quarta-feira, 27 de abril de 2016

Novíssimas Fotografias Para o Álbum da Cidade

Av. José Olavo Sampaio (Acervo Carlos Magno)

          A avenida registrada na fotografia acima é o prolongamento da BR-226 que liga a o Rio Parnaíba ao Tocantins. Denominada anteriormente de Estrada Central do Maranhão, esta rodovia corta o estado ao meio, no sentido leste oeste, e termina por se caracterizar na principal ligação do norte do país com os estados mais ao leste da região. Anteriormente planejada para passar ao lado da cidade de Presidente Dutra, transformou-se rapidamente na principal artéria comercial da cidade, atraindo seus principais empórios. Quando criança costumava caçar passarinho em um trecho do que viria a ser esta Avenida, mais especificamente na parte que pertenceu a uma antiga propriedade de um tio meu, Chico Barros. Nela existia uma fileira de Mangueiras de várias espécies, lugar aprazível e muito sombreado, em que muitas jovens e crianças costumavam frequentar. Existia também nesse trecho um dos muitos engenhos de cana-de-açúcar que o município possuía, e que pertencia ao senhor Carvalho, se não me falha a memória. Por fim, a avenida passou bem frente à casa do senhor Basto Ferreira. Casa, aliás, que ainda pertence à sua família. Esse tempo ficou para trás. Hoje temos uma avenida muito movimentada, mas aquelas lembranças ficaram registradas na nossa memória.

Av. Tancredo Neves (Acervo Carlos Magno)
          Já a Avenida que vemos nesta segunda fotografia, a Tancredo Neves, é uma artéria da cidade quase que exclusivamente residencial. Digo quase, porque no seu extremo sul, funciona uma série de bares e  churrascarias (os tais espetinhos), fato que terminou por transformar a região em um  Point para os notívagos e pinguços que adoram passar suas horas de lazer por lá. Esta avenida foi construída no local em que antes, e durante muito tempo, foi o Campo de Aviação do município. 
          As duas avenidas são importantes artérias da cidade, e possuem em comum o fato de serem relativamente novas, prova do grande crescimento pelo qual vem passando o velho e querido Curador.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Belas Tardes de Domingo



                                   
 José Pedro Araújo
Existem coisas que marcam a fogo a nossa memória para sempre e, invariavelmente, tornam do canto escuro em que ficaram guardadas eternamente, despidas da parte ruim, é claro, para nos inundar de saudades. A maioria delas é composta por acontecimentos simples que, quando damos conta delas para outrem, ficam sem entender onde reside a graça daquilo que dizemos. Para nós, entretanto, elas são tão importantes quanto pequenas joias de valor incalculável, pois nos levam para o passado mais alegre da nossa pretérita existência. Essas lembranças, muitas vezes, são trazidas até nós sempre que alguma coisa nos acontece, como quando ouvimos uma velha música de que gostamos, e ela sempre vem acompanhada pela lembrança de um lugar, de uma pessoa, ou mesmo de um fato acontecido quando a ouvíamos.

O tempo vai passando, a idade vai chegando sorrateira com suas dores e suas cores cinzentas, mas traz costumeiramente também lembranças muito queridas para nós. Uma dessas lembranças simples e duradouras nos dá conta do que acontecia nas tardes dominicais do meu Curador.

Nos primeiros anos dos sessenta, havia pouca coisa para se fazer numa cidade tão pequena e desprovida de opções de lazer como a nossa. Para os aficionados pelo futebol, sempre restava o velho rádio de pilhas e suas ondas médias, que traziam até eles o som das transmissões futebolísticas, por exemplo. Sentados confortavelmente em cadeiras espreguiçadeiras, esses torcedores sertanejos ouviam com atenção os ataques de histeria dos locutores quando algum atacante do seu time favorito se aproximava do gol adversário. Às vezes, não havia o jogador ainda ultrapassado a linha que divide o gramado, mas eles já carregavam na emoção e deixavam o sofrido torcedor com a impressão de que a bola já estava quase dentro do gol adversário.

Para a garotada, porém, restava pouco o que fazer. Assim, tinha que se agarrar em alguma coisa para ocupar o tempo que se escoava vagarosamente rumo ao anoitecer. Tocavam a inventar brincadeiras e a buscar emoção nas coisas à disposição e tão corriqueiras. Sem alumbramento, entretanto.

