Imagem antiga do aeroporto de São Luís(Google) |
Luiz Thadeu Nunes e Silva(*)
Estou
no aeroporto de Miami, aguardando o voo de retorno ao Brasil. Em
andanças pelo mundo pisei nos maiores aeroportos do mundo. Sou
fascinado por aeroportos. Quando garoto, em minha São Luís natal,
ia com meu pai assistir pousos e decolagens, nos finais de semana, no
minúsculo aeroporto Marechal Hugo da Cunha Machado. Cunha Machado
foi um contra-parente de minha família paterna. Naquela época, aos
olhos de menino, aquele aeroporto era enorme. Me fascinava ver as
pessoas entrarem na fila, encaminharem pelo pátio (não existia
finger), subirem em uma escada de ferro, desaparecerem após o
fechamento da pequena porta. Na minha ingenuidade, ficava a imaginar
para onde iriam aquelas pessoas? Em que parte do Brasil ou do mundo
elas desceriam. Eram tempos de olhar curioso. De observar o frenesi
dos viajantes. Voltava para casa com meus sonhos e esperança de um
dia voar.
Só
fui viajar de avião pela primeira vez, já adulto, estudante de
Agronomia, quando comprei a primeira passagem aérea, e finalmente
pude ver uma aeronave por dentro. O voo foi para Fortaleza, pela
extinta Varig, no final da década de 70. Uma época que não existe
mais. Nos voos embarcavam jornais locais, além dos jornais do
sudeste do país: O Globo, Folha e Estadão, Correio Brasiliense,
Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil. Os dois últimos já extintos.
Nas aeronaves tinha a área dos fumantes e dos não fumantes.
Algo inimaginável para os dias atuais. Evoluímos neste quesito. A
qualidade e a quantidade da comida servida a bordo era infinitamente
superior ao que servem hoje. Com cardápio impresso, ofereciam comida
quente, duas ou três opções de pratos, em pratos de louça e
talheres de inox. Além de bebidas alcoólicas, água, suco e café.
Tudo mudou, até os caramelos da Latam acabaram. Hoje, mal servem
água, um petisco menor que um dedal. As poltronas diminuíram de
tamanho para caber mais passageiros. Viajamos entalados.
Aeroportos
pelo mundo são verdadeiras cidades, com logística que os fazem
funcionar 24 h; sempre aprimorando o item segurança. Após o
atentado terrorista de 11/09 nos EUA, a segurança nos aeroportos se
multiplicou, afetando aeroportos no mundo todo.
Com a pandemia do coronavírus, mais restrições em aeroportos
e aeronaves. O uso de máscara facial, incômoda e necessária,
passou a fazer parte da indumentária. Fazer voos longos, acima de
cinco horas é um sufoco. Preço pago por quem sai de sua zona de
conforto, que precisa ou simplesmente quer conhecer o mundo.
O
uso de máscaras nos aeroportos americanos não é obrigatória. A
grande maioria das pessoas circula sem o adereço.
Cheguei cedo ao MIA aeroport, no início da tarde, vindo de
Orlando com o sol a pino. Agora o sol já se recolheu dando lugar à
noite. Ainda tenho algumas horas até o embarque. E, como sempre
faço, observo as pessoas ao meu entorno.
Quem são essas pessoas, de onde veem, para onde vão? Vejo:
famílias com crianças pequenas. Uma jovem bonita e seu cão na
coleira. Um senhor de muita idade, caminhando com dificuldade. Muitos
homens com suas mochilas. Alguns com laptops, conectados com o mundo,
desconectados do seu entorno.
Um
pensamento sempre me assola nestas horas. Quantas destas pessoas
estão bem? Quantas estão vivendo seus Infernos particulares?
Mesmo tendo voado por todos os continentes da terra, ainda
tenho ansiedade em voar. Chego muitas horas antes do embarque. Faço
check-in, e tão logo seja liberado, peço cadeira de rodas e me
encaminho para o portão de embarque.
Já
passei alguns perrengues em aeroportos. Em Colombo, capital do Sri
Lanka, a jovem do raio-X cismou com minhas muletas. Passo-as três
vezes no scanner, não satisfeita, levou-as para uma inspeção mais
detalhada. Quase perco o voo para a Índia. Em Atlanta, EUA, o maior
aeroporto do mundo, passei pelo raio-X, e o chefe do serviço do
aeroporto estava com um trainee em seu primeiro dia de trabalho.
Servi de cobaia para o jovem aprendiz, em uma inspeção mais
rigorosa.
Como de costume, nos aeroportos americanos tenho que
tirar os sapatos e passá-los no raio-X. Embora seja um desconforto,
não me incomoda, são regras.
O
tempo passou, vejo o pessoal da companhia aérea avisando que o
embarque iria começar: “favor formar filas”, diz o rapaz do
balcão.
O
condutor da cadeira de rodas me empurra até o balcão, apresento o
bilhete e o passaporte. Tudo resolvido, sou conduzido até a
aeronave. Passo pelo raio-X, pela imigração. Agora é me acomodar
na poltrona, afivelar o cinto, esperar todos se acomodarem; a
aeronave taxiar pela pista, receber autorização da torre de
controle, levantar voo, e mais uma vez acontecer a magia de voar.
Mesmo não sendo Ícaro, estou nos ares, encantado com a arte de
voar. Logo mais desembarco do outro lado do mundo.
(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante,
cronista, escrevinhador e viajante. O latino-americano mais viajado
do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os
continentes. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
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