sexta-feira, 29 de maio de 2020

A ESCADA DA FÉ, FEITA PELO PRÓPRIO SÃO JOSÉ

Escadaria da Capela de Loretto


Por Francisco Almeida, Poeta cordelista, cronista, é Advogado da União.



Este mundo tem mistério
Bem difícil de entender,
É melhor não perder tempo
Tentando compreender;
Só mesma questão de fé
Pra se dar o pontapé
E a intuição florescer

A Capela de Loretto
Do ano de setenta e oito
Do Século Dezenove
Tem um componente afoito:
Uma escada enigmática,
Feita com bastante tática,
Botando para dezoito.

Cidade de Santa Fé,
Onde fica esta Capela;
É alpegada ao Convento
De formosura singela:
“Nossa Senhora da Luz”
Que a emoção nos conduz
Pelo mistério que sela.


Fica, pois, no Novo México,
Certo estado americano,
Um dos cinquenta de lá,
Com um perfil soberano,
Onde o labor tem fomento
“Terra do Enriquecimento”
Mas de perfil muito humano.

Voltando agora à Capela
Que detém gótico estilo,
Feita por Antonio Mouly,
Arquiteto sem vacilo,
Morreu faltando a escada
Que seria bem acoplada
Aos pavimentos do asilo.


A ausência desta escada
Exigia enorme esforço
Para as irmãs alcançarem,
Com um risco de contorço,
O piso superior
Provocando muita dor,
Principalmente no dorso.


Devido à situação
De uma escada improvisada,
As irmãs se reuniram,
Todas na mesma empreitada,
Para rezarem novena,
Implorando em toda cena,
Pra solução desejada.

O querido São José
Foi o bom Santo escolhido
Pra resolver o problema,
Bem atendendo ao pedido;
Ele como carpinteiro
Foi o lembrado primeiro
Pra ter o plano cumprido.

No último dia da novena,
Já findando a esperança,
Deu entrada um forasteiro
Com deveras confiança,
Afirmando construir,
E a escada concluir,
Com bastante segurança.

Pediu apenas duas coisas,
Dentro de sua humildade,
Umas grandes cubas d’água
E pura privacidade
Na capela, por três meses,
Mas sem imitar burgueses,
Com toda simplicidade.


Logo as irmãs o atenderam,
E com todo isolamento
Ele prestou seu trabalho,
Sem nenhum adiamento;
Em momentos de oração
Ele deixava o salão,
Voltando após, bem atento.

Mas as irmãs curiosas
Com dito trabalhador,
Olhavam discretamente
Para o seu belo labor;
Viam que ele só usava
A madeira que molhava
E modestia com primor.

Executada a tarefa
Com a escada concluída
As Freiras organizaram
Um jantar de despedida;
Todavia, o homem fugiu,
E para sempre sumiu,
Sem ninguém ver a partida.

Foi sem declinar o nome
E sem cobrar pagamento,
Após fazer obra incrível
Com todo devotamento;
Ainda hoje na história
Esta benfazeja glória
Que provoca encantamento.  

Alvo de admiração
De engenheiro e arquiteto,
Não se tem explicação
Com relatório completo,
Para a grandeza da obra
E a beleza que desdobra,
Com resultado concreto.  


A Escada de Santa fé
Construída em aspiral
Detém trinta e três degraus,
Um símbolo magistral,
Obedecendo as simétricas
Sem ferramentas elétricas
Nem prego ou qualquer metal.

Foi feita só por encaixe,
Não tem cola ou adesivo;
A sua bonita estrutura
Não existe igual no arquivo,
Com duas voltas de trezentos
E sessenta graus, isentos
De qualquer risco efetivo.

Há um ponto de equilíbrio
Por si só realizado,
Engenheiro e arquiteto
Não têm idealizado,
Até hoje na engenharia
A toda hora desafia,
O sistema utilizado.

O formato de aspiral
É de grande sutileza,
A curva se desenrola
Com confiante firmeza,
Em torno de um ponto firme,
E quem desejar confirme,
A segurança e beleza.

A origem da madeira
É outro fato intrigante,
Estudos realizados
Dizem de forma abundante
Que não pertence à região,
Ninguém sabendo o padrão
Ou de qualquer contratante.

Falam que muitas irmãs
Do período da obra,
Afirmavam com certeza
E convicção de sobra
Ser feita por São José
A ESCADA DE SANTA FÉ,
Sem utilizar manobra







terça-feira, 26 de maio de 2020

O HERÓI E O MISANTROPO







(Chico Acoram Araújo)
Em homenagem ao herói piauiense Dr. Francisco de Sousa Martins


Dos ilustres heróis piauienses,
bravo senhor, assaz mais talentoso
entre seus conterrâneos - virtuoso
e inteligente - em terras jaicoenses!


Porém, tu eras (tal assim bem penses
tuas mentes - destino que danoso)
um crente misantropo, lastimoso,
e com tais desvairados de suspenses


atos de más loucuras, torturava-se
em total solidão em sombrio quarto
de uma sua fazenda Canabrava.


O grande e bom guerreiro clausurava-se;
tentou o suicídio. E já farto
da vida, odeia sua gente brava.