Nascem as primeiras indústrias no Curador – O maranhão já vinha organizando seu
parque industrial desde a segunda metade do século dezenove, mas teve sua maior
pujança na virada do século XX, quando as usinas de açúcar e as tecelagens,
fiações e fábricas de tecidos se expandiram na capital e na ribeira dos rios
Mearim e Itapecuru.
A atividade industrial ganhava forças e colocava o estado
entre os de maior importância no país, exportando seus produtos para vários
países do mundo. O Brim, o Riscado e o Morim, apesar de não serem tecidos de
prestígio para a alta costura, eram requisitados pela sua qualidade e
durabilidade para servir como vestimenta aos trabalhadores da indústria e das
fazendas, o que fazia deles, produtos altamente respeitado e requisitado por
todo o mundo.
As fiações também forneciam fios de algodão para a confecção
de redes em todo o nordeste, e por aqui começaram a surgir algumas pequenas
fábricas deste artefato tão necessário aos nordestinos.
Foi um período áureo da economia
maranhense, ocasião em que vários navios partiam carregados com a matéria
prima, e com os produtos manufaturados, para portos do mundo inteiro. E
enquanto na capital eram erguidas fábricas em diversos seguimentos, com suas chaminés
de tijolos vermelho apontando para o céu azul da ilha, no interior os campos se
enchiam da brancura das plumas do algodoeiro, gerando riquezas e promovendo o
povoamento do interior dantes desconhecido.
Entretanto, a economia está sempre
em constante mudança. Muda a importância dos produtos, com a consequente subida
de preços de alguns e a queda de valor de outros; muda a situação geográfica
onde esse produtos são mais procurados. O fato é que o mundo dos negócios está
sempre em transformação, ensejando o aparecimento de grandes negócios em um
dia, para, no outro dia, já está de partida o seu eixo para outros lugares.
Um exemplo, de como
essas coisas acontecem, deu-se em meados do século XIX. Com o fim da guerra separatista entre o norte
e o sul dos Estados Unidos, os ingleses voltaram a comprar o algodão e o tecido
produzidos pelos americanos, deixando de lado o produto brasileiro.
Por aqui, as fábricas
começaram a desligar suas caldeiras, e as chaminés pararam de jogar fumaça no
ar, enquanto nos campos os produtores que haviam se endividado, acreditando no
crescimento do mercado externo, faliam miseravelmente. Passamos de exportador
de produtos manufaturados e de algodão, para exportador de máquinas e sucatas
para outros estados da federação.
O jornalista francês Gilles Lapouge desembarcou em 1973 na
ilha de São Luís, com o intuito de colher informações para a elaboração de
algumas matérias para jornais com os quais contribuía, e logo se apaixonou pela
cidade. Como um observador sensível e arguto que era, colheu também informações
preciosas sobre a vida econômica da Ilha, dados que viriam a fazer parte de um
livro que logo lançaria sobre a sua viagem pelo Brasil, denominado Equinociais – Viagem pelo Brasil dos
Confins.
Contundente, e ao mesmo tempo satírico,
discorreu sobre a crise industrial que atingiu a economia maranhense em fins do
século XIX e começo do século XX, demostrando possuir um olhar de lince, e
contundente agudeza na percepção dos
problemas de gestão que cercaram os empreendedores da terra:
“A decadência desta
cidade foi brutal. Normalmente, os impérios precisam de um século, de um
milênio para desabarem. São Luís liquidou seu caso com muita desenvoltura. Os
historiadores nos diriam as datas, praticamente exatas, de sua decadência – foi
no final do século XIX, quando as prósperas manufaturas de São Paulo(?) foram
atacadas ao mesmo tempo pelas tecelagens de Manchester e pela expansão dos
Estados Unidos, uma vez o sul vencido pelo norte. Foi um naufrágio de Titanic,
alguns burburinhos e os destroços no mar”.
E continuou com a sua prosa ferina e certeira, destrinchando
fio a fio a teia mortal em que a economia do estado se enredou, acabando com o
sonho de prosperidade que nos embalou durante uns poucos anos, e empurrando-nos
de volta para o vale triste da pobreza que nos persegue desde o nosso
nascimento. “A cidade não se deu ao
trabalho de disfarçar suas cicatrizes. Se quer teve vontade de concluir todos
os edifícios que estavam em construção antes que a crise chegasse”.
No Curador,
empreendedores como Raimundo de Melo Falcão, instalaram suas bolandeiras
movidas à tração animal, e passaram a industrializar o algodão aqui produzido,
acondicionando-o em fardos enormes que depois eram transportados para as
fabricas de tecidos de Caxias, Codó ou São Luís. Anos depois, aproveitando-se
da importância da cultura para a região, o empresário Celso Sereno implantou
uma indústria de beneficiamento de algodão no município, com maquinários
movidos à vapor. Beneficiava-se com a alta produção dessa cultura, situação que
havia nos guindado à condição de principal região produtora em poucos anos.
Depois dele, um
cidadão chamado João Furtado instalou uma outra usina na cidade, na esquina da
travessa Nelson Sereno com a rua Cel. Sebastião Gomes. A febre só aumentava, e
logo esses foram seguidos pelos empresários Salomão Soares e Gerson Sereno, que
montaram também suas usinas de beneficiamento. Esta informação atesta a
importância do algodão para a economia local, fato que fazia partirem daqui
diariamente uma frota de caminhões carregados com fardos do produto descaroçado
e enfardado, para abastecer as fábricas de tecidos de São Luís, Codó e Caxias.
