sábado, 29 de julho de 2017

Diário de Fralda (Parte 22)





(Empolgado com o nascimento da sua primeira filhinha, papai Bruno começou uma brincadeira que logo caiu no gosto de todos: a produção de um diário que ele convencionou chamar de “Diário de Fralda”. Diante disso, o blog resolveu publicar semanalmente o depoimento da Lavínia que, em último caso, vem a ser a netinha do coordenador do Folhas Avulsas).


SEMANA 24 – Estou muito tristinha!



(Bruno Giordano)


172º DIA: “Estou começando a achar inconveniente esse tanto de fotos que o servo careca e minha genitora tiram de mim! Todo o tempo e de todas as formas! Não respeitam minha privacidade nem quando estou dormindo!! Calma servo careca, deixa eu fazer a pose primeiro!" - Lavínia, a fotogênica!

173º DIA: “O domingo se foi, mas deu pra curtir uma praia hoje! Aproveitei também pra ficar de preguiça com meu servo careca! Baterias recarregadas, que venha a segunda feira!” - Lavínia, a sorridente!

174º DIA: “Hoje uma estrela apagou... era uma estrelinha pequena e muito antiga, mas seu brilho intenso nunca será esquecido! Iluminava os caminhos a serem trilhados, apagava a escuridão das dúvidas, aquecia os corações dos que tinham frio! O problema de explorar esse vasto universo é que nos apegamos fortemente a nosso pequeno passeio por aqui... nos apegamos aos planetas, meteoros, luas e principalmente às estrelas... e essa vai deixar uma saudade tão forte que chega a doer! Foi ela que anunciou minha chegada quando ninguém ainda sabia que eu estava vindo! Foi ela que disse que o servo careca deveria cuidar bem da minha genitora! Foi ela que brilhou como daminha das alianças no casamento dos dois! Nos conhecemos cara a cara no dia do seu centenário! E agora não vou mais poder contar com sua sabedoria, seus conselhos, seus carinhos, seu calor! Hoje uma estrela se apagou, mas nunca será esquecida. Descanse em paz tia Felicinha!” - Lavínia, a tristinha!

175º DIA: “Depois de uma rápida e triste passagem pelo Curador, voltei para ilha do amor para continuar meus experimentos gastronômicos! Saboreei um negócio que o servo careca chamou de “caranguejo ao leite de coco”! Engraçado como tem o mesmo sabor de jacaré à baiana, pinguim à passarinha e coruja cozida! Vou voltar mesmo para meu leitinho!" - Lavínia, a comilona!

176º DIA: “Estava vendo que tinha pouca afinidade com o modus operando hacker e resolvi começar a aprender mais sobre o assunto! Quando, além de Imperatriz da América do Sul, me tornar presidente vitalícia eleita de todos os países, preciso estar pronta para os ataques dos cybers terroristas! Nada atrapalhará minha gestão!" - Lavínia, a anti-hacker!

177º DIA: “Já afinei a minha guitarra, repassei o som! Agora é só dar uma ensaiada no set list e atingir as notas mais elevadas! Hoje é dia de rock então o volume do amplificador vai no Máximo! - Lavínia, a rockbaby!

178º DIA: “Minha filosofia como grande protetora dos sete reinos e imperatriz das Américas é aprender de tudo um pouco! Assim dominei o eSport na categoria jogos de luta! Hoje o servo careca e minha loba gigante entraram numa disputa acirrada de Mortal Kombat e eu tive que surrar o vencedor dessa disputa entre Noobs! Adivinhem quem eu enfrentei!” - Lavínia, a hardcore gamer!

quinta-feira, 27 de julho de 2017

O Curador na rota do Comandante Magalhães de Almeida





(José Pedro Araújo)

