quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

As Minhas Copas do Mundo de Futebol(3)




José Pedro Araújo

A Copa do Mundo de 1986 deveria ter sido realizada na Colômbia. No entanto, as dificuldades econômicas sofridas pelo país à época, somada às exigências das marcas comerciais aliada às da própria FIFA que solicitava, além de grandes estádios, inúmeras regalias para os dirigentes da entidade, levaram o país sul-americano a renunciar à escolha da sede. Assim, houve uma disputa entre México, Estados Unidos e Canadá para definir o novo anfitrião do Mundial. Como o torneio havia sido realizado dezesseis anos antes no país latino com enorme sucesso, os mexicanos venceram de maneira unânime o pleito realizado em 1983, tornando-se os primeiros a abrigar duas Copas diferentes.
Nessa copa do mundo já estava residindo na minha própria casa, onde moro até hoje, e me preparei para ela comprando uma televisão maior que a da copa anterior, de 20 polegadas, o maior tamanho encontrado no mercado naqueles distantes tempos. Era uma Sharp com controle remoto, e com uma imagem de tirar o fôlego. E o melhor: além da mulher, tinha agora três filhos para animar a festa. Mas, apesar disso, e do mundial ser disputado no México, país em que ganhamos a nossa última copa, não estávamos tão confiantes assim, pois a seleção brasileira havia se classificado sem brilho nas eliminatórias, enquanto a Argentina havia passado voando baixo pelo seu grupo. E ainda contava com Maradona, o melhor do mundo na época. Aquela copa haveria de ser deles, por tudo que o Pibe fez. Apesar de contarmos com alguns craques da copa anterior, o time estava muito mudado, e já não apresentava a mesma qualidade da anterior.
Até que fomos bem na primeira fase: vencemos as três partidas jogadas. Sem muito brilho, é bem verdade, mas mesmo assim, vencemos. 1x0 na Espanha, 1x0 na Argélia e 3x0 na Irlanda do Norte. Parecia que melhorávamos jogo após jogo. Fui me empolgando, e os preparativos para os jogos foram melhorando também em minha casa: bandeiras, camisas, a música que antecedia aos jogos, e um grupo de amigos que aumentava jogo a jogo. O campeonato agora tinha uma nova distribuição de fases. Assim, passamos para as oitavas de final em jogo eliminatório, quem perdesse voltava para casa, como acontece hoje em dia. Ganhamos de forma incontestável da Polônia por 4x0, classificando-nos para a fase seguinte, as quartas-de-final. E isso nos animou bastante. Fomos para o jogo contra a França de Michel Platini com a maior confiança possível. A seleção estava engrenando dentro do torneio, crescendo jogo a jogo, e a adversária, apesar de não ser uma carne-frita, não era uma ganhadora de copas.
Foi um jogo nervoso e que terminou empatado em 1x1. E como era eliminatório, fomos para os pênaltis e, para grande desgosto, eliminados. Voltamos mais cedo para casa mais uma vez. As festas acabaram aqui em casa. Os amigos não apareceram mais para ver os jogos solidariamente. E ainda vimos os nossos piores adversários, a Argentina de Maradona, ganharem a copa com uma vitória sobre a Alemanha. Decepção total!
A Copa do Mundo de 1990 foi disputada na Itália, e não estávamos tão confiantes com o time que mandamos para lá, a começar pelo treinador, um tal Sebastião Lazaroni. Apesar de tudo, em casa preparamos tudo mais uma vez para festejarmos o evento com o maior carinho. A nossa TV ainda era a mesma que fora adquirida para a copa anterior, pois não havia necessidade de uma nova. A chamada seleção do Dunga não nos empolgou na primeira fase, apesar de termos ganho todas as três partidas. O placar apertado nos jogos sobre adversários fracos, ia nos preparando o espírito para o pior. E isso aconteceu da pior forma possível: contra o nosso adversário mais intragável, a Argentina. Até jogamos melhor, mas perdemos o jogo por 1x0. A copa do mundo passou a ter a qualidade de uma festinha do tipo tertúlia, com o mesmo sabor de quando temos que dançar com uma irmã.
