sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Pessoas pelo mundo.


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Luiz Thadeu Nunes e Silva(*)

Estou no aeroporto de Guarulhos, SP, aguardando voo para São Luís, minha querida Ilha do Amor. Após vinte dias viajando por esse mundão de meu Deus, estou retornando para casa.

Para quem optou por ser Giramundo, uma vez mais virei o ano, a bordo de uma aeronave, cruzando os céus do mundo. Literalmente comecei 2024 nos ares. Oxalá, seja prenúncio de muitas viagens neste ano bissexto.

O que me encanta em minhas andanças pelo mundo, são as surpreendentes e fascinante pessoas que Deus coloca no meu caminho. Sou abençoado em atrair gente boa.

Nesta trip, visitei três continentes: América do Norte, NY; Europa, Amsterdam, Amersfoot e Leusden, Holanda; Munique, Alemanha, e Ásia, Shanghai, China. No caminho de volta fiz pit stop em San Francisco e NY, EUA.

Na Holanda fui ciceroneado pela jornalista maranhense, escritora e fã de Elvis Presley, Fernanda Martins. Que privilégio privar da amizade e da atenção de Fernanda. Culta, divertida, bom papo, antenada com seu tempo e entorno; nossas conversas foram de muito aprendizado para mim. Regadas a bons vinhos e ótima culinária, viajamos pelo mundo da cultura, da gastronomia, e de um mundo novo para mim, o de Elvis. Fernanda é biógrafa diletante de Elvis, paixão adquirida desde seus doze anos. Autora do livro “Taromínio”, escrito em parceria com o irmão Fernando, e a amiga dos bancos escolares do Colégio Maristas, Dilma. Fernanda é puro conhecimento, encantamento e divertimento. Conversar com Fernanda é garantia de boas risadas. Graças à Fernanda conheci Clívia Caracciolo: paraense, alegre, miúda, jornalista, radialista, culinarista. Em uma noite fria de Leusden, nos recebeu para um jantar, onde me entrevistou para um podcast para a Rádio Francesa Internacional, RFI. A entrevista foi ao ar no último domingo está disponível nas plataformas de streaming. Feliz por ser notícia internacional.

De Amsterdam voei para Shangai, com escala em Munique, Alemanha.

Passei quatro dias na fascinante Shanghai. Neste tempo, não troquei uma só palavra em português com alguém. Não encontrei um patrício. Minha comunicação com os chineses foi através do Google tradutor, essa maravilha da tecnologia. Acho que os atendentes do hotel Eton, onde me hospedei, nunca riram tanto na vida, de um cara que nada falava em mandarim e/ou inglês. Aliás, na China fiz uso de um idioma que domino em minhas andanças pelo mundo, o “mãodarim”. Se amarrarem minhas mãos, fico mudo.

Como Deus salpica anjos por onde ando, em minha caminhada à esmo no centro comercial de Shanghai, eis que surge ao meu lado, em um cruzamento, uma jovem e bela chinesa, perguntando em inglês, se precisava de ajuda. “Yes”, disse eu, gastando uma das duas palavras que conheço na língua de William Shakespeare. Como ela viu que meu inglês não ajudava, Cheng, fez uso do Google tradutor, e nossa conversa fluiu. Interessada em conversar sobre o Brasil, e conhecedora de nossa cultura, disse que era apaixonada por Bossa Nova. Citou João Gilberto, Astrud Gilbert, Sérgio Mendes e Flora Purim, que muitos brasileiros nem sabem quem são. Disse que a mãe dela amava assistir à novela da TV Globo, Escrava Isaura. De enorme sucesso na China, a atriz Lucélia Santos, a protagonista da novela, foi celebridade nacional na China.

Cheng gentilmente me acompanhou durante meu périplo, depois chamou um táxi, que me levou ao hotel.

Já de volta, na fila do embarque, no aeroporto de Pudong, em Shanghai, avistei um casal. Me aproximei, vi que eram brasileiros. “Que coisa boa é ouvir alguém falando essa língua maravilhosa”, disse-lhe de imediato. Fábio e Érica são dentistas, casados, de Jundiai, SP. Foi conversa pra mais de metro. Em pouco tempo estávamos falando a linguagem dos viajantes: lugares visitados, próximas viagens, preços de passagens aéreas, gastronomia, passeios, promoção.

Bastante viajados, descobrimos no primeiro momento do encontro, que havíamos comprado as passagens da UNITED, na mesma época, no final de 2019. Que marcamos a viagem para março de 2020. Mas, aí veio a pandemia do coronavírus, e nossas passagens foram suspensas. Só viajamos, em dezembro de 2023, último prazo para não perder as passagens.

O casal me convidou para a Sala VIP do aeroporto, aguardando o voo que nos levaria para San Francisco, EUA. Fiquei em San Francisco; eles seguiram para Washington. Nos reencontramos no aeroporto de Guarulhos, onde registramos nosso encontro em fotografias.

Ando pelo mundo, gosto de ver lugares, culturas, costumes, natureza, culinária, artes, mas o que me fascina são as pessoas que encontro. As pessoas criam em mim memórias, que se eternizam, gerando histórias que narro para os leitores e leitoras, como estas de humanos especiais, que cruzaram o meu caminho nestes vinte dias. Ao cruzar a soleira de casa, em minha volta à Ilha do Amor, só tenho a agradecer ao bom e maravilhoso DEUS, por essas pessoas especiais, que me ajudam a ir cada vez mais longe.

