sexta-feira, 15 de julho de 2022

UM CANTO À BARRAS DO MARATAOÃ: DOS POETAS E DOS GOVERNADORES

                                       Ilustração do Centro Histórico de Barras (Ângela Rêgo)
 

“Barras ...

Barras do Marataoan ...

Dos cânticos de pássaros

e cântaros e címbalos de águas

em cantatas e cascatas

no rocio róseo-violáceo da manhã.

Barras das sete barras

- candelabro de sete braços de prata

líquida a escorregar macia

no dorso duro das pedras (...)”

 

                                (Versos iniciais do poema “Barras das Sete Barras” do poeta Elmar Carvalho).

                                           

Chico Acoram (*)

 

1 - Minha terra tem matas abundantes;

 Paraíso das águas és, Oh Barras!

Tens a flora e uma fauna exuberantes.

Tens os cantos dos pássaros, cigarras

E as seis barras de rios deslumbrantes

Que desfilam nas matas em fanfarras

Escrevendo poesias e canções

Alegrando assim nossos corações!

  

2 - Meu torrão tem poetas renomados

Como um David Caldas, os irmãos

João/Celso Pinheiro, ainda aclamados;

Tito Filho, o cronista, em cujas mãos 

Retratou Teresina em exaltados

Textos bem-feitos sobre os cidadãos,

Cantos desta cidade, seus encantos,

Suas ruas, e todos os recantos.

  

3 - Outros vates ilustres das fazendas,

Das ribeiras do meu Marataoã

Se tornaram estrelas estupendas

Na seara das letras desta chã,

Como Hermínio, esse líder das contendas

                        Do repente e cordel, que d’uma sã                                        

Mente fez o corpóreo livro “Lira

Sertaneja”, que a gente o admira.

  

4 - Desse clã dos Castelo Branco são

Excelentes poetas: o Leonardo

De Carvalho, o avô, de vocação

P’ra pelejas políticas, um bardo

Talentoso, foi homem de expressão;

Pai Miguel de Carvalho, felizardo

Em cultura, poeta, professor,

Bem versado em gramática, e orador.

  

5 - Sua avó, por Judite conhecida,

 Mais algumas das filhas, poesias

Escreveram em carta dirigida

Ao pai preso e exilado, em covardias

Do governo do Rei, sem merecida

 Compaixão e quaisquer das garantias

Foi metido em prisões de Portugal

Por razão de não ser, ao Rei, leal.

  

6 - Teodoro Castelo Branco, vate

Importante no seio da poesia

Popular, e homem do melhor quilate,

Nosso Hermínio puxou, em demasia,

O seu tio, que gostava do combate

Nas arenas de guerra, assim queria,

E depois retornar p’ra suas matas,

Pois gostava dos campos e cascatas.

  

7 - Minha terra querida tem poetas

Importantes no rol dos imortais

Acadêmicos com suas seletas

Poesias, e escritores perenais

Dentre os quais, e segundo os exegetas,

São: Matias Olímpio, e seus iguais

Antenor Rêgo Filho, o professor

Dilson Lages que é um escritor.

  

8 - Menciono, também, o antologista

Consagrado e escritor Wilson Carvalho

  (dos) Gonçalves, figura idealista

Da cultura e das letras, de trabalho

Invejável dum grande beletrista,

E longevo que nem o pau carvalho;

 O escritor Fenelon Castelo Branco,

Outro ilustre barrense de dom franco

  

9 - E conceito bastante elogiado,

Seja um bom magistrado ou escritor,

Jornalista ou poeta renomado;

José “Lima Rebelo” foi cultor

Do Direito e um grande advogado,

Sobretudo, eminente educador,

Diretor da Instrução Parnaibana,

Catedrático em letras e de humana.

 

 

10 - Mas não posso deixar de destacar

Um poeta e escritor d’alma barrense.

 “Barras das Sete Barras” – vem de Elmar

 (dos) Carvalho; contudo, há quem bem pense

Que o escriba nasceu neste lugar,

   Mas o ilustre é um campo-maiorense,

Pois o pai é de Barras Marataoã,

Seu Miguel (dos) Carvalho, alma cristã.

                                                            

11 - Ele próprio declara, por herança,

É barrense de todo coração,

Relembrando, ainda jovem, fez andança

Pelas Barras, e muita gratidão

O poeta tem por essa lembrança

Com o povo gentil deste torrão

E agradece a acolhida, a deferência

Recebida com muita reverência.

 

 

12 - Minha terra, também, de lá nasceu

Um pintor, desenhista e professor,

É Lucílio Albuquerque, e mereceu

Elogios e aplauso e mui louvor,

Pois o mundo assim bem reconheceu

Como um grande barrense de valor

Das pinturas das telas, retratista,

Foi também excelente paisagista.

  

12 - Barras é conhecida em todo canto

Como terra dos sete governantes

Espalhados por tudo que é recanto.

São ilustres barrenses tão brilhantes:

Taumaturgo Azevedo foi, portanto,

Um gestor de atuações bem conflitantes,

O primeiro barrense nomeado

Governar, na República, este Estado.

  

13 - Taumaturgo, também, governador

Do Amazonas atuou por algum tempo

Nesse cargo importante com temor

Do inimigo cruel que a contratempo

O levou a perder, sem um clamor,

O comando do Estado, onde em meio-tempo

Deodoro ausentou da Presidência

Da República, é preso sem clemência. 

 

 

14 - Em razão de um robusto relatório

Que mandou publicar lá na cidade 

Do meu Rio de Janeiro, um “declatório”

Descrevendo com muita claridade

O que fez em Manaus, e do notório

Caso de falcatrua e iniquidade

De políticos “craques” em roubar,

Taumaturgo foi preso em conspirar.

