sexta-feira, 31 de março de 2017

Diário de Fralda (Parte 5)




(Empolgado com o nascimento da sua primeira filinha, papai Bruno começou uma brincadeira que logo caiu no gosto de todos: a produção de um diário que ele convencionou chamar de “Diário de Fralda”. Diante disso, o blog resolveu publicar semanalmente o depoimento da Lavínia que, em último caso, vem a ser a netinha do coordenador do Folhas Avulsas).


SEMANAS 8/9 – VIDA QUE SEGUE
  Bruno Giordano

55º DIA: “Aahhh!... mais uma vez tive que ir encontrar o cientista para nosso compromisso mensal! Mais uma vez fui medida, pesada e avaliada... e novamente estava tudo bem! Estou 8 cm maior, e tudo está dentro da normalidade! Bem que eu disse pro servo careca que eu estava me sentindo gordinha! Ele vem com panos quentes dizendo que não é pra eu me preocupar que estou linda, mas já vejo minha barriguinha ficando saliente! Aaaahhh servo careca! Descobri que você quer é me ver gordinha e bochechuda!! - Lavínia, a Slimfit”.


56º DIA: “Ninguém conseguiria adivinha a minha felicidade ao ler meu itinerário do dia, que incluía um parque de diversões! Minha mente viajou! Considerei fortemente dar um aumento para o servo careca! Já me via no castelo da Cinderela ou no parque da universal! Quem sabe EuroDisney!? Então deve está nítida a minha decepção com meu servo careca quando vi que o parque de diversão se tratava apenas de um tapete com vários bichinhos pendurados! Sério!? Sério mesmo!? Como chamar esse tapete de meu parque de diversões!? Só porque tem vaquinhas, elefantinhos.... espera, espera, espera... aquilo ali é um unicórnio!? UM UNICÓRNIO !!??? SUCESSO!!!!!! OBAAAA!!! - Lavínia, a domadora de unicórnios”. 


57º DIA: “Mesmo com minha agenda lotada de exploradora espacial/modelo/princesa/imperatriz/rainha dos sete reinos/ amazona tive que vim comemorar o aniversário de minha prima Alice! Aproveitei a ocasião para tramar maldades contra meu servo careca! Mas ele nos pegou com a boca na botija, e minha companheira não soube esconder a culpa! Ele sabia que eu não confessaria, então ele foi pra cima de minha prima e a encheu de xero! Servo careca, servo careca! A Alice não falará nada! NADA! Não descobrirá quem furou o bolo hahahahahaha! - Lavínia, a conspiradora”. 


 58º DIA: “Amanhã fazem dois meses que eu sai para explorar o mundo exterior! Já estou me familiarizando com esse dialeto primitivo falado por aqui. Minha genitora tem ser esforçado bastante em me ensinar sua língua! E parece que eu também tenho tido sucesso em ensiná-la meu o idioma! Ela já sabe quando peço comida, quando preciso ser higienizada ou quando tenho reclamações a fazer! Ótima aluna! Já o servo careca... bem... como posso dizer... ahh sim... já o servo careca não ganharia uma estrela dourada de melhor aluno da classe nem se eu estivesse completando 2 anos kkkk! Ele tem sorte de ser engraçado Ahahaha!" - Lavínia, a professora”.


59º DIA:  “Engraçado como é o calendário ocidental! Passaram-se 59 dias que estou brilhando no mundo exterior, mas ao chegar em casa o servo careca havia comprado um bolo para comemorar meus 2 meses!!! Que injusto!!! Devolva-me esse um dia que me foi roubado!! Protestarei o quando puder, mas não deixarei que me envelheçam antes do tempo! Ps. Devido a meu tamanho diminuto, o servo careca acha que pode escolher as roupas que devo usar! Como protesto a sua inabilidade para está tarefa, crescerei ainda mais rápido!! Ahahaha! Prepare a carteira, careca da fala engraçada! - Lavínia, a corujinha”. 


