sexta-feira, 23 de julho de 2021

O enigma do Ornitorrinco


 

Bruno Giordano de S. Araújo (*)

Em minha infância, ao passar em frente a televisão, vi uma figura em um desenho animado que “bugou” meu cérebro: À primeira vista me pareceu um castor (não que seja comum ver castores em nossas matas tropicais, mas depois de uma infância assistindo Pernalonga me familiarizei com a espécie). Só que o animal tinha rabo de castor, bico e patas de pato e usava um chapéu de detetive. Minha primeira reação foi comentar que os artistas estavam se empenhando cada vez mais em chamar a atenção das crianças com estranhezas.

Porém, muito tempo depois, vendo um documentário sobre animais exóticos, descobri que se tratava de uma espécie existente na natureza, a despeito do chapéu. Era um Ornitorrinco. E mais surpreendente do que descobrir que aquele animal existia era descobrir que se tratava da única espécie de mamífero que põe ovos. E saber sobre a existência dele ficaria ainda mais estranho: a fêmea não possui mamas (o que para mim deveria ser fator excludente da categoria dos mamíferos), e o leite é diretamente lambido dos poros e sulcos abdominais; enquanto isso os machos possuem esporões venenosos nas patas (de patos, com o perdão do trocadilho). A natureza mostrava-se desdenhosa com os limites impostos pelos estudiosos. Naquele momento percebi que ela pouco se importava para as classificações biológicas que o homem tentava impor no auge de sua curta existência.

Ao deixar meu emprego público de 13 anos em um grande Banco para empreender fui tratado como um ornitorrinco. Uma criatura estranha que parecia ter saído de uma ficção. Ainda mais num país onde 7 em cada 10 sonham com um emprego público para chamar de seu. Minha motivação não seria suficiente para explicar às pessoas essa “loucura”, pois a “estabilidade” deveria suprir qualquer insatisfação na atividade laboral. E para ser mais exótico, minha empresa é um escritório de investimentos. Então a estranheza de sair de um emprego e abrir um negócio que, à primeira vista, atuariam no mesmo ramo, era demais para a compreensão de algumas pessoas.

E claramente, como o ornitorrinco, logo fizeram suposições e tentaram limitar minha profissão. O espanto das pessoas quando digo que o investimento em ações é uma parcela pequena de minha atividade se equivale a saber que o supracitado animal põe ovos. O assessor de investimentos, além do mercado de ações também ajuda seus clientes a investirem em CDBs, debêntures, Tesouro direto, Fundos de investimentos, Previdência privadas, COEs, BDRs, etc. também cuida da educação financeira, da eficiência fiscal e blindagem patrimonial.  Onde se vê um lago na verdade é um mar, com uma vantagem: o cliente é o capitão que dará as diretrizes de onde quer chegar. O assessor será o navegador. E o grande banco? Seria como um motor independente, que não se interessa com o que quer o capitão, apenas com o diesel que receberá.

Felizmente para o assessor de investimentos, mais pessoas começam a entender a profissão e se rebelar contra a desinformação prestada pelos grandes bancos. Aqueles “investimentos” em títulos de capitalização, aquele fundo com taxa de administração absurdamente cara e aquela “oportunidade” de consorcio “imperdível” da sexta feira estão caindo em ouvidos cada vez mais surdos. Diga não ao “seu” banco e sim á sua prosperidade financeira. E quanto ao Ornitorrinco, se o encontrar na natureza, não se aproxime! Apesar de terem apenas 2kg não hesitarão em atacar para defender seu território.

 

(*) Bruno Giordano de Sousa Araújo, é advogado, Assessor de Investimentos e sócio da empresa Perfil Investimentos, empresa credenciado da XP Investimentos.