E enquanto para nós transcorria tudo na maior desanimação, íamos vendo a Argentina de Maradona crescer dentro da competição, ultrapassando adversários poderosos até chegar a final contra a Alemanha. Para nós, aquela copa ia ficando cada vez mais intragável, sem graça. Preparamos uma festinha chocha, sem muito emoção, para vermos a final, todos torcendo contra a nossa vizinha de América do Sul. Menos mal que a Alemanha venceu e nos deu um pouco de alento ao bater a Argentina na final. Ficou aquele gostinho aético de nos alegrarmos com a derrota dos outros. Mas gostamos do resultado mesmo assim.
Em fim, chegamos à Copa do Mundo de 1994 a ser disputada nos EUA, país sem nenhuma tradição no futebol. Filhos já crescidos, foram eles que conduziram a animação, pois eu mesmo não comecei muito empolgado aquela copa. E para demonstrar isso, basta dizer que fiz reserva de hotel em São Luís para passar alguns dias de férias com a família exatamente no período coincidente com as semifinais do torneio. Não acreditava que o Brasil chegasse até lá. Mas, mesmo assim, comprei uma televisão nova de 29 polegadas, tela plana. Queria me utilizar das novidades que teríamos nas transmissões, situação propagandeada pela Globo diariamente.
Passamos bem pela primeira fase, com vitórias sobre a Rússia, Camarões, e empate com a Suécia. Apesar de tudo, o Brasil jogava um futebol de pouco brilho, levado pela genialidade de um certo baixinho letal, Romário, coadjuvado por outro azougue, Bebeto. Passamos para as oitavas-de-final com certo louvor, em primeiro lugar do grupo. Encaramos os donos da casa, os Estados Unidos, e passamos com um apertado 1x0. Enquanto isso, os Argentinos foram eliminados pela Romênia: dupla vitória nossa.
Nas quartas-de-final enfrentamos um adversário que se tornaria frequente em copas do mundo: a Holanda. Dessa vez vencemos por 3x2. Estava começando a me animar com aquela copa do mundo, e a torcida só crescia em casa. A decoração para as festas também.  Mas, como já afirmei, tive que assistir às partidas semifinais em um apartamento de hotel em São Luís do Maranhão. Assisti aos jogos dessa fase sem festa e quase sozinho, pois os meninos preferiam aproveitar a piscina do hotel. Passamos outra vez pela Suécia em jogo muito difícil, adversário da primeira fase com quem havíamos empatado em 1x1. Ganhamos o jogo com um gol de Romário. Sempre ele.
Animei-me para assistir à final em um lugar mais alegre e festivo, e viajei para o meu torrão natal, Presidente Dutra, a convite do meu irmão que praticamente inaugurava a sua casa nova. Lá a festa estava armada. Na área da piscina estava toda a família, além de alguns amigos queridos. Se a churrasqueira não parava de funcionar, o freezer não fazia feio também e vomitava cervejas estupidamente geladas. Quanto à partida contra a Itália, já faz parte da história: empatamos no tempo normal e na prorrogação, e fomos ajudados pelo craque deles, Roberto Baggio, que chutou o último pênalti para fora. Foi de Baggio o mote para o “gran finale”: fomos todos comemorar dentro da piscina. Como coube tanta gente, não sei explicar. Foi a única partida de Copa do Mundo que assisti pela TV na minha terra natal até hoje. E foi inesquecível a comemoração do Tetra Campeonato buscado pelo Brasil desde aquela festa monumental no México, 24 anos passados.

