores Jackson Barros e família, mestre Abraão Martins Jorge e família, Manoel Rocha e família, Pedro Leite, João Leite e família por sua luta e longevidade.

 

(*)PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE TURMA DA BARRA EM 2011.

OBS. Este Trabalho foi dedicado ao grande desbravador Pastor Abdoral, in memorian.

sábado, 25 de julho de 2020

CHICO TREM - O DOIDO REPENTISTA

Imagem by Google


                                                                                    (Chico Acoram Araújo)*

1
CHICO TREM foi um tal doido

em que das minhas lembranças,

no meu tempo de menino,

 não esqueço essas andanças

suas, nas ruas de Barras,

era festa pra crianças.



2

Relembro que o Chico Trem,

um homem de meia idade,

carregava um velho saco

cheio de tralhas, sem maldade

e sempre bastante rio

aparecia na cidade.



3

O apelido foi por conta

de que arremedava bem

os sons da “Maria Fumaça”

que ele um dia ouviu do trem

que ele viu em Teresina  

 pra São Luís, rio além.



4

Quando o Chico Trem passava,

com seu traje maltrapilho,

a molecada em clamor

gritava pro andarilho:

“apita o trem”? Chico apita:

 “piuiii”! Em estribilho.



5

E repetia: “piuiii”!

Os adultos também riam

 até mais que a garotada.

“Muito engraçado” – diziam!

Canta também lagartixa?

Com gaiatice pediam.



6

O homem com boa vontade,

de pronto cantarolava,

com um semblante nostálgico,

a fábula que narrava

as façanhas de uma pobre

 lagartixa que sonhava.



7

“Lagartixa foi à festa,

em irriba de poldo brabo,

no camim levou uma queda,

quebrou a ponta do rabo.

Arre égua do diabo!

Tu nunca mais quer ir festa

 montada num poldo brabo.

Pra lagartixa ficar boa,

o dotor passou o remédio:

a rapa da asa do morcego,

com o tutano da perna da muriçoca.

Urubupango, pango pango,

urubupango, pango pango”.



8

Como diz um tal ditado:

“de poeta e também louco,

no meu torrão, todo mundo

tem, é bem verdade, um pouco”,

atributos que tem Chico;

 quem duvidar é translouco.



9

De fato, Chico Trem era

sim, um louco trovador

pois, vivia feliz no mundo

da lua. Foi sonhador

para domar seus conflitos

e aliviar sua dor.



10

Podia se dizer que o Chico

Trem era um “onipresente”,

ele em todas paragens  

 se fazia muito presente,

apitando seu tal trem

e cantando alegremente:



11

“lagartixa foi a festa

em riba de poldo brabo ...”.

De Cabeceiras a Boa

Hora, onde de cabo a rabo

se via nas povoações

aquele pobre-diabo.



12

Região Marataoan

o andarilho trovador

todo mundo conhecia

pois, era respeitador,

muito discreto, e de paz,

pois queria ser cantador.



13

Via-se ele lá nas Pedrinhas,

bem como na Boa Vista,

no Pequizeiro, no centro,

Rua Grande, e até é vista

a tal criatura em várzeas,

qualquer lugar ruralista.



14

Mas o Chico Trem sumia

da região de repente

por alguma temporada;

ele, alhures, certamente

foi cumprir sua tal sina

de andarilho, bem contente.



15

Mas de repente, olha quem

vem lá? Nosso repentista

está de volta pra terras

do Marataoan. A vista

minha, de longe, viu logo

que era o nosso maquinista.



16

Chico Trem com seu apito

“piuiii”! e vem declamando

“lagartixa foi a festa...

(muito feliz ia cantando)

em riba de poldo brabo ...”,

depois, sozinho falando.



17

Dentre os doidos da cidade:

Manuelão só dizia

“quem sabe é o Deus e Nossa...”;

Antônio Galvão fazia

gestos assim obscenos

e a turma se divertia;



18

o Gonzaga da Formosa

todo ano, no mês de agosto

vinha atado com correntes

para cidade com gosto,

e rapaziada ria

do maluco assim suposto.



19

Outro louco interessante

em um livro foi citado.

Trata de um tal Minotauro

Barrense, um bem educado,

de um bem tradicional

clã, em Barras destacado.



20

Também nesse mesmo livro

Rua da Glória, o “grã mouro”

Carlos Augusto Monteiro

relata que um tal tesouro

o rapaz fazia buracos

nos morros à cata d’ouro.



21

Relembro-me de alguns "tontos"

e outros tantos bem confesso,

louco cada um do seu jeito,

mas o Chico Trem professo

era o doido predileto,

que só agora me expresso.  



22

Chico Trem era poeta,

trovador e repentista

que alegrava a meninada

com suas graças de artista

que lembro neste poema,

pois Deus lhe fez cordelista.



23

Chico Trem outro cordel

ele muito declamava,

mas como era que imoral

mulherada não gostava

pois, suas partes bem íntimas

o louco cantarolava.





24

Com sua deficiência

mental, o Chico Trem pouco

tomava banho, e trocar

as roupas velhas tampouco;

e quando ganhava vestes

novas, com seu “coco” louco



25

as vestia sobre os farrapos

com azedume tão forte

que muito longe as pessoas

sentiam, que de tal sorte

quando ele por lá passava

a catinga era de morte.



26

Certa feita, Monte Filho

nos conta, que o Chico Trem

passou uns dois dias debaixo

de um pé de caju, que bem

tinha só um “maturi

com sentido que ninguém





27

o derrubasse, e que ali

ficaria até que o fruto

tornasse que bem maduro,

o que foi preciso um bruto

jeito dos familiares

pra tirá-lo do reduto.



28

Monte diz que o repentista

com altivez respondia

quando a galera gritava

bem para ele assim que o via:

‘toma o dinheiro desse homi”,

“mando surrar”, reagia.



29

Monte Filho nos relata,

no seu bom texto, que o nome

correto do Chico Trem

é Francisco e o sobrenome

Rodrigues do Nascimento,

mas a alcunha foi renome.



30

Francisco no interior

do Ceará lá nasceu

no ano de mil novecentos

quinze; e que o jovem desceu

a Serra Grande com todo

seu clã, e o pai resolveu



31

se arranchar nas boas terras

da Fazenda do Barreiros

de Alcides Lages em Barras,

onde os pais como meeiros

viviam que da lavoura,

em hábitos corriqueiros.



32

Aqui termino uma hisria

de uma grande personagem

que há muito tempo morou

 em Barras, cuja passagem

fez-se figura lenria

 por conta da sua imagem



33

de maltrapilho, e também

de cantador popular,

que sobrevivia de esmolas

das famílias do lugar,

 tornando-se uma figura

inesquecível sem par.



34

A sua mãe Manuela

bem como a irmã o chamavam

pelo nome de Francisco,

parentes o apelidavam

que de Chico Manuela,

mas Chico Trem o aclamavam.



35

O lendário Chico Trem

veio a falecer bem no ano

mil novecentos e oitenta

e cinco bastante insano,

com pneumonia, em Barras,

num estado desumano.



(*)Chico Acoram Araújo é poeta cordelista, cronista e Func. Púb. Federal.