Diferentemente dos administradores que passaram pelo governo maranhense, Magalhães de Almeida era um homem dado à grandes aventuras. Talvez isso se devesse à sua condição de militar, posto ser ele um comandante da marinha brasileira. Nascido em Codó, em 1883, residiu por mais de cinco anos na Europa enquanto acompanhava a fabricação de navios para a armada brasileira, daí, talvez, a sua percepção progressista, mormente quanto à educação, mas, e principalmente, no tocante a abertura de estradas, como motor desenvolvimentista. Atento às deficiências do estado, logo viu que a falta de comunicação entre as várias regiões do estado trabalhava fortemente em favor do atraso, especialmente ao impedir o escoamento da grande produção agrícola e pecuária que existia nas diversas regiões do Maranhão. Apenas para exemplificar essa dificuldade, basta dizer que a capital, São Luís, vivia isolada do restante dos municípios maranhenses, uma vez que faltava uma ponte que facilitasse o acesso da população interiorana à ilha. E isso, mesmo depois da construção da estrada de ferro Estiva-Flores(Timon). A dita ferrovia se iniciava na Estiva, povoação localizada nas imediações do Estreito dos Mosquitos, e terminava em Flores, hoje Timon. O embarque no trem se dava após a transposição do Canal dos Mosquitos através de barcos, e o seu desembarque em Timon, precedia a tomada de outra embarcação para transpor o rio Parnaíba, e chegar a Teresina, no Piauí.
Depois de passar pelo cargo de Deputado Federal(1921-1926), o capitão-de-corveta José Maria Magalhães de Almeida, elegeu-se para o cargo de Presidente do Estado Maranhão, hoje equivalente ao de Governador. Mas, antes, servira sob as ordens do comandante em chefe da marinha americana durante a primeira grande guerra. Era um homem de muita experiência e visão, achando-se talhado para assumir os destinos do atrasado Maranhão. E o fez com muita competência e desenvoltura, tornando-se um dos mais atuantes governantes brasileiros no período de 1926 - 1930. Magalhães de Almeida foi reconhecido pelo povo do seu estado e hoje é nome de ruas, escolas, avenidas, e até mesmo de um município maranhense. Até mesmo no Rio de Janeiro há uma rua com o seu nome. Ninguém recebe tantas homenagens sem ter prestado grandes serviços. E ele fez isso muito bem.
Até o ano de 1928, penúltimo da sua administração, ele abriu, ou melhorou, cerca de 1.671 km de estradas em todas as regiões do estado, ligando o Parnaíba ao Tonantins por meios de rodovias de boa trafegabilidade. Outros 808 km ele deixou em condições de bom tráfego em várias regiões do estado.  Em dezembro de 1928 o administrador resolveu fazer o reconhecimento e a inauguração das estradas que construiu. Partiu às dez horas da noite de São Luís, de automóvel, e foi até o Estreito dos Mosquitos, na Estiva, demorando-se cerca de duas horas para cumprir o trajeto. Lá deixou o automóvel, fez a travessia de barco para o continente, e embarcou em um trem que o levaria até Coroatá.