domingo, 28 de janeiro de 2018

ELEIÇÕES - AS DECEPÇÕES DE UM INCAUTO




José Pedro Araújo

Não se aflijam com o título acima. Não vou tratar exatamente sobre política partidária, mas sobre alguns acontecimentos ligados a ela. Mas, como teremos eleições para diversos cargos importantes da república, vou brincar um pouco com o assunto. E para comprovar a minha total falta de habilidade em questões eleitorais, vou citar um caso acontecido que quase me fez perder a amizade de um grande amigo. Certa feita, um amigo de nome Joãozinho veio me informar que era candidato a vereador naquelas eleições. Sem saber o que dizer, pois tinha convicção que aquele meu amigo tinha condições de ser muita coisa na vida, menos político, fiz com ele uma brincadeira sem graça. Não por lhe faltar atributos como honestidade e bons propósitos, mas acreditava lhe faltar o mínimo de traquejo para desempenhar tal função. Achei de levar na brincadeira o assunto.
E foi assim que lhe disse no mesmo instante: “Ótimo, já tenho até um slogan para a tua campanha. Veja só que beleza: ruim por ruim, vote no Joãozim. Que tal, não é uma boa?”.
Meu amigo arregalou aqueles olhos azuis no meu rumo, demonstrando um misto de surpresa e decepção, e sapecou em cima da bucha: “esse ai tu usa quando for candidato a alguma coisa”. Quase perdi o amigo! Joãozinho ficou um bom tempo chateado com o que considerou uma grande desfeita da minha parte. E eu, depois da reação dele, não pude nem lhe dizer que aquilo era uma brincadeira, que estava apenas surpreso com a notícia que ele havia me dado.
Pois bem, com o orgulho ferido, o meu amigo se lançou em campanha com uma vontade somente comparada aos famintos quando vislumbram um prato de comida à sua frente. Percorreu a cidade e o interior do município em busca de votos, palmilhando caminhos dantes totalmente desconhecidos para ele. Nem uma casa isolada, por mais distante que estivesse do aglomerado urbano, era razão suficiente para o meu amigo fraterno deixar de visitá-la. Nessas caminhadas, além da palavra empenhada em busca de melhorias para a comunidade, sempre abria a bolsa e deixava alguns trocados para pagar alguns litros de pinga para a rapaziada. Matou boi erado e distribuiu a carne entre os seus futuros eleitores e, em certa comunidade, até leiloou uma bicicleta novinha em folha para os populares. E, enquanto a festa rolava, ele aproveitava para ir repassando alguns santinhos para a galera, com uma foto colorida que o retratava com uma cabeleira farta, do tempo em que ainda tinha cabelos. Antes que alguém fale em crime eleitoral, vou logo dizendo que naquele tempo tudo era possível, não tinha essa história de caixa dois, doação ilegal de campanha, essas coisas.
Pode-se dizer que o Joãozinho incorporou o espírito do político caçador de votos, aquele que só aparece em período de eleição, mas que, quando chega o tempo da corrida eleitoral, vai com toda a gana em busca dos sufrágios, estejam onde estiverem. Empolgou-se, abriu as burras - logo ele que não gastava o dinheiro dele com nada nesse mundo - e partiu para competir com os seus concorrentes mais conhecidos e traquejados no assunto.  
Fiquei de longe acompanhando o vai-e-vem do novo candidato com o coração partido. Será que eu era culpado por ele se achar naquela situação? – indagava sem resposta. E nesses momentos, vinha à minha mente a frase terrível que o havia magoado tanto e que eu achava que havia sido decisiva na luta que ele empreendia agora.  
Com a consciência pesada, decidi que votaria no Joãozinho. Não só isso: iria trabalhar para ajudar o amigo na campanha. E foi assim que no dia das eleições lá estava eu com uma pilha de modelos de cédula eleitoral com o número do meu candidato em mãos, praticando a chamada boca-de-urna. Outro crime? Pois é!
Havia, contudo, um problema real, para o qual não me toquei na época: eu era praticamente um desconhecido naquela cidade. Assim, prossegui determinado no meu trabalho de cabalar votos e, armado de muita confiança, fui distribuindo as cédulas eleitorais preenchidas com o número do Joãozinho a todos os prováveis eleitores que passaram por mim naquele dia. Quando o meu estoque acabava, eu voltava para casa onde um grupo de pessoas da família estava trabalhando no seu preenchimento, e apanhava mais material.  No final da manhã, eu já havia distribuído mais de quinhentas cédulas e gasto muita saliva com os prováveis eleitores. Fui me empolgando também.  
Continuei na parte da tarde com a mesma estratégia: cada pessoa que passava eu pedia que votasse no meu candidato, e lhe distribuía o papel com o número dele. E, na maioria dos casos, o simpático eleitor sempre dizia que votaria com certeza, pois até aquele momento estava indeciso e não sabia ainda em quem votar. Então, à medida que ia aumentado a minha empolgação, pensei comigo mesmo: “Como é fácil conseguir votos, rapaz! Se a metade das pessoas que me garantiram votar no Joãozinho confirmarem a promessa nas urnas, o homem estará eleito com folga!”
Assim, no final da tarde, um pouco cansado e muito queimado pelo sol inclemente do verão, retornei para casa com a certeza de que o nosso candidato estaria eleito com uma excelente votação.
Bom, para encerrar a história sem mais delongas, esclareço que ficamos todos no aguardo da apuração que começaria somente no dia seguinte. A confiança na vitória era total. E quando disse isso ao meu amigo, ele apenas me olhou com aquele ar de vencedor, como a dizer: “Está vendo ai sabichão, quando acaba você não confiava na minha grande capacidade política. Quem é bom já nasce feito, meu filho, aprenda mais essa!”. E eu, humilhado por aquele olhar superior, me recolhi à minha insignificância, mas continuei achando que estava absolvido da brincadeira sem graça que havia lhe dito.
Dia seguinte, finalmente começou a contagem dos votos para vereador. E à medida que a apuração avançava minha certeza na vitória ia murchando qual balão de gás. Os votos do meu candidato estavam sumidos das urnas, parecia que quase ninguém havia sufragado o seu nome. Veio o final da apuração e os votos do Joãozinho não apareceram. Havíamos sido miseravelmente traídos pelos nossos eleitores. Apenas 45 honestos cidadãos haviam confiado o seu voto ao meu candidato.
Nem é preciso dizer que à medida que o tempo ia passando, aquele olhar superior do meu amigo ia se transformando em uma mistura de decepção e revolta. E eu, mais acuado ainda do que quando comecei com aquela brincadeira horrorosa, meti a viola no saco e sai em busca de uma gelada para acalmar o coração e espantar a decepção para longe.
Candidatos, não se empolguem muito! Tá mais fácil, nos dias de hoje, caçar Pokémon do que votos. Eles estão escorregadios, eu diria mesmo, estão mais raros do que enterro de anão!

