segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Viajar, o doce ofício (2) - CURITIBA




José Pedro Araújo

Chegamos esta semana de uma viagem a lugares em que já estive por três vezes: Curitiba; e duas vezes: Foz do Iguaçu. Voltarei mais vezes, se oportunidade tiver. São lugares que me apaixonam pelas tantas belezas naturais que possuem, mas também pela eficiência com que o homem tem cuidado das coisas por lá. Curitiba, por exemplo, com seus parques bem cuidados – uma infinidade deles, prova de bom gosto e respeito pelo ser humano que precisa deles para curarem-se do cansaço e das mazelas diárias, desfrutando o clima bem ameno e o ar puro – é a segunda capital com maior altitude do Brasil – mas, sobretudo, pela capacidade administrativa dos seus governantes, e pela educação e capacidade de trabalho do seu povo, tornando a cidade um exemplo para os demais estados do país.

Ao chegarmos a Curitiba ao meio dia, um choque: saímos dos trinta e seis graus de Teresina, para os oito graus da cidade sulista, e com uma sensação térmica de cinco graus. Até já convivemos com temperaturas bem mais baixas do que aquela, mas, talvez em decorrência do choque térmico que tivemos, demos entrada no hotel e não saímos mais de lá naquele resto de dia. Aconteceu a mesma coisa com a quase totalidade do grupo formado por cerca de quarenta e três pessoas. Algumas delas até se aventuraram a descer para o bar do excelente Hotel Blue Tree para procurar combater o frio com algumas taças de vinho. Eu preferi tomar chocolate quente no próprio quarto. Estava me sentido mais confortável sob o edredom. E depois, por ordem médica, não poderia mesmo tomar um gole de vinho que fosse. Não tive alternativa, portanto.

No dia seguinte, bem mais aclimatado com a temperatura, que começava a subir, partimos para um passeio pela bela cidade. Curitiba te oferece a oportunidade de embarcar em um desses ônibus que são encontrados em cidades europeias (os mais notórios são os da empresa Sightseeing), com um segundo andar panorâmico. E que te permite descer em cinco pontos escolhidos, para depois apanhar outro até o próximo ponto de descida. Como passam a cada meia hora, termina sendo este um dos meios de transporte escolhido pela maioria dos turistas. Desta vez fizemos diferente. Como já havíamos tomado este tipo de transporte na vez anterior (escolhemos na época visitas o Jardim Botânico, Mercado Municipal,  Bosque João Paulo II, Museu Oscar Niemayer, Ópera do Arame/Pedreira Paulo Leminski), demos prioridade ao Mercado Municipal (fomos em busca da tâmara com castanha-do-Pará que a minha mulher Helena tanto apreciou), e a Ópera do Arame (um belíssimo anfiteatro onde outrora existia uma pedreira, e que da outra vez encontráramos fechado para reformas).

Queríamos demorar mais tempo em cada um desses lugares antes de procurar o restaurante Outback para nos deliciarmos com um prato de Koocaburra Wings. Existem dezenas de pratos mais sofisticados ali, mas estava com saudades do mais simples deles, composto por sobreasas de frango à milanesa e por um delicioso molho blue cheese e aipo crocante. É servido ali como tira-gosto, bem sei, mas visto não estar bebendo nada, queria aproveitar uma parte da brincadeira, enquanto meus amigos esvaziavam suas taças de chopp e comiam outras delícias servidas no local, e a Helena degustava um belo prato de carne.

Depois de bater pernas pela cidade, aproveitando o seu clima, sorvendo aquele ar refrescante, precisávamos regressar ao hotel para descansar um pouco. À noite, estávamos com reserva para o Bagdá Café, um restaurante e casa de espetáculo que executa shows de música árabe e dança do ventre. A casa, chefiada por um iraquiano muito simpático, é muito apertada, com espaço para apenas noventa pessoas. Mas, talvez por isto, o ambiente se mostre tão intimista.  Foi uma noite muito animada, ocasião em que o casal de amigos Roberto e Ana Maria comemoraram seus trinta e nove anos de casados.

