sábado, 31 de maio de 2025

Pausa para o silêncio

 

Fonte: Google

Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Após semana corrida, assoberbado de compromissos, fiquei o final de semana em casa. Não saí pra nada, nem para colocar o lixo na porta. Como não planejei ficar só, comi o que encontrei na geladeira. Roupa rota, gasta pelo tempo, já com a forma do corpo, foi a indumentária. Me permitir não fazer nada. Dormir até mais tarde, sem preocupação com as horas, que teimam em seguir em frente.

Chega um dia em que o tempo nos vira do avesso. Ando cansado, com sono irregular. Sigo em frente, aos trancos e barrancos, pela urgência dos afazeres.

Sinto-me enfadado, com vontade de tirar férias de mim. Como é impossível, tento desacelerar, à espera do que vem pela frente.

Ouvi um conselho, que tento colocar em prática, - de vez em quando: “não caia na mentira moderna de que descansar é desperdiçar tempo. Não se engane pensando que estar improdutivo é estar parado para a vida”.

Aprendemos a viver correndo, marcando tarefas, cumprindo metas e buscando resultados visíveis. Cresci ouvindo: “Time is money”, velho chavão do mercado, ao se referir que tempo é dinheiro. No outono da vida digo que tempo é vida. Rico mesmo é quem tem tempo para fazer o que gosta. Em especial as pequenas coisas.

Fomos treinados a acreditar que só somos valiosos quando estamos fazendo algo, mesmo que não tenha resultado. Mas esquecemos de algo essencial: o não fazer nada também é terapêutico, vital para a saúde.

Não fazer nada é, muitas vezes, a coisa mais importante que você pode fazer por si. É ali, no silêncio, no banho demorado, na leitura descompromissada ou na xícara de café sem pressa, que você se reencontra. Que se reconecta consigo, à sua essência. Descansar, deixar fluir a preguiça do corpo é recarregar-se. É respirar. É preparar o corpo e a alma para continuar na labuta do dia-a-dia.

Não somos máquina, programada para dar resultado. Não vim ao mundo para girar engrenagens sem fim. Ao contrário, sou humano, e me vejo cansado diante de tantos compromissos. Alguns sem serventia.

Diz o ditado popular: “quem aluga a bunda, não pode escolher hora e lugar para sentar”. Verdade! Tudo é premente e urgente.

Mas, enfim, consegui desacelerar no final de semana. Vi a chuva cair, sem precisar levantar da cama. Senti fome, que saciei com sobras. Não liguei a TV, que teima em vomitar tragédias, metendo-me medo. Fiquei longe das redes sociais, um refrigério para a cabeça. Pra que mesmo eu preciso de tanta informação? Para ter assunto para conversar? Para que conversar tanto?

Quebrando o silêncio, o canto alegre dos pássaros ao tomar água no bebedouro da janela; e Bossa nova que programei na Alexa, minha companheira musical.

Como companhia alguns livros, de variados autores, postergados no corre-corre de tempos sem tempo.

Acreditem ou não! Mas o silêncio, longe de ser um estado de miséria ou abandono, pode ser um espaço de criação, de autodescoberta e de fortalecimento.  O silêncio não dá certezas, mas oferece maravilhamento. Não traz conforto, mas revela profundidade. E nisso reside sua beleza. É no interior do silêncio que encontro a força interior, a autonomia e a capacidade de definir meus próprios valores e propósitos.

O silêncio é, antes de mais nada, restaurador. Um descanso do cotidiano, dos deveres sociais, das máscaras que sou obrigado a vestir tantas vezes em público. Ele é necessário, para repousar, revigorar, reviver. Também tem o caráter profilático do silêncio, que impede que me perca em caminhos que não são meus. Sem ele, estaria perdido. De vez em quando silencio-me para fugir dos inconvenientes. Silencio-me para acalmar a mente e o espírito. A vida precisa de pausas, de recuos, de saídas. E o silêncio é uma delas. No silêncio me conecto com Deus. No silêncio me resgato.