Desembarcou às sete da matina na vetusta cidade, e subiu novamente em um automóvel para fazer um périplo pelos municípios do sertão maranhense.  Precisava ter coragem e determinação para realizar uma viagem que já fizera, pelo menos, outra vez. Na viagem anterior, demorara-se 14 dias para concluí-la, tal era as dificuldades de trafegabilidade dos caminhos que encontrou. Nesta, pernoitando, apenas uma vez, em Carolina, concluiu-a em cinco dias.  
Acompanhava a maior autoridade do estado, o irmão, deputado federal Arthur Magalhães de Almeida, e o secretário Clarindo Santiago, relator da viagem que tão bem a registrou. O Irmão, com uma garrafa de café sempre à mão, também fazia às vezes de motorista e fotógrafo, enquanto Clarindo Santiago anotava tudo para transformar em um diário da viagem. Arthur Magalhães fez algumas das fotos mais antigas da então vila do Curador que temos notícia, e que ilustram esta singela crônica. A comitiva iniciou a sua viagem de automóvel em Coroatá, como já afirmamos, e seguiu de lá direto para Pedreiras, estabelecendo-se, então, o seguinte roteiro: Coroatá Pedreiras Mata do Nascimento(D. Pedro) Curador(Pres. Dutra) Barra do Corda Fortaleza dos Nogueiras Carolina Riachão Balsas Loreto Mirador Colinas Curador Mata do Nascimento Codó. Em Codó embarcou novamente no trem com destino a São Luís, capital do estado. Foram gastos no cansativo trajeto, cinco dias, como já afirmamos. Um espanto, para aquela época.
Na vila do Curador, ainda na zona rural, foi recebido pelo Sr. Sebastião Gomes na sua fazenda Fortaleza, conforme registro na foto que faz parte do presente texto. O fazendeiro, à época Subdelegado do Distrito de Curador, principal autoridade local, dirigiu-se com a sua comitiva governamental até a vila, onde a maior autoridade maranhense foi recepcionada pela população local. Foi um momento impar, pois não existe registro de outra personalidade tão marcante ter pisado em terras do velho e isolado Curador.
A comitiva foi recepcionada no largo de São Bento, em frente à capela em construção, tendo sido saudado pelo frei Heliodoro de Inzago, capuchinho sediado em Barra do Corda, que por àquele tempo também passava pelo Curador. Na foto vemos a população trajando as suas melhores roupas para receber as autoridades que passavam pela sua terra. Naquele momento, ao término das palavras do missionário capuchinho, o Presidente do Estado fez uma doação para o término do templo em construção. A capela em questão foi substituída alguns anos depois pela majestosa igreja de São Sebastião, tal como a vemos hoje. Isso teria início em 1943, mais de uma década depois. Mas, essa história já foi aqui contada.
 Esta outra fotografia registra a população cercando o Presidente e comitiva, postados em frente a uma casa que não conseguiu identificar. Não restam dúvidas que foi um momento inesquecível para um povo que via o seu governador transitar pelas novas estradas que faziam a ligação da vila com o restante do estado, tirando-a, de vez, de um isolamento de décadas.
Registre-se aqui que o trecho rodoviário que ligava o Curador a Pedreiras, antigo trajeto feito por quem buscava a capital do estado, muito diferente do traçado que hoje conhecemos, foi aberto em 1923, e agora havia sido melhorado e adaptado para o tráfego de veículos automotor. Por sua vez, a viagem do Curador a Barra do Corda possuía também trajeto bem mais longo e diferente, passando pelo Tuntum. A trecho rodoviário com esse formato media 177 km, quase o dobro dos atuais 98 km que precisamos transitar hoje para chegar ao mesmo destino.
Os diversos trechos rodoviários que o Presidente do Estado inaugurava então haviam sido construídos por vários contratantes. Eles se utilizavam de mão-de-obra local para a sua execução. Como não existiam, por aquele tempo, máquinas de terraplenagem ou os tratores de esteira que temos hoje, todo o trabalho era realizado com pás, picaretas, enxadas, machados, foices e carros-de-mão. Toda a terra removida era transportada em lombo de animais. O trabalho de rebaixamento de um morro, por exemplo, era uma atividade árdua e que demandava muito esforço e uma boa dose de sofrimento, além de tempo para ser concluído. As pontes, por sua vez, eram construídas de madeira, felizmente um material abundante na região. O trecho rodoviário de Colinas até o Curador, por exemplo, foi realizado pelo senhor Antônio Castro, por empreitada.
Ao deixar a Presidência do estado, Magalhães de Almeida voltou a ocupar a sua vaga no senado federal, cargo do qual se licenciara para concorrer à Presidência do estado, desempenhando-o até 1934. No período de 1935-1937 ele ocupou o mandato de deputado federal, último cargo eletivo que ele desempenhou e que foi interrompido pela ditadura Vargas.
O Comandante José Maria Magalhães de Almeida, ou simplesmente Magalhães de Almeida, como ficou conhecido por todos os maranhenses, faleceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 4 de outubro de 1945. Contava à época com pouco mais de 62 anos de idade, e estava em pleno vigor físico.



sábado, 22 de julho de 2017

Diário de Fralda (Parte 21)



(Empolgado com o nascimento da sua primeira filhinha, papai Bruno começou uma brincadeira que logo caiu no gosto de todos: a produção de um diário que ele convencionou chamar de “Diário de Fralda”. Diante disso, o blog resolveu publicar semanalmente o depoimento da Lavínia que, em último caso, vem a ser a netinha do coordenador do Folhas Avulsas).


