quarta-feira, 28 de junho de 2023

Passeando pela História de Presidente Dutra no seu Aniversário

Instantâneos da Vila de Curador em 1942 (Rev. Athenas)

José Pedro Araújo(*)

 

Estive recentemente em Presidente Dutra e aproveitei a minha ida para fazer um reconhecimento de alguns lugares que foram muito importantes na minha infância e adolescência. Encontrei tudo mudado, como não poderia deixar de ser, uma vez que já vão decorridos muitos anos desde aquele tempo. Contudo, o que me causou maior espécie foi pensar que eu me encontrava em lugares completamente diferentes daqueles que conheci na minha infância. Isso, ocorreu comigo no princípio. Depois, com o passar dos minutos, fui sendo envolvido pelo clima conhecido do lugar, e entrou pelos meus sentidos um pouco do ambiente tal qual eu havia conhecido. Estranho como isso foi acontecendo, paulatinamente, sorrateiramente, a ponto de logo me sentir completamente imerso naquele ambiente tão aconchegante e conhecido por mim. Foi como se o meu torrão natal reclamasse de mim pelos longos afastamento, e se mantivesse um pouco distante. Entretanto, aos poucos foi me envolvendo e fazendo-me sentir como se nunca tivesse me ausentado. É claro que a mudança visual, essa ocorreu e não tem como voltarmos atrás. No lugar em que antes existia uma cobertura vegetal luxuriante, território perpétuo de pássaros e animais silvestres, hoje há algumas casas construídas, ou mesmo algumas instalações físicas ocupando o espaço. Até mesmo alguns caminhos trilhados desde tempos imemoriais, por quem me havia antecedido, mudaram de lugar ou tiveram seus cursos barrados por cercas, e até retomado pela vegetação nativa. Incrível como o tempo e a ação do homem tem o poder de alterar a feição natural de um ecossistema, e nem sempre isso acontece para melhor. Ou quase nunca. Só o ar, a abobada terrestre exuberante, o clima ameno, permanecem tal e qual, e faz com que reconheçamos alguma coisa, a visão é completamente diferente. 

A cidade cresceu, esparramou-se pelos lugares mais remotos, e até atravessou os limites dos riachos Preguiça e Firmino, aproximando-se dos morros que a cercam. Anteriormente construída na região mesopotâmica formada pelos dois riachos citados, agora se alarga e se expande em direção aos quatro pontos cardeais.

Então, voei na imaginação e passei a borboletear o que sentiriam os que aqui chegaram lá pelos idos de 1849, e se depararam com uma imensa região de matas fechadas, ocupada pelos nativos Timbiras, que faziam do local moradas temporárias ou seus campos de caça e pesca. O que diriam agora ao se depararem com a região antropizada, cortada por estradas e recobertas de construções e pastagens? O que falaria daqueles tempos o Coronel Diogo Lopes de Araújo Salles, o primeiro branco a situar uma fazenda na sua sesmaria que denominou Data Santa Maria do Japão? Talvez consultasse o seu genro José de Melo Albuquerque, ou os sobrinhos Antonio de Sousa Carvalhêdo, Anastácio Martins Chaves e Francisco Ferreira de Sousa, proprietários como ele das Datas Santa Maria, Bom Sucesso e Jacoca, em uma das rodadas de conversa que mantinham na sua sede, a Fazenda São Marcos, lá para as ribeira do rio Alpercatas, para saber a opinião deles a respeito da obra iniciada por eles, já tantos anos decorridos.  Ou mesmo o meu bisavô José Nunes de Almeida e a sua Marica, ao olhar as mudanças ocasionadas na região em que situou a sua fazenda Lagoa de Pedra/Centrinho, hoje belo e aprazível bairro. No mínimo, assim como eu, se surpreenderiam com as mudanças ocorridas no local.   

Eu, de minha parte, quando por aqui aportei, saído do ventre da minha querida mãe, já alcancei a cidade se espraiando para o norte e para o sul, tenho a opinião de que as mudanças trouxeram coisas boas e que são motivo de regozijo. Mas muitas coisas ruins também, como de resto acontece em todo o Brasil. A riqueza natural que a tantos beneficiou, não atingiu a todos, a ponto de termos uma situação de desigualdade que clama por justiça social. Entretanto, para quem olha apenas para os ganhos, e empurra para o esquecimento as perdas, já temos conforto suficiente para minorar os nossos cansaços; e proteção institucional para os nossos males do corpo. A educação, a saúde, os transportes, já chegaram até nós, diferente de 1946, por exemplo, quando o deputado Manoel Gomes bradava na Assembleia Legislativa que o velho Curador necessitava de um posto de Saúde para atender à sua população que   precisava se deslocar mais de cem quilômetros para se consultar com um médico, ou mesmo receberem os primeiros socorros de uma enfermeira. 

Hoje já temos uma extensa rede hospitalar e um corpo médico e de enfermagem qualificados e que prestam seus bons serviços à população do município e da região. As estradas, as comunicações, o comércio, são suficientes para atender aos gostos mais exigentes, também é uma diferença. Mas será que somente isto basta? Creio que não, eu mesmo respondo. Ainda temos muito a alcançar, a corrigir; o meio ambiente, por exemplo, merece mais respeito, o laser, a segurança, só para citar algumas das nossas carências, precisam de socorro urgente. Precisamos tornar a nossa pequena cidade um pouco mais humana e acessível a todos.