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

CRÔNICAS VIVIDAS – VALOR DO SOFRIMENTO

Imagem extraída de Pedagogia Quântica




José Ribamar de Barros Nunes*

No último dia de 2017, ao receber o troféu “Mário Lago”, o ilustre, conhecido e endeusado cantor e ativista Caetano Veloso declarou alto e bom som que os sofrimentos para ele não valeram nada, embora reconhecesse que outras pessoas pensem ao contrário.
A mim e creio que a muita gente causou  espécie sua afirmação, pois ela contraria o pensamento e os exemplos de grandes figuras da humanidade, como Santo Agostinho, Chico Xavier e tantos outros.
Pessoalmente, boto muita fé no valor terapêutico, pedagógico, pessoal e social da dor como fonte de inspiração, aprendizagem e superação. Muitos exemplos práticos provam e comprovam essa tese. Desconheço quem não tenha vivido ou pelo menos observado casos concretos.
Não se trata de considerar o sofrimento em geral como um bem ou uma escola, muito menos de aplaudir a miséria social e pessoal que a maioria da sociedade aguente todo o mal que advém da natureza ou da desigualdade social. Pessoalmente, digo que meu corpo, alma e coração não compreendem nem aceitam a teoria espírita de dívidas passadas...
Penso que o sofrimento de qualquer origem pode proporcionar superação e momentos felizes e reflexivos. Aquilo que não trouxer alegria e felicidade há de ser evitado, enfrentado e resolvido para o bem geral e comum da sociedade e do indivíduo.
Julgo lamentável, incompreensível, arrogante e exorbitante a manifestação do ícone do Tropicalismo. Sem dúvida, a luta entre os deuses do bem e do mal parece eterna...

*José Ribamar de Barros Nunes, Assessor Parlamentar, é autor de Duzentas Crônicas Vividas

E-mail: rnpi13@hotmail.com

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

As Minhas Copas do Mundo de Futebol(2)

Esses homens ai na foto influenciaram o resultado da Copa de 78?



