quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Arraial de Campo Largo – Portal de entrada da região chamada Japão maranhense

Rio Alpercatas - Campo Largo Foto de Jean Carlos Gonçalves


Por Creomildo Cavalhêdo*

O Campo Largo ainda hoje é um lugar desconhecido para muitos pesquisadores e escritores que amam a história das povoações no sul do Maranhão, situação análoga a de tantos quantos habitam as terras centrais deste rico estado. Falar a respeito desta região sertaneja é levantar o véu da história e deixar que raios de luz jorre sobre ela e nos mostre todo o seu esplendor, toda a sua magnitude. Mesmo que em um pequeno vislumbre, é possível clarear para nós o que foi, e o que representou, “as paragens do antigo Arraial de Campo Largo”, portal de entrada para o Alto Sertão e do imenso território fértil do Japão, para os primeiros vaqueiros, sitiantes, povoadores, pioneiros e desbravadores do centro-sul do Maranhão.

O antigo Arraial de Campo Largo, localizado nas barrancas do famoso rio Alpercatas, foi o lugar escolhido nos primeiros anos do século 19, pelo então cidadão Diogo Lopes de Araújo Salles, oriundo de Tamboril, província do Ceará, filho da capitão Francisco Salles de Araújo, proprietário da fazenda do Serrote, para situar suas primeiras fazendas de gado naquela região maranhense, à época desabitada. Originário daquela região conhecida como Inhamuns, terra de homens de palavra, de têmpera forte, honrados e destemidos, precisou o bandeirante cearense de toda a sua valentia para se transformar no primeiro habitante destas terras interiores do Maranhão. E junto com ele, trouxe alguns familiares e amigos, todos gente da mesma cepa, do mesmo padrão e com a mesma índole desbravadora. Entre estes, seu sobrinho Antonio de Souza Carvalhêdo.

Portanto, o Arraial de Campo Largo, desde 1826, foi lugar de residência de Carvalhêdo, do major Antonio de Souza Carvalhêdo, que muito contribuiu para escrever a história da região centro-sul do Maranhão, perfilando com o tio, Coronel Diogo Salles, e muitos outros mais, como o genro deste, José de Melo e Albuquerque. Estes homens destemidos e seus parentes, amigos, agregados e escravos, situaram também as primeiras fazendas de gado nas terras do velho Curador, às margens dos riachos Preguiça e Firmino, poucos anos depois da ocupação da ribeira do Alpercatas.

No Brasil, muitos fatos narrados pela família Carvalhêdo, foram sendo transmitidos através das gerações, ao longo destes 340 anos (1680 a 2020), que, deste modo, entrou para a história escrita e oral, e também foi publicada em livros e jornais da província maranhense e de outras mais, até mesmo na capital do Brasil imperial.

A título de esclarecimento, diremos que os Carvalhêdo do Maranhão, do Piauí, Ceará e de Pernambuco, são todos membros do mesmo tronco da árvore genealógica, provenientes que são do cidadão português Antonio de Souza Carvalhêdo. E este, Antonio Carvalhêdo, foi o precursor da família no Brasil, casando-se em 1704 com Nazária Ferreira Chaves, filha do rico sesmeiro e coronel Manoel Martins Chaves, originário do Porto da Folha, antes Capella do Buraco, em Penedo das Alagoas, quando aquele local ainda pertencia a capitania de Pernambuco. Saiu desse tronco, portanto, uma parte dos desbravadores que primeiro habitaram a região desconhecida da Mata Maranhense, também conhecida como Japão maranhense

Casebre no Campo Largo (Foto de Jean C. Gonçalves)
O antigo Arraial de Campo Largo, já citado como primeira morada estabelecida nestes sertões, situada na beira do rio Alpercatas, teve sua expansão impulsionada pela existência das antigas fazendas dos padres Jesuítas, e que nesta citada região a história nos legou duas fazendas, das quais cito apenas uma aquela que entraria para a história como: “Fazenda Nacional de São Bernardo” às margens do riacho Ourives que deságua no rio da Corda ou rio Canela, que depois seria denominado apenas rio Corda.

Voltando ao tempo presente, o glorioso e histórico Arraial Campo Largo é atualmente um lugar desconhecido até mesmo pelas autoridades do assunto chamado história das povoações do sul do Maranhão. Recentemente, em uma crônica histórica publicada no blog Ecos do Tuntum, o professor e historiador Jean Carlos Gonçalves, descreve o que é hoje o local onde se situou o Arraial do Campo Largo: “Atualmente, o secular arraial do Campo Largo se resume a uma meia dúzia de habitações, pois perderia a sua importância como portal de entrada para os bandeirantes e boiadeiros que partiam do sul do Estado transpondo o rio Alpercatas rumo às feiras de Caxias e São Luís, sendo relegado ao abandono, ao isolamento, cuja relevância histórica não se apagou de nossa memória, graças aos nossos mais célebres historiadores e memorialistas”.

*Creomildo Cavalhedo Leite é barra-cordense de Santa Vitória, historiador e pesquisador, mora em Palmas (TO).


 

Um comentário:

  1. Arraial Campo Largo - Portal de entrada da Zona da Mata do Japão, um texto trabalhado a três mãos, Creomildo Cavalhedo Leite, José Pedro Araújo e Jean Carlos Vieira Tavares, juntos com o mesmo ideal, propósito e a determinação de arqueólogos da história, trazer à luz, as memórias dos fatos e feitos heróicos dos desbravadores desta região tão inóspita e distante dos grandes centros urbanos da época;

    A missão é encontrar os elos da corrente da história genealógica das famílias que, migraram de outras Províncias do Império e vivenciaram a grande aventura de desbravar o Território Fértil da Zona do Japão, das Barrancas do Rio Alpercatas e Itapecuru;

    Seguindo para a região das Areias e dos muitos Brejos até as nascentes do Rio Ourives e Rio das Flores, e penetrando nas densas Florestas que, seriam chamadas de Mata do Japão, até a confluência do Rio das Flores e com o Rio Mearim, uma extensão de quase duzentos quilômetros;

    Estes tópicos são como luz de farol, todavia, estão lacrados no cofre do tempo, e hoje são desconhecidos;

    Garimpar fragmentos, informações e relatos transmitidos pelos primeiros Povoadores desta uberrima região, para uma melhor compreensão da História do Sul do Maranhão, através dos seus primeiros Povoadores.

    Palmas-TO, 21 de janeiro de 2021.

    Creomildo Cavalhedo Leite.
    E-mail: creomildo04@gmail.com

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