SEMANA 23 – Adaptada demais da conta!



(Bruno Giordano)

165º DIA: “Finalmente o servo careca e minha genitora terminaram de ajeitar meu quartinho! Não gostei muito do Branco das paredes, mas vai ter que servir! A dona girafa já veio velar meu sono, junto com o macaco, o elefante e o chefe leão! Com toda minha guarda palaciana a postos posso finalmente descansar! Ou não kkkk!" - Lavínia, a palaciana!

166º: “Agora que estou próxima da base secreta de lançamento de foguetes na cidade de Alcântara, nada pode me parar! A não ser um lanchinho antes de voar para o espaço! Espero poder levar várias maçãs na minha bagagem! Universo, aí vou eu!" - Lavínia, a astronauta!

167º DIA: “Bases secretas possuem um problema sério quando são secretas demais! Ainda estou procurando!
Documentos, notícias e lendas locais informam que era por aqui o local de lançamento de foguetes espaciais, mas nada tem sido visto no céu ultimamente! Mais fácil seria ir ao cabo Canaveral! Ou entrar em algum foguete russo! Mas não desistirei... vamos cruzar a via láctea e pegar carona na cauda do cometa!" - Lavínia, a persistente!

168º DIA: “Finalmente deram um jeito na quantidade absurda de caixas que tinha aqui em casa e pudemos tirar um tempinho para ir à praia! Adorei! Estava morrendo de vontade de tomar uma água de coco! Já estou começando a me acostumar com esse ventinho..." - Lavínia, a praieira!

169º DIA: “Parece que meu servo careca está de licença do outro trabalho dele! Passa o dia aqui a me entreter! Minha genitora e minha GRANGenitora também! Ótimo! Com tanta gente disponível posso focar em coisas mais importantes enquanto eles me auxiliam em minhas diversas tarefas! Servo carecaaaaa! Larga o Xbox pois preciso de um motorista!" - Lavínia, a atarefada!

170º DIA: “Parece que meu lobo gigante já está adaptado a nossa casa nova! Faltam ainda alguns detalhes, como o meu trono de ferro no centro da sala, mas as coisas estão caminhando bem! Já escolhi minha GRANGenitora como a mão da rainha! E escolhi também a Amarula como chefe da guarda real! Vou ver se sobra pro servo careca o cargo de meistre... e se quiser! kkkk!" - Lavínia, a primeira de seu nome!

171º DIA: “Estou cada dia mais adaptada à vida com os terrestres e adoro saborear essas frutas nativas! Descobri minha predileção por melão! Está certo que ainda existe uma infinidade de sabores a serem apreciados, mas vamos aumentando e diminuindo as notas das frutas à medida que eu provo essa diversidade! Nhame nhame!" - Lavínia, a viciada em melão!

terça-feira, 18 de julho de 2017

Raul Seixas encontrou a saída para o Brasil!

By Google


(José Pedro Araújo)

Hoje cedo ouvi uma música do Raul Seixas que não me lembrava de já ter ouvido. Mas, ela calou fundo na minha alma e me levou a uma reflexão a respeito do tema da canção. Raulzito, como um gênio que era, propunha uma solução simples como a invenção dos clipes, ou mesmo do fósforo. E cunhou a seguinte pérola: vamos alugar o Brasil! Ideia fantástica, talvez assim encontremos uma solução para o grave problema gerencial que tornou esse país em um retumbante fracasso, um lugar falido desde o seu nascimento. É isso mesmo, o nosso problema não é que não tenhamos um sistema de governo capaz de nos tirar do atraso de séculos, pois já experimentamos todos eles, desde a realeza, com os dois imperadores que tivemos; o falso parlamentarismo de João Goulart, as ditaduras, até mesmo um arremedo de socialismo “caviar com pinga”, tudo o que é tipo de governo já tentamos, e nada deu certo.