José Pedro Araújo

Na Copa de 1978 eu já estava de volta ao Maranhão depois de concluir o curso de Engenharia Agronômica. Pela primeira vez desconfiou-se que a FIFA era influenciável, manipulável. Até hoje se acredita que aquela foi a copa dos generais argentinos.

Trabalhando na EMATER, na pequena cidade de Lago Verde-MA, estava mais uma vez obrigado a ouvir as transmissões pelo rádio, pois a cidade, entre outras coisas, não nos oferecia a possibilidade de sentar de frente a uma tevê e apreciar alguma imagem nela refletida. Teimei contra isso e viajei para Bacabal na véspera do primeiro jogo contra a Suécia. Teimei e me dei mal. Tentei assistir a partida na televisão do hotel em que costumava me hospedar quando ia àquela cidade, mas a imagem era tão ruim que somente de tempos em tempos víamos a bola rolar no gramado. E mesmo assim, ainda precisávamos contar com a ajuda de um rádio, uma vez que o som também se restringia a um chiado horroroso.

Começamos aquela Copa com um empate melancólico em zero a zero. Contra a Espanha, na partida seguinte, outro empate sem gols. Era desestimulante. Fiquei em Lago Verde no dia da segunda partida por dever de ofício.  Meu Motorádio foi a minha escapatória.  Já para a terceira partida, havia ouvido dizer que no entroncamento rodoviário para Lago da Pedra havia um restaurante cujo proprietário tinha instalado uma antena muito alta em uma sucessão de varas de madeira. Afirmavam que lá no alto a antena conseguia captar uma imagem quase perfeita. Fui conferir. Não era tão perto assim, mas se valia a pena não poderia perder a oportunidade.

Chegamos ao local animados, mas qual não foi a nossa decepção: o padrão era o mesmo que vi na TV em Bacabal. Retornei chateado e, como se diz por aqui, por cima do rastro, e só fui saber que o Brasil havia ganhado pelo magro placar de 1x0 da Áustria ao chegar de volta a Lago Verde. Estávamos classificados para a segunda fase, contudo. E isso era o que contava.

Véspera do jogo contra o Peru, na segunda fase, fui convocado pelo Coordenador da empresa, em Bacabal, para uma reunião. Aproveitei o ensejo para solicitar uma folga durante o restante da semana. Ansiava ir a São Luís. Acompanhando o meu amigo João Carlos, conhecido desde os tempos da UFRPE, viajei em seu Fusca cor de abacate, com direito ainda a hospedagem na casa de seus pais que residiam no bairro São Francisco. Vi o jogo em uma TV colorida de 20 polegadas. O máximo. E o Brasil jogou esplendidamente bem, ganhando do Peru por 3x0. E ainda ficamos na cidade até domingo para vermos a partida do esquadrão nacional contra a Argentina.

A seleção jogou muito bem e esteve perto de marcar, dominando os nossos adversários apesar de jogarem em casa. O empate em 0x0 não fez justiça ao melhor time em campo. Mas, enfim, restava torcer para vencermos bem a Polônia e fazermos um bom saldo de gols. Ganhamos bem, pelo placar de 3x1, e somamos um saldo de 5 gols. Mas a Argentina não poderia ganhar do Peru por um placar maior que três gols de diferença para passarmos para a fase seguinte. E achávamos que seria muito difícil que eles batessem o time peruano por um placar tão elástico que nos tirasse da decisão da copa.

Mas, o que vimos em campo foi uma seleção peruana entregue, batida em campo desde o primeiro tempo, o que nos levou a ponderar que eles haviam facilitado o jogo para os argentinos. Perderam por 6x0 e até hoje dizem que eles, de fato, entregaram o jogo, pressionados que foram pelos generais de plantão, e pela própria FIFA.  Fomos disputar o terceiro lugar e os argentinos seguiram para decidir com os holandeses.