Uma dessas possibilidades de dar um pouco de alegria às tardes de domingo, aconteceu quando um empresário da cidade, Zé da Cruz, adquiriu um caminhão novinho em folha, para transportar mercadorias e produtos relativos à sua atividade empresarial. Corria ai, como já falei, o inicio dos anos sessenta, e existiam poucos carros na cidade ainda inexpressiva. De modo que a simples aquisição de um veiculo por algum dos moradores da cidade já era assunto para ser tratado nos pontos de maior ajuntamento de pessoas, como a praça da matriz, o mercado central ou mesmo as igrejas.

Como ia dizendo, o caminhão do Zé da Cruz era uma das novidades mais alvissareiras da localidade e todo mundo queria conhecer o tal veículo motorizado e, se possível, desfrutar do seu conforto, dando uma voltinha nele. Nem precisava ser na cabine. Na carroceria já estava de bom tamanho.  Não posso negar, fiquei encantado com aquele Chevrolet branco e de para-lamas pintados na cor azul (se não me falha a memória).  Logo que fiquei sabendo da novidade, convidei meu pai, grande amigo do empresário, a lhe fazer uma visita. Era uma tarde linda de domingo e o sol brilhava forte, cobrindo de amarelo toda a região presidutrense. Com muita luta, meu pai acedeu ao meu convite e dali a pouco partimos em direção à praça da matriz. A casa a qual nos destinávamos ficava em uma das esquinas da praça principal da cidade. E, como sempre acontecia, fomos recebidos com o maior carinho e afeto pelo casal de amigos. Como não poderia deixar de ser, a conversa logo enveredou para a chegada do novo transporte, recentemente adquirido.

Conversa vai, muda para as novidades da politica, depois volta ao assunto que nos levara até ali. E eu ali, quieto e esperançoso. Esperançoso que o anfitrião nos convidasse para conhecer a novidade. Mas, como em muitas coisas da minha vida, aconteceu melhor. Em dado momento, Zé da Cruz perguntou ao amigo (depois sócio em uma loja de tecidos), por que não davam uma voltinha no Chevrolet. Ai, não me aguentei e já levantando da cadeira clamei em alto e bom som: claro que meu pai aceita! Posso ir junto?

Bom. O que aconteceu depois, não recordo muito bem. Nem mesmo quem dirigiu o caminhão, pois o seu proprietário não possuía habilitação para guia-lo. O que eu sei, com certeza, foi que logo estávamos passeando pelas ruas empoeiradas da cidade. Meu pai ia na cabine (boleia) junto com o proprietário, e eu encarapitado na carroceria, seguro ao gigante. E daí a pouco, a carroceria estava repleta de gente. Adultos, crianças, mulheres e homens, somavam um só e coeso grupo: a trupe dos cidadãos mais felizes da cidade.

Ah! Quem nunca experimentou aquele vento frontal no rosto, fresco e a despentear-lhe os cabelos, não faz ideia do prazer que sentíamos naquele instante. A alegria era visível no rosto de cada um dos sortudos que ali estava. O riso saia fácil e as gargalhadas acompanhavam o solavanco do caminhão pelas ruas esburacadas e poeirentas. E quando avistávamos algum conhecido, aqueles felizes passageiros acenavam inebriados e gritavam para chamar-lhe a atenção. Queriam ser vistos naquela comitiva da felicidade. E, de vez em quando, alguém corria atrás do carro e subia na carroceria para aproveitar o convescote dominical. Dai a pouco, a carroceria não cabia mais ninguém.

Se bem me lembro, fomos até muito depois do bairro Campo Dantas, depois voltamos pela Magalhães de Almeida e seguimos até o Varjão. Um passeio e tanto. Uma felicidade sem par. Quando o caminhão parou na frente da casa do proprietário, a noite já cobria a cidade com o seu manto escuro, posto não termos luz elétrica naquele tempo, apesar de já termos sentido o prazer dessa modernidade em épocas passadas. Os postes de pau d’arco com toda a fiação, ainda se encontravam enfiados no chão, para atestar isso, mas o velho motor elétrico se achava fora de combate há muitos anos. Por esta razão, ao apearmos do Chevrolet a escuridão já tomava conta da cidade.

