 |
| Honraria recebida pelo autor |
Dr. Andrey Araújo Lima(*)
Essa semana recebi esse certificado de Honra ao Mérito do HU-UFPI. E, para ser sincero com vocês, confesso que o ego foi massageado.
Herói?
Quando pensamos em herói, logo nos vem à cabeça um cenário de guerra onde o inimigo, em meio a inúmeras dificuldades, deve ser combatido. Em 2020 fui convidado para atuar nas linhas de frente da guerra contra a Covid-19. O local da batalha seria a UTI do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí. Eu já ali trabalhava na enfermaria de clínica médica desde 2014, mas então tudo havia mudado e deveria servir em uma UTI adaptada com 30 leitos.
Imaginem serem chamados para guerrear contra um inimigo desconhecido e, enquanto outras pessoas recebiam orientações de ficarem isoladas, terem que fazer exatamente o oposto. O medo era inevitável, mas coragem e medo não são antagônicos. Coragem é enfrentar alguma situação de perigo, apesar do medo de perder. Lembro que aceitei o convite, apesar das incertezas, não por ser o mais corajoso, mas pela convicção de que a missão era nova, porém o chamado era antigo. O chamado de cuidar do próximo deve sempre ser encarado como primazia e executado de forma alegre- e isso é válido em todas as áreas da vida.
Foram meses de trabalho difícil, de poucas certezas e solitária angústia, pois durante algum tempo tive que me afastar de esposa, filhas, pai, mãe, irmãs, tios e sobrinhos. Perdi minha avó materna para outra doença, mas há tempos não a visitava por conta do isolamento. Não houve velório e, mesmo sendo já muito idosa, a sensação de não ter existido despedida foi muito ruim. Perdi meu sogro e alguns colegas, que ombrearam comigo muitas batalhas, não apenas no HU-UFPI, mas também no Socorrão de Presidente Dutra (MA).
Adquiri H1N1 e, 3 meses depois, com imunidade abalada pela forte gripe, também a Covid-19, após 5 meses de enfrentamento à pandemia. Graças a Deus, foram poucos sintomas, mas o suficiente para entender um pouco mais sobre as angústias físicas e psicológicas de meus pacientes. A doença faz não apenas pneumonia ou trombose, mas também "mexe" com os nervos.
Após altos e baixos, a batalha parece estar chegando ao fim.
Herói?
Que nada! Apenas mais um soldado convocado, não apenas por amor ao próximo ou patriotismo, mas por gratidão ao Senhor dos exércitos- esse sim, verdadeiro herói, que venceu a morte para que tivéssemos vida.
(*) 
Dr. Andrey Araújo Lima é médico, com residências em Clinica Geral e
Nefrologia.