  

15 - Depois, foi nomeado Coriolano

De Carvalho pra ser governador

Do Piauí, mas no cargo além de um ano

Não ficou em razão do seu labor

Com a pública coisa, pois foi lhano,

Adotando medidas para por

As finanças do Estado equilibradas,

Entretanto, as ações são criticadas.

 

16 - Foi Fileto (dos) Pires (e) Ferreira.

Militar, deputado federal,

Um barrense de ação bem altaneira,

Destacou-se   um político leal,

Foi amante das artes; sem canseira

Terminou a ereção monumental

Do Teatro Amazonas; com mandato

Encerrado, ao quartel volta imediato.

 

17 - Sigismundo Gonçalves, um barrense

De destaque no campo do Direito

 Brasileiro, foi um piauiense

Magistrado, de muito bom conceito,

Que chegou a ministro, e que bem pense

Da Suprema Justiça, e foi eleito

Senador pelo Estado Pernambuco,

E Governo na terra de Nabuco.

   

18 - Outros filhos de Barras atuantes

Deste Estado podemos destacar

Com orgulho os ilustres governantes

Artur de Vasconcelos, o exemplar

Mor Matias Olímpio, e o nunca dantes

E depois mandatário a governar

O Piauí, cerca de mais de dez anos,

Foi Leônidas Melo, o “Homem de Planos”.

  

19 - Conhecida de terra de imortais

Bons poetas e muito senadores,

Barras já teve grandes marechais

De elevado conceito e com louvores

Na política como nos anais

Desse Exército de homens vencedores,

Dentre os quais se destacam Taumaturgo

De Azevedo, um “notável demiurgo”.

  

20 - Foi Firmino (dos) Pires (e) Ferreira

Que na guerra lutou no Paraguai

Com bastante coragem na trincheira,

Nos combates mortais se sobressai;

Vencedor da batalha traiçoeira

E sangrenta é ferido, mas não sai

Da vanguarda, e que por essa razão

Se graduou General de Divisão

 

21 - E os barrenses que foram senadores?

O Firmino (dos) Pires (dos) Ferreira,

Joaquim Pires, e os dois bons professores:

 O Matias Olímpio, de carreira

Ilibada, com atos promissores;

E Leônidas Melo, de altaneira

Profissão da área médica, político,

De avançada visão e senso crítico.

  

22 - Destacados como homens imortais,

Barras é um celeiro de escritores

E poetas inscritos nos anais

Do importante “Sobrado” dos cultores

Beletristas, das artes culturais

Do Piauí, seja como precursores

Ocupantes/patronos de cadeiras

São quatorze daqui destas ribeiras:

  

1 – João Pinheiro (1877-1946). Fundador. Primeiro Ocupante da Cadeira nº 2 da APL);

2 – Celso Pinheiro – (1877-1950). “O milionário do verso”. Fundador. Primeiro Ocupante da Cadeira nº 10 da APL;

3 – Breno Pinheiro - (1899-1957). Segundo Ocupante da Cadeira nº 8 da APL;

4 – David Moreira Caldas - (1836-1879). Patrono da Cadeira nº 4 da APL;

5 – Dilson Lages Monteiro - (1973). Quarto e atual Ocupante da Cadeira nº 21 da APL;

6 – Fenelon Ferreira Castelo Branco - (1874-1925). Fundador. Primeiro Ocupante da Cadeira nº 3 da APL;

7 – Gregório Taumaturgo de Azevedo - (1853-1921). Patrono da Cadeira nº 29 da APL;

8 – Hermínio de Carvalho Castelo Branco – (1851-1889). Patrono da Cadeira nº 2 da APL;

9 – José de Arimathea Tito - (1887-1963). Primeiro Ocupante da Cadeira nº 29 da APL;

10 – José de Arimatéa Tito Filho – (1924-1992). Segundo Ocupante da Cadeira nº 29 da APL;

11 – José Pires de Lima Rebelo – (1885-1940). Segundo Ocupante da Cadeira nº 22 da APL;

12 – Matias Olímpio de Melo – (1882-1967). Primeiro Ocupante da Cadeira nº 20 da APL. Presidente da APL;

13 – Teodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco – (1829-1891). “O poeta caçador”. Patrono da Cadeira nº 6 da APL;

14 – Wilson Carvalho Gonçalves – (1923-2021). Quinto Ocupante da Cadeira nº 12 da APL.

REFERÊNCIAS

 

ARAÚJO, Francisco Carlos. O menino, o rio e a cidade. Teresina: 2021.

CARVALHO, Elmar. Barras - terra dos governadores e de poetas e intelectuais (Crônica publicada no Blog do Elmar Carvalho). Teresina: 2014.

CHAVES, Monsenhor. Obra Completa. Teresina: 2013.

GONÇALVES, Wilson Carvalho. Antologia da Academia Piauiense de Letras. Teresina: 2018.

RÊGO FILHO, Antenor. Barras, histórias e saudades. Teresina: 2007.

(*) Chico Acoram, é poeta cordelista, cronista, funcionário público federal e autor do livro “O menino, o rio e a cidade.

 

2 comentários:

  1. Chico Acoram, é nosso ex-colega de trabalho Francisco Carlos.
    Grande Chico Carlos, homem que tem intimidade com as letras.
    Sucesso, amigo!👏

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado, amigo. Meu nome é Francisco Carlos Araújo (pseudônimo de Chico Acoram), funcionário do INCRA, e atualmente cedido para AGU, onde desenvolvo atividades de cálculos agrários.

      Excluir