Quase não me continha na minha alegria ao volta para a nossa casa. Meu pai, como sempre fazia, estimulava o eu prazer ao concordar que aquela havia sido uma tarde de domingo sem igual. Durante muitos outros domingos, sempre à tarde, ainda voltamos a nos deleitar com aquele passeio. Entretanto, quando o caminhão se achava em viagem, ou sem gasolina, pois ainda não existia um posto do combustível na cidade, a decepção era total. Estava acostumado demais com aquele sacrossanto passeio dominical. Não me recordo também quando teve isso fim, e nem por que terminaram com o nosso lazer especial de domingo. Minha memória não guardou essa informação.

Sei apenas que durou o tempo suficiente para que não me esqueça jamais de como era doce e agradável aquelas tardes ensolaradas e o especialíssimo passeio sobre a carroceria do caminhão Chevrolet. Hoje em dia, mesmo possuindo nosso automóvel até certo ponto confortável, não sinto o mesmo gosto, a mesma sensação ao passear pelas ruas. Aquele vento fresco batendo no rosto, brincando com os meus cabelos, é uma sensação que guardarei na memória para sempre. Belas tardes de domingo!

terça-feira, 19 de abril de 2016

Sonata em Dor Maior



Elmar Carvalho
Poeta, cronista e membro da Academia Piauiense de Letras

A mesa está posta,

mas os pratos estão vazios.

O meu povo não tem

talheres, nem colheres,

por isso come com as mãos

o que não existe nos pratos.



O meu povo vota em

 eleições para presidente

da república (de estudantes),

mas sonha votar

na eleição para Presidente da República

Federativa do Brasil.



O meu povo deseja bater

palmas para as estátuas dos

heróis libertários.

Mas como se as mãos

e os pés estão atados?



Em 1888 acabaram com a

escravidão no Brasil. Mas que escravidão?

Se antes os escravos eram pretos,

hoje são de todas as cores,

e cantam com raiva a “Esparrela do Brasil”.

(Parnaíba, 13.10.78).


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Histórias de Zeca Barros

Foto Ilustrativa

                                                 José Pedro Araújo 

            Meu tio Zeca Barros era uma dessas pessoas com quem conversar transformava-se em uma tarefa extremamente agradável. De palavra fácil e riso alegre, gostava de contar histórias de acontecimentos que presenciou em sua longa caminhada pela vida. A última história que ouvi dele, dizia respeito às agruras de um sertanejo para realizar o exame de próstata. Falava de si mesmo. Mas esta aí vai ficar para depois, existem outras na frente para ser contada.

            Desde criança me acostumei a ouvir Seus causos, assim como muitos garotos da minha idade que acorriam à sua casa, sempre à noite, quando ele retornava da lida, para ouvi-las. E ele, sabido como nenhum outro, costumava nos fazer debulhar todo o feijão em vagem que havia colhido naquele dia. Nessas horas ele se servia de um quibano, instrumento muito usado pelos agricultores para limpar os cereais da casca, enchia-o de vagens de feijão e a meninada acercava-se dele para começar a tarefa enquanto ele desfilava suas engraçadas histórias. Papai costumava dizer que meu Tio era um homem sábio, pois sempre que orava a Deus pedia que se o Altíssimo tivesse mais alguma coisa para lhe dar, que deixasse para a sua velhice, quando iria precisar mais ainda. Acho que Deus lhe atendeu ao pedido, pois é certo que as coisas melhoraram muito para ele quando ultrapassou a barreira dos sessenta anos.

            Zeca Barros possuía uma propriedade que era cortada ao meio pelo rio Preguiça. Este manancial, manso como o próprio nome faz entender, é bastante raso e espraia as suas águas pelas ribeiras cumulando-as com muito húmus, tal qual faz o rio Nilo, na África. Havia nesta um sítio com muitas fruteiras, em especial algumas mangueiras que produzia frutos de sabor inigualável. Era lá que ele também fazia suas farinhadas. No principio, da forma mais rudimentar possível, ocasião em que tínhamos de movimentar no braço uma roda para fazer o Caitetu girar e transformar a mandioca em massa. Depois, adquiriu um pequenos motor e a tarefa de preparação da farinha ficou bastante facilitada. Nessa ocasião, era uma festa ir para à Preguiça, nome dado em homenagem ao rio que a seccionava ao meio. Tomar banho no rio, comer beijus e milho verde assado e, principalmente, as incomparáveis melancias que ele produzia, era um programa inesquecível. A festa começava ao sairmos pela plantação escolhendo os maiores e mais doces frutos, comendo-os ali mesmo no local em que eram encontrados.

