domingo, 7 de janeiro de 2024

A VELHA RUA GRANDE

Rua Grande nos anos 80 (imagem do autor)

 

José Pedro Araújo(*)

 

Quando eu nasci, ainda era assim que todos chamavam a principal rua da minha cidade: Rua Grande. E por esse nome muitas ruas importantes de outros municípios brasileiros são conhecidas, e todas possuem um nome próprio diferente também. Em São Luís, por exemplo, capital de todos os maranhenses, uma das ruas mais emblemáticas da cidade ainda hoje é conhecida por muitos como Rua Grande. Estou me referindo àquela que já foi a principal rua do comércio da cidade, que nos seus primórdios era chamada de Caminho Grande, mas foi batizada depois de Rua Osvaldo Cruz. Nos tempos idos do velho Curador, essa rua, que foi a primeira a ser formada, era chamada assim por razões óbvias, pois se estendia desde a entrada da cidade até o Bairro Campo Dantas, em uma extensão de vários quilômetros.

Era também por lá que passavam todos os animais de montaria ou de carga, e depois os veículos automotores, que se dirigiam no sentido de São Domingos, Colinas, e outros mais situados ao sul, dando continuidade à hoje BR 135. Essa artéria era, de fato, uma rua Grande. Ainda nos tempos em que a povoação pertencia ao município de Barra do Corda, foi batizada com o nome de um político famoso daquele município, passando a ser chamada por Rua Frederico Filgueiras. Esse político, que tanta importância teve para o município cordino, foi deputado estadual e até chegou a ocupar o cargo máximo do executivo estadual por pouco menos de um mês, quando foi nomeado interinamente pelo Presidente da República, Nilo Peçanha. Consta ter sido este o primeiro homenageado a ter o seu nome identificando a principal rua da vila de Curador.

Depois, os políticos entenderam de homenagear outro de grande significância para a região, e também o primeiro dos governantes a sujar os seus sapatos com o pó do Curador quando de sua passagem pela região para inaugurar estradas. Tratava-se do comandante José Magalhães de Almeida. Este voluntarioso maranhense, que governou o estado no período de 1926 a 1930, tempo em que ainda éramos parte integrante do território de Barra do Corda, substituiu a Frederico Filgueiras e até hoje dá nome a um pequeno trecho da famosa rua Grande. Pequeno trecho sim, pois logo a rua foi fragmentada e passou a receber os nomes de muitos outros homenageados, descaracterizando a pomposa e importante via.

Deste modo, desde a Praça Diogo Soares, na entrada da cidade, até a Praça da Matriz de São Sebastião, continuou a mesma como rua Magalhães de Almeida. E foi só. Depois, foi fatiada. Desde a Praça da Matriz, em pequeníssimo trecho que termina na Praça Biné Soares, com dois quarteirões apenas, passou a receber o nome de outro governador de estado, Dr. Paulo Ramos. Daí em diante, até a Praça Gonçalo Barros, na antiga forquilha da Mangueira (a região era conhecida como Mangueira e daquele local partia as ruas Grande e Graça Aranha, formando um V), o homenageado foi o Barão de Rio Branco, grande diplomata brasileiro, ex-ministro das Relações Exteriores, também conhecido como o patrono da diplomacia brasileira. Dali em diante, e até o seu cruzamento com rua Adalto Cruz (Esquina do Grupo Escolar Dr. Murilo Braga), recebeu o nome de rua Luís Teixeira para depois seguir como Rua Antonio Piauí até a sua intersecção com a BR 226, já na altura do bairro Campo Dantas.

Deste último celebrado, nada tenho a dizer, pois me falta informações sobre a sua importância para o nosso município. E gostaria de pedir a quem souber algo sobre a sua biografia, que faça o comentário para que possamos suprir a nossa falha.

A nossa Rua Grande, como acima ficou demonstrado, passou a exaltar tantos cidadãos deste país que em determinados momentos, até mesmo pessoas residentes ao longo do seu sinuoso percurso, tem dificuldades para estabelecer as fronteiras entre um e outro homenageado. Talvez os nossos políticos fossem bem mais eficientes se trabalhassem pela melhoria daquela via pública. A nossa decantada rua Grande, por exemplo, foi a primeira a receber os benefícios da água encanada na cidade. Mas ainda hoje padece da deficiência de um sistema hídrico que tem deixado os moradores da conhecidíssima artéria sem o precioso líquido em longos períodos e por anos, desde que a cidade passou a receber mais moradores e a água oferecida não foi mais suficiente para atender a todos. Mas isso não me impede de dizer que tenho muito orgulho de ter nascido em uma via pública que era batizada por Rua Grande, um nome que insisto em repetir sempre que alguém me pergunta em que local da cidade eu nasci. 

(*) José Pedro Araújo é engenheiro agrônomo, funcionário público federal aposentado, historiador, cronista, romancista, e coordenador do blog Folhas Avulsas.

Um comentário:

  1. Meu amigo, eu morei nessa rua que você descreveu muito bem, mas na época em que residi em Presidente Dutra, ela já se chamava Rua Magalhães de Almeida.

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