Do alto da sua sabedoria adquirida nos botecos baianos, ou à sombra dos coqueiros desfraldados pelos ventos que varrem aquele estado e o torna tão festivo, Raul Seixas encontrou a saída para nós. Ou será que a sua sabedoria adveio do consumo do acarajé com uma pitada pesada de malagueta? Quanto a isso, não sei responder. O que eu sei é que ele terminou encontrando uma saída honrosa para esta nação que se degenera a cada momento, e caminha aceleradamente para o caos total.
Vejam o que cantou o sábio Raulzito: “A solução pro nosso povo eu vou dar. Negócio bom assim, ninguém nunca viu. Tá tudo pronto aqui é só vir pegar. A solução é alugar o Brasil! Nós não vamos pagar nada! Nós não vamos pagar nada! É tudo free! Tá na hora, agora é free, vamos embora! Dá lugar pros gringo entrar, que esse imóvel tá pra alugar! Os estrangeiro eu sei que eles vão gostar. Tem o Atlântico, tem vista pro mar! A Amazônia é o jardim do quintal, e o dólar deles paga o nosso mingau!”. Perfeito, Raul Seixas! Só precisamos fazer isso muito rápido, antes que a galera roube tudo e leve para Miami.
Mas ai eu passei a pensar em algumas cláusulas contratuais para nos resguardarmos contra alguns senões. Por exemplo, estariam fora da concorrência países como a China, Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, Rússia, por motivos óbvios, pois os caras poderiam criar um sistema administrativo em que uns poucos teriam que trabalhar para sustentar o restante da galera, que é a imensa maioria. Ficaríamos na mesma! Não daria certo!

Impediríamos os árabes de entrarem na concorrência também. Uma vez que, em menos de um ano, o Piauí declararia guerra ao Maranhão, ou vise versa, e São Paulo estenderia as suas fronteiras do leste até o Rio de Janeiro, e a esticaria para o sul até os limites com o Uruguai.

Os Estados Unidos também seriam vetados. Não poderiam participar do processo licitatório, também por motivos óbvios: iriam incentivar a guerra em todos os pontos da terra, nos vestiria com fardas verde oliva, colocariam um fuzil H & K em nossas mãos e nos elevariam à condição de sub-xerifes, com estrela de lata na lapela e tudo o que temos direito. Antes, estimulariam o aumento na produção de armas nas fábricas instaladas no seu próprio país, e investiria pesado na fabricação de tanques de guerra de último tipo. Não, não gostamos de brigar! Já apanhamos dos argentinos e quase levamos a pior contra os paraguaios! Preferimos dançar, cantar, discursar, embriagarmos até cair e depois dormir esplendidamente, que ninguém é de ferro!

Bom, vamos simplificar a coisa. A bem da verdade, o que propomos não é tecnicamente um aluguel, mas um contrato de prestação de serviço, uma proposta de parceria público-privada com as suas peculiaridades. Relacionaremos os países que poderiam participar do processo licitatório. Ops! Licitação me cheira a corrupção, a acertos por baixo do pano! Não, precisamos encontrar outra maneira de firmar contrato com a nação que iria nos alugar! Que tal partirmos para analisar o que alguns países europeus fizeram nos países colonizados por eles? Não seria má ideia. Assim, vamos começar com os países notoriamente colonialistas. Portugal está fora, por motivos já conhecidos. O seu modelo gerencial não deu certo por aqui. A Espanha também não: dizimou as nações nativas sem dó nem piedade, e se apropriou das suas riquezas! Imagina se lhe ocorresse a ideia de fazer isso novamente!