            Todas as crianças das imediações estavam sempre se candidatando ao posto de convidado, mas, somente umas poucas eram escolhidas de cada vez. Isso porque havia muita lama pelo caminho, o terrível Massapê, barro liguento e escorregadio, sem contar as passagens do Sucuruju e do rio Preguiça que quando estavam com suas águas transbordando, dificultavam sobremaneira o trajeto.

Era, afinal, uma aventura chegar-se até lá.

Aliás, devo dizer que não somente as crianças, mas os adultos também gostavam do passeio. E numa dessas idas estava também um Pastor da Igreja Cristã Evangélica, de nome João – vou mudar o nome para não constranger o personagem. Sujeito relativamente alto, magro, muito magro, eu diria, e extremamente simpático e brincalhão, Pastor João era presença constantes em nossas casas nas horas em que não estava desenvolvendo o seu ministério. E nesse inverno, candidatou-se para ir comer melancia e milho assado na Preguiça. Ocorre que nesse dia o rio estava por cima, águas derramando por toda a vazante, enlameando o caminho e dificultando mais ainda o trajeto que já era difícil. Mas ele não se deteve por conta desses entraves.  

Chegando à margem do rio, Pastor João ficou muito preocupado com a travessia, pois tinha que atravessá-lo caminhando sobre um tronco de madeira com aproximadamente sessenta centímetros de diâmetros na sua parte mais expressiva. Se o trajeto até ali já havia sido muito penoso - deslizando-se muitas vezes no massapê, e caindo-se algumas outras tantas com a bunda na lama, além de sofrer um ataque sistemático de mutucas assassinas - passar por sobre aquela tora de madeira, medindo não menos do que vinte metros de extensão, era outra história. O convidado recuou. Temia cair na água corrente que já estava quase batendo na ponte improvisada.

 Zeca Barros, que já fazia aquela travessia desde menino, mais de cinquenta anos atrás, assim que chegou à beira do rio, calçando ainda suas botinas características, foi logo subindo no tronco e passou caminhando sobre ele com se estivesse passeando sobre uma ponte larga. Em menos de um minuto já estava no outro lado, insistindo com o visitante.

- Vamos lá, Pastor!

- Passar por cima deste pau? Nem morto! – rebateu o atemorizado convidado, parado, olhar com um misto de pavor e admiração frente à proeza realizada pelo seu anfitrião.

- Vai, homem, você vai conseguir! – gritava Zeca Barros do outro lado.

- Não vai dar! – respondia o Pastor – se cair nesse rio, eu é que vou ser comido pelos peixes, em vez de comer melancia.

- Que é isso! Você consegue! É só ter coragem.

- Nem me pagando, “seu” Zeca! – resistia o Pastor.

- Então vamos voltar daqui? É isso que quer? – falou o meu tio já desanimado.

- Não, “seu” Zeca. Façamos assim: o senhor vai até a roça e traz as melancias para a gente comer deste lado do rio – interveio o homem que não queria perder a oportunidade de degustar as ansiadas frutas.

- De que jeito, homem? Não têm graça nenhuma ficar carregando melancias de um lado para o outro do rio. Depois, são muito pesadas.

Depois de algum tempo de discussão, “vem, não vou!”, o assustando homem enfim criou coragem e começou a se preparar para atravessar o rio. Era isso, ou perderia o objeto da sua viagem até ali.

Só que em vez de caminhar sobre o tronco de madeira como havia feito Zeca Barros, o Pastor montou sobre a tora de madeira com se fosse cavalgar um animal, e com as duas mãos apoiadas a sua frente, começou a se arrastar vagarosamente feito criança ao engatinhar. Do outro lado, meu tio olhava aquela cena engraçada e não continha o riso. O homem ia mudando de posição aos pulos, arrastando-se sobre o madeiro, penosamente. Mas, não é que o teimoso estava conseguindo!

Foi uma travessia dificultosa, mas ele conseguiu chegar ao outro lado são e salvo. Mas estava muito suado e reclamando de dores nas pernas, certamente raladas no tronco enrugado.