60º DIA:  “Não sei o que está acontecendo comigo! Tenho achado cada vez mais graça das conversas que tenho com o servo careca! E ele ganhou uma estrelinha dourada quando me trouxe um passatempo novo! Um instrumento bem importante para minhas pesquisas científicas... não sei como se chama tal aparelho, mas ele possui gravado vários sons de animais! Incrível! Menos um registro com o que me preocupar! Como meu serviço de catalogar todos os animais já anda adiantado, posso aproveitar o final de semana para descansar um pouco! Parabéns servo careca! Garantiu o emprego por mais alguns dias!" - Lavínia, a bióloga”. 


61º DIA: “Antes que você pergunte, vou dizer logo: sim, é uma girafa! E sim é de verdade! Segundo o careca de fala engraçada, trata-se de um espécime raro, a girafa nanica da Tanzânia! Tem como características principais o tamanho diminuto, a forma achatada e de permanecer completamente parada por várias horas! A princípio estranhei bastante a achei tratar-se de uma pintura ou ilustração! Mas como não possuo motivos para duvidar do meu servo careca, então não vou começar uma discursão sobre isso! Pena que nunca consigo vê-la em seus momentos de atividade... assim pretendo adotar o sono estilo telesena: acordando de hora em hora! - Lavínia, a sorridente”. 


62º DIA: “Recebi hoje a visita da polícia federal! Mas não foi a do japonês (graças a Deus) e sim do delegado Pipira que veio me conhecer! Veio com uma série de perguntas que me fazem acreditar que não se tratava apenas de uma visita social! Será que estou sendo investigada!? Será que já fui descoberta por estar estocando leite nas bochechas? Tenho certeza que minha babá eletrônica foi grampeada... agora tenho que saber o quanto eles sabem..." - Lavínia, a investigada”. 


63º DIA: “Não sei o que fiz contra minha genitora e o servo careca! Está certo que às vezes faço demandas que poderiam ser consideradas excêntricas! Que às vezes eu os acordei no meio da noite para pedir um sanduíche! Que às vezes eu fingia estar dormindo! Que às vezes eu esperava trocarem minha fralda para logo em seguida sujar tudo novamente! Kkk! Mas nada justifica me levar novamente para tomar vacina!! Sério! Agora estou quentinha e incomodada! Servo careca e genitora! Sério! Não deixem acontecer novamente!" - Lavínia, a vacinada”. 


64º DIA: “Fazia bastante tempo que não meditava e nem praticava meu ioga! A correria do dia-a-dia estava me deixando bastante estressada e não estava conseguindo deixar meus chakras liberados! Mas nada como um pouco de meditação para colocar as ideias em ordem! Eu sei que esta posição pode parecer estranha para os não iniciados na arte, mas apenas uma mestra do raja ioga como eu consegue fazê-la em sua plenitude... bolo de rir toda vez que vejo o servo careca tentar e tentar e tentar sem conseguir as mais simples! Acalme sua mente, pequeno gafanhoto! Acalme sua mente! - Lavínia, a mestra do raja ioga”.


65º DIA: “Estou realmente precisando relaxar! Com tantas mudanças no Brasil, acho que meus dias de dondoca estão contados! Então vou aproveitar o máximo! Já fiz unha, escova, hidratação e tomei banho de piscina! Por fim, uma massagem ultra relaxante! Ahhh ... genitora! Mais leite! Servo careca! Balance mais rápido! - Lavínia, a dondoca”. 


66º DIA: “Meu treinamento com os mestres Shaolin está dando frutos! Já domino o estilo do tigre, do louva-deus e da garça! Finalmente me sinto preparada para enfrentar os grandes mestres do kung fu! Me tornarei a imortal punho de ferro! Ps. O servo careca desistiu de ser meu sparring! Só por conta de uma torção no punho, um joelho magoado e um olho roxo! O mestre Pai Mei ficaria orgulhoso! Será que a Beatrix Kiddo está livre esses dias!? - Lavínia, a mestra do kung fu”. 


67º DIA: “Fiquei bastante chateada quando soube através da televisão que eu não fui chamada para a liga da justiça! Vi todos meus colegas (Batman, Flash, Mulher-Maravilha) protegendo o mundo, todos juntos contra as ameaças de Darksaid! Muita falta de consideração! O servo careca me informou que este filme da liga estreará no cinema em novembro! Irei acionar meu agente para conseguir minha participação nessa película... e se não aceitarem não contém comigo quando perceberem que não darão conta sem mim!" - Lavínia, a Estela de Cinema”. 


