José Pedro Araújo
Não sei por cargas d’água criei
verdadeira ojeriza por Foz do Iguaçu sem nunca ter ido lá. Talvez porque só se falava
naquela cidade por conta das compras de importados no Paraguai, sem nunca se
fazer referência à cidade paranaense propriamente. Pelo menos em épocas
passadas. E isso acabou por criar uma falsa ideia em mim de que não se falava
em Foz por se tratar de uma cidade sem atrativos, ponto de passagem apenas de
quem ia às compras no país vizinho.
Certa vez, estava em Curitiba
para participar de uma Congresso, quanto alguns colegas vieram a mim para me
convidar para irmos à Foz com o objetivo de fazer compras no Paraguai. Queriam
aproveitar a sexta-feira, já que a nossa passagem de volta estava marcada
apenas para o sábado. Fariam o bate-volta, sairíamos de madrugada e, à noite,
já estaríamos de volta para Curitiba. Não achei a ideia interessante, uma vez
que ir a Foz nunca foi uma das minhas predileções, por tudo o que eu já afirmei
linhas acima. Preferi ficar na capital paranaense e aproveitar aquele último
dia para conhecê-la melhor. E assim foi
que deixei de conhecer a cidade que hoje me encanta.
Em 2017, anos depois do fato que
narrei acima, um grupo de amigos que viaja sempre juntos todos os anos,
discutia qual o roteiro daquele ano. E a escolhida foi justamente a cidade de
Foz do Iguaçu. Rebelei-me na hora, mas fui voto vencido; a maioria esmagadora
do grupo queria porque queria ir para lá. Conformei-me. E fiz muito bem, pois,
no que pese todos os senões que eu fazia por aquela cidade sulista, adorei a
viagem para lá. O que me fez mudar de ideia? Conto agora.
Foz do Iguaçu é uma cidade com
pouco mais de 250.000 habitantes que possui ares de metrópole, com suas ruas e
avenidas muito bem cuidadas, com uma rede hoteleira de fazer inveja a muitas
capitais do país, e um clima, que, de acordo com o período que se viaja para lá,
pode ser muito agradável, ótimo para conhecer as suas belezas naturais, que são
muitas. A começar pelas incensadas Cataratas, algo de uma beleza que encanta
até mesmo àqueles que possuem outras opções na ordem de sua predileção. Pensando
bem, a natureza foi pródiga com aquela região, reservou para aquele cantinho do
Brasil algo de encher os olhos, adoçar a vida e alegrar o coração. E como foi
pródiga! Tudo ali é de uma beleza sem igual. Irretocável. E o melhor é que,
diferentemente do costuma acontecer, a mão humana contribuiu para deixar tudo
ainda melhor. Construiu trilhas e ergueu passarelas que te fazem desfrutar
daquilo com todo o conforto e segurança.
Possui ainda outros lugares para
se visitar, atrativos para um passeio em regra. O Parque das Aves, é um deles. Local
de uma beleza cativante, é opção tanto para crianças quanto para adultos. O
contato com aquela natureza quase intocada, aquele pedaço de mata Atlântica
luxuriante, o canto dos pássaros que habitam o lugar (são 150 espécies), como
araras, papagaios, tucanos, guarás, entre tantas outras, encanta pela sua
algaravia, e te leva a pensar, sobretudo, que estás passeando por uma floresta
encantada, como aquelas dos contos infantis.
Depois tem outros locais, como a
mesquita árabe, ou mesmo o Templo Budista com seus Budas espalhados por um
jardim encantador. Mas o que atrai mais, além das Cataratas, que fique bem
claro, é a facilidade de se penetrar no Paraguai ou na Argentina, países que
ficam a menos de meia- hora de viagem desde o centro da cidade.
Pois bem, gostei tanto do lugar
que voltei outra vez no início deste mês de setembro. E fiz quase o mesmo
roteiro de dois anos atrás. Fui às Cataratas, tomei banho com os borrifos de
suas águas monumentais ao transitar pelas suas passarelas a poucos metros das
quedas-d’água de milhões de litros, e faria isso outras vinte vezes se tivesse
oportunidade para isto.
O passeio pelo Duty Free Puerto
Iguazu, no lado argentino, também foi repetido, apesar de contestar com
veemência a prática local de ensacar e lacrar as bolsas das senhoras, numa
gritante falta de respeito e desconfiança com as pessoas que vão lá apenas com
o propósito de comprar os produtos que lá são oferecidos e deixar seus dólares
com eles. Apesar disto, pesquisando bastante, até dá para adquirir alguma coisa
por preços convidativos, a começar pelos que estão em promoção.
Mas do que gosto mesmo na
Argentina é de ir à noite à cidade de Puerto Iguazu, a poucos quilômetros de
distância de Foz, e escolher um de seus botecos ou restaurantes para
confraternizar com a minha parceira e com os companheiros de viagem. Uma
experiência que recomendo. Sobretudo para quem aprecia uma boa carne, um bom vinho
ou uma cerveja como acompanhamento. O Argentino é meio pedante, como já estamos
cansados de saber, e, às vezes, temos que agir com certa energia para que nos
trate como clientes que de fato somos. Como aconteceu desta vez em um dos
restaurantes, ocasião em que um garçom desavisado tratou mal um dos colegas de
viagem querendo lhe impor um ritual de atendimento por ele criado. Foi
rechaçado com veemência e passou a nos tratar como verdadeiros e usuais
clientes do seu estabelecimento. Não tomam mesmo jeito os nossos vizinhos,
mesmo dependendo quase que exclusivamente dos brasileiros que vão àquela cidade
para lá deixar seus reais valorizados em relação ao peso local.
Localizada na Província de
Missiones, a cidade possui hoje uma população de cerca de 105.000 habitantes. Somente
para ilustrar a dependência que aquela cidade tem dos turistas brasileiros,
ouvimos de um experiente guia, que quando o governo argentino atrelou paritariamente
a sua moeda ao dólar, ficou impraticável para os brasileiros consumir algo por
lá. E o número de turistas brasileiros caiu verticalmente por lá. O resultado
foi que a cidade, como já afirmamos, que depende do turismo em quase a sua
totalidade, passou por uma quebradeira sem precedentes na história, com o
fechamento de boa parte de seus estabelecimentos comerciais. E resultou disto,
que houve uma forte emigração, a ponto de a população local diminuir em mais de
cinquenta por cento em poucos anos. E sua economia havia ido ao colapso.
Agora, as coisas voltaram ao que
era antes. Até mesmo a empáfia argentina, pelo visto. Mas você não precisa
atravessar para o lado de lá para desfrutar de uma bela noitada. Foz, como já
afirmei, possui ótimas casas de espetáculo, e excelentes restaurantes, cujo
forte são as carnes. Casas de repasto e espetáculo, como a Churrascaria Rafain,
por exemplo, que oferece ao cliente um ótimo cardápio eu um show imperdível com
o que há de melhor na música dos países sul-americanos. Imperdível.
Em suma, Foz é uma cidade que
encanta pelo muito que oferece para quem a procura, mas, sobretudo, pelo profissionalismo
e a simpatia da sua gente.