Uma das grandes maravilhas de envelhecer é descobrir a requintada arte de estar sozinho. O que antes era um silêncio desconfortável, agora é um luxo. Às vezes me aquieto no meu canto. Não por preguiça, nem por covardia e, nem para não sair da minha zona de conforto. Mas, para aquietar meu coração, acalmar a minha alma e a minha mente, às vezes tão barulhenta.

Final de domingo, casa tranquila, inundada pela bela canção “Tarde em Itapuã”, na voz de Maria Bethânia; uma taça de vinho. O sol se recolheu dando lugar ao luar, avisando que logo mais é segunda-feira, tempo de retornar às obrigações.



(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é 
Escritor e Globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.


Instagram: @Luiz.Thadeu

Facebook: Luiz Thadeu Silva

E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

sábado, 24 de maio de 2025

“Para quem tem fé a vida nunca tem fim”

Foto: Google

 

                                                                                                                                  Luiz Thadeu Nunes (*)

Na semana passada ocupei o nobre espaço deste matutino para falar sobre pessoas que estão envelhecendo bem; e a idade é apenas mais um número, como tantos outros que fazem parte da vida. Com o título “Envelhecer é inevitável, ficar velho é opcional”, falei de pessoas que aos 60, 70, 80 anos que estão cheias de vida, com projetos, planos, fechando ciclos, iniciando outros. Seguindo em frente, aprendendo, descobrindo, inventando, se reinventando. Os que tiveram a coragem de sair de sua zona de conforto, e mudaram a rota: plenos, confiantes.

A jornalista Sandra Coutinho, radicada em NY, me enviou mensagem, dizendo: “Excelente. É isso aí. Comecei um novo hábito - a corrida. E aí de quem me disser que passei da idade. Já fiz uma prova de 5km e agora quero tentar 10k. Vamos em frente”. Ponto para Sandra, avante!

O amigo Antônio Carlos, baiano de nascimento, cosmopolita por opção, escreveu: “Parabéns! O tema não é novo, mas muito bom rever o tema sob uma bem elaborada argumentação e testemunho pessoal. Sobre felicidade, Cortella diz que ela não existe como estado permanente (uma pessoa que tá feliz não fica feliz quando perde um ente querido, mas se recupera depois do luto). Acho que sempre me senti ageless, mudei de carreira, de estado civil, de cidade/estado, sempre viajando. Sou espírita e a banda “O Rappa” canta que “pra quem tem fé, a vida nunca tem fim”. Show, AC.

Hildebrando Valadares, sessentão de Feira de Santana, me enviou mensagem, feliz da vida, de um cruzeiro pela Europa, exortando as delícias da solteirice inveterada. Terminou o relacionamento de 22 anos e caiu no mundo: livre, leve e solto.

“Muitas boas coisas podemos fazer na maturidade, que na juventude não conseguíamos. Faltava-nos disponibilidade, faltavam-nos experiência e liberdade, faltava-nos visão. Estávamos ocupados demais, tensos demais, divididos demais. Se não houver nada imediato para "fazer", pois geralmente tomamos isso como agir, agitar, correr, inventaremos algo." - Lya Luft

Envelhecer não é para os fracos. É preciso coragem para olhar no espelho e reconhecer que a juventude se foi, mas junto com ela, partiram também a pressa, a insegurança e a obsessão por agradar. Você aprende a caminhar mais devagar, sim… mas com passos mais firmes. Aprende a dizer “adeus” sem medo e a valorizar com alma quem escolhe ficar.

Envelhecer é uma arte silenciosa: é deixar ir o que pesa, é aceitar o que é, é descobrir que a verdadeira beleza nunca morou na pele — mas nas histórias que carregamos no peito, nos olhos, na memória. Bem-aventurados os que têm memórias de coisas boas, que alimentam o dia a dia, pavimentando o futuro. Todos que chegaram até aqui com vitalidade, sabem que o amanhã acontece melhor quando se prepara o hoje. Ou seja, se prepararam ontem para viver o hoje. Tudo na vida é construção.

Claro que o desconhecido as vezes assusta, mas como saber se é melhor se não testar ou tentar?

Somos o resultado de todas as vezes em que não nos permitimos desistir. Sempre seguindo em frente, persistente; as vezes sem olhar para trás.