Curitiba também é uma cidade conhecida pela sua ótima gastronomia. Restaurantes famosos como o Madalosso, ou o Don Antonio, entre tantas outras casas estreladas, no atrativo e bucólico bairro de Santa Felicidade, servem uma comida italiana de ótima qualidade e atraem também pelo luxo do ambiente e a rapidez no atendimento. Nesta vigem estivemos no Don Antonio (outra vez) e confirmamos a excelência do seu atendimento. O luxuoso restaurante, é também uma casa de repasto à altura de quem gosta de comer muito. Ali se paga um valor fixo e pode-se extravasar na gulodice até não mais aguentar.

Santa Felicidade, aliás, é um bairro um pouco afastado do centro, que conta com mais de trezentos restaurantes, a maioria dedicado à culinária italiana. Antes do jantar, estivemos também na Vinícola Durigan, um lugar excelente para quem aprecia bons vinhos, mas também para quem gosta de prová-los, juntamente com queijos e massas, antes de realizar a compra. Tão bom que foi essa a segunda vez que passamos por lá. Desta vez, para nosso prazer, fomos recebidos por um artista que nos brindou com a excelente e apaixonante música italiana cantada ao vivo.

Por sua vez, para aquelas pessoas que gostam de uma boa aventura, há um passeio de dia inteiro à cidade Morretes, cidade histórica que antecede ao Porto de Paranaguá, no litoral paranaense. É um dos passeios mais procurados. Principalmente no trem que liga a cidade de Curitiba ao Porto já citado. É, de fato, uma breve e deslumbrante descida pela Serra do Mar, com paisagens estonteantes e de tirar o fôlego em todo o seu percurso. Imperdível, eu diria. Tão famoso quanto o passeio de trem, é também um prato da culinária paranaense servido na cidade litorânea, o barreado. Mas esse não bateu bem com o meu paladar. A mistura de carne cozida (por horas) com uma farinha de péssimo gosto, não me caiu nas graças nenhum pouco. Eu poderia muito bem ter passado sem esse almoço que estragou um pouco a fama da cidade que tem atraído tantos turistas ao estado.

Encerro esta crônica dizendo que essas viagens de setembro, que têm se realizado ano após ano, desde o período em que nos integramos o grupo da Ana Maria e do Roberto Ferreira, foi uma maneira que o casal encontrou de comemorar o seu casamento sempre cercados por um grupo de amigos, e fora da cidade de Teresina. Ana Maria, uma perfeita agente de viagem informal, organiza tudo com muita competência e dedicação, de modo que as coisas sempre acontecem dentro da maneira planejada e sem um deslize.

São viagens muito agradáveis e alegres, e acontecem desde o tempo em que se realizavam de ônibus, geralmente por todo o Nordeste. Depois, com o tempo, cresceu o grupo, e também o desejo de se conhecerem lugares mais distantes. E por conta disto, passaram a serem feitas por via aérea. E logo um animado componente do grupo denominou as viagens terrestres de Transatur. Enquanto as mais distantes, e que tem o seu deslocamento por via aérea, ganhou o epíteto de Transachick. Uma alusão, acredito, ao fato de o casal comemorar lua-de-mel nessas ocasiões.

A nota triste deste ano, aconteceu devido à ausência do nosso companheiro Antonio Carvalho, um dos mais animados membros do grupo, e pai da organizadora do périplo, falecido pouco mais de um mês antes do início dela. Aliás, foi o próprio Antonio Carvalho quem pediu à filha que repetíssemos a viagem a Curitiba, cidade em que reside seu irmão Edson, a quem gostaria de rever e confraternizar com ele em um belo almoço do grupo no Clube de Campo Santa Mônica, um belíssimo espaço de setenta e três hectares instalado bem próximo à cidade. O almoço se realizou sem a presença do seu idealizador. E desta vez, apesar do empenho do Edson em nos receber inequivocamente bem, não foi a mesma coisa. Reclamavam todos do calor que fazia no local. Um sofisma para o fato real de estarmos sentindo muita falta do nosso querido companheiro de viagem.

Ultimamente, o grupo tem viajado por países como o Chile, o Uruguai e a Argentina. Para o próximo ano, as discussões já estão acontecendo. O casal comemorará quarenta anos de casado, e as escolhas estão girando em trono de Portugal, terra do pai do Roberto, Itália ou Espanha. Será a Ultachik 40.

Uma certeza, eu e a minha companheira de viagens Helena, temos: será mais uma viagem fantástica.

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