68º DIA: “Essa experiência no mundo exterior tem se mostrado riquíssima! Tanta novidade que ainda não escolhi qual minha preferida! Meu servo careca tirou a semana para me apresentar suas musicas prediletas, e tenho que confessar que achei deveras impactante! Iron Maiden, Foo Fighters, Aeromsith, todos muito bons! A irmã de minha genitora tinha me mostrado um tal de sertanejo universitário, coisa que detestei e não ouvirei mais! Rum! Porque me fez passar por esse tipo de sofrimento!? Porque!??? Beeemmm... coloca ae pra tocar Metálica!!!" Lavinia, a rockgirl”.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Diário de Um Náufrago (Capítulo XXIII)



“A Minha Última Batalha Aérea”

José Pedro Araújo
“Depois que perdi meu amigo, companheiro de beliche e orientador, ainda participei de dezenas de incursões e combates ligeiros contra aviões inimigos. Mas vi que o convés do porta-aviões, bem como os alojamentos, estavam também cada vez mais vazios. Da parte do nosso comandante, contudo, vinha a reconfortante informação de que logo receberíamos mais aeronaves e que um grupo de pilotos já estava em fase final de formação para entrar imediatamente em combate. Isso sustinha a nossa auto-estima. Coisa de bom comandante, pois os caças e os pilotos nunca chegavam”.

“Dias depois ficamos sabendo que uma grande operação de guerra estava sendo planejada, e que o nosso Zuikako seria a ponta de lança de uma grande esquadra com o que ainda tínhamos de melhor naquelas águas. De fato, dai a poucos dias fomos acordados quase madrugada para recebermos a informação de que partiríamos para o Golfo de Leyte imediatamente. O porta-aviões estava com o convés com poucos aviões de combate mas, entre estes, estava o meu mosquito prontinho para partir em mais uma missão. Antes da metade da manhã, recebemos ordem de decolar para interceptar alguns aviões inimigos que tentavam se aproximar do nosso porta-aviões. Partimos rapidamente e, em uma última olhada para trás e para baixo, vi que quase todos os aviões haviam decolado para realizar aquela operação”.

“Ainda recebíamos instruções em pleno ar sobre a nossa estratégia de ataque quando o comandante da nossa esquadrilha me deu ordem para me afastar do grupo, junto com alguns outros Zero, para interceptar aviões inimigos que tentavam nos cercar. Afastei-me rapidamente da formação e em poucos minutos avistei um grupo de caças inimigos à minha direita, e parti para cima deles. A minha convicção sobre a superioridade dos nossos Zero era total, e talvez tenha sido esse o meu primeiro e único erro naquele tempo todo em que me encontrava em combate. Quando fui alertado pelo rádio para não me afastar muito do grupo, vi três aviãozinhos inimigo arremeterem contra mim com todo o ímpeto. Busquei os meus companheiros e não vi ninguém. Estava sozinho. Adotei todas as táticas conhecidas para fugir da perseguição, mas aviões inimigos eram muito velozes. Diferentemente dos aparelhos anteriores que já havia enfrentado.”

“Tentei surpreendê-los com um contra-ataque, voltando o meu mosquito na direção de um dos mais próximos, e o acertei com uma rajada rápida e mortífera. Exultei quando a fumaça começou a sair da aeronave inimiga e ele começou a cair em parafuso. Não tive nem tempo de me deliciar com a minha pequena vitória, pois os dois outros aviões restantes partiram para cima de mim e me fizeram voar em direção oposta, afastando-me mais ainda do meu grupo. Por instantes achei que havia despistado meus oponentes, pois durante mais de dez minutos não vi ninguém me seguindo. Ledo engano. Eles me acharam outra vez e deviam está furiosos pois passaram a disparar rajadas intermitentes cujos projéteis passavam cada vez mais perto de mim. A última delas me acertou a asa direita de raspão, e pude ver que uma parte muito pequena dela fora arrancada. Tentei um mergulho para voar rente ao mar, mas logo fui seguido pelos meus dois inimigos muito de perto. E eles continuavam disparando sobre mim, não me davam sossego. E agora, de cima para baixo, seus disparos passaram a ser mais perigosos, pois aumentara a área de contato do meu Zero. Não tive tempo de rever a minha posição, logo uma das rajadas acertou o bico do meu avião e o motor começou a emitir uma fumaça escura e, em instantes, parou de funcionar. Havia sido atingido dolorosamente”.