Depois do esforço monumental, o homem encarou seu anfitrião com uma advertência:

- O senhor é doido, “seu” Zeca. Como foi capaz de passar quase correndo sobre esse pau com as botas enlameadas desse jeito? – falou com alguma dificuldade.

- Doido, eu? Doido é você que atravessou uma distância destas montado sobre esse pau tão grosso! – respondeu isso e caiu na gargalhada.

O Pastor quedou desconsolado à sua frente, certamente ajudado pelo fato de ter caído naquela armadilha verbal.

O passeio, contudo, compensara as dificuldades enfrentadas. Comeu o visitante tantas melancias quanto pode, e ainda levou outras tantas para casa.

A volta foi outro sofrimento, pois o processo de cruzar o rio foi o mesmo. Mas ele já não se importou mais com a possibilidade de cair na água. Estava seguro pelo jeito escolhido e não deu chance a outra brincadeira.

Pastor João continua pregando a palavra de Deus, coisa que ele faz com muita sapiência e boa vontade, por este nordeste.  Mas, certamente, não esquecerá jamais de um certo dia em que se candidatou a comer melancia na roça do Zeca Barros. Do saudoso e brincalhão Zeca Barros.

           

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Entre a Literatura e a Sordidez Política




 Cunha  e Silva Filho
Escritor, ensaísta, tradutor e coordenador do blog “As ideias no tempo”.