Dia 28 de junho é uma data propícia para nos perguntarmos o que podemos fazer mais pela cidade e pelo seu povo! Foi nesse dia, lá pelo longínquo ano de 1944, que recebemos nas nossas mãos a chave da nossa liberdade, enquanto povo curadoense. E a partir daquele dia, somos responsáveis pelo nosso próprio destino. A responsabilidade de tornar a cidade, e o município, um lugar melhor para se viver, passou a ser nossa, desde aquele dia, quando a população ocupou a praça pública para comemorar a sua independência da Barra do Corda.  De lá para cá, já se passaram 79 anos. Temos muito o que fazer até chegarmos a um grau de desenvolvimento que seja equânime para todos. Não é uma tarefa impossível para quem chegou até aqui caminhando por “veredas de pé posto”, no dizer do historiador Sérgio Buarque de Holanda. Um futuro de bonança está ao nosso alcance, cabe a nós buscarmos com a força de vontade e a determinação dos que aqui chegaram primeiro, carregando pobres trouxas de roupa na cabeça. Isso mesmo. Esta terra não foi ocupada sob os auspícios de um rico coronel que tudo comandava a partir da sua casa grande, ou mesmo à sobra de uma igreja construída no meio do nada, e a partir daí foram surgindo moradas novas, como começaram várias das cidades mais antigas do nordeste brasileiro.

Pensamos diferente do poeta Carlos Drummond de Andrade, quando o vate visitou a sua Itabira, nas Minas Gerais, e se deparou com mudanças muito profundas e doloridas na paisagem. Ao ver que até mesmo os morros haviam sido arrasados para dar lugar a exploração de minérios, exclamou sentido: "Itabira é somente uma fotografia na parede. Mas como dói!". Não sentimos muitas dores, somente profundas saudades do tempo e das pessoas que já passaram por aqui. Saudade e agradecimento por tudo o que para nós significaram, e ainda significam.

Parabéns, Presidente Dutra da Santa Maria do Japão!

 (*)  José Pedro Araújo é engenheiro agrônomo, funcionário público federal aposentado, historiador, cronista, romancista, e coordenador do blog Folhas Avulsas.

 


 

quinta-feira, 8 de junho de 2023

FESTIVAL DE BOIS DE MATINHA, UMA TRADIÇÃO DA BAIXADA DO MARANHÃO

O  26 de junho em Matinha

Aroucha Filho(*)

 

Não é segredo para ninguém a riqueza cultural da Baixada do Maranhão, bem como a alegria, a religiosidade e a criatividade do seu povo. Mesmo porque, independente de classificações político-geográficas, as origens e os costumes dos baixadeiros são os mesmos, com pequenos diferenciais linguísticos e procedimentais, de uma localidade para outras.

Em Matinha isso não poderia ser diferente, até mesmo porque a história tem mostrado ser o cidadão matinhense um vanguardista por excelência.

Foi assim que, no ano de 1977, durante uma gestão do Prefeito Ari, alguém teve a luminosa ideia de reunir todos os batalhões de bumba-meu-boi locais e dos municípios vizinhos, que quisessem participar, para uma apresentação conjunta no dia 26 de junho.

A ideia foi tão bem aceita, que no mesmo ano de 1977 já se acontecia na Praça da Igreja Matriz o primeiro encontro de todos os batalhões de Bumba-Meu-Boi, de Matinha, como também alguns dos municípios circunvizinhos.

O sucesso foi tanto, que no ano seguinte, devido ao grande número de pessoas que compareceu ao evento, levaram a festa para o Campo Brasil, depois para a Praça de Eventos, onde acontece atualmente. Porém, sempre mantendo a tradição do dia 26 de junho, independentemente do dia da semana em que ocorra a data.

 Desta forma, a brincadeira que inicialmente pode ter sido criada despretensiosamente, ideia de alguém que, talvez, quisesse apenas melhor homenagear os santos juninos naquele ano, pois a festa foi realizada na Praça da Igreja Matriz, virou um verdadeiro Festival de Bumba-Meu-Boi de Matinha.

Assim, o encontro de Bumba-Meu-Boi de Matinha é uma tradição que já completou 46 anos, e conta com o comparecimento de uma média de 15 grupos de Bumba-Meu-Boi todo ano. Em alguns anos o número de batalhões presente chegou a 20 grupos.

No dia 26 de junho o evento, já consagrado como a maior festa junina da Baixada do Maranhão pois atrai multidões gerando renda aos hotéis, barracas, e ao comércio em geral, o evento inicia às 19 horas, sem hora para terminar, e a performance de cada grupo de Bumba-Meu-Boi dura cerca de 30 (trinta) minutos. Ao final dançam todos juntos.

Antigamente havia julgamento com premiações, hoje não mais. Atualmente, todos os grupos que se apresentarem recebem um cachê, comida, bebidas e transporte gratuitamente.

A partir de 2017, os batalhões passaram a reunir-se na Praça de Eventos na manhã do dia 27 de junho para um grande e único momento que se encerra pelas oito horas, onde os grupos brincam junto, tocando, cantando e dançando, ao mesmo tempo.

A festa de 26 de junho, em Matinha, além da tradição de 46 anos, virou um momento lúdico, onde as raízes da nossa cultura afloram e mostram sua força na maior festa junina da Baixada do Maranhão, incentivando o turismo e, consequentemente, gerando renda para o comércio local.

 

(*) Aroucha Filho é engenheiro agrônomo, servidor aposentado do INCRA, cronista e compositor.