“Só me restava agora procurar me salvar. Eu já estava a poucos metros da água e por isso tentei um pouso de emergência. À minha direita, a pouco mais de cem metros, avistei uma ilha coberta de árvores, e tentei fazer com que o meu mosquito voador se aproximasse mais dela, e enquanto isso ia tentando me desvencilhar do cinto que me prendia na cabine. Contudo, o manche do meu mosquito não respondeu. Estava rígido, fixo, nem se mexeu. E, como voava paralelo à ilha e não tinha mais como mudar a direção, procurei, num último esforço, fazer o meu avião deslizar pela água, que, naquele momento estava calma, lisa como uma pista de pouso. Mas, o choque com a superfície líquida, mesmo voando rente ao seu nível, foi grande e, aos pulos, vi que o aviãozinho começou a soltar parte da fuselagem e a sacolejar a cada choque com a água. O último contato com o oceano provocou um salto maior e mergulhei de bico, quase na vertical, e o mosquito, ou que restou dele, começou a afundar rapidamente”.

“A essa altura eu já estava tonto, tal a violência dos impactos do meu Zero com a água lisa e dura. Mas ainda tive tempo de abrir a escotilha e sair da cabine a tempo. Não lembro muito do período de tempo que nadei, mas não tardou e eu já estava pisando a areia da ilha. Tive, porém, um contratempo que me custaria caro nos momentos seguintes. Durante o voo eu costumava afrouxar as cintas que prendiam a prótese à minha perna para diminuir o incômodo. Aliás, isso havia se tornado um hábito para mim. Se estivesse em casa, ou mesmo em período de descanso, sempre desabotoava as fivelas para afrouxar as tiras que a prendiam à minha perna. Foi o que fiz naquele dia também. E diante dos solavancos do avião ao se chocar com a crista do mar, a prótese quase desprendeu, mas tive tempo de segurá-la e perdi um precioso tempo tentando reapertar as fivelas. E quase vou ao fundo com o meu aviãozinho. Mas, como pensava unicamente em me salvar, consegui fazer tudo em tempo recorde. Ainda encontrei tempo para isso antes que o mar me tragasse também. Tonto, machucado, dolorido em várias partes do corpo, consegui sair do mar”.

“Da areia onde me encontrava via passar alguns aviões sobre mim. Parecia que a batalha estava acontecendo com muita intensidade. De onde estava podia ouvir o intenso matraquear das metralhadoras e o ribombar dos canhões antiaéreos postados nos navios. Mas não tardou muito para tudo voltar ao normal. Não se passou muito tempo e logo não ouvi mais barulho de motores, ou de rajadas de metralhadoras. Somente então observei que já estava na sombra de algumas árvores e distante da água. Uma tristeza enorme me toldou a alma e me fez chorar copiosamente naquela tarde que se iniciava. Não pensava ainda em como fazer para sobreviver por ali. O pensamento que me vinha era a respeito da minha incompetência e da minha derrota. Da vergonha que impingia aos meus pares, ao meu país, à minha família. E isso era maior do que tudo. Quando o Japão liquidasse com aquela guerra e fosse premiar os seus heróis, eu não poderia me juntar a eles, pois havia deixado que derrubassem o meu avião de maneira infantil e descuidada, causando enorme baixa no que ainda restava da força aérea nipônica atuando naquela região do globo. Uma derrota que envergonharia toda a nação, pois eu pilotava a última invenção bélica do meu país, um símbolo do poderio e da inteligência do japonês. E como justificar aquilo?”