        A agenda da vida literária e cultural  brasileira não deixa de manter-se fértil,  exuberante,  promissora,  com  datas de homenagens a grandes  escritores,   palestras,  em universidades, textos em sites e blogs, alguns primorosos,  nacionais e internacionais,  em rede social,  como o conhecido  Facebook que se está transformando em coluna  de alguns usuários e em  agenda de eventos  de literatura  e outros campos do conhecimento.
          Nunca pensei que ainda alcançaria  assistir a tudo isso  deslumbrado de ver  tanta coisa boa e útil à coletividade. Sabemos, por outro lado,  que  o Face tem lá seu lado  um tanto fútil, as o seu traço geral não o é com certeza. É, antes,  um  instrumento  utilíssimo  para  transmitir conhecimento,  trocas de ideias, de informações, de pontos de vista. Entre o lixo e o luxo cultural  o saldo positivo fica para a segunda  alternativa.
           Assim é que me movo hoje, ora  exigindo de mim  a participação  produtiva  no terreno  literário,  ora  as exigências de me posicionar  politicamente  num Brasil  encharcado de informações e contrainformações, embaralhando até a cabeça dos mais conscientes  diante dos desatinos  da  administração  federal.
       Há um ponto de intersecção polarizadora, divisora,  numa clivagem  que, por chegar a um  ponto tal de ebulição, atingiu um dos sentimentos  que mais  prezo no relacionamento  entre pessoas: a amizade. Em tempo passado algum  da minha vida,  mesmo  no ápice  dos anos de chumbo, pude constatar  tanto  sentimento  de  aversão mútua entre  filhos da   mesma  pátria.  
        No meu tempo de estudante de letras e mesmo muito antes, quando me preparava para o vestibular, não em cursinhos, porque me faltava  condição financeira, mas autodidaticamente, tive amigos reconhecidamente  socialistas e comunistas ativos que, sabendo da minha, teoricamente, posição apolítica ou absenteísta como querem  outros,   sempre me trataram  com  o devido  carinho e com uma amizade que me  comovia. Nunca  misturaram  os papéis, nunca deixaram de me tratar  como   qualquer brasileiro  cujo objetivo primacial era vencer na grande  cidade do Rio de Janeiro.
       Nas condições odientas de hoje,  a realidade  é bem  outra: há um sentimento  de antagonismo  visceral, uma acrimônia sem limites de uns contra os outros  jamais  sentida  por mim  antes.  Imagine-se se vivêssemos numa  guerra civil, que é o último degrau  de uma antiga  convivência  pacífica entre filhos da mesma   pátria.
    Perdemos  um dos mais nobres  sentimentos  tão necessário aos laços entre  brasileiros e,  principalmente, entre supostos amigos, porquanto a amizade é um sentimento  que se preserva a todo custo e por cima das ideologias e visões da vida.
     Eu bem me lembro que,  um historiador  da literatura   brasileira,  por inimizade com  outro  que pesquisa na mesma  área, deixa de citar  o desafeto  intelectual, ou, quando muito,  faz-lhe referências  mínima. Para mim,  isso  podia-se denominar crime  cultural,  falta de dignidade  pessoal e desserviço  à evolução do conhecimento  humano. Subestimar  de propósito  um escritor  por inveja  ou  por razões  políticas é um desatino  e uma imoralidade  flagrante, desprezível aos olhos da produção verdadeiramente  científica. Obviamente,  me   refiro àquele pesquisador que, sabendo do valor   maior ou  menos valor de um autor,  passa batido e sonega  informações  que seriam  valiosas  à continuidade  do desenvolvimento  cultural.
     Nos tempos que correm da  produção digital, seja exemplo  o Facebook, já se tornou  um quase lugar-comum a quebra de amizades,  deletação ou apagamento  por motivos  políticos   no confronto  entre situacionistas  e oposicionistas, ou mesmo entre o situacionismo e  posições políticas apartidárias, independentes, mas  frontalmente contrárias à conjuntura  política nacional.         
     Ora,  essa realidade nova e nefasta à sociabilidade  é um retrocesso  e um  exemplo de que  o ser individual não se aprimorou  como subjetividade  em relação às alteridades  diversas, pois está  levando a pique  uma das condições mais saudáveis  no relacionamento  interpessoal dos brasileiros.
   Só governos de estofo autoritário levam uma comunidade  a tal  ponto  de  ofuscamento  de uma   realidade que atormenta   há tempos  a vida  brasileira, colocando  o país  em sérias  dificuldades  nos diversos setores  da esfera  pública e privada.
     Quero  saber até aonde vai  a angustiante  vida  de alguns  brasileiros que perderam  emprego aos milhões, que estão sofrendo  com  um altíssimo custo de vida e com uma  violência  que atingiu o seu estado mais   sangrento. Haja vista o agora chamado  “novo cangaço,” com cidades do interior do país sendo invadidas por bandoleiros  - verdadeiros  outlaws dos tempos da conquista do Oeste norte-americano tão aproveitados  pelos cinemas (e livros), os famosos  westerns, americanos de bangue-bangue – muito  mais armados do que os nossos  policiais, explodindo  bancos e pondo a população  em polvorosa e  em estado de choque. Veja-se como o país está  distante e atrasado no setor da segurança  pública   se comparado com  outros  países  grandes e melhor  organizados.
   Na criminalidade em geral, na urbe e no interior,  o país está num lamentável e perigoso retrocesso. O que evidencia o quanto  o nosso país  sofre nos últimos  anos e de forma  crescente sem que  o governo federal  tenha tomado  decisões  firmes para conter  esses criminosos e puni-los severamente sem brechas de leis e benefícios  legais que deveriam urgentemente  ser eliminados  da nossa legislação  no âmbito da criminalidade de alto risco,  constituindo  mesmo  em  seguidos   crimes  de segurança nacional, ou seja, numa situação  de   defesa dos brasileiros e do seu  patrimônio material.
     Ora,  tal caos social  instalado  exigiria  o apoio urgentíssimo das forças federais, ou seja, da polícia federal, da polícia civil e das forças armadas, com a necessária  logística  de estratégias e de armamento  moderno  pesado que possa debelar  os focos  desses “novos  cangaceiros”  movidos a granadas,  explosivos   e armamento  de guerra e atitudes de terroristas sangrentos  para com a  população.
     Em vez de milhões de reais  usados ilegalmente, conforme a mídia tem divulgado  recentemente,  pelo atual  governo  a fim de comprarem  votos  de oposicionistas  para sustar  o  impeachment da presidente Dilma Rousseff,  por que não canalizar aquele dinheiro  público para tantos setores públicos sucateados como,  além do horror da criminalidade galopante já mencionada, saúde,  educação, transporte, custo de vida,  juros altíssimos e falência  nos setores  industriais e comerciais.

    Esse seria  o papel  primordial  reservado a um  chefe de governo que  pensa  no bem-estar dos brasileiros. A presidente Dilma Rousseff está pensando apenas em manter-se no  poder, o que é, no mínimo, uma atitude  egoísta  e impatriótica.