Se puder lhe dar um conselho, caro leitor, amiga leitora: se não conseguir realizar seus sonhos, não os jogue fora e nem desista deles. Guarde-os num compartimento secreto. De vez em quando visite-os, tire o pó, regue, adube, afague e quando menos esperar eles estarão prontos para se tornarem realidade. Não importa o tempo que passar, em algum momento eles florescerão. Tenha fé. Assim é a vida.

(*)

Luiz Thadeu Nunes e Silva, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.


domingo, 4 de maio de 2025

190 anos depois da Gênese da Fundação de Santa Cruz da Barra do Corda.

 


Por Creomildo Cavalhedo Leite (*).

 

Tenho cópias de Testamentos, Inventários, Arrolamento e Partilhas de Bens de vários personagens que estiveram presentes na segunda Povoação Oficial, a partir da segunda quadra do século XIX, com a leva de desbravadores que partiram da antiga Freguesia São Bento dos (de) Pastos Bons, passando pelo Arraial de Campo Largo, à esquerda das barrancas do rio Alpercatas, subindo pela pioneira estrada real que dava acesso as Fazendas São Bernardo e Fazenda São Miguel, de gado vacum e cavalar;

Implantadas com autorização expressa e às custas do Império após 1820, conforme é citado de forma sucinta e instigante, pelo valoroso Antônio Bernardino Pereira do Lago, Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros, nomeado por decreto de 21 de novembro de 1818 de Dom João VI, para servir na Capitania do Maranhão com a missão: "de levantar a Carta topográfica da Capitania, (...)

"acompanhado por seu desenhista, o Tenente Joaquim Cândido Guilhobel, e guiado pelo piloto Cipriano José de Almeida..."

"No mesmo ano (1820), fez estabelecer, no distrito de Pastos Bons, duas fazendas de gado, que em poucos anos aumentaram a produção..."

cuja abrangência alcançava às cabeceiras do riacho Ourives que deságua no então, Rio da Corda, e também nas proximidades da Aldeia Mucura (mais tarde seria batizada com o nome São Lourenço), e também no Povoado Leandro o qual é citado pela autora Carlota Carvalho na sua Obra "O SERTÃO Subsídios para a História e a Geografia do Brasil."

E o Povoado: São Joaquim dos Mello, seria fincado, bem como muitos outros, deixo aqui exarado um em especial: Maracanã, foi lá que, o Major Antônio de Souza Carvalhêdo (meu Tataravô Materno) e sua família implantaram a sua Fazenda Jacoca, em 1849, e nela o meu Bisavô Materno, Anastácio de Souza Carvalhêdo, trabalhou com sua família. E pelo menos dois dos seis filhos nasceram na sede da grande Fazenda Jacoca: o meu avô Materno, Hortêncio de Sousa Carvalhêdo, e sua irmã Anália de Sousa Carvalhêdo.

Antes de mergulhar nesta pesquisa, eu tinha curiosidade e indagava: Por que, o bravo e destemido Manoel Rodrigues de Mello Uchôa, teria penetrado pela região das areias em busca do local conhecido como: "Forquinha do Rio da Corda", até então não fazia sentido para mim, hoje vislumbro que para o visionário Mello Uchôa, era a rota mais prática, bem diferente do roteiro empreendido, nas palavras de Carlota Carvalho, que cita:

"Em 1831, Raimundo Maciel Parente, nascido no Baixo Mearim, subiu este Rio levando muitos escravos africanos e fundou uma fazenda agrícola na confluência de um riacho que nominou Corda."

Raimundo Maciel Parente e muitos outros abnegados e bravos heróis que permanecem nas sombras, merecem, também, o brilho da coroação e reconhecimento pelo legado e pelas muitas realizações efetuadas naquele tempo cheio de desafios, pois, não fraquejaram; seus feitos até hoje merecem um lugar especial no Panteão dos Heróis de Barra do Corda.

Parabéns a todos que amam esta bela Cidade e sua rica e profícua história e pelo seu Aniversário de 190 anos.

(*)


Creomildo Cavalhedo Leite é barra-cordense de Santa Vitória, funcionário público, genealogista, historiador e pesquisador, mora em Palmas (TO)..