Que tal a Inglaterra? Nova Zelândia e Austrália foram colonizadas muito depois do Brasil, e hoje são exemplos a serem seguidos de países que deram certo. É, mas para lá eles levaram a sua própria população, deixando isolados em pequenos guetos os aborígenes, povos que ocupavam as terras agora colonizadas desde tempos imemoriais. Depois, tivemos o exemplo da Índia, país que esteve sob o domínio britânico por quase noventa anos, e que eles abandonaram a sua própria sorte, e com problemas muito maiores do que os que haviam quando ocuparam a região em 1858. Os ingleses também não!

Então, por exclusão, e também em decorrência da experiência que eles implantaram com o príncipe Maurício de Nassau, voltemos os nossos olhos para a Holanda! Eles já possuem experiência de Brasil, pois ocuparam Pernambuco e região por cerca de vinte e quatro anos, e deixaram um legado extraordinário para aquela gente. Infelizmente, para os pernambucanos, foram expulsos pelos portugueses e tudo voltou ao que era antes.

Curioso, fui em busca dos maiores avanços realizados por aqui em pouco menos de um quarto de século. E olha o que eles fizeram em Pernambuco: - “Investimentos na infraestrutura de Recife como, por exemplo, construção de pontes, diques, drenagem de pântanos, canais e obras sanitárias. Estabelecimento de aliança política com os senhores de engenho de Pernambuco. Incentivo ao estudo e retratação da natureza brasileira, principalmente com a vinda de artistas e cientistas holandeses. Adoção de melhorias nos engenhos, visando o aumento da produção de açúcar. Criação do Jardim Botânico no Recife, assim como o Museu Natural e o Zoológico. Melhoria da qualidade dos serviços públicos em Recife, investindo na coleta de lixo e nos bombeiros. Redução dos tributos cobrados dos senhores de engenho de Pernambuco. Estabelecimento da liberdade religiosa aos cristãos”. Vixe! Não foi pouca coisa, e tudo isso em tão pouco tempo!

Eu mesmo conheci algumas pontes construídas pelos holandeses em Recife. E que beleza de pontes! Nem mesmo a ineficiência do poder público brasileiro na sua conservação, abalou as suas estruturas. Estão lá, lindas e intactas para quem quiser ver. A hoje denominada Ponte Maurício de Nassau foi a primeira desse porte construídas nas Américas.

Pronto, decidi-me pela Holanda. Eles já nos deram exemplo do que podem fazer de bom por aqui. Então, que voltem. Vamos fazer com eles um contrato de mais vinte e quatro anos. Estabeleceremos cláusulas contratuais que nos sejam favoráveis, como, por exemplo, que todas as riquezas do país sejam aplicadas aqui mesmo. A Holanda receberia um percentual dos nossos lucros, além de um salário anual que seria reajustado à medida que as nossas contas fossem melhorando. Também teria direito a um bônus pelo incremento das nossas receitas sem que precisem recorrer ao aumento de impostos ou a criação de outros novos.

Outra cláusula importante a ser estabelecida é que todos os gerentes sejam importados da terra deles, além dos membros dos tribunais e das casas legislativas. E para que isso pudesse ser possível, teriam eles carta branca para fechar o nosso próprio congresso, as assembleias legislativas, as câmaras municipais, e coisas que tal. Nos tribunais seriam aproveitados os servidores, prática também adotada nos ministérios criados ou mantidos. Mas teriam a liberdade de cobrar eficiência da parte desses tabalhadores. Poderiam também fechar os sindicatos. E por fim, anualmente, avaliaríamos os termos do contrato, e os avanços ou retrocessos seriam estudado detalhadamente e alterados, em caso de ausência de resultados na sua execução. Teriam, ainda, poderes ilimitados para construir cadeias para encarcerar toda a malandragem ou os picaretas que fossem identificados, julgando-os sumariamente. Serviço forçado seria admitido nas cadeias e até estimulado por nós a fazerem parte dos termos acordados. Aluga-se um País!