Vencemos a Itália pelo placar de 2x1, enquanto o carrossel holandês foi batido pela Argentina pelo placar de 3x1, em um jogo em que os holandeses estiveram perto de ganhar o jogo. Mas surgiu o herói de plantão, o cabeludo Mário Kempes, da Argentina, que estava em dia inspiradíssimo e mudou o resultado do jogo. Assisti aos dois jogos da final  que definiria os classificados do primeiro ao quarto lugar em Bacabal, para onde retornei após a eliminação do Brasil da disputa do primeiro lugar. Assisti é o modo de dizer, pois voltei para a TV quase sem imagem assessorada por um rádio de pilhas. Mas, não fazia mal: já havia perdido o interesse pela copa do mundo na Argentina com a eliminação do Brasil de forma tão dolorida. Saímos da copa sem perder uma partida sequer, e com o sentimento de que merecíamos, pelo menos, disputar com a Holanda a final do certame.

Em 1982 já estava residindo novamente em Teresina, e também já estava casado. Assistia aos jogos na minha própria casa, junto com a minha mulher e com alguns amigos. A copa foi jogada novamente na Europa, na Espanha, mais precisamente. E enviamos uma seleção de altíssimo nível e, em contra partida, ficamos aqui com uma enorme esperança de trazer de lá o caneco que não ganhávamos desde a copa de 70. Zico, Falcão, Sócrates, Cerezo, e companhia, compunham uma seleção de respeito que, comandada por Telê Santana, encantou o mundo com um futebol de altíssimo nível.

O Brasil, como não se via desde a copa de 70, vestiu-se inteiro de verde-amarelo para torcer pelos nossos craques na Espanha. E eles já haviam nos mostrado que podíamos confiar, desde quando jogamos as eliminatórias e ganhamos os quatro jogos da nossa chave(naquele tempo as seleções sul-americanas eram dividias em quatro grupos, classificando-se as primeiras colocadas de cada um).

Comprei a minha primeira TV em cores (uma Toshiba de 10 polegadas) para assistir aos jogos. Era pequena, não posso negar, sobretudo para os padrões de hoje. Mas era uma satisfação para mim possuir a minha primeira tevê em cores. Juntava um grupo de amigos, como já disse, e entornávamos todas as geladas que aparecessem em incontida alegria.  Apesar do aparelho de TV ser diminuto, a qualidade da imagem era perfeita, isso era o que bastava depois de passar pelas copas anteriores em que ouvia pelo rádio ou assistia em TV’s de outras pessoas. E com imagem péssima, na maioria das vezes, como já afirmei. Fomos muitos bem na primeira fase, apesar do susto contra a Rússia na primeira partida, e passamos para a fase seguinte em primeiro do grupo. E tome festa! E tome cerveja!

Até o jogo contra a Argentina(que vencemos por 3x1), já na segunda fase, íamos esplendidamente bem. Era a copa dos meus sonhos. A primeira que assistia com todo o conforto e como anfitrião de um grupo de amigos. Preparamo-nos como nunca para o jogo com a Itália no funesto Estádio Sarriá, em Barcelona. E aconteceu o que todos sabem: uma derrota inexplicável e muito dolorida. O Brasil jogava contra a Itália, seleção que vinha mal das pernas e havia se classificado a duras penas na primeira fase, após empatar seus três jogos pelo placar de zero a zero. A Itália também era um adversário que vínhamos batendo sistematicamente nas copas anteriores. Mas naquele dia tinha alguém em campo, inspiradíssimos, e que trazia consigo toda a sorte do mundo: o franzino atacante Paolo Rossi. No jogo em que perdemos por 3x2, e que custou a nossa eliminação da final, o centroavante italiano fez o seu hat-trick, assinalou três gols. Os três primeiros gols da Itália naquela Copa.

A partida entrou para a história como “A Tragédia de Sarriá”. O Brasil voltou para casa com a sensação de que algo anormal havia acontecido em campo naquele dia. E eu tomei um porre homérico e fui dormir sem me despedir das visitas. A minha primeira Copa do Mundo em casa, junto à minha mulher e com um numeroso grupo de amigos, terminou com o Brasil em quinto lugar, e uma enorme sensação de que o futebol arte havia sido suplantado pelo jogo prático, dedicado, mas sem brilho. A Itália, a partir daí, ganharia todos os seus jogos e se sagraria campeã do mundo com uma vitória por 3x1 sobre a Alemanha.

Pobre de mim, não sabia o que me reserva o futuro! Um jogo miserável contra uma certa Alemanha!