(*)

Luiz Thadeu Nunes e Silva é Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, membro do IHGM e ABLA.

domingo, 7 de janeiro de 2024

A VELHA RUA GRANDE

Rua Grande nos anos 80 (imagem do autor)

 

José Pedro Araújo(*)

 

Quando eu nasci, ainda era assim que todos chamavam a principal rua da minha cidade: Rua Grande. E por esse nome muitas ruas importantes de outros municípios brasileiros são conhecidas, e todas possuem um nome próprio diferente também. Em São Luís, por exemplo, capital de todos os maranhenses, uma das ruas mais emblemáticas da cidade ainda hoje é conhecida por muitos como Rua Grande. Estou me referindo àquela que já foi a principal rua do comércio da cidade, que nos seus primórdios era chamada de Caminho Grande, mas foi batizada depois de Rua Osvaldo Cruz. Nos tempos idos do velho Curador, essa rua, que foi a primeira a ser formada, era chamada assim por razões óbvias, pois se estendia desde a entrada da cidade até o Bairro Campo Dantas, em uma extensão de vários quilômetros.

Era também por lá que passavam todos os animais de montaria ou de carga, e depois os veículos automotores, que se dirigiam no sentido de São Domingos, Colinas, e outros mais situados ao sul, dando continuidade à hoje BR 135. Essa artéria era, de fato, uma rua Grande. Ainda nos tempos em que a povoação pertencia ao município de Barra do Corda, foi batizada com o nome de um político famoso daquele município, passando a ser chamada por Rua Frederico Filgueiras. Esse político, que tanta importância teve para o município cordino, foi deputado estadual e até chegou a ocupar o cargo máximo do executivo estadual por pouco menos de um mês, quando foi nomeado interinamente pelo Presidente da República, Nilo Peçanha. Consta ter sido este o primeiro homenageado a ter o seu nome identificando a principal rua da vila de Curador.

Depois, os políticos entenderam de homenagear outro de grande significância para a região, e também o primeiro dos governantes a sujar os seus sapatos com o pó do Curador quando de sua passagem pela região para inaugurar estradas. Tratava-se do comandante José Magalhães de Almeida. Este voluntarioso maranhense, que governou o estado no período de 1926 a 1930, tempo em que ainda éramos parte integrante do território de Barra do Corda, substituiu a Frederico Filgueiras e até hoje dá nome a um pequeno trecho da famosa rua Grande. Pequeno trecho sim, pois logo a rua foi fragmentada e passou a receber os nomes de muitos outros homenageados, descaracterizando a pomposa e importante via.

Deste modo, desde a Praça Diogo Soares, na entrada da cidade, até a Praça da Matriz de São Sebastião, continuou a mesma como rua Magalhães de Almeida. E foi só. Depois, foi fatiada. Desde a Praça da Matriz, em pequeníssimo trecho que termina na Praça Biné Soares, com dois quarteirões apenas, passou a receber o nome de outro governador de estado, Dr. Paulo Ramos. Daí em diante, até a Praça Gonçalo Barros, na antiga forquilha da Mangueira (a região era conhecida como Mangueira e daquele local partia as ruas Grande e Graça Aranha, formando um V), o homenageado foi o Barão de Rio Branco, grande diplomata brasileiro, ex-ministro das Relações Exteriores, também conhecido como o patrono da diplomacia brasileira. Dali em diante, e até o seu cruzamento com rua Adalto Cruz (Esquina do Grupo Escolar Dr. Murilo Braga), recebeu o nome de rua Luís Teixeira para depois seguir como Rua Antonio Piauí até a sua intersecção com a BR 226, já na altura do bairro Campo Dantas.

Deste último celebrado, nada tenho a dizer, pois me falta informações sobre a sua importância para o nosso município. E gostaria de pedir a quem souber algo sobre a sua biografia, que faça o comentário para que possamos suprir a nossa falha.

A nossa Rua Grande, como acima ficou demonstrado, passou a exaltar tantos cidadãos deste país que em determinados momentos, até mesmo pessoas residentes ao longo do seu sinuoso percurso, tem dificuldades para estabelecer as fronteiras entre um e outro homenageado. Talvez os nossos políticos fossem bem mais eficientes se trabalhassem pela melhoria daquela via pública. A nossa decantada rua Grande, por exemplo, foi a primeira a receber os benefícios da água encanada na cidade. Mas ainda hoje padece da deficiência de um sistema hídrico que tem deixado os moradores da conhecidíssima artéria sem o precioso líquido em longos períodos e por anos, desde que a cidade passou a receber mais moradores e a água oferecida não foi mais suficiente para atender a todos. Mas isso não me impede de dizer que tenho muito orgulho de ter nascido em uma via pública que era batizada por Rua Grande, um nome que insisto em repetir sempre que alguém me pergunta em que local da cidade eu nasci. 

(*) José Pedro Araújo é engenheiro agrônomo, funcionário público federal aposentado, historiador, cronista, romancista, e coordenador do blog Folhas Avulsas.