Desde 1892, com a
instalação da Companhia Manufatureira e Agrícola do Maranhão, e em 1921, com a
construção e funcionamento da estrada de ferro São Luís-Teresina, o algodão, o
arroz e o babaçu, voltaram a alavancar a economia do Estado, trazendo riqueza e
prosperidade para muitos municípios.
Em seguida vieram as
usinas de beneficiamento de arroz, com suas máquinas barulhentas e eficientes,
a descascar milhares de toneladas desse cereal que ocupa lugar de destaque na
dieta alimentar do brasileiro. A economia pujante do município fazia com que
partissem daqui caminhões e mais caminhões carregados com o produto já
beneficiado, com destino a diversos municípios, mas também para outros estados
nordestinos. A economia se consolidava definitivamente na região, baseada na
aptidão agrícola e pecuária da terra abençoada, e na força empreendedora dos
moradores do lugar.
Hoje, produtos como o algodão, sumiram da pauta de
exportação, a ponto de não termos uma só usina de beneficiamento funcionando no
lugar. O aparecimento de doenças ou pragas, como a do bicudo, somados a perda
de importância do produto em razão da queda de preços no mercado internacional,
e ao fechamento das fábricas de tecidos e tecelagens em Codó, Caxias e São
Luís, fez com que essa cultura fosse perdendo importância até desaparecer
totalmente como item de exportação.
Desaparecia um produto
que alavancou a economia da região, formando as primeiras fortunas e gerando
emprego a muitas famílias. Nos campos brancos em razão das plumas dessa bela
cultura, e que também se caracteriza como uma oleaginosa, já não se vê mais a
presença de trabalhadores em grande quantidade, necessidade imposta pela
exigente planta.
O babaçu foi outro
produto que praticamente sumiu da pauta, substituído que foi pela soja que
começou a ser produzida em escalas monumentais no sul do país, e depois no
centro oeste, até se instalar também no cerrado maranhense. Foi a pá-de-cal
lançada sobre esse produto extrativo que muito contribuiu para o desenvolvimento
da região e do estado do Maranhão.
Hoje, praticamente só conserva a sua importância nos
povoados da região, quando o cheiro da amêndoa cozida para a extração do óleo
se eleva gostoso às alturas, relembrando a importância que o babaçu já teve
entre nós.
É certo que ainda existem algumas fábricas de óleo e de
fabricação de sabão e detergentes no estado, mas, tudo muito longe do frenesi que esse produto da terra
provocou em décadas passadas. As palmeiras decantadas pelo nosso poeta maior,
Gonçalves Dias, hoje estão sendo arrancadas para darem lugar às pastagens.
Por último, outro
produto tão caro entre nós, o arroz, foi perdendo importância com a chegada de
grãos com melhor aparência e preços mais atraentes, produzidos no estado de
Goiás ou no Rio Grande do Sul, reduzindo a participação do nosso cereal na
economia regional. Hoje, ainda existem algumas usinas funcionando no município,
em torno de seis na sede, diferentemente dos outros dois produtos acima
citados. Mas, as maiores indústrias, encontram-se com suas portas baixadas,
mudas. As montanhas de casca de arroz que se viam com frequência pelos
caminhos, hoje é uma visão do passado. É certo que existem ainda muitas
famílias que tiram o seu sustento cultivando essa cultura, mas o cereal não possui
a importância que tinham tempos atrás.
Finalmente, dos
inúmeros engenhos de cana-de-açúcar que existiam na época, restaram poucos
também. As moageiras de cana com seus cilindros de madeira, tocadas por uma
junta de bois que giravam em circulo, estão paradas, não gemem mais. Eram elas
que esmagavam a cana e tirava dela o suco doce que depois de fermentado em
grandes gamelas era levado ao fogo para a fabricação de rapadura e cachaça, e açúcar,
no princípio. Sumiram como atividade econômica.
E, a não serem pela existência de um ou outro engenho perdido
no interior do município, poucos resistiram à passagem do tempo e às mudanças
econômicas. Alguns desses empreendedores se notabilizaram como importantes
produtores de aguardente, produzindo uma cachaça com coloração dourada, muito
consumida pelo povo da região. O gosto pela velha cachacinha ainda é grande,
mas o número de seus fabricantes diminuiu sensivelmente. Nosso povo prefere
meter a mão no bolso e comprar uma garrafa da “marvada” no primeiro boteco da
esquina a colocar para funcionar novamente as velhas moendas. A tradição
perdeu-se no tempo também.
As serrarias também
proliferaram na região ante à ocorrência de florestas recheadas por madeiras
nobres e de grande procura por parte de compradores de outros estados
nordestinos. Durante muito tempo procedeu-se grande derrubada de madeiras
nobres como o cedro, o pau d’arco, a aroeira, a maçaranduba, e o jatobá, dentre
outras espécies de grande valor econômico, de tal modo que hoje essa madeira,
antes abundante, está por demais escassa. As maiores serrarias, hoje não passam
de cinco, e mesmo estas, especializaram-se na fabricação de portas, esquadrias
e móveis, sobrevivendo em meio a um mercado bastante promissor, utilizando-se da
madeira que ainda resta, ou da originária do Pará. Mudaram o foco do
empreendimento para não desaparecerem do mercado.
Hoje já existem na região algumas pequenas fábricas
instaladas, como a de caixas-d’água, pias e outros produtos, pertencente ao
empresário José Aarão de Oliveira Barros, que comercializa seus
produtos em quase toda a região maranhense e tocantina. Fabricam-se também outros
produtos como cadeiras, velas, detergentes e sabões, além de confecções,
produtos metalúrgicos e móveis, empregando um número razoável de pessoas.
Entretanto, o forte do município atualmente é o comércio,
que muito se desenvolveu nos últimos anos, setor este que abordaremos a
seguir.