“Não vi o tempo passar, mas logo já era noite. E a primeira de uma longa serie delas na ilha foi de sofrimento e grande abatimento. Derrotado, faminto e com frio, não dormi um segundo sequer. Nem mesmo o cansaço mental que se abateu sobre mim me fez fechar os olhos. E passei a noite inteira me lamentando e observando o belíssimo céu pontilhados por milhões, bilhões de estrelas. Quando o dia raiou, fui começando a acreditar que os meus dias por ali não seriam fáceis. E mal a manhã havia começado, esquadrilhas inimigas voltaram a cruzar os céus em todas as direções, mas não presenciei nenhum combate aéreo ou ouvi qualquer matraquear de metralhadoras. Somente o barulho conhecido dos aviõezinhos inimigos se fizeram ouvir naquele primeiro dia. Fiquei ali um longo tempo a observar o vai-e-vem dos inimigos. Mas eu precisava encontrar algo para comer. Pois, já estava a mais de doze horas sem ingerir qualquer alimento. Então me mexi”.

sábado, 25 de março de 2017

Diário de Fralda (Parte 4)




(Empolgado com o nascimento da sua primeira filinha, papai Bruno começou uma brincadeira que logo caiu no gosto de todos: a produção de um diário que ele convencionou chamar de “Diário de Fralda”. Diante disso, o blog resolveu publicar semanalmente o depoimento da Lavínia que, em último caso, vem a ser a netinha do coordenador do Folhas Avulsas).


SEMANAS 6/7 –O CALENDÁRIO CORRIGIDO.

39º DIA: "Alalaôôô! Mas que calooooor ôôô ô ô ô. Continuo curtindo demais essa minha experiência carnavalesca! Percebi que é só falar em bailinhos de carnaval que o servo careca fica todo ressabiado e começa a me oferecer alternativas a essa saída! Hoje negociei um upgrade no meu móbile! O servo careca sofre toda vez que usa o cartão e eu gargalho! Hahahahahahaha! Esse carnaval vai te sair caro careca! - Lavínia, a Negociadora!”


41º DIA: "Ô abre alas que eu quero passar! Estava achando que hoje seria dia de baile a fantasia! Tanto que me fantasiei de 'moranguinho', já aguardando a festa! Mas parece que o servo careca tinha outros planos! Fomos visitar o blogueiro troll ancião e lá conheci minhas bisavós! Valeu muito mais que qualquer bailinho! - Lavínia, a moranguinho!”


42º DIA: "Acorda Maria Bonita! Levanta vai fazer o café! Que o dia já vem raiando! E a polícia já está de pé! Estava tudo muito bem, tudo muito bom até que, justamente na terça-feira gorda, o careca de fala engraçada me aparece com esse sorvete! Fala sério! Como esse sorvete tem a mesma fantasia que eu!? Vou reclamar com minha genitora e demiti-la do cargo de minha personal stylist! Errou feio genitora, errou rude! - Lavínia, a colombina!”


43º DIA: "Chega o fim da carnéia e tiro uma lição interessante: meu negócio é rock! Já falei pro servo careca colocar o som no máximo e arrochar um Nirvana só pra desenferrujar! Ouvi dizer que o Strokes vai tocar no Lollapalooza e me pergunto se o servo careca me levará!  - Lavínia, a roqueira arrependida!”


44º DIA: "Como minha exploração pelo mundo exterior está demandando muito capital, vou ter que arrumar um trampo pra patrocinar minha pesquisa! Conversando com a Amarula, minha loba gigante, chegamos à conclusão que deveríamos montar uma banda de rock e cair na estrada! Seria um aprendizado pra nós duas e nada melhor do que sair por ai cantando: 'BORN TO BE WIIIIIIIIILD'! - Lavínia, a rockstar!”


45º DIA: "Minha estrutura óssea se torna mais forte a medida que o tempo passa! Já estou me sentindo confiante o suficiente para começar meu treinamento de artes marciais no tibet! Ou quem sabe aprender logo as artes místicas com o mago supremo! Ainda não decidi se focarei no aprimoramento do corpo ou da magia! Bem... por enquanto eu estou 99% princesa e 1% batgirl! Mas isto está para mudar!" - Lavínia, a Pequena gafanhoto!”


46º DIA: "Já disse como eu adoro o sábado!? É fantástico! Começo o meu dia 4 da manhã acordando minha genitora para que ela me alimente! Enrolo até ela não aguentar mais e me passar para o servo careca! Ahhh! é um prazer incomensurável enrolar das 5 às 9h! Reclamarei todas as vezes que ele teimar em me botar no berço! Comecei a dar migalhas de sorrisos apenas para que ele não desista! Ahhhh! Como eu gosto do sábado! - Lavínia, a mini especialista!” 


47º DIA: "A noite da Arábia! E o dia também! É sempre tão quente que faz com que a gente se sinta tão bem! Estou me acostumando com a dinâmica dos dias da semana! Neste domingo como tínhamos mais tempo, decidi tomar meu banho de beleza bem demorado! Arrumei uma redinha que nem aquelas de Jeri para deixá-lo o mais confortável possível! Pena que o servo careca não entendeu quando pedi para trazer meu leite na banheira! Se confundiu e encerrou meu banho precocemente! Ahhhh!... está correndo o risco de ser demitido novamente"! - Lavínia, a dondoca!” 


48º DIA: "Os habitantes do mundo exterior tem vários hábitos estranhos! Já peguei minha genitora várias vezes passando tinta no rosto, na boca, nos olhos... colocando brincos, colares e prendedores de cabelos... não consigo entender! E lá vem ela querendo colocar varias coisas em mim: vestidinho, luvinhas, brinquinhos, lacinho ... aff ... deixa eu ver como fiquei .... Nooooossa! Genitora como vamos me arrumar amanhã!? Quando eu vou poder usar as tintas da senhora?" Lavínia, a gatinha!”


49º DIA: "Minha missão corre dentro do esperado! Já conquistei o carinho da minha genitora e do servo careca! O troll blogueiro ancião e sua prole também me adoram! O cientista Barba Ruiva e o Rei do clan dos Peipei disputam minha afeição! O hobbit que mora em terras maranhenses não consegue passar um mês sem vim prestar subserviência! E assim por diante! Fiquei sabendo que o pai de minha genitora, que também não tem cabelos, mas não tem nenhuma relação aparente com o meu servo careca, já marcou uma audiência comigo para abril! Que venha e se ajoelhe perante sua imperatriz... ou seria rainha... ou seria toda poderosa conquistadora... !!?? - Lavínia, a humilde!” 


50º DIA: "O mundo exterior me deixa perplexa! Fui reiteradamente parabenizada e perguntei o porquê para minha genitora, que me informou que era o dia internacional da mulher!! Mas eu acho um dia pouco! Todo dia é o dia da mulher!! Todo os dias devemos ser valorizadas, veneradas, elogiadas, respeitadas! Parabéns a todas as mulheres por suas vitórias presentes, passadas e futuras! Parabéns as mulheres que amam, que trabalham, que cuidam dos filhos, que são empresárias, líderes e esposas! Parabéns a todas as mulheres que são aptas à multitarefa, à singeleza, a doçura e a retidão! Parabéns as Marias, Lavínias e Polianas! Parabéns não apenas pelo dia 8 de março, mas pelo fato de serem mulheres o ano todo!" - Lavínia, a pequena mulher!” 


51º DIA: "Não consigo entender o que está acontecendo... roupas que a alguns dias estavam folgadas já não me servem mais! Minha visão está melhorando constantemente bem como o meu humor! O careca de fala engraçada diz que já não sou uma recém-nascida e devo começar a ter responsabilidades! Hah! Como se governar os sete reinos, ser a imperatriz da galáxia e uma mochileira espacial não fossem responsabilidades suficientes! Vc não sabe de nada, Careca snow! Ps. Não, essa roupa não foi escolha minha. E sim, eu adorei!!!" - Lavínia, a responsável!” 


53º DIA: "Ouvi falar que estavam fazendo um filme sobre minha pessoa e fui conferir o trailer! Qual a minha surpresa! Escalaram uma modelo israelense para fazer o meu papel! Mas fiquei chateadinha quando vi que mudaram meu nome no filme! Por qual motivo me chamaram de princesa Diana? Mas no mais.. deu pra matar um pouco da saudade da ilha do paraíso! A vida de amazona era bem legal!" - Lavínia, a princesa amazona!"


54º DIA: "AhAhAh! como é bom almoçar fora! O servo careca se colocou no lugar dele e ficou me segurando a mesa um bom tempo! E enquanto ele me segurava, ia me apresentando as pessoas e me informando seus pedidos... ainda não entendo direito o idioma deste lugar mas estou pegando o jeito! Digo a todos que vêm me pedir favores que não preciso de nada em troca... quero apenas que se lembrem que posso precisar deles no futuro! Lembrem-se que as pessoas mais ricas são aquelas possuem o favor de poderosos hahahahahaha! - Lavínia, a poderosa chefinha!”


quarta-feira, 22 de março de 2017

Diário de Um Náufrago (Capítulo XXII)




“Finalmente Sou Piloto de Caça à Serviço do Meu Imperador” 


José Pedro Araújo

“O primeiro contato meu com um Zero quase me derrubou de emoção. Aquele aviãozinho minúsculo, pintado de verde e com um grande sol vermelho desenhado na fuselagem me deixou deverasmente emocionado. Entrar na cabine de um daqueles pássaros alados era tudo o que eu sempre desejara na vida. Ou, mais precisamente, o que mais desejei nos últimos tempos. E agora eu iria defender a minha pátria sobre as asas de um dos mais modernos e letais aparelhos de guerra.”
“Passei por um treinamento rápido, mas intensivo, como já afirmei. O tempo de preparação precisava ser exíguo porque o país necessitava que o Zuikako voltasse ao teatro da guerra para impor o nosso poderio que tanto amedrontava os nossos inimigos. Aquela belonave portentosa transmitia segurança aos nossos homens também. E por nunca ter sofrido um revés maior, apesar de já estar há anos singrando por esses mares belicosos, funcionava como um talismã, algo que designava sorte e segurança. Era, por fim, a nau capitânia que se impunha somente com a sua presença. Aos inimigos, mas, e principalmente, a nós mesmos. E dessa vez eu estava nele, embarcado que fora com o meu mosquito mortal, nome com o qual batizei o meu Zero.
Passei quase todo o tempo que levamos navegando de volta, junto ao meu aviãozinho, no meu posto de espera sobre o enorme convés, enquanto ele permanecia atado à sua catapulta de lançamento. Esperava, ansiosamente, pela minha primeira missão; apenas a primeira das muitas que eu almejava participar. E ela aconteceu quando o Zuikako foi enviado a participar da batalha de Guadalcanal, nas Ilhas Salomão. Naquela refrega sangrenta em que muitas vidas inimigas foram tiradas, afundamos um dos navios mais importantes da frota naval americana, o USS Hornet. E eu tive participação ativa naquele confronto vitorioso.”
“A volta ao porta-aviões Zuikako se deu em festa. Tínhamos infringido uma das maiores derrotas aos aliados, e tivemos o nosso reconhecimento: fomos convidados para comemorar o feito ao lado do nosso grande comandante, o Almirante Jazaburo Ozawa. Aquele homem magro, rosto impassível, cabelos curtos e grandes entradas, não esboçou um sorriso sequer ao nos receber. Mas, o jeito marcial, e o seu olhar determinado, causou-me ótima impressão. Estávamos em boas mãos sob o seu comando, foi o que pensei. E ele ainda fez questão de me cumprimentar pessoalmente, agradecendo pelo grande trabalho realizado e pelos feitos por mim realizados, informações que me disse ter ouvido do comandante da minha esquadrilha. Fiquei envaidecido com os elogios. Mas era como se tivesse ouvido dele um reparo: “apesar do seu defeito físico, você é um bom piloto”. Pois olhou rapidamente para a minha perna com a prótese mecânica, enquanto tecia seus cumprimentos”.
“Eram muitas as atividades diárias. Constantemente partíamos em missão de reconhecimento ou mesmo para combater alguns inimigos identificados em um largo raio de atuação, posto que estávamos sempre atentos à aproximação de algum deles do nosso poderoso porta-aviões. Isso era adrenalina pura. Mantínhamos um olhar para o céu, outro para o mar, e os ouvidos sempre atentos aos alto-falantes instalados em todos os pontos da nossa belonave. Era um partir e voltar constante, de modo que logo já estava acostumado com aquela pista de pouso e decolagem tão pequena e que precisava de um impulsor para nos arremessar tal qual um estilingue faz”.
“O meu tempo livre e de descanso na apertada cabine era gasto ouvindo as histórias dos pilotos mais experientes e que já estavam há mais tempo na luta. Havia um deles que me chamou a atenção desde o meu primeiro minuto ali, pois tinha participado do ataque japonês a Pearl Harbor, e também porque contavam histórias mirabolantes e empolgantes sobre a sua participação naquele ataque. Passei a considerá-lo como um ídolo. Admirava-me que ainda estivesse vivo e ativo, vivo para contar suas histórias, enquanto parte dos pilotos que haviam participado daquele confronto, sobretudo os ancorados sobre o Zuikako, já haviam perecido em combate. Estavam ainda em atividade menos de cinquenta por cento deles. Não havia dúvidas de que aquela era uma atividade de alto risco. Não havia dúvidas de que aquele homem calmo e sereno merecia ser copiado”.
“Então passei a tomar aulas com ele. Precisava saber como fazia, quais as estratégias que adotava para ainda permanecer vivo, enquanto muitos dos seus colegas haviam sido derrubados pelo inimigo”.
“Ficara muito claro para mim a capacidade de sobrevivência daquele piloto, como de resto era também a do nosso porta-aviões, uma vez que alguns dos nossos portentosos vasos de guerra já haviam ido a pique em ataques realizados pelos nossos inimigos. Como acontecera na terrível e tenebrosa batalha de Midway quando quatro dos nossos porta-aviões foram afundados. E nós ainda estávamos ali, prontos a dar continuidade aos combates que se acentuavam no oceano pacífico.”
“Nesse tempo o meu companheiro de beliche já chefiava um dos subgrupos, e eu o tinha como um talismã também. Apesar de ouvirmos sempre palavras de incentivo; afirmações de que estávamos ganhando rapidamente a guerra, pensávamos, por outro lado, que o custo para nós também estava sendo muito alto. Mesmo nunca se tocando no assunto, soube através desse nosso amigo que o Zuikako era o único dos seis porta-aviões que participaram do ataque a Pearl Harbor que ainda estava em atividade. Os outros tinham sido mandado para o fundo mar pelos nossos inimigos. E eu sabia que, com o aumento da frota inimiga nos mares do pacífico, a guerra estava se intensificando por aqui. E que, mais dia, menos dia, poderíamos sofrer algum revés também. Daí precisar de todas as informações que o meu amigo pudesse me repassar sobre a sobrevivência naquele meio”.
“Já estava há mais de um ano ininterrupto em atividade naquele porta-aviões, quando me aconteceu o primeiro contratempo: em uma das batalhas aéreas contra caças americanos, tive a cauda do meu Zero atingida por uma rajada de metralhadora. Mas, por sorte, consegui voltar para o Zuikako sem maiores problemas. E por causa disso não pude mais participar de algumas das incursões que aconteceram nos dias que se seguiram até que se fizessem os reparos necessários nele. Somente quando a meu aviãozinho foi restabelecido, pude sair em socorro de um grupo de colegas que estava em combate ferrenho não muito distante de onde o nossos navio navegava. Para a minha tristeza, na volta ao porta-aviões pude ver que uma parte considerável dos nossos caças não havia retornado. E que um desses aviões ausentes era exatamente o do meu talismã. Sofri muito com a perda. Mas, não havia muito tempo para ficarmos lamentando. As ações se davam em tempo tão curto que, às vezes, mal tínhamos tempo para reabastecer e logo já voltávamos a voar. Naquele último retorno, em que o nosso herói não voltou, o comandante nos reuniu mais uma vez para falar sobre uma vitória acachapante que havíamos conseguido e para engrandecer o nosso trabalho, marcante, segundo ele, e que infligiu uma derrota inesquecível a um